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06/20/2022

"Lisboa" revisitado (em 2018)

«Lisboa…», um cometa, um puzzle

Publicado no catálogo da exp. "Lisboa, 'Cidade Triste e Alegre', Arquitectura de um Livro" de 2018 no Museu da Cidade (comissariada por Rita Palla Aragão)

abaixo, texto publicado no Público

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Podemos falar do livro Lisboa ‘cidade triste e alegre’ como uma espécie de cometa que de x em x anos surgia de surpresa no horizonte da fotografia portuguesa, da edição e da cidade. Apareceu do nada (segundo se julgou depois) em 1958/59, em duas exposições e em fascículos, a reunir num volume - depois esqueceu-se. Voltou em 1982, na galeria/associação Ether, numa diferente exposição e com a encadernação de 200 exemplares de sobras, esboçando-se-lhe então a memória escrita nas histórias da fotografia de António Sena (1991 e 1998) - registo que exige revisões. Sagrou-se em 2004 com o aplauso internacional, quando Martin Parr e Gerry Badger popularizaram o conceito de fotolivro - a reedição em fac-símile seguiu-se em 2009. Terá sido, no entanto, Philippe Arbaizar, que em 2002 falava ainda em “livro de fotógrafo” para distinguir de livro de fotografia, o primeiro a destacar lá fora a edição de Palla & Martins - associou-a a Life is Good for you in New York, de William Klein, 1956, apontando “um sentimento urbano radicalmente diferente”, de uma “cidade suspensa no tempo, captada entre a nostalgia e um futuro improvável”, sob um título de fado (1).

O cometa passou a poder ser apreciado como um puzzle, sempre protagonizado pela figura plural de Palla, desde a sua antologia no CAM, em 1992 (o também arquitecto Costa Martins continuara a expor e editar). A diversidade da produção fotográfica de V.P. entrou no mercado com a exposição-leilão de 2008 na P4 Photography - descobriu-se a obra “heterodoxa”, antes e depois de Lisboa… Em 2009, o espaço que lhe foi dedicado na mostra "Histórias de Lisboa no Museu da Cidade” (sem catálogo, mas uma notável exposição) trouxe documentação esquecida, em texto e imagem, sobre o livro e a sua concepção. É o que agora se revê e amplia muito no Museu de Lisboa. E nesse mesmo ano o conhecimento do contexto da fotografia nacional nos anos 50 levou uma radical reviravolta na exposição “Batalha de Sombras”, como veremos.

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Em 1958/59, Lisboa foi uma operação editorial muito bem montada, que se apresentou na galeria Diário de Notícias, ao Chiado, e logo depois na Divulgação do Porto - dois lugares centrais no meio artístico da época. Teve publicidade nos jornais e repercussão imediata, em especial na revista de cinema Imagem (capa e artigo não assinado de Ernesto de Sousa, redactor principal, e outro de José Borrego, nº 34) e numa coluna de João Gaspar Simões (Jornal de Notícias, 2-11-1958), além de duas páginas do Século Ilustrado (expostas sem data em “Arquivo Universal”, Museu Berardo, 2009). David Mourão Ferreira ainda lhe dedicou dois programas na RTP em 1964 (“Hospital das Letras”).

As exposições visavam apresentar o livro de fotos com poemas inéditos que se lançava em fascículos - como era usual para obras de maior vulto ou luxo editorial -, no propósito de angariar assinantes. Não pretendiam ser exposições de fotografia, que eram raras fora da dinâmica dos salões e não disputavam lugar no escasso mercado de arte. Os autores desvalorizavam a prova fotográfica em si mesma para focar a sequência das imagens e texto, o “poema gráfico”, a “tentativa de retrato plástico usando meios fotográficos”: ”Estas fotografias não existem por si, fazem parte dum livro. Considerá-las isoladamente seria quase tão grave como admirar um a um os rectangulosinhos da película duma fita de cinema, ou como ler isoladamente cada estância dum poema” (V.P., manuscrito de entrevista). Muito mais tarde Palla ainda dirá: «deixa-me desgostoso que imagens deste livro sejam expostas de maneira convencional» (2).

A edição era uma surpresa em termos fotográficos e de design editorial, num contexto em que, por cá e lá fora, depois da reconstrução do pós-guerra, abundavam os livros sobre cidades ou regiões, mais ou menos turísticos. Um certo Frederic P. Marjay, húngaro e ex-adido cultural, lançara em 1955 a «Colecção Romântica” (Portugal Romântico e Porto e o seu distrito; Lisboa e seus arredores, em 56; Portugal e o Mar, 57, Évora, 58, etc). Artur Pastor publicou Nazaré em 1958, o mesmo ano de Os Pescadores ilustrados de Raul Brandão. De fora vinham em especial as edições da Guilde du Livre, que, aliás, chegaram a prever um volume fotografado por Sena da Silva. Em Espanha, Català-Roca publicara Barcelona e Madrid em 1954, abrindo a renovação da fotografia espanhola - mas os contactos ibéricos eram escassos.

Victor Palla multiplicava-se por actividades dispersas mas notórias, em espacial como arquitecto, capista e editor de revistas e livros (nomeadamente policiais). Expositor certo nas Gerais de Artes Plásticas (1946-56), era um dos projectistas das lojas modernas e snack-bares de Lisboa, a par de Conceição Silva e Keil do Amaral) - mas deve notar-se que era a cidade popular e mais tradicional que interessava aos fotógrafos-arquitectos e não os sinais de modernidade urbana. Uma tese académica do seu neto João Palla e Carmo reconstituiu em 2012 todo o percurso de vida e a sua versatilidade. “Compagnon” do Partido, assistiu em Moscovo às comemorações dos 40 anos da revolução russa, em 1957, e integrara em 55 a delegação à Assembleia Mundial da Paz, na Finlândia, onde, por sinal, se apresentaram “fotografias ampliadas de motivos do trabalho do povo em Portugal” (3). Seriam suas? Seriam as que mostrou na 9ª EGAP no mesmo ano? Esse pontual regresso da fotografia, com Palla, Keil e outros, foi um efeito imediato das notícias sobre “The Family of Man”? Julgo que sim. Em Espanha, o livro de Steichen «caiu como uma bomba, como vindo de outro planeta» (4).

A redescoberta de Lisboa… em 1982, na Ether, teve três efeitos principais. Na ausência de provas de época, deu a ver em 30 fotos (inéditas ou que tinham sido reenquadradas no livro) impressas de negativos integrais, numa escolha partilhada entre Sena e os autores, aquilo que tinham sido páginas ou partes de páginas. Viram-se logo a seguir em Coimbra, nos 3ºs Encontros, e foram reeditadas numa nova exposição da Ether em Serralves, em 1989. O objecto-livro de 1958/9 ía dando lugar à circulação expositiva e depois de mercado de provas que não vinham do seu tempo próprio, numa situação em parte idêntica aos casos - esses mesmo inéditos - dos fotógrafos episódicos que a Ether também revelou (imprimiu e expôs) ao longo dos anos 80: Gérard Castello-Lopes, Sena da Silva, Carlos Afonso Dias, Carlos Calvet.

Produzia-se assim uma história da fotografia em que aos autores expostos e vistos na época, esses ignorados ou desvalorizados, se substituíram os que eram invisíveis por terem apenas aproximações privadas e fugazes à fotografia, mas a quem se chamou «geração esquecida». Seriam renovadores secretos e sem consequências antes da sua exposição tardia. Quando aparecem na década de 80, já tinham surgido, também em Portugal, novas condições de criação e divulgação da fotografia, e da sua crítica, com expressão na Ether e nos Encontros de Coimbra, na revista Nova Imagem e outros meios generalistas. Era uma mudança que se consolidava com a afirmação a partir do estrangeiro (França e Holanda) de uma nova geração de fotógrafos-artistas profissionalizados como tal, protagonizada por Paulo Nozolino e José M. Rodrigues, que asseguraram trânsitos internacionais. O novo ecossistema sustentou e enraizou a notoriedade daqueles ignorados antecedentes, e beneficiou dela.

Propriamente quanto ao livro Lisboa…, a acção da Ether deu lugar à ideia de que o livro foi “praticamente ignorado”, um “fracasso editorial” com “recepção indiferente”, que “não chegou a ser um escândalo porque não teve repercussão nenhuma na sociedade da época”, etc (autores vários). É um exercício de autonegação masoquista, e é um contra-senso admirar as qualidades de inovação de um objecto e esperar um alargado acolhimento. É também uma visão anacrónica que exige ao passado condições de recepção só possíveis depois da fotografia entrar no mercado coleccionista e museológico. Prevista uma edição de dois mil exemplares, vendeu perto de metade, o que assegurou o retorno financeiro. «O livro, depois de encadernado, continuou a vender-se nas livrarias e quase se esgotou», escreveu V.P. (5).

No mesmo passo, instilou-se a ideia de deserto quanto à informação e circulação da fotografia, só cortado por cometas (ou ovnis) como o Lisboa… e antes Fernando Lemos. Este fora separado da Fotografia Subjectiva, o movimento dinamizado por Otto Steinert a partir de uma Alemanha que recuperava todos os vanguardismos condenados como degenerados ou esquecidos nos anos de guerra. J.-A. França ligou Lemos ao movimento ao divulgar a individual na Galeria de Março, mas o título e os parágrafos decisivos (“Nota sobre a fotografia subjectiva”, Comércio do Porto, 10-3-1953) foram expurgados do catálogo do CAM em 1994.

O que foi a prática fotográfica de Palla na sua continuidade só ficou a conhecer-se no leilão da P4 Photography, em especial a especulação formal praticada antes da viragem ocorrida em 1955, quando o documentário humanista viveu por todo o lado o efeito “Family of Man”. Antes privilegiava a composição em estúdio e as estéticas criativas (um "surrealista secreto», escreveu-se então). Depois de Lisboa…, em aparições tardias (1984, 86), voltou aos processos experimentais e fez manipulações cromáticas, mas tudo o que não era fotografia de rua se omitiu na antologia de 1992.

Ao contrário do alegado «pequeno universo autista» (A. Sena), o meio cultural português foi sempre atento ao que acontece “lá fora” e a informação circula, as novidades importam-se e seguem-se depressa. Chegam revistas e livros, viaja-se e comunica-se o que se traz. Ao contrário de países que têm tradições culturais próprias e fortes, e resistem algum tempo à importação de novos dados, por cá os ecos e as dependências são velozes.

O manifesto-convite que o MoMA e Steichen dirigiram aos fotógrafos do mundo inteiro foi publicado em Março de 1954, por extenso, na coluna sobre salões da revista Fotografia - «A Família do Homem» era um concurso diferente, sem júri e sem prémios, itinerante. Em 1955 a fotografia regressou à Exposição Geral na SNBA (com Keil e Cabrita), onde não cabia desde 1950 (Keil e Lyon de Castro). Em 1956 começaram a recolha de fotografias para o livro Lisboa… e o inquérito à Arquitectura Popular em Portugal (publicado em 1961). Também em 56 a Casa da Imprensa promoveu a 1ª Exposição de Repórteres Fotográficos (salão único).

G. Castello-Lopes falava do “asfixiante academismo dos salões”. De facto, os anos 50 foram animados nos círculos da Arte Fotográfica, quebrando-se o elitismo do velho Grémio com a actividade de foto-clubes, grupo Câmara de Coimbra, 6x6 em Lisboa, a Associação do Porto. Faziam boletins e exposições próprias. Publicaram-se revistas (Plano Focal e Fotografia), além da página de divulgação do Jornal do Barreiro (1954-57), extensão do salão do Grupo Desportivo da CUF, o mais activo, onde se afirmaram Augusto Cabrita e Eduardo Gageiro e ainda se premiou Adelino Lyon de Castro. Gérard compareceu no de 1957.

Na exposição «Batalha de Sombras», em 2009, organizada por Emília Tavares (produção do Museu Chiado no Museu do Neo-Realismo, de Vila Franca de Xira), descobriu-se com surpresa a diversidade e a qualidade das práticas fotográficas desses anos, nas vertentes naturalista e neo-realista e na via do esteticismo formalista e purista. Fazia-se bem, num meio pequeno e opressivo, mesmo se faltavam os génios. Faltou também a dinâmica associativa que em Espanha convergiu na AFAL, sediada na periférica Almería.
O livro Lisboa… surgia como um cometa: «Tínhamos visto um livro do William Klein sobre Nova Iorque e achámos que seria interessante fazer um livro sobre Lisboa. (…) Teria de ser um livro diferente.» (6)


  1. In Les Cahiers du Musée national d’art moderne, Centre Pompidou, nº 81, p. 48.
    2. Entrevista de Sérgio Mah, Arte Ibérica, Out. 2000, nº 40.
    3. João Palla e Carmo, O Lugar do Desenho na Obra de Victor Palla, http://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/6903/2/ULFBA_tes%20514_1.pdf
    4. Pérez Siquier, in Laura Terré Alonso, Historia del grupo fotografico AFAL, 1956/63, Photovision, 2006, p. 76.
    5. In João Palla e Carmo, idem, vol. II, p. 285.
    6. Arte Ibérica, nº 40.

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Às voltas por «Lisboa…»

Público, 22.06.2018

Quando Martin Parr e Gerry Badger inventaram o nome foto-livro atribuíram a Lisboa ‘cidade triste e alegre’ o destaque máximo de duas páginas inteiras. Foi em 2004, logo no primeiro volume de The Photobook: A History. Martin Parr, o grande fotógrafo e coleccionador inglês, que hoje é presidente da Magnum, era presença frequente em Portugal, especialmente em Braga por via dos Encontros da Imagem, e o livro de Victor Palla & Costa Martins tinha sido apresentado e redistribuído em 1982 por António Sena. As fotografias dos dois arquitectos, de autoria indistinta, apresentaram-se na sua galeria/associação Ether Vale Tudo Menos Tirar Olhos, e logo em Coimbra. Foram levadas a Serralves em 1989 e à Europália portuguesa (a Charleroi) em 1991, acompanhadas por uma primeira tentativa de história da fotografia - a sua edição ampliada é de 1998, há muito esgotada. Foi um ciclo que deve ser recordado e rectificado (aponto algumas pistas no texto escrito para o catálogo do Museu de Lisboa).

Em 1982 o livro estava esquecido? Era ignorado? Não será exacto dizer isso. Existia nas estantes de arquitectos e outros intelectuais, mas não havia ainda memória nem cultura fotográfica fora de reduzidos círculos de apreciadores. A fotografia não entrara nos museus e galerias, não se coleccionava. Nos inícios dessa década de ’80 a condição (divulgação e produção) da fotografia estava a mudar bruscamente, com os Encontros de Coimbra e com a Ether, a revista «Nova Imagem» e a chegada da crítica da especialidade à imprensa generalista. A fotografia acedeu então à área da cultura geral, a concorrer com as artes «plásticas».

Por feliz coincidência mostraram-se as fotografias de Martins & Palla ao mesmo tempo que as de Fernando Lemos, estas na exposição «Refotos», na SNBA, como prolongamento da revisão dos Anos 40 em curso na Gulbenkian. Em ambos os casos foi uma surpresa para os novos públicos (pós-modernos) que chegavam, e assim se dotavam de um prestigioso passado (moderno). Do novo contexto fotográfico fazia parte a afirmação de uma primeira geração de fotógrafos artistas a trabalhar lá fora, Paulo Nozolino e José Manuel Rodrigues, os quais traziam a Coimbra os seus contemporâneos e internacionalizavam os Encontros. E a novidade continuou então na Ether com a apresentação de uma geração perdida, que também fotografara nos anos 50 mas deixou inédito o seu exercício de amadores elitistas, arredados dos foto-clubes e salões desse tempo (Castello-Lopes, Sena da Silva, Carlos Afonso Dias, Carlos Calvet).

Em 1958/59 o livro foi lançado em sete fascículos, o desafio dos 2000 exemplares (!!) promoveu-se em duas exposições em lugares centrais de Lisboa e Porto, Diário de Notícias e Divulgação (eram livrarias-galerias), teve publicidade e boas críticas na imprensa, vendeu mais de metade da edição. Com as suas características originais, ou melhor, irreverentes, quanto à fotografia e ao design editorial, não podia ser um êxito de massas, mas não se pode dizer que tenha sido um insucesso, como se passou a repetir quando o livro foi descoberto por novos públicos.

Costa Martins era um arquitecto discreto, que continuou activo como pintor e fotógrafo. Victor Palla era uma figura pública, activo em múltiplas áreas: arquitecto de lojas modernas (os snack-bars, como o Pique-Nique; projectista das vivendas a sortear pela «Eva» do Natal, esse caso insólito entre os magazines da época), tradutor-divulgador de policiais (O Gato Preto), editor (Os Livros das Três Abelhas), capista reconhecido (Arcádia), activista cultural e notório «compagnon de route» do PC… Teve presença certa e multidisciplinar nas Exposições Gerais de Artes Plásticas (EGAP), em 1947-56, e aí mostrou fotografias só uma vez, 1955 (com Keil do Amaral, Augusto Cabrita e outros).

Lisboa… é uma obra única no contexto fotográfico e editorial nacional, vinda de um tempo em que se faziam bastantes livros sobre cidades e regiões, também entre nós. Parr e Badger apontam-no como um dos melhores photobooks sobre cidades europeias publicados no pós-guerra, e também como um dos mais complexos. Um dos aspectos marcantes é o modo como os autores expõem uma actualizada informação sobre fotografia, num extenso Índice narrativo, erudito e dialogante. Sucedem-se aí as referências a autores e magazines internacionais, e as citações multiplicam-se até às badanas. Ao contrário do que se diz, chegava cá toda a informação e, na falta de fortes tradições próprias, o meio cultural foi sempre ávido de exemplos cosmopolitas.

A aproximação do Lisboa… à Nova Iorque de William Klein (Life is Good and Good for You in New York, 1956) foi feita por Philippe Arbaïzar, certamente o primeiro estrangeiro a elogiar o livro (revista do Centro Pompidou, «Les Cahiers…», 2002). Associavam-nos «os recursos da paginação de que se serviram os autores para comunicar um sentimento urbano radicalmente diferente», «como um monumento a construir em homenagem a esta cidade, a um momento da sua história» - sob um título que «soa como um fado». Parr e Bagder apontam, além de Klein, os modelos, mais improváveis, dos holandeses Ed van der Elsken e Joan van der Keuken, referindo a «cornucópia de estratégias de design» usadas com êxito pelos nossos autores.

Antes de mergulhar nas ruas da Lisboa antiga e popular, numa aproximação neo-realista (para usar a fórmula comum à Espanha e a Itália), Victor Palla fez fotografia experimental, alinhada, tal como a de Fernando Lemos, com as especulações formais vanguardistas animadas pelo movimento da Fotografia Subjectiva de Otto Steinert. Essa produção só foi exposta por ocasião do leilão do seu espólio pela P4 Photography, em 2008.
Pode pensar-se que a viragem para a fotografia de rua, documental e poética, presente já em 1955 na 9ª EGAP, e continuada no projecto de Lisboa…, surgido em 1956, tinha origem na vaga humanista gerada pela exposição «The Family of Man» de Edward Steichen no MoMA, que começou por ser anunciada como um concurso mundial e que se divulgara com destaque nas páginas da revista «Fotografia», logo em 1954. Chegavam as notícias da «Life», os ecos da digressão mundial, o catálogo e o filme da exposição. A crítica de Roland Barthes e as reflexões sobre propaganda e ideolog AP 1
ia vieram a seguir.
A «Família do Homem» e a Nova Iorque de Klein, que já era Pop, divergentes entre si, não são referidos no Índice, mas são as balizas que há que conhecer para situar o livro e o apreciar melhor.

 

Posted at 13:27 in 2018, fotografia, Fotografia portuguesa, Victor Palla & Martins | Permalink | Comments (0)

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06/15/2022

Paula Rego 2022

Sobre a Paula Rego diz-se muita asneira, um chorrilho de disparates. Corrijo, transcrevo-me, desabafo, provoco, acrescento: (do facebook)
ela não fugiu, o pai mandou-a estudar para Londres (Slade, 1951-56, 16-20 anos) voltou grávida e por cá ficou com o pai das crianças e marido e professor (o seu crítico pessoal), a viver nas casas dos pais, Estoril e Ericeira. Foi em Portugal que trabalhou e fez carreira, no pequeno meio e mercado nacional, em poucas exposições muito bem escolhidas, por vinte anos, até voltar em 76 para Londres (quando a fábrica da família se perdera...) e, depois de grandes dificuldades económicas e uma oportuna bolsa Gulbenkian, fez a 1ª exp. individual só em 1981, numa galeria pública.
Foi um talento muito precoce mas teve um reconhecimento inglês muito tardio, embora fulgurante. O sucesso inglês disparou apenas em 1988, depois da 1ª retrospectiva na Gulbenkian levada à Serpentine. Passou então à maior galeria comercial, a Marlborough, foi comprada pelo publicitário Charles Saatchie (New British Painting), e pela Tate, teve mostras itinerantes na GB, foi muito apoiada pela crítica feminina e pelas escritoras feministas, disparou como grande artista inglesa (circulou integrada na Escola de Londres, com Bacon, Freud e outros), mas a grande projecção internacional foi também recente, até à actual destacada presença na Bienal de Veneza, com um espaço individual na mostra colectiva.
Sempre determinada e muitíssimo profissional, foi capaz de assegurar a grande produção exigida pelo mercado de topo. Grande pintora, hábil e privilegiada, praticando a pintura como ficção e exorcismo (como manifesto e intervenção também) sempre com grande inteligência, coincidiu com o "regresso" à pintura e à figuração dos inícios pós-modernistas da década de 80. Um "destino" de excepção, único. Aliás, com traços idênticos à Vieira da Silva: a família abastada, os estudos fora, o marido grande pintor mas discreto, a carreira internacional com alguma rectaguarda nacional. A Paula é inglesa, a Vieira é francesa, nascidas em Portugal. E as grandes carreiras fazem-se nas grandes metrópoles. Aqui o pessoal gosta de ser enganado e de viver de mitos.
 
Como artista, a Paula nunca participou de um estilo colectivo, o que é raro acontecer aos artistas, e mais difícil para a recepção crítica, por não se acolher ou integrar o artista às conhecidas regras de grupo (ou inventando-as, por vezes), e ela foi sempre atravessando sucessivas fases quanto à expressão formal, mantendo uma reconhecível continuidade temática, sem se fixar num "estilo", numa travessia solitária por sucessivas maneiras ou linguagens. No início dos anos 80 deu uma nova legibilidade à figuração e à narração que antes ocultava nas colagens, passando a criar personagens e histórias: "contar" histórias (a relação com a literatura) era um dos interditos do formalismo moderno. Encontrei-a no atelier a estudar a perspectiva em maquetes (nunca aprendi a fazer a perspectiva..., disse) e vivia então um processo de aprendizagem do desenho e em especial de desenho do natural, com a presença do modelo vivo, que continuou no estudo directo dos "clássicos" propiciado pelo seu tempo de artista residente na National Gallery de Londres. Esse foi certamente o mais importante tempo de viragem, ultrapassando a fase anterior de uma figuração simplificada, de aparência infantil, em que se relacionava com a ilustração e a banda desenhada, para alcançar um novo domínio da composição e uma grande densidade dos seus sentidos. Em tempos de "bad painting" a sua pintura distinguia-se, qualificada pela revisitação dos grandes precedentes.

Posted at 17:58 in Paula Rego | Permalink | Comments (0)

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Paula Rego e a Escola de Londres (1998-99)

1998
A Escola de Londres em Paris


exposição «A Escola de Londres. De Bacon a Bevan», Museu Maillol-Fundação Dina Vierny
EXPRESSO/ Cartaz de 17-10-98

PAULA Rego volta agora a expor na capital francesa, integrada numa mostra colectiva de artistas britânicos, depois de, em 1985, ter participado na última edição da Bienal de Paris. Intitulada «A Escola de Londres. De Bacon a Bevan», a exposição foi inaugurada no passado fim-de-semana no Museu Maillol-Fundação Dina Vierny e reúne obras figurativas de 12 artistas, alargando o núcleo duro da chamada Escola de Londres e juntando outros nomes de projecção mais recente.
A designação da «escola» surgiu pela primeira vez no título do prefácio do pintor R.B. Kitaj para a exposição «The Human Clay», que ele próprio organizou em 1976 para o Arts Council, com obras de 35 artistas e como uma polémica afirmação da continuidade da pintura e do interesse pela figuração num contexto crítico e institucional que lhes era então desfavorável. Essa mostra antecedeu o chamado «retorno à pintura» do final da década e a vaga das transvanguardas. Mais tarde, em 1987, uma outra exposição comissariada por Michael Peppiatt circulou na Europa sob o título «A Escola de Londres: Seis Pintores Figurativos», reunindo Francis Bacon, Lucian Freud, Leon Kossoff, Ronald B. Kitaj, Michael Andrews e Frank Auerbach. Os mesmos artistas viriam a ser de novo reunidos em «From London», inaugurada no Museu de Edimburgo e mostrada depois no Luxemburgo, em Lausana e Barcelona, em 1995-96.
Na exposição parisiense, que é comissariada por Solange Auzias e, de novo, por Michael Peppiatt, participam, além de Paula Rego, o escultor Raymond Mason (um veterano nascido em 1922, instalado em Paris desde 1946) e também os pintores Bill Jacklin (1943, residente em Nova Iorque), Tony Bevan (1951), Celia Paul (1959) e Stephen Conroy (1964, Escócia).
Tal como no caso das tradicionais escolas de Paris e de Nova Iorque, não existe quanto à de Londres uma mesma filiação escolar, identidade nacional ou procura estilística de que comunguem os artistas nela incluídos, nem se trata de um grupo formalmente organizado. Auerbach (1931) e Freud (1922) nasceram em Berlim e chegaram a Londres no contexto das perseguições nazis; Kitaj (1932) é um norte-americano do Ohio que nos anos 50 se instalou na Europa e participou na eclosão da Pop britânica. Por outro lado, se um certo realismo marcado pelo clima social do pós-guerra e pelo existencialismo pôde ser associado à «marca» Escola de Londres, também é certo que ela se aplica a artistas da anterior tradição figurativa, como William Coldstream, ou a um pintor abstracto como Howard Hodgkin, designando noutros casos artistas surgidos já nos anos 80, no ambiente da «New Image Painting», ou ainda mais recentemente.
Rede informal de cumplicidades ou afinidades, diversamente reconhecida (ou recusada) ao sabor das circunstâncias e dos observadores, a Escola de Londres pode ser vista como uma designação apenas promocional, sustentada pelo dinamismo do British Council, ou pode ser aceite como a tradução convenientemente vaga de um modo britânico de viver a relação com a tradição e a ideia de vanguarda, menos dependente da lógica da novidade internacional e dos manifestos teóricos, mais «conservadora» quanto à permanência da vitalidade da pintura ou da figuração e sempre pouco presente na «cena» internacional, excepto no caso de Bacon. Entretanto, as tentativas de atribuir um conteúdo estilístico à escola nunca foram bem sucedidas, tanto mais que o forte individualismo e a independência perante as caracterizações programáticas são características essenciais de muitos artistas britânicos. O livro de Alistair Hicks, The School of London. The Ressurgence of Contemporary Painting (Phaidon, 1989), propondo-a como «sucessora natural do Expressionismo Abstracto da Escola de Nova Iorque» e estabelecendo-lhe uma genealogia através de três sucessivas gerações, com a associação de obras de muito diferente nível de interesse e numerosos epígonos, é uma prova desse falhanço.
De facto, além dos artistas que em Paris se juntaram aos seis «fundadores», muitos outros nomes poderiam ser também incluídos, e o poder da galeria Marlborough não será alheio à escolha apresentada. Paul Rego (n. 1935) é, sem dúvida, a presença mais original a seguir ao «grupo dos seis» e mantém, desde meados dos anos 80, uma enorme notoriedade na Grã-Bretanha. Quanto aos mais novos, Celia Paul aproxima-se de Freud numa pintura de modelo que é mais intimista, Bill Jacklin interessa-se pela paisagem urbana e pelos movimentos da multidão sob os efeitos de uma iluminação difusa, enquanto Stephen Conroy explora uma elegância fotográfica mais convencional. Pelo contrário, Tony Bevan, escolhido para o título da exposição, expõe uma série de cabeças e auto-retratos de brutal agressividade, que «actualizam» os corpos de Bacon com a energia de um desenho grafitista.
A exposição prolonga-se até 20 de Janeiro e conta com um catálogo com textos de M. Peppiatt e Jean Clair. O Museu Maillol, inaugurado em 1995 por Dina Vierny, que foi modelo do escultor e também de Matisse e Bonnard, tendo mais tarde dirigido uma galeria com o seu nome, apresenta, além das obras do seu patrono, núcleos significativos de desenho, arte «naif», Duchamp e os seus irmãos, e ainda de arte russa (Boulatov, Kabakov...). Entre outras mostras recentes, destacaram-se as que dedicou a Morandi, Basquiat, Valloton e, no último Verão, a Rivera e Frida Kahlo.
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1999
Paula Rego entre a "Escola de Londres" (de Paris para Compostela)
EXPRESSO/Cartaz de 06-03-99” título: Caminho de Santiago"

SERIA certamente atraente para o público português conhecer o contexto britânico em que evolui a obra de Paula Rego e as relações privilegiadas que a sua obra actual estabelece com a tradição figurativa de Bacon e Lucian Freud. A exposição recentemente apresentada em Paris, na Fundação Dina Vierny - Museu Maillol, sob o título «A Escola de Londres. De Bacon a Bevan», foi uma oportunidade para apreciar em conjunto o grupo histórico e a geração mais recente a que se atribui aquela designação. Paula Rego estava incluída entre o segundo grupo, apesar de estar geracionalmente mais próxima do primeiro, e é reconhecida como uma das figuras mais destacadas do actual panorama britânico.
Essa exposição não se verá em Portugal, mas encontra-se agora a curta distância, no Auditorio de Galicia, em Santiago de Compostela, até 4 de Abril. Vale a pena, para a ver, retomar o Caminho de Santiago.
O termo «Escola de Londres» foi usado pela primeira vez por R.B. Kitaj, quando, em 1976, comissariou a exposição «The Human Clay», na Hayward Gallery, tomando o partido de sublinhar quer a permanência da pintura face às práticas conceptuais e «desmaterializadas» favorecidas pela circulação dita vanguardista, quer a importância da pintura interessada pela figura humana. Embora o termo «escola» seja apenas aproximativo, sem caracterizar um movimento ou um grupo, viria a aplicar-se depois a várias mostras colectivas de geometria variável em torno de um núcleo duro formado por Francis Bacon (Dublin, 1909-1992), Lucian Freud (n. Berlim, 1922 - 2011), Leon Kossoff (n. Londres, 1926 - 2019), Michael Andrews (Norwich, 1928-1995), Frank Auerbach (n. Berlim, 1931 - 2019), o próprio Kitaj (n. Cleveland, 1932 - 2007), norte-americano imigrado em Londres entre 1959 e 1997, e, por vezes, Raymond Mason (n. Birmingham, 1922 - 2010), escultor instalado em Paris desde 1946. Obras de todos eles estão incluídas na mostra levada a Santiago de Compostela, mostrando como a identificação do âmbito local não diminui a relevância de um grupo de artistas que se situa na primeira linha da arte contemporânea
Além desse grupo principal, de idades muito variáveis, outros pintores como William Coldstream, Euan Uglow, Peter Blake, Howard Hodgkin (pintor abstracto), David Hockney, Victor Willing, Ken Kiff, etc., puderam ser incluídos, em diferentes circunstâncias, na mesma designação de Escola de Londres, respeitando o individualismo característico dos artistas britânicos. A exposição actual, no entanto, optou por associar ao referido núcleo duro um conjunto de outros cinco pintores mais novos que formariam uma segunda geração da dita escola, embora os seus percursos diferenciados os situem tanto numa segunda como numa terceira geração.
Integram-no Paula Rego (n. Lisboa, 1935 - 2022); Bill Jacklin (n. Londres, 1943, instalado em Nova Iorque desde 1985), Tony Bevan (n. Bradford, 1951), Celia Paul (n. Índia, 1959) e Stephen Conroy (n. Escócia, 1964). Para além da pintora portuguesa, Bevan é o pintor mais poderoso do grupo, mostrando uma série de auto-retratos e de Cabeças, recortadas sobre fundos lisos e de grande violência expressiva. Celia Paul foi com frequência modelo de Lucian Freud e situa-se como directa discípula, trabalhando sobre os laços de intimidade com as figuras retratadas, mas à distância da relação física com a carne a que aquele dá uma máxima intensidade.
Bill Jacklin pinta espaços urbanos e multidões em movimento, em cenas fotográficas do quotidiano a que as desfocagens e os efeitos de luz (eléctrica) dão uma aparência impressionista, enquanto Stephen Conroy mostrava em Paris alguns retratos de uma precisão também fotográfica, mesmo se mais livres que as suas anteriores composições de gosto quase neoclássico.
Comissariada por Michael Peppiatt e Jill Lloyd, que dividiram entre si a representação das duas gerações, a mostra de Santiago não repete exactamente a escolha de obras de Paris, mas conta com um catálogo com entrevistas de Peppiatt a Bacon, Auerbach, Mason e Kitaj, um artigo de Jean Clair sobre Freud, entre outros textos. A edição francesa do catálogo fora co-editada com a Réunion des Musées Nationaux.

NOTA: Escola de Londres deixou de ser uma designação operacional, e extinguiu-se com a morte dos seus nomes históricos.

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05/07/2022

Pedro Lobo - Ainda Não / Not Yet

Não conheço outra obra fotográfica com esta gravidade, não por serem anos-covid, não é sobre eles e os seus medos, os seus mortos (nem sobre a guerra de agora, mas também pode ser, hoje) - a doença não está lá mas o livro está certo com esse (este) tempo que se prolonga, falando de outras coisas, anteriores, mais presentes e mais amplas.
Apocalíptico? Ou pós-apocalíptico -- ou ainda não apocalíptico? Mas definitivamente não terminal, temos ainda mais tempo, algum tempo. “Ainda não" é o título, que é aviso de um fim, mas, aliás, afinal, talvez, da possibilidade de mudarmos.
Avança-se entre ruínas, por um roteiro de ruínas naturais ou construídas (destruídas), que não são fantasias de um pérfido encenador ou fantasmas de um delírio ficcionado. São encontros, os achados procurados, de um fotógrafo que viaja, que deambula ou perambula, como ele diz. Há marcas dos incêndios, há património arruinado (figuras, túmulos, ossadas), há restos de um parque de diversões abandonado (informa-nos), há pedreiras com e sem desastre, há pedaços de muros e chãos invadidos por vegetação desordenada, invasora (a devorar as marcas humanas, a regenerar-se?). Há ídolos perdidos.
Associamos a gravidade do percurso através das páginas do livro, e agora das paredes da galeria, ao peso opressivo destes anos ameaçadores, mas as fotografias do Pedro Lobo não ilustram os novos terrores, estas séries já lhe pertenciam, são algumas das suas várias linhas de trabalho, entre outras: umas mais conceptuais (com escritas), mais despertas para a surpresa e o humor (o insólito), mais gráficas ou construídas (malhas, estruturas), mais documentais (como as favelas do Rio, arquitecturas efémeras; como as prisões do Brasil e da Colômbia), sempre a atenção ao património habitado, mesmo que património instável e desprezado).
Ainda Não / Not Yet dá-se a ver como um filme, que seguimos pelas marcas gastas do tempo, o itinerário de ruínas, de restos e vestígios, com uma montagem sequenciada e ritmada (também rimada), ao contrário dos livros de imagens soltas e desamparadas que não têm sentido nem direcção, ou em que o sentido é privado, fechado aos outros. Há no livro uma banda negra intervalada, vertical ou horizontal, larga ou dupla, que lembra a sala escura e sustenta a continuidade, muito diversa, das imagens. Mesmo arruinadas, as coisas são luz, são cor, a destacar-se do fundo negro invasor. Sem legendas, locais ou datas. São tempo. São imagens de hoje, de ontem e de amanhã. O livro do Pedro Lobo foi o livro do ano, de 2020, de 2021...

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o meu photobook do ano. E não conheço outro livro fotográfico com esta gravidade, não por ser o ano-covid, não é sobre o ano-covid e os seus medos, os seus mortos - a epidemia não está lá mas o livro está certo com este ano que se prolonga sempre, falando de outras coisas, anteriores, mais presentes e mais amplas.
Livro apocalíptico? Ou pós-apocalíptico -- ou ainda não apocalíptico? Mas definitivamente não terminal, temos ainda mais tempo, algum tempo. "Not Yet" é o título, que é aviso de um fim ou, aliás, afinal, talvez, da possibilidade de mudar.
Avançamos entre ruínas, por um roteiro de ruínas naturais ou construídas (destruídas), que não são fantasias de um pérfido encenador ou fantasmas de um delírio ficcionado. São encontros, os achados procurados, de um fotógrafo que viaja, que deambula ou perambula, diz ele. Há marcas dos incêndios, há património arruinado (figuras, túmulos, ossadas), há restos de um parque de diversões abandonado (dizem-nos), há pedreiras com e sem o desastre, há pedaços de paredes e chãos invadidos por vegetação desordenada, invasora (a devorar as marcas humanas, a regenerar-se?). É inevitável associarmos a gravidade do percurso através das páginas ao peso opressivo deste ano ameaçador, mas as fotografias do Pedro Lobo não ilustram a epidemia, as suas séries já lhe pertenciam, são algumas das suas linhas de trabalho, entre outras, umas mais conceptuais (com escritas), mais despertas para a surpresa e o humor (o insólito), mais gráficas ou construídas (malhas, estruturas), mais documentais (como as favelas do Rio, arquitecturas efémeras, com que o conheci há anos numa exposição inesperada: “FAVELAS: ARCHITECTURE OF SURVIVAL”); como as prisões do Brasil e da Colômbia: "IMPRISONED SPACES”, Blue Sky Books, Portland, USA., moradas efémeras - sempre a atenção ao património habitado, mesmo que património instável e desvalorizado).
O livro "parece" um filme, onde seguimos pelas marcas gastas do tempo, o itinerário de ruínas, de restos e vestígios, com uma montagem sequenciada e ritmada (também rimada), em vez dos livros de imagens soltas e desamparadas que não têm sentido (não andam para a frente nem para trás) ou o sentido é privado, fechado. Há uma banda negra intervalada, vertical ou horizontal, larga ou dupla, que lembra a sala escura e sustenta a continuidade, muito diversa, das imagens. Mesmo arruinadas, as coisas são luz, são cor, a destacar-se do fundo negro invasor. Sem legendas, locais ou datas. São imagens de hoje, de ontem e de amanhã. O novo livro do Pedro Lobo é o livro do ano, de 2020 e de 2021...

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03/29/2022

Maria Archer, o colonialismo progressista, 1937, Seara Nova

Maria Archer

Seara Nova 1937, nº 536 (continua.)

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COLÓQUIO INTERNACIONAL "MARIA ARCHER: REFLEXOS E REFLEXÕES". Sessão 2 - Olhares sobre África

https://www.youtube.com/watch?v=EvJP57eFDMk

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Homenagear a escritora Maria Archer, uma mulher incómoda no seu tempo

Um colóquio a decorrer nesta segunda-feira na Biblioteca Nacional marca as comemorações dos 40 anos da morte da autora de Ela é Apenas Mulher, uma voz insubmissa durante a ditadura do Estado Novo, que foi censurada, obrigada ao exílio e apagada da História.

Isabel Coutinho
23 de Janeiro de 2022

https://www.publico.pt/2022/01/23/culturaipsilon/noticia/homenagear-escritora-maria-archer-mulher-incomoda-tempo-1992856

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Tags: Africa Portuguesa, Angola, Colonialismo, Maria Archer, Seara Nova

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02/22/2022

MENEZ: entrevista 1990

MENEZ: antes das palavras
Como fala um pintor daquilo que pinta, se detesta o marketing das teorias e das poses, se recusa o cerco dos nomes e a aparência mais fácil das coisas? Menez acaba de ser distinguida com o Prémio Pessoa 90 e a sua pintura oferece-se numa admirável retrospectiva apresentada na Gulbenkian.
Entrevista de Inês Pedrosa e Alexandre Pomar, Expresso Revista de 22 de dezembro de 1990.

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QUASE todos os quadros dela se chamam «Sem Título», porque não se podem chamar. Ela não quer dar-lhes nomes, compreendê-los, cercá-los. Ama demasiado a pintura, teme tranquilamente as palavras. Não quer dizer nada que assuste os segredos da vida.
Lá em baixo há espíritos em animado bulício; a Fraternidade Espírita Cristã reúne-se fragorosamente. Menez não se incomoda muito, prefere o barulho das cidades ao absoluto silêncio do campo. Qualquer cidade lhe serve, desde que não se pareça a Washington D.C. E que tenha luz – aqui, na Rua da Saudade, na Costa do Castelo, a luz vem do rio, inteiro, para lá da janela.
O telefone não pára de tocar: Menez gasta o seu stock anual de «obrigada» por conta do Prémio Pessoa. Os pequenos comércios vizinhos espantam-se e alegram-se com ela: «Uma senhora tão simples, e afinal com tanto valor!» Surgem logo vozes sábias, explicando que o valor é sempre inversamente proporcional à vaidade. Mas Menez é vaidosa de outra maneira, vaidosa de dentro para fora, atenta aos mínimos sinais de și.

Maria Inês Ribeiro da Fonseca nasceu em Lisboa, a 6 de Setembro de 1926. Cresceu fora das escolas, na atmosfera internacional e leve dos diplomatas. Entre os dois e os 24 anos, sempre com o intervalo certo dos meses de Verão em Cascais, viveu em Buenos Aires, Estocolmo, Paris, Suíça, Roma e Washington, claro. Não se esperava dela mais do que o suave culto das aparências, a beleza etérea de uma aparição. Ainda hoje Menez guarda nos gestos, no jeito de conversar, a memória dessa educação. Mas os olhos traíam-lhe, traem-lhe, outras inquietações, e subitamente ela começou a pintar. A pintar a sério, como se vivesse no mundo.
Foi em 1953, e um ano depois expunha pela primeira vez. Não parou desde então, dispersando os desenhos e as pinturas que agora voltaram para preencher a grande sala da Gulbenkian. Não parou também de crescer e transformar-se como pintora, desde uma situação que se viu primeiro como luminoso e lírico exercício de «abstracção» até à surpresa recente, por volta de 1985, do desvendar dos seus temas e do revisitar de modelos antigos da pintura que são as suas séries sobre a «Descida da Cruz» ou «S. Jorge e o Dragão», as suas naturezas mortas, os «ateliers», as alegorias das Três Idades, etc. Mas não paremos nós, os espectadores, perante as aparências dos nomes ou a parecença das coisas. «Nesse mundo em que o canto nasce antes da palavra, lavram os poderes da evocação”, disse de Menez outro pintor.
A retrospectiva, depois o Prémio, obrigaram-na a ceder às entrevistas. Menez detesta-as tanto como às formalidades dos impostos ou dos bilhetes de identidade. Não gosta de falar da sua pintura, mas no entanto ela fala... FOTOS do filme MENEZ, de Teresa Marta, 1990, em exibição no Atelier-Museu Júlio Pomar

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01/29/2022

"O Pastor", Amadeo, leilões, o mercado em 2005

Extracatálogo (coluna)

«Investir» em arte
Expresso, Cartaz 10-12-2005

É conhecida a falta de proficiência (para evitar usar uma palavra mais áspera, incompetência) de grande parte das casas leiloeiras e de certos agentes do segundo mercado, para além da leviandade com que se fazem e desfazem colecções de arte dos séculos XIX e XX, ao contrário do que sucede noutros segmentos especializados do coleccionismo. São demasiado frequentes as peças mal classificadas e erradamente avaliadas, ou os leilões organizados sem critério. Mas se a falta de solidez dos profissionais não favorece o mercado e o destino das obras, também é prejudicial a ausência de seriedade dos comentadores, mesmo se eles, muito justamente, não são, de facto, levados a sério.

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Quando um recorde num leilão justificava a atenção de noticiário televisivo, lá surgia um crítico «moderno» a justificar com a ignorância de pretensos amadores ou o novo-riquismo da burguesia o apreço por um Silva Porto ou um Malhoa. Agora, numa revista que pena em tornar-se credível em qualquer um dos sectores que abarca, a «L+Arte» («leilões+arte+antiguidades»), aparece Anísio Franco a lamentar os 200 mil euros «gastos» numa das raras pinturas de Amadeo de Souza Cardoso que têm passado em leilão - neste caso, do Correio Velho, que é excepção àquela caracterização do sector.

O quadro é o Pastor, cerca de 1910-11, de apenas 27 por 35 cm, mas muito curiosamente significativo de um cruzamento de interesses e pesquisas que por essa altura iriam levar o pintor a cultivar a original elegância Arte Nova, ou «persa», do seu primeiro estilo modernista e decorativo que tanto êxito encontrou em 1913 no Armory Show de Nova Iorque. É uma peça dos anos da acelerada formação parisiense, referenciada em temas domésticos que voltariam nos motivos de Manhufe, com ensaios já de um desenho rítmico que diverge do formulário cubista - dizer que as suas «experiências traziam consigo muito da tradição oitocentista» (a figura, a paisagem, a perspectiva?) seria um elogio se não quisesse ser uma dessas inanidades da rotina crítica. Não é uma definitiva obra-prima, mas é um passo da brevíssima carreira e é, principalmente, já que sobre quase toda a sua obra pesa a fatalidade da posse institucional, uma raridade.

Tal como sucede em política com as eleições (não com as sondagens), são os leilões que servem de referência quanto ao valor de mercado, não as opiniões de comentadores. Recomendar, pelo mesmo preço, uma qualquer colagem de Braque ou «uma pintura da fase analítica de Picasso» é continuar na via do disparate, para além de com este género de prosa se cumprir a regra de desvalorizar as realidades fortíssimas dos mercados nacionais, que, ao contrário do que se pretende, não são uma aberração portuguesa. Noutros países mais poderosos há mesmo importantes mercados provinciais e até locais, o que se pode avaliar em Nova Iorque e São Francisco, em Berlim e Dusseldorf.

Não é por acaso que noutras páginas da mesma revista as informações dos leilões internacionais referem preços da ordem dos 224 mil, dos 432 mil, do milhão e 206 mil euros pagos por um modesto neoclássico britânico, um naturalista da Lorena, um seguidor polaco de Alma-Tedema. São muito baixos os valores atingidos pelas obras importantes de artistas portugueses e são ridículas as apreciações sobre «investimentos» em arte dos nossos pseudo-especialistas.

Na Colecção Rui Vitorino, exposto na Fundação Arpad Szenes - Vieira da Silva

artigo referido por Anabela Duarte no catálogo, não referenciado

 

Posted at 11:56 in 2005, Amadeo, Colecções, crónica, mercado | Permalink | Comments (0)

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12/08/2021

José Miguel Gervásio 2021 (3)

À volta das pinturas do José Miguel Gervásio.
"A invenção das telecomunicações" (2021). Óleo s/ tela de linho. 114,5 x 98 cm.
A invenção das telecomunicações2021). Óleo s: tela de linho. 114 5 x 98 cm
 
nota de J.M.Gervásio no fb: Diz Arasse no final do texto "O olhar do Mestre", incluído no livro "Não se vê nada", edições KKYM: "(...) O Quadro da Família, mais tarde As Meninas, demonstra que o pintor não precisa de ser um intelectual para pensar. Tudo se passa como se fosse o próprio quadro a produzir um sentido visual independente e exterior às ideias que o pintor e o seu comandatário pudessem fazer dele - e muito depois do desaparecimento de ambos. Também neste sentido, o quadro é sem dúvida, uma obra prima."
 
Eu: O R.B. Kitaj escrevia longos textos a acompanhar os quadros (a história, as referências, as condições...) - era uma das marcas de um artista genial (1932 – 2007). O Gervásio escreve títulos que não são menos enigmáticos que os seus quadros; eles fazem parte de um puzzle ou colagem de imagens, citações ou alusões, pistas, indícios, que se "entendem" ou não: os quadros são para ver, não para ler, são para ver tudo. "Não se vê nada!" (título de Daniel Arasse, referido abaixo por ele) - não se percebe nada? - ou vai-se vendo, percorrendo, procurando?
 
Um aliás dois dos seus modelos/actores/personagens, uma vista de Montemor certamente, uma das suas construções-esculturas, os objectos-adereços de uma cena teatral (candieiro e manequim) -- os dois personagens comunicam?; o céu e a terra quase vermelhos, as nuvens-fumo (a envolver a árvore sem folhas ou como folhas), um espaço de céu e terra intranquilos e em que entramos ou escorregamos - lava ardente?; as línguas de cor ou balões de BD : mensagens-comunicação sem texto.
A pintura é "maximalista", ficcional sem história, diferente do habitual design preferido dos de-curadores, inalcansável, sedutora e incómoda, e é pintura mesmo, pintura a fazer-se e a ver-se. Desta pintura não se encontra aí pelas colecções públicas.
 
Perguntei: (não estou a asneirar? escrever é difícil...)
G - está tudo muito bem. Escrever sobre o que não tem, aparentemente, programa é complicado. Poderíamos viver a vida inteira ao lado disto e mesmo assim escaparia alguma coisa. Agradeço a atenção.
A - anoto "o que não tem, aparentemente, programa". É isso, há um programa, certamente móvel, in progress.
 
G - Pois, móvel, pelo facto de cada quadro ter uma espécie de autonomia. Um momento que se conquista a partir da incerteza. É um trabalho complexo, provavelmente um trabalho de composição; de composição que se faz em cima do plano do quadro. É uma espécie de ética. Se não for assim não serve, não funciona.
 
Por outro lado, é preciso ir mudando, ir alterando. Sem mudança as coisas acabariam por adormecer. Mas não sei descrever a inquietação dos quadros. Só sei que me aborreceria se fossem todos iguais.

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12/07/2021

José Miguel Gervásio 2021 (2)

Do atelier para o museu (Évora) e regresso ao atelier (Montemor-o-Novo)

 

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José Miguel Gervásio 2021 (1)

José Miguel Gervásio, pormenor ou parte de quadro. Figuras que podemos reconhecer e seguir noutras pinturas, habitantes habituais de um lugar improvável ; personagens identificáveis, às vezes nomeadas (o pintor aponta-os pelos nomes), "modelos" e/ou amigos que participam com brio em encenações ficcionais sem tradução conhecida (os títulos não explicam, desafiam), num jogo de cumplicidades e de tensões; corpos intrigantes com que dialoga o observador, teatro visionário e pictural, visões.

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O que acontece ali no ecrã da tela? A representação realista desrealiza-se para o lado da invenção, do imaginário, como um sobre-realismo não surrealista, embora referindo-o, tal como se refere a nova objectividade, a metafísica e outras figurações, clássicas e modernas, ingénuas e eruditas, para que se procurarão as chaves possíveis, as perguntas certas, sem resposta. A figura na paisagem, mas paisagem abstracta, matéria colorida, habitada por objectos e construções volumétricas não referenciais (abstractos) que são outra das práticas do pintor-escultor, às vezes expostas. Formas invasoras, talvez ameaçadoras, que afirmam a possibilidade acidentes imprevisíveis e da da criação de ilusões. Às vezes monstros. O que vemos? Que histórias se contam - aliás não-histórias. O que é o visível? Como representar com humor a inquietação? Como pensar as imagens sem literatura, cenas de fantasia, ficções não literárias?

Perdi a exp no Museu de Évora.

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"O terreno é provavelmente o da antropologia-visual, a partir de pessoas comuns que dão corpo a diferentes personagens. São heróis de uma "pintura" cuja natureza romanceada faz parte de um laboratório enciclopédico, repletos de uma multiplicidade de equívocos e criados para um colector de memórias." José Miguel Gervásio, There's something wild in the city", 2014

 

1995 - 2002 duas notas:

SANDRA QUADROS  e JOSÉ MIGUEL GERVÁSIO, Moira, Lisboa - 16-12-95
Em último dia, ou talvez já encerrada (mas seria injusto que dela não ficasse alguma memória), uma mostra de dois jovens artistas das Belas Artes do Porto — S. Quadros (n. 1970, Angola) e J.M. Gervásio (n. 1968, Montijo) — que deram o título genérico de «Colagem» a trabalhos que são pintura, utilizando a colagem para fazer entrar no quadro imagens recortadas e reinventadas, confundindo sentidos originários como gesto de subversão, de humor e de reconstrução poética, que se prolonga ainda nas inscrições escritas e títulos de S.Q. Processos reutilizados com uma especial frescura e liberdade.

GERVÁSIO, Quadrado Azul, Porto, 9-02-2002  
Duas séries de desenhos, um alinhamento de trabalhos a tinta-da-china e uma parede de folhas riscadas a carvão fazem regressar José Miguel Gervásio à gal. onde já antes mostrara pintura, construções escultóricas e uma instalação invasora da sua produção gráfica. Os títulos «UMP LIX» reservam-lhes um secreto sentido narrativo, que não se deixa decifrar em figuras e espaços paisagísticos identificáveis, embora elas e eles estejam presentes, metamorfoseados por um grafismo imaginativo e livre. O automatismo gestual conduzido pelos caminhos de uma fantasia sonhada aproximam-nos de algum surrealismo, mas à margem dos seus estereótipos. Este é um mundo pessoal.

Módulo, 2010

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Montemor-o-Novo, Galeria Municipal, 2011

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A escultura é uma maqueta (ou vice-versa), uma construção que me lembra utopias-obsessões como o Merzbau (casa Merz) do Schwitters, um espaço arquitectónico (aqui miniaturizado como projecto) que é também um espaço interior, no duplo sentido de espaço habitado e mental. Invadido pelo desenho, e ele próprio desenho volumétrico. Colocada a escultura-maqueta no espaço central, ela desdobra-se numa galeria preenchida pelos grandes desenhos brancos ("Imagens de Atelier") - desenhos-colagens proliferantes montados sobre tela (papel de algodão sobre linho) - e noutra galeria onde as colagens de menor formato associam e sobrepõem diferentes papéis e técnicas e imagens, acumulando-se, ocultando-se ou sucedendo-se. São sempre narrativa a acontecer (interrompidas para a exposição mas certamente sujeitas a possíveis aventuras posteriores), a acontecer de diferentes modos narrativos, crescendo em volume, ampliando-se em grandes superfícies, ou incorporando a mancha de cor, juntando páginas, etc.

A pequena maqueta-escultura (50,9 cm na dimensão maior) é identificada como "elemento arquitectónico do projecto Aurora da Liberdade", produzido com um colectivo de arquitectos (AUZPROJEKT), e o projecto referido é apresentado perto de um "programa-colagem" panfletário e ilustrativo ("A bela aurora socialista"!?) somando sugestões utópicas e/ou ficcionais. Tudo e cada coisa pode ser lugar de passagem para outro estado, outro lugar. (Fotos *L)

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Montijo, Galeria Municipal, 2011 Depois da recente exposição em Montemor-o-Novo ( aqui ),reunião de trabalhos de 2008 a 2011 - quase sempre pela periferia, um trabalho de longo curso. Pessoal e ideossincrático.

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12/02/2021

A «Alternativa Zero» de Ernesto de Sousa

EXPRESSO/Cartaz de 05-07-97 (há 25 anos discutia-se um pouco mais)

"QUESTÕES ALTERNATIVAS"   
"Contribuição abertamente polémica para a discussão de uma exposição histórico-mitográfica. A «Alternativa Zero» como momento fundador da burocratização das vanguardas"

«Perspectiva: Alternativa Zero» (1)
Fundação de Serralves

«Reapresentar hoje a experiência da "Alternativa Zero" implica a reconsideração de um contexto fundador das raízes da contemporaneidade artística portuguesa, através da reflexão sobre a actividade crítica e curatorial que o combate ideológico de Ernesto de Sousa representa, ao concretizar uma exposição que reunia toda uma geração de ruptura que, desde finais da década de 60, vinha afirmando as suas propostas e ampliando-a no contexto possível que o pós-25 de Abril poderá ter permitido» — João Fermandes (catálogo).
É raro que um discurso que pretende ser história se revele com tal evidência um exercício de mitificação-mistificação. O próprio autor e comissário da exposição o terá sentido, já que inicia assim a frase seguinte: «Não se trata de mitologizar esta experiência...».

Palavras como fundação e raízes sempre serviram para construir ou legitimar mitos, e é uma certa ideia de «arte contemporânea», nascida de uma suposta ruptura com a «arte moderna» que teria ocorrido por volta de 1968, que se propõe como horizonte de actuação da nova direcção de Vicente Todoli e João Fernandes em Serralves.
É de 1969 que data a paradigmática exposição «Quando as atitudes se tornam forma», organizada por Harald Szeemann, em Berna, seguida em 1972 pela Documenta de Cassel que o mesmo comissariou e Ernesto de Sousa visitou; então convertido à «vanguarda», aí teve um encontro decisivo com Joseph Beuys <*>, vindo a organizar a «Alternativa Zero» em 1977.
Tinha sido antes crítico de arte ligado ao neo-realismo, crítico de cinema e cine-clubista, realizou o filme Dom Roberto em 1960-62, foi encenador teatral e animador-agitador em geral, depois artista multimédia e «operador estético», como preferia dizer.

Que significa «mitologizar» no museu os restos (em muitos casos reconstruídos para a ocasião) de uma exposição-acontecimento tão decididamente marcada pelas ideologias do tempo — o «espírito de 68» e a «desmaterialização da arte» —, quando nela se propunham não objectos e obras, mas atitudes, intenções, processos, acções no quotidiano e no «contexto», por definição efémeras?
Que sentido tem, hoje (ainda, ou de novo?), falar da «geração de ruptura» de finais dos anos 60, quando outra se lhe terá seguido nos inícios de 80 (à volta do «Depois do Modernismo») e mais uma se manifestaria nos começos de 90? Sem esquecer que outra já se afirmara no final dos 50, como tentou provar uma recente antologia da década de 60, sob o título «Anos de Ruptura».
Esta sucessão das «rupturas», ao constituir-se numa ziguezagueante continuidade (aceleração última da «tradição do novo», conforme a fórmula de Harold Rosenberg, já de 1960), não exigirá, pelo contrário, a desmistificação do conceito de ruptura e da visão da história como sucessão de gerações?

Repescando como raíz mítica o neovanguardismo de finais de 60, uma actual «vanguarda» plenamente oficializada enquanto poder (no Instituto de Arte Contemporânea, em Serralves e no CCB, nomeadamente através de Isabel Carlos, João Fernandes e Pedro Lapa) sustenta a sua política «geracional» — institucional por definição, burocrática por vocação crítica — gerindo uma alternância de vagas (de rupturas e de modas). Agora, através da fetichização museológica dos vestígios de uma prática artística que pretendia precisamente opor-se a tal destino, em nome do projecto de mudar o mundo.

Transformou-se a natureza do poder, ou completou-se a domesticação de atitudes que tiveram uma dimensão original de contestação globalizante, com sentido político, ético e estético? Ou terá sido o discurso vanguardista, sempre, embora sobre diferentes faces, a afirmação de uma ambição de poder?

Como comissário de exposições, Harald Szeemann defendeu «a transferência do interesse para o processo, deixando de considerar essencial o resultado» (o objecto). Valorizou as «atitudes artísticas» e o «gesto» como «assinatura e estilo» — viriam a seguir as «mitologias individuais», depois de desfeitas as utopias colectivas. Desconsiderou o objecto, as disciplinas e os géneros artísticos, tanto de tradição académica como de anti-tradição moderna. Contrapondo os artistas que descobria aos «fazedores de objectos», Szeemann exprimiu «o desejo de fazer explodir o "triângulo" tradicional da arte: atelier-galeria-museu» e associou a rejeição da realização formal (tradicional ou moderna), o anti-formalismo, a uma ideia de «antiforma social» que reconhecia em alguns comportamentos juvenis emergentes na década de 60.

Foi, em paralelo com a contestação política do tempo (a mobilização contra a guerra do Vietname, o terceiro mundismo, os esquerdismos, as revoltas estudantis), o período dos vários movimentos designados como pós-minimalismo e arte conceptual, processual ou «povera», «land», «body», etc...

Mas, de facto, ao contrário do que sucedera com as vanguardas do início do século, surgidas em oposição à Academia, a nova dinâmica vanguardista já podia contar com o apoio activo das instituições culturais: a tradição da ruptura ía-se tornando a vocação de um sistema burocrático nascido com a inclusão da cultura entre as competências do «Welfare State», sobre a dissolução do sistema académico e a demolição gradual de anteriores concepções de democratização da cultura.
À distância, observa-se que o museu, agora encomendador e promotor directo, e já não só depositário de objectos reconhecidos como património colectivo, passou a deter a primeira posição no mesmo «triângulo» criticado por Szeemann, enquanto a «antiforma social» serviu de legitimação autoritária à oficialização de um poder artístico voltado para a satisfação exclusiva de alguns produtores e do seu «público especializado».

A «Alternativa Zero» deverá ver-se como repercussão nacional dessa dinâmica, com inevitável atraso — embora fosse já mais a síntese de um processo do que um manifesto inaugural. Muito mais alternativo, no entanto, também por volta de 1977, seria o discreto retomar da pintura por António Dacosta...

Em Portugal, o mesmo movimento de institucionalização das neovanguardas decorre acelaradamente após o 25 de Abril, mas, em 1977, as esperanças revolucionárias já tinham ficado para trás. A crise petrolífera de 73 abalara o sistema galerístico antes de se repercutirem no mercado e na prática artística os efeitos de 74: é a um primeiro desinvestimento da produção «tradicional» (pintura e escultura), devido à crise económica, que se seguem as acções de animação revolucionária. (Algo de semelhante, com outra argumentação ideológica, ocorreu nesta década, por efeito da nova crise económica...)

De facto, a «Alternativa Zero» terá associado a algum experimentalismo cuja importância convirá reconhecer (permiti-lo-á a presente exposição?) as desilusões resultantes tanto da paralização do mercado de arte como da diluição de expectativas associadas à revolução. Desaparecidos os «consumidores» e o «povo», os objectos de arte e a agitação político-cultural pareciam deixar de ter destinatários. Recentrar a prática artística sobre si própria, sobre a «essência» e o conceito de arte, as suas convenções e anti-convenções, a atitude e a intenção do artista, seria a resposta «natural» nesse contexto. Uma resposta autista e rapidamente esgotada, como veio comprovar a breve prazo a vaga «pós-moderna».

Entretanto, importa ver que a «Alternativa Zero» já é o resultado de uma confluência da «vanguarda» com o activismo das instituições oficiais — é essencial que a exposição tenha decorrido na Galeria de Arte Moderna de Belém e com o directo empenhamento da Direcção-Geral de Acção Cultural, onde trabalharam artistas como João Vieira, Julião Sarmento, Fernando Calhau, Vitor Belém (também expositores).

Reapresentar hoje a «Alternativa Zero» em Serralves é, acima de tudo, celebrar o «contexto fundador» que tornou o nome do comissário das exposições mais importante que o dos artistas participantes, ou seja, o momento em que o «projecto» se impõe sobre as obras, a intenção sobre o resultado, a atitude sobre o objecto. É assinalar um passo decisivo, para que em Portugal, se viesse a impor, à margem do mercado particular e do sistema museológico, mas também com autonomia relativa face à instrumentalização política por parte dos governos, um aparelho cultural de Estado (sobre o modelo francês) identificado com o «mundo da arte», tido como seu representante e dominador da circulação artística. Um poder de tutela, crítico-administrativo, que, ao sabor das fases de crise ou expansão da conjuntura económica, e sob a aparência das «rupturas geracionais», faz alternar tacticamente não só os padrões críticos como as suas relações com o grande mercado privado, ora associando-se-lhe sem qualquer pudor (nos anos 80) ora condenando-o com vaga argumentação «políticamente correcta» (anos 90).

É um outro sistema académico que assim se reconstrói e, tal como sucedeu antes, é possível adivinhar que a criação artística mais significativa do presente lhe é em grande medida exterior.
Vinte anos é o tempo suficiente para que uma «geração» que não assistiu à «Alternativa Zero» possa transformar a sua memória em restos museológicos, reinjectáveis nesse outro mercado que é hoje a cultura oficial e a indústria estatal do espectáculo artístico.
NOTA:  Devido à data de fecho desta edição, mas cumprindo o primado das intenções sobre os resultados defendido pela «Alternativa Zero», este texto foi escrito antes da visita a exposição onde se recolhem as respectivas relíquias. Outros comentários se lhe seguirão. (2)

(1) Notícia de 05-04-1997 (Actual, pág 3) 
Novo programa para Serralves
A programação de Vicente Todolí como director artístico da Fundação de Serralves arranca já no início de Julho com uma exposição que tem o título ainda provisório «Perspectiva 'Alternativa Zero'», depois de antes ter sido designada como «Uma década de ruptura - Os anos 70 em Portugal».
Mais do que de uma abordagem retrospectiva de toda a década, tratar-se-á, de facto, de um projecto em torno da mostra colectiva que Ernesto de Sousa promoveu em 1977 na antiga Galeria de Belém e que teve como subtítulo «Tendências polémicas na arte portuguesa contemporânea». Aí se reuniram praticamente todos os artistas («operadores estéticos», dizia-se então) que trabalhavam em áreas ditas experimentais e conceptuais, num contexto que terá sido, contra as expectativas da época, mais uma oportunidade de balanço terminal do que um momento de ruptura inaugural, mas que tem vindo a ser reconsiderado na presente conjuntura, graças às oscilações cíclicas das «sensibilidades» artísticas e às suas pulsões revivalistas. (...)

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11/30/2021

Ellie Ga (Gyros 1-3, ZDB) - 2

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A arte não acabou, mesmo. Depois de ouvir Yves Michaud voltei à ZDB para voltar a ver, mais demoradamente, a vídeo-instalação ( a atmosfera “gasosa”…) de Ellie Ga. Excelente produção expositiva da ZBD que ontem se encerrou (16 set - 27 Nov), sem a resposta crítica que merecia (a crítica acabou mesmo?).
O uso dos ecrãs múltiplos. A construção do discurso visual a que se assiste em directo graças à troca manual constante e pausada das imagens transparentes (projecção de ozalides sobre caixas de luz). O texto narrativo dito numa toada branca mas emotiva, uma voz bem moldada, e ao lado bem traduzido em legendas. A densidade-qualidade literária que ora é (aparentemente) documental ora intimista sem que se estabilize uma qualquer chave de leitura, tão "desesteticizado" o texto como as imagens (banais, despretenciosas). A reiteração das imagens e das palavras em diferentes momentos, desrealizando qualquer interpretação fixa. Tudo marca uma qualidade criativa que é densa e discreta, imediatamente cativante, flúida, original nos processos e na dimensão ficcional.
 
“Gyres” ou ‘giros em português são correntes marítimas gigantes que transportam todo o tipo de objectos através dos oceanos’. Do Pacífico norte americano ao Mediterrâneo e Lesbos, fala-se de respigadores da praia, das suas lojas e museus de objectos encontrados, e de garrafas com mensagens à deriva, também de Bruce Chatwin e de Yannis Ritsos. Fala-se de objectos levados por correntes, de possíveis trânsitos marítimos de povos históricos, de Fukushima, de memórias auto-referenciais - tudo se enreda num discurso aberto.
Não é cinema nem pintura digital, a projecção sonora é outra coisa.
E faltará dizer que Ellie Ga e este trabalho (Gyres 1 -3, estreado na bienal de Whitney 2019) têm uma boa carreira. https://elliega.info/Gyres

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Yves Michaud - “L’art c’est bien fini”

Brilhante conferência na EDP de Yves Michaud, o autor de L ‘Artiste et les comissaires de 1989 (um livro inovador), o director da Escola de Belas Artes de Paris, da colecção na Éditions Jacqueline Chambon e da Université de Tous les Savoirs do ano 2000, autor de Contre la Bienveillance de 2016, filósofo (empirista) e também (irregular) crítico de arte.
“L’art c’est bien fini”, entre aspas (a arte acabou mesmo), e em letra minúscula, é uma obra de filosofia (erudita, complexa) e de comentário sociológico sobre a estetização generalizada da/na sociedade actual, desde a viragem da técnica comunicacional ou mediática de 2005 - data que propõe como baliza. ‘Ensaio sobre a hiper-estética e as atmosferas’ é o subtítulo.
A descrição do sistema da arte contemporânea é decisiva mas… A tentativa de dissociar a Arte e a arte, cx alta e cx baixa, a Grande Arte e as várias artes (e mercados) que coexistem no presente e no mundo, bem como a ideia da indiferença ou indiferenciação quanto à produção artística actual não se sustentam. Ele próprio distingue na classe dos “top gun” Koons ou Hirst e Hockney, que defende e de quem ‘gosta’, mesmo que um quadro (aliás 14 quadros) de formato médio se venda em galeria por 8 milhões e esgotem em 48 horas (de menor formato por 5 milhões), vários comprados pelo telefone. Em francês e com sala cheia. Central Tejo / EDP, 27 nov.
 
É sempre a relação entre a vontade de arte por parte do autor/artista e o reconhecimento ou apreciação crítica do observador que importa, individualmente ou por consenso social. O actual sistema da arte em que o juízo estético dominante nas ZEP (zona estética protegida) se faz sobre o valor financeiro, o entretenimento (artertainement*) e a moralidade é só mais um sistema depois de outros.
 
(* the concept of “artertainment” (contraction of “art” and “entertainment”). “Artertainment” is a relation to art history and culture in order to educate and have fun in the same time. Artertainement is developed through visits of museums and monuments)
 
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Ellie Ga (Gyros 1-3, ZDB)

Em baixo, num alongado ecrã, acumulam-se e movimentam-se ozalides fotográficos que surgem (ou não) depois no ecrã maior numa montagem visual que é acompanhada pela narração documentária e pessoal, autoral, traduzida ao lado em português. Noutro ecrã menor, à esquerda, acrescentam-se imagens filmadas ou fixas. Mais do que uma (vaga ou indiferente) atmosfera imersiva, que também é (mas neste caso atraente, cativante), o dispositivo sustenta uma narração, em vários episódios, que junta a intensidade e qualidade literária à curiosidade das imagens. Imagens "despretenciosas", "desestetizadas".
No espaço-sala anterior, galeria de acesso, também negra dispõem-se mesas de luz duplas e estáticas que a seguir ganham movimento e som na galeria seguinte, mmas então não visível.
Não é frequente as videoinstalações captarem a atenção e reterem o visitante em movimento, de passagem indiferente. Aqui acontece, depressa a curiosidade e a atenção se instalam  (é uma instalação). Neste caso não é para "ver passando" mas para assistir, e as duas cadeiras largas são oportunas. (24 nov.)
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O comentário filosófico e empirista do Yves Michaud sobre atmosferas estetizadas (esteticadas) é justo como apreciação de usos, consumos e políticas, sobre o contemporâneo sistema  da arte, mas daí não se passa para a sua conclusão e título "L'art ç'est bien fini" (a arte acabou mesmo); esse jogo é inútil ele serve-se da maiúscula Arte como artifício (Artifício?) para ter razão. A arte sobrevive, mas a relação com ela implica julgar e escolher, e trata-se de arte e não de Arte. Mas até esse jogo (arte e Arte, Grande Arte) é inútil. (conferência de Y M no dia 27 na Central Tejo / EDP)

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09/03/2021

Antologia do ensaio de arte

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"... a experiência peculiar do nosso corpo afetado por um vento lateral pode ser o gatilho para um conjunto de obras que propõem tornar visível a essência inefável desse fenómeno. Os desenhos de x são ensaios: imagens que fazem aproximações, necessariamente incompletas e parcelares, ao mundo intangível." - 2 de Setembro. gal Filomena Soares
 
(à maneira de Platão mas com gatilho, a essência inefável e o mundo intangível. profundo. E são sempre as mesmas pessoas com um emprego aqui e um aluguer ali. tentaculares)
 
1
 
"... novos trabalhos que reflectem sobre a noção de ensaio enquanto acto de repetição. ..., uma série de esculturas, composições de parede e intervenções no espaço exploram o lado tentativo da duplicação do gesto e a ambiguidade dos lugares de fala e de escuta." 31 de Agosto. gal. Francisco Fino
 
 
(Escritas mutantes, tentativas, com muita ambiguidade...)
 
 

 

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Memórias do Expresso

 
a propósito do livro Memórias do FP Balsemão: Foi óptimo sair do Expresso em 2007. E Se houvesse algum decoro o Henrique Monteiro não devia ter assegurado na revista a promoção do livro.
 
ponto prévio 1:  As memórias do Expresso interessam-me por razões pessoais (1982-2007) e não só. Devo dizer primeiro que fiquei muito agradecido pelo Henrique Monteiro me propor a rescisão do contrato: as condições legais que existiam à data era muito, mesmo muito, favoráveis e desapareceram pouco tempo depois. Além disso havia mais para fazer por conta própria. Foi a altura certa, também porque o espaço de manobra e intervenção iam estreitando a olhos vistos (espaço de escrita, oportunidade de destaques e de projectos, etc), conseguindo o HM aquilo que o arquitecto JAS nunca tinha alcançado, entre a banalização da cultura e a continuidade de algumas redes (dentro e fora do jornal). Mas sempre nos demos muito bem, conversávamos e apoiei muitas das suas políticas, sem haver cumplicidades maçónicas.
2: não me parece nada bem que o Henrique tenha preenchido 4 páginas de encómios em forma de resumo quando se lê depois que o mesmo Henrique é a pessoa mais elogiada no livro. Outros desaparecem, outros são desconsiderados e vítimas (tantas vezes justas) de referências demolidoras e/ou despeitadas, mas o que sobra quanto ao Expresso é "a era Monteiro", p. 675 - desdobrada por muitas páginas. Por uma razão de decoro, para lá da isenção jornalística conveniente, o Henrique não devia ter escrito - devia ter passado a bola a alguém que viesse dizer que o FPB escreveu as Memórias tarde demais e com uma prosa em geral burocrática (administrativa, vá lá), fazendo de copydesk da informação que lhe proporcionaram. Pode ser que os capítulos políticos sejam mais animados.
 
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Ainda não li nem tenho <já tenho> o livro do Balsemão mas espanta-me que no seu resumo na última edição o Henrique Monteiro não refira nunca entre os nomes do Expresso a Helena Vaz da Silva, que dirigiu, pelo menos em 1975, um 2o caderno que antecipou em muito a Revista, com uma dinâmica frente cultural. Já nas evocações recentes acerca do Vicente Jorge Silva, essa prioridade foi esquecida - mas de facto ainda guardo vários cadernos memoráveis, como os do caso Gulbenkian. O Tio Balsemão tb se esqueceu? Espero pelo índice. Aliás, tb o Vicente só aparece numa referência à criação do Público, o que é mais estranho dado o rol de nomes citados, e eu tb fui. Mas é certo que o HM chegou depois da saída do Vicente… Igualmente me espanta que o Henrique em 4 páginas não aponte um lapso, uma falha, um erro nas mil páginas. O patrão é infalível? Como será contada a guerra interna que levou ao afastamento do director que de Maputo era porta voz de Samora, ou a greve que levou o Vicente à subdirecção com o eterno arquitecto? Balsemão defendia sempre e até ao limite o director em funções. (1)
 
Perguntava abaixo pelo recheio da autobiografia (Memórias)* do Balsemão, e em especial pela gritante ausência de Helena Vaz da Silva no registo feito pelo Henrique Monteiro, tendo ela dirigido, pelo menos em 1975, um 2o caderno que antecipou em muito a Revista. (Já nas evocações recentes acerca do Vicente Jorge Silva, essa prioridade foi esquecida .)
O Tio Balsemão tb se esqueceu? Não: ele vem revelar aos vindouros que ainda enquanto Helena Gentil foi sua namorada nos anos 50 e "nos anos 70 viria a trabalhar no Expresso", isto numa nota da pág. 153 - numa nota, registe-se.
Mais adiante (p.255) arrola-a num grupo de "pessoas como Vicente..., Helena... Maria João Avillez ou A Mega Ferreira, "todos com a deriva esquerdista própria da época e sobretudo com grande ambições pessoais - e para isso o Expresso era, como sempre foi, um bom trampolim." etc. É quase tudo muito pouco (e só pela rama) e não lhe fica bem. Se fosse maldoso, e não sou, sempre simpatizei e colaborei sem ter queixas do patrão, diria que os outros tinham grandes ambições e ele tinha grandes heranças.
* também já disse ao abrir o livro: para já parece mais registo (facultado por colaboradores) do que autobiografia. Os rancores e as amabilidades diminuem mt a coisa. (Consultar antes de comprar) (2)
 
As memórias do Expresso interessam-me por razões pessoais (1982-2007) e não só. Devo dizer primeiro que fiquei muito agradecido pelo Henrique Monteiro me propor a rescisão do contrato: as condições legais que existiam à data era muito, mesmo muito, favoráveis e desapareceram pouco tempo depois. Além disso havia mais para fazer por conta própria. Foi a altura certa, também porque o espaço de manobra e intervenção iam estreitando a olhos vistos (espaço de escrita, oportunidade de destaques e de projectos, etc), conseguindo o HM aquilo que o arquitecto JAS nunca tinha alcançado, entre a banalização da cultura e a continuidade de algumas redes (dentro e fora do jornal). Mas sempre nos demos muito bem, conversávamos e apoiei muitas das suas políticas, sem haver cumplicidades maçónicas.
Posto isto, também acho muito simpático que o Balsemão venha lamentar que eu saísse do júri do Prémio Pessoa logo que saí do Expresso ("quis sair,... e faz falta") - p. 667. Estava lá em trabalho, mesmo que se comesse bem em Seteais e as duas noites de conversa de bar fossem proveitosas. É pena que o patrão não aproveite a passagem pelo Prémio para contar algum episódio marcante, além de falar das dificuldades em localizar certos premiados e do conhecido caso de Herberto Helder, que recusou. Noutra situação já achei oportuno contar por que José M. Rodrigues partilhou o prémio com Manuel Alegre (caso único), perante a fúria incontida e as ameaças graves de Mário Soares - na votação final que os ia desempatar (era obviamente favorável ao fotógrafo) sugeri ao FPB que não se contassem os votos e assim se fez: não sei se me devo arrepender, mas a casa vinha abaixo... O compromisso de não se revelarem os bastidores do Prémio foi sempre cumprido, mas esta era a altura para revelações.
Entretanto, não me parece nada bem que o Henrique tivesse preenchido 4 páginas de encómios em forma de resumo quando se lê depois que o mesmo Henrique é a pessoa mais elogiada no livro. Outros desaparecem, outros são desconsiderados e vítimas (tantas vezes justas) de referências demolidoras e/ou despeitadas, mas o que sobra quanto ao Expresso é "a era Monteiro", p. 675 - desdobrada por muitas páginas. Por uma razão de decoro, para lá da isenção jornalística conveniente, o Henrique não devia ter escrito - devia ter passado a bola a alguém que viesse dizer que o FPB escreveu as Memórias tarde demais e com uma prosa em geral burocrática (administrativa, vá lá), fazendo de copydesk da informação que lhe proporcionaram. Pode ser que os capítulos políticos sejam mais animados.(3)
 
As memórias do Expresso são tão débeis no livro que não apetece propor muitas achegas ao texto. Falei da Helena Vaz da Silva, que teve importância nos anos iniciais com o seu Caderno 2 (era este o nome?) a preceder a Revista em 1975, e apetece-me lembrar o João Carreira Bom (que escorregou um dia numa "Gente" de gosto duvidoso) e a Maria José Mauperrin. E há que dizer que a infinita permanência de 21 anos do arquitecto Saraiva (chama-lhe a "Saraivada", em várias fases, p.649), que B lamenta agora, fica por entender, para além do que era indecisão e acomodamento do patrão; ou que a zanga com o Vicente o impede de dar a importância devida à sua presença à frente da Revista e à bicefalia em que o Expresso viveu muitos anos.
A desconfiança de B face aos "puristas da cultura" (p.646) tem pelo menos dois afloramentos pouco felizes. Mas lembro com estima o interesse que tinha por acompanhar as maquetas dos novos cadernos, como o "Cartaz" de pequeno formato que fui com o "mestre" (o também eterno ou interno Luís Ribeiro) ver imprimir em Madrid.
 
Já agora a passagem pela recomposição da Redacção quando da criação do Público, 1990, deveria ser mais exacta. O arq. não acertava uma, incapaz de reter, de tentar convencer, alguém que hesitasse entre as duas ofertas, pelo contrário (no mínimo, "não esteve particularmente visível na "guerra" do Público, FPB p. 655). A situação , que esteve à beira de impedir a saída da Revista, pelo menos, foi enfrentada por uma equipa de 3 (o B esqueceu, entre a amiga Clara e o ódio ao JV) que negociou salários altos em casa do patrão, que recrutou jornalistas e pegou o jornal pelos cornos. A Clara e eu passámos a editores - já era de facto, da cultura - (apareceu o Gabinete Editorial da Revista - era aliás uma direcção algo colegial que reforçava o JV, até à saída inábil deste) e defendemos a passagem do Joaquim Vieira à direcção ("embora este primasse pelo silêncio", FPB p. 655).
Não quis passar para o Público, quando o Vicente me convidou depois do arranque frustrado do seu jornal ("no Expresso nunca serás ninguém", berrava ele ao telefone): à sua volta havia uma pequena corte de admiradores subservientes, e ele por sua vez temia o Seabra - não era um ambiente aprazível. Felizmente os fundadores-conspiradores não me convidaram de início, mas de certeza não aceitaria, não fazia parte amável do subgrupo...
Por outro lado, foram muito difíceis (tensas, distantes) as relações com o Saraiva, mas ele teve sempre uma evidente tolerância perante os meus desafios, mesmo quando reclamei a sua saída numa assembleia (resolvera deixar o 1º caderno ao Vicente e recuar para a Revista, alegando cansaço). Julgo que valorizava muito o facto dos nossos pais terem sido amigos ao tempo do neo-realismo e depois em Paris. Enfiado no seu buraco-gabinete, sem contactos políticos, bisonho, era um improvável director (e não chegou a ter o Nobel). (4)

Posted at 09:18 in 2007, 2021, Expresso | Permalink | Comments (0)

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08/30/2021

Museu Romântico - "Extensão" Nuno Faria

 

3o agosto
Que túmulo é este? Museu romântigo

A informação oficial continua(va) a ser esta, mas despejaram a casa:
"O Museu Romântico é um dos núcleos museológicos do Museu da Cidade do Porto, em Portugal.Está instalado na Quinta da Macieirinha, também chamada Quinta da Macieira ou do Sacramento, num edifício datado do século XIX e que pertenceu à família Pinto Basto.O Museu Romântico pretende ser a reconstituição do interior de uma casa da burguesia abastada de Oitocentos, período tão característico da cidade do Porto. Aqui passou os seus últimos dias, exilado, Carlos Alberto, rei do Piemonte e da Sardenha, que aqui veio a falecer a 28 de Julho de 1849.Em memória do ex-rei, foram reconstituídas algumas dependências da casa, como a capela, o quarto de dormir e a sala de estar, a partir de aguarelas e litografias da época==== Quinta da Macieirinha - página da Câmara Municipal do Porto Núcleo Museu Romântico - página da Rede Portuguesa de Museus.https://www.facebook.com/
 
“O que aqui tínhamos era a encenação de uma casa burguesa oitocentista dedicada a um rei italiano [Carlos Alberto da Sardenha] que nela viveu por um curto período de tempo”, resume Nuno Faria, “e achámos que devíamos repensar este espaço de modo radical, revisitando o romantismo na sua vertente trans-histórica, como persistência espiritual que se vai reacendendo ao longo dos tempos, para assim o activarmos na contemporaneidade”. Fala o Nuno Faria.
Um herbário na casa do romantismo
Homenageado na Feira do Livro do Porto, Júlio Dinis é também a figura central na exposição do novo pólo que o Museu da Cidade reserva ao romantismo. Nela o “herbário de artista” do médico escritor entra em diálogo com obras de Rui Chafes e Lourdes Castro. (Luís Miguel Queirós) https://www.publico.pt/.../herbario-casa-romantismo-1975332

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07/17/2021

A Diamang de Braga desdobravel

 

https://www.diamangdigital.net/

diamang digital é um projeto de digitalização e disponibilização em linha de materiais documentais, fotográficos e fonográficos da ex-Diamang - Companhia de Diamantes de Angola, em arquivo na Universidade de Coimbra.

"O espólio da ex-Diamang – Companhia de Diamantes de Angola, existente na Universidade de Coimbra, é composto por dois núcleos distintos.
Um primeiro núcleo foi objeto de aquisição pelo Centro de Estudos Africanos associado ao Departamento de Antropologia da Faculdade de Ciências e Tecnologia, e a cujas atividades de investigação e ensino estava associado o Museu Antropológico da Universidade de Coimbra.

Esse primeiro núcleo foi adquirido com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian e da Junta Nacional de Investigação Científica no âmbito de um projeto de investigação da responsabilidade do Prof. Manuel Laranjeira Rodrigues de Areia (projeto JNICT 443/87). No âmbito deste projeto, o núcleo inicial foi detalhadamente descrito na publicação de 1995, Diamang, Estudo do Património Cultural da ex-Companhia de Diamantes de Angola, Coimbra, Museu Antropológico da Universidade de Coimbra. (...)

2

https://www.diamang.com/

Diamang: Um espaço virtual dedicado à Diamang e à Lunda.

 

 

Diamang memorias

Braga

carregar para ampliação ou copiar a foto do texto:

Braga desdobravel1

 

Braga desdobravel 2

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A Diamang de Braga no Público a 20 de junho

O Silêncio da Terra – Visualidades (Pós)Coloniais Interceptadas pelo Arquivo Diamang

fica guardado aqui o texto da Lucinda Canelas no Público de 20 de Junho. julgo que é o único artigo publicado sobre a exposição.
https://www.publico.pt/2021/06/20/culturaipsilon/noticia/diamang-colonialismo-portugues-cabe-neste-retrato-1967057

Diamang: o colonialismo português cabe neste retrato
Em Braga, faz-se agora a primeira apresentação pública de parte do arquivo da Companhia de Diamantes de Angola, combinando a fotografia feita na Lunda nas últimas décadas do Império Português com a arte contemporânea que reflecte sobre a experiência colonial. Trabalhos forçados, segregação racial, feridas abertas na paisagem e na memória numa exposição que não foi feita para doutrinar, mas para emocionar.

 

PÚBLICIO 20 de Junho de 2021 Lucinda Canelas


Foto Agostiniano Oliveira/Cortesia da Universidade do Minho


Captura de ecrã 2021-07-16  às 20.05.16

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07/10/2021

Diamang de Braga (11): SPAMOI

(4 Julho)
SPAMOI ou SPAMOI?
 
Volto a falar da exposiçao Diamang em Braga, apresentada pela Universidade local, porque há coisas graves a apontar, para além de critérios de tratamento de fotografias históricas e de montagem. Nomeadamente no plano da investigação-informação existem erros de manifesta gravidade.
 
Aí se fala em dois textos de parede (nº 5 e também nº 2) do SPAMOI, identificado como Serviços de Protecção à Mão-de-obra Indígena (e "a partir dos anos 60... SPAMO"). nº11
Ora SPAMOI significa Serviço de Propaganda e Assistência à Mão de Obra Indígena, e sabe-se que tal Serviço foi criado em 1937 e passou a SPAMO depois de 1961.
 
Não há lugar a dúvidas: SPAPOI é Serviços de Protecção à Mão-de-obra Indígena, e não se admite este erro universitário.
 
O Relatório de 1937 da Diamang (acessível no site DIAMANG DIGITAL) diz de que se trata:
"RESUMO - Este relatório informa sobre as atividades do SPAMOI durante o ano de 1937 e está estruturado pelas linhas de orientação dadas pela “Ordem de Serviço” nº 3-D/37. São referidos os objetivos a que se propõe o SPAMOI e as atividades de cariz assistencial realizadas na Zona de Explorações, mais concretamente junto das comunidades de trabalhadores das minas residentes nos vários grupos de aldeamentos construídos próximo das explorações mineiras."
 
"(...) acção do serviço durante o ano de 1937, apresentando também algumas propostas de actuação e previsões para o ano de 1938.
Destaque para os seguintes conteúdos:
- processos e estratégias adotadas para a aquisição, aumento e fixação da mão de obra "voluntária" e "contratada" para o trabalho mineiro;
- construção das “Aldeias de Propaganda” e das “Aldeias dos Contratados” em terrenos cultiváveis;
- informações sobre os novos hábitos de higiene e de ocupação doméstica do espaço habitacional;
- estratégias de apoio aos familiares de todos os trabalhadores, nomeadamente a doentes, a mulheres grávidas e parturientes, pela oferta de alimentos, roupa e incentivos ao cultivo da terra;
- tabelas com dados sobre as lavras feitas pelas mulheres dos trabalhadores contratados, sobre as plantações de árvores de fruto e as sementes distribuídas, sobre as casas de adobe, capim e tijolo construídas e reparadas nas aldeias dos três grupos."
 
Por um lado interessa constatar que Propaganda significa Informação (e orientação) como sucedia ao tempo com o SPN (depois SNI) e antes com a influente Sociedade Propaganda de Portugal (SPP), de que pouco se fala e que se confunde às vezes com o SPN.
Depois aqui se demonstra a política de "paternalismo empresarial" (Todd Cleveland, "Diamantes em Bruto") da Diamang, nas suas medidas de"harmonia" social construída sobre o trabalho forçado e a segregação racial, que incluíam as Festas da Melhor Aldeia e outros actos.
 
Uma das pessoas da "equipa curatorial", Miguel Bandeira Duarte (design e museologia), tem competências nesta área e gostava de saber como foi envolvido neste programa descredibilizado. 210547972_4230052423698288_560766659701646577_n
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Da equipa fazem também parte Fátima Moura Ferreira (coordenação científica), Duarte Belo (fotografia) e Patrícia Leal (arte pós-colonial). #diamangdebraga

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Tags: Diamang, Lunda

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A Diamang de Braga (13)

A universidade a explorar pretos (dizem-me que devia dizer negros, mas é como pretos que a UMinho trata os "indígenas") é uma coisa que me irrita. Aconteceu em Braga com investigação foleira, pinceladas de politicamente correcto e cumplicidades de artistas-oportunistas coloniais. Deviam devolver os dinheiros atribuídos à coisa"
 
211470005_4236212573082273_8360396266439772046_nMonumento ao Comandante Ernesto Vilhena, administador delegado, Dundo (foto Júlio Pedro)
 

. A moda africana não justifica tudo. A concorrência frenética entre departamentos universitários, institutos e doutoras (demarcação de coutadas de caça) não permite tudo. O pretexto foi a Diamang que é a vários níveis um caso complexo. E sério. Há diamantes que envergonham. Nunca se refere que é o regime do trabalho forçado que alimenta a empresa em mão de obra, mesmo que os "contratados" sejam tratados com paternalismo.
Esta é a 13ª pequena nota que fui acrescentando à surpresa provocada pelo artigo do Público de 20 de Junho e depois pela visita a Braga a 30 de Junho. Só progressivamente fui averiguando o que foi a exp. e é a sua breve informação disponível, com a ajuda de outras fontes e em especial a investigação e livro de Todd Clevelland.
nº 13 #diamangdebraga #diamang #diamangbraga

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Atelier-Museu

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OS LIVROS DE JÚLIO POMAR:
ITINERÂNCIA DA LEITURA, ESCRITA, PINTURA

05 julho 2021 – 10 outubro 2021
Curadoria: Mariana Pinto dos Santos

 

Não é para contar estórias que tu escreves ou eu pinto.
A estória é o que deitamos na panela a amornar nas cinzas
onde inesperado sopro lhe levantará fervura.
А cozinha é а cozinha сomo uта rosa é uma rosa,
querem coisa mais simples?

Júlio Pomar, Assim trabalho eu, 2004

“Desde cedo, Júlio Pomar estabeleceu uma relação entre a sua pintura e a literatura que lia ou que os seus amigos ou contemporâneos escreviam, traduziam, editavam. Num texto sobre Cardoso Pires, escreveu que «literatura e arte eram coisas perfeitamente indissociáveis». Não só fez várias capas de livros, como também desenhou e pintou variadas obras literárias.
Muitos dos seus trabalhos não “ilustram”: não querem iluminar ou revelar a obra literária com que se relacionam, mas sim continuá-la por outros meios. São «variações», para usar um termo do artista.
Os livros, as pinturas e os desenhos nesta exposição mostram os itinerários de Júlio Pomar entre a leitura, escrita e pintura, considerando a leitura como etapa primordial, um pre-texto para a pintura. A relação entre texto e imagem é sublinhada pela transcrição nas paredes do AMJP de excertos de algumas das obras literárias ou poéticas que os seus trabalhos evocam, numa intervenção visual do artista Horácio Frutuoso.

Propõe-se uma exposição antológica dos livros de Júlio Pomar, entendidos num sentido lato: os livros que fizeram parte do seu imaginário pictórico, os livros que pintou/desenhou, os seus livros e edições de artista, e os seus escritos poéticos e sobre pintura.
Entre as obras de Júlio Pomar apresentadas, poder-se-ão ver exemplos das que abordam os temas de D. Quixote e Ulisses, duas das suas que relações literárias mais duradouras e profícuas, mas também as que derivam de obras de Cardoso Pires, Ferreira de Castro, Tolstoi, Aquilino Ribeiro, Maria Velho da Costa, Malcolm Lowry, Jorge Luís Borges, Castro Soromenho, Eça de Queiroz, Dante, Carlos de Oliveira, Lewis Carroll, Fernando Pessoa, Edgar Allan Poe, Richard Zimmler, entre outros, incluindo desenhos e pinturas inéditos. Através do percurso aqui proposto desenha-se também uma trama na qual se vislumbra, por via da relação entre o literário e o pictórico, uma história cultural e política, pessoal e colectiva.” MPS / AMJP

Na foto: “Navio Negreiro”, 2005-2012 (a partir de D. Quixote); ilustrações para Terra Negra, de Castro Soromenho; ilustrações para A Selva, de Ferreira de Castro (col. Ilídio Pinho)

Posted at 10:51 in 2021, Atelier-Museu Júlio Pomar, Julio Pomar, Júlio Pomar | Permalink | Comments (0)

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Fotografia ou "papel"

O Museu do Chiado, que também usa a marca MNAC, está a fazer um uso original da fotografia nas suas montagens (não expõe fotografia, usa-a, o que é um dos destinos que lhe cabem). Em alguns casos mostra ampliações fotográficas de reproduções de pinturas de que não dispõe de originais, o que tem serventia (acontece na antologia de Francis Smith), mas noutros, na montagem da colecção, faz acompanhar algumas obras por impressões fotográficas em formato de cartaz, com variável oportunidade e sentido de escala - acompanha as imagens-provas de parede com tabelas erradas que induzem confusões sobre o que são objectos fotográficos.

No caso acima, ao tríptico desenhado de Manuel Filipe (Tragédia Marítima, Nazaré, 1944) junta-se uma Viúva da Nazaré de Varela Pécurto, 1958, que se classifica como "prova gelatina sal de prata", o que corresponderá à prova original da colecção, mas fica por esclarecer que aqui se apresenta não essa prova, mas uma impressão digital moderna de diferentes dimensões e qualidades. O mesmo sucede com a parceria desiquilibrada do Auto-retrato de Mário Eloy, óleo sobre tela de 1936-39, e do retrato de Thomaz de Mello (Tom) por San Payo, de 1920, com a insólita indicação "papel". O que é o cartaz? É papel!!

(O MC dispõe de uma conservadora (ainda se diz assim?, ou tem de ser comissária, ou aliás agora curadora) dedicada à fotografia e vídeo, mas não ajudou a colega...) 213103473_4242192855817578_3926941706012534204_n
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Posted at 10:46 in 2021, Chiado, fotografia, Museus | Permalink | Comments (0)

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Agenda lx

LISBOA CONSPIRA: Faz impressão tão pouca gente num museu central (alguns raros turistas), …e depois , num banco do “teatro ao largo”, folheio a agenda da CML e percebo que a tutela (aqui a câmara, não o 214222969_4243167422386788_1762881078665553357_n
MC) aposta em servir o efémero, o festival, a sessão única e as suas clientelas pontuais, os circuitos da malta nova que, aliás, tem outros canais informativos. Quase tudo para usar e deitar fora, confidencial, de nicho, fogachos, eventos, com um manhoso design que passou por elegante e é de pouca leitura. Tudo imperdível e indistinto. Há anos q é assim e nunca vi outra cidade com este “gosto” tão chique e tonto e caro e inútil. Alguém se incrustou no serviço público com o seu grupo.

AGENDA CULTURAL LISBOA, Julho/Agosto 2021

lisboalx.pt

 

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06/28/2021

Pontas soltas sobre o Espólio da Diamang em Coimbra e o Museu do Dundo na Lunda e o Arquivo Fotográfico em Braga

1.

O Museu da Diamang do DUNDO falado em Angola, 2012

23.08.2012 PÚBLICO
BLOG "NO TRILHO DOS NATURALISTAS"

Museu Regional do Dundo reabre portas

"Sete anos após o seu encerramento para obras de reabilitação e de renovação, o Museu Regional do Dundo (Angola) abre novamente as portas ao público.
A intervenção de fundo foi feita ao abrigo das políticas de revitalização e valorização do património cultural nacional do executivo angolano, e teve particular incidência na reabilitação da estrutura interna e externa do seu edifício central, com realce para a renovação e modernização das salas de exposição, colocação de novas vitrinas, tendo em vista uma conservação apropriada das peças aí expostas.
O Ministério da Cultura angolano envidou também esforços para a total e correcta a inventariação e classificação das peças expostas, assim como a criação de um novo enquadramento arquitectónico capaz de proporcionar aos seus visitantes um ambiente mais agradável e apelativo."

Museu Regional do Dundo reabre portas

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Carlos Lousada  (originalmente publicado na revista Austral nº 96)

BUALA 2013

31 Julho 2013

O Museu Regional do Dundo, 2013

"O Museu Regional do Dundo ressurgiu modernizado a fundo, em Agosto do ano passado, após um período de encerramento para reabilitação e renovação. O Museu reabriu as portas com visíveis melhoramentos no seu edifício central, mas também nas estruturas externas, com salas de exposição melhor apetrechadas, novas vitrinas para melhor aconchego e exibição das peças arqueológicas – um cenário que proporciona aos visitantes maior à-vontade nas consultas ao seu acervo.

E há muito a consultar no Museu do Dundo que, se antes já estava situado entre “os maiores e melhor apetrechados de Angola e de África a Sul do Sahara”, reforçou essa condição, organizado em áreas de etnografia, história natural, arqueologia e paleontologia. Possui 14 salas de exposições (doze permanentes, uma temporária e outra de folclore), com uma colecção de cerca de 10 mil peças, 818 das quais estão expostas a tempo inteiro.

As diferentes áreas do Museu descrevem a vida quotidiana, cultural e a organização político-social dos povos Lunda/Tchokwe, com uma biblioteca com cerca de 35 mil livros ligados sobretudo à etnografia, arqueologia, filosofia, biologia e história natural. Uma sala multimédia está preparada para projecção de filmes, fornecendo as mais variadas informações sobre os habitantes do Leste de Angola, à qual se junta um laboratório de biologia.

Na cerimónia de reinauguração, a ministra da Cultura Rosa Cruz e Silva, sublinhou que o Museu foi apetrechado com equipamento moderno, que o converteu em “complexo museológico multidisciplinar” e lhe permite o uso de métodos científicos no tratamento do acervo e estudo do património. A seu ver, a instituição também conta agora com recursos humanos mais qualificados, que garantirão “um trabalho investigativo mais aprofundado em toda a região sócio-cultural Lunda/Tchokwe e dos grupos etnográficos vizinhos”.

3

EM COIMBRA: Diamang Digital

Espólio da Ex-Diamang na Universidade de Coimbra

 

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"Reabriu o Museu Regional do Dundo", 2012

09 de Setembro de 2012 Por JOAQUIM AGUIAR|Dundo. Jornal de Angola

in https://alxpomar.blogspot.com/search/label/Museu%20do%20Dundo

Historial

"O museu do Dundo, foi criado em 1936, pela então companhia de Diamantes de Angola (DIAMANG) e tinha como secções fundamentais a etnografia, pré-história, folclore e música.
Faziam também parte do museu do Dundo, o museu do Balabala, que se dedicava ao estudo da arqueologia, um laboratório de biologia que ao longo dos anos apresentou ao mundo científico a descoberta e o conhecimento de novos mamíferos, peixes, batráquios, sáurios, aves e novas espécies ou géneros de insetos, além de contribuições para o estudo da fauna da região da Lunda e da África Central.
Há a destacar, também, a "Aldeia Museu" que abrigava os artistas que trabalhavam regularmente em escultura, pintura e tecelagem de forma a permitir a revitalização de alguns padrões culturais em via de extinção.
As primeiras coleções do museu do Dundo começaram a ser recolhidas em 1936, tendo sido obtidas em diversos pontos da região leste do país, mas sobretudo nas atuais províncias das Lundas Norte e Sul e Moxico.
A iniciativa cabe ao etnógrafo português José Redinha, colocado ao serviço da administração colonial, na então vila de Portugália, que começou com uma coleção privada de objetos etnográficos, a qual evoluiu, com a pronta intervenção da DIAMANG, para um museu, cujos trabalhos alcançaram o mundo, tendo sido considerado na década de 1950, como um dos maiores a sul do Sara.
Até 1974 o museu do Dundo tinha um acervo de mais de 20 mil peças."

 

Sobre José Redinha: https://alxpomar.blogspot.com/search/label/Jos%C3%A9%20Redinha

https://alxpomar.blogspot.com/search/label/JoseRedinha

5

Braga

Arquivo Fotográfico da Empresa de Diamantes de Angola, sedeado no Museu Nogueira da Silva

"este arquivo corresponde a um dos registos mais públicos do extenso acervo fotográfico da empresa (1917-1975)" folha de sala

"A Exposição “O Silêncio da Terra: visualidades (pós)coloniais intercetadas pelo Arquivo Diamang” problematiza o arquivo fotográfico da Companhia de Diamantes de Angola (MNS), constituído com o objetivo de documentar a missão civilizacional empreendida na Lunda, entre 1917 e 1975. A iniciativa corporiza um dos resultados do projeto de investigação “Mapeamento e Sentidos Críticos do Arquivo Fotográfico da Empresa Companhia de Diamantes de Angola (Diamang)”, coordenado por Fátima Moura Ferreira (Lab2PT/Universidade do Minho)."

"é uma primeira apresentação pública de dois espólios que foram doados à cidade.
O primeiro, com cerca de 30 mil impressões e 30 mil negativos, foi confiado à universidade em 1998 pelo último administrador da Diamang, o geólogo Bernardo Reis, hoje provedor da Santa Casa da Misericórdia de Braga; o segundo, contendo relatórios técnicos, mapas, tabelas de pessoal, plantas e outros documentos em papel, foi entregue em 2018 pela Sociedade Portuguesa de Empreendimentos e está à guarda do Arquivo Distrital de Braga, à espera que os investigadores lhe dêem atenção."
Reportagem do Público,
de Lucinda Canelas
20 de Junho de 2021 Publico :
Fotografia Diamang: o colonialismo português cabe neste retrato

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Tags: Diamang, Museu do Dundo

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06/22/2021

Pinturas para uma exposição (111 / AMJP / FJP)

nº 1:

A GALERIA 111 RECUSOU EMPRESTAR OBRAS:
A próxima exposição do Atelier-Museu está em preparação e já se recebem as obras solicitadas a vários coleccionadores e proprietários. Mas pela segunda vez a Galeria 111 recusou ceder ao AMJP quaisquer obras - o que antes sucedera quando da exposição dedicada ao retrato, em 2020, depois da boa colaboração anterior. Não parece haver nenhum contencioso com o Museu da CML nem com a Fundação Júlio Pomar (são entidades totalmente distintas) nem com a memória do artista, a família, herdeiros, etc. As justificações - de acordo com correspondência trocada - são insólitas e inaceitáveis, mas a recusa da Galeria 111 (e/ou da chamada Colecção Manuel de Brito), expressa pelo actual director da Galeria, Rui Brito, e por Arlete Alves da Silva, não foi ultrapassada, e sobre isso se irá dizer adiante alguma coisa, contando que o equívoco se desfaça numa próxima oportunidade.
O Museu não se irá pronunciar, mas cabe-nos trazer a público um comportamento que é impróprio de uma entidade galerística credenciada. Entretanto, duas obras que permanecem na família de Manuel de Brito serão expostas, o que, além do mais, dará bom testemunho da longa relação do galerista e coleccioinador com Júlio Pomar. (A.P.)
Na foto: As Peregrinações de Fernão Mendes Pinto, 1985, da série "Mensagem". colecção Galeria 111.
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16 Junho:
Gato das Botas, 1980, colagem e pintura acrílica sobre tela, 65x80,5cm. Col. Inês e Rui Brito (oferta do artista).
Exposto em 2004, "Júlio Pomar, A Comédia Humana", CCB; em 2010, colectiva "Afectos", obras oferecidas por artistas a Manuel de Brito e família, Galeria 111. 2001, Cat. Raisonné Vol. II, nº 296. Col. Inês e Rui Brito. Uma das obras sugeridas para a próxima exp. do AMJP sobre os livros e a literatura na obra de Júlio Pomar. 201808824_163152619129763_9122508882820109276_n
 
17 Junho
MANUEL DE BRITO por Júlio Pomar, 30-10-2014. Texto (sem título) de abertura do livro 111. 50 ANOS. 1964-2014, publicado pela Galeria, com coordenação de Maria Arlete Alves da Silva. (não incluído no volume Júlio Pomar. Temas e Variações. Parte Escrita III 1963-2013, ed. Atelier Museu Júlio Pomar / Documenta, Setembro 2014.
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30.10.2014
"Se Manuel de Brito não tivesse existido não seria fácil inventar um outro igual, ou pelo menos, a ele semelhante.
A chave do seu indiscutível êxito está em que Manuel de Brito era tão bom conhecedor do meio que o viu nascer e em que cresceu que, como a história o provou, não se viu segundo.
Timida e pouco informada a sociedade portuguesa (da época?) não era naturalmente propícia a que lhe pusessem em causa hábitos e convicções.
As mãos e os olhos, conjuntamente hábeis, que o instinto de Manuel de Brito soube usar, foram a alavanca do êxito.
Usei a palavra alavanca levado pela voga que hoje lhe dão, mas logo me apetece recusá-la por inadequada: em vez de alavanca, termo que me soa de modo demasiado brutal, assaz mecânico, prefiro evocar a habilidade de Manuel de Brito, qualidade que na gíria das famílias da época se usava aplicar aos artistas.
Assim se poderia dizer (e ele bem gostaria de o ouvir) que na sua época Manuel de Brito foi um artista."
 
Nº 2 19 Junho
 
A edição digital do Público prestou-se a publicar uma notícia (é uma notícia?) da agência Lusa onde a direcção da Galeria 111 quis responder à nota publicada no Facebook da Fundação por Alexandre Pomar (A.P.) sobre a recusa de empréstimo de quadros de Júlio Pomar para uma próxima exposição no Museu que tem o seu nome, o que, aliás, também sucedera já em 2020. Pedir um "fee" de 5 mil euros + IVA ao Atelier-Museu, entidade da EGEAC/CML, pela cedência de algumas obras (4 ou 5?, ou menos), não é uma prática que ocorra entre coleccionadores e instituições, e vem ao arrepio de uma relação de trabalho, amizade e colaboração longamente mantida entre o pintor e o galerista e coleccionador Manuel de Brito, depois sempre continuada até agora. As justificações fornecidas para uma recusa, ainda muito antes de a Galeria propor a compensação financeira, assentaram em argumentos que nada têm a ver com as relações entre as partes.
Foi dito, como principal justificação, entre outras razões acessórias, num encontro pessoal solicitado pela direcção da 111, logo que lhe foi referido o pedido do Atelier-Museu para a cedência de obras, que a Galeria se acha preterida na consideração e no apoio que as entidades públicas lhe deveriam prestar. Na sequência desse encontro, comentei por mail a posição assumida:
"O ressentimento face a alegadas ou efectivas desconsiderações não é uma atitude positiva. A posição de quem se queixa, de quem se pensa como vítima, de quem acha que não é apoiado, é sempre prejudicial para o próprio e não ajuda a uma atitude de afirmação competitiva e descomplexada. A 111 com o seu património e a sua história não precisa de ser "apoiada" nem deve estar à espera de apoios e reconhecimentos. Deve voltar a impor-se, depois de ter sido a galeria mais relevante, mesmo que o panorama institucional e a política cultural não sejam hoje confortáveis ou favoráveis."
Na sequência de um também longo relacionamento pessoal e colaborante com a Galeria, nomeadamente na imprensa quando a 111 foi excluída de feiras de arte, ou durante o prolongado período de incerteza quanto à respectiva orientação, foi-lhes dito: "Considero que a presença de obras da colecção e/ou da galeria em exposições e instituições relevantes é uma apreciável afirmação pública da marca. Tratar-se-á, obviamente, de escolher os pedidos que importam. No caso do Atelier-Museu parece-me ser do interesse das duas partes evidenciar a relação com o artista em termos de acervo e de cumplicidade pessoal ao longo dos anos - eu tomaria a posição contrária: se pedem 3 pinturas, chamaria a atenção para outras obras disponíveis que pudessem interessar ao mesmo tema."
Lembrei que quaisquer dificuldades surgidas durante a ocupação do Palácio Anjos em Algés não deveriam ter incidência noutras situações. Recomendei, em tempo, melhor ponderação face ao que se poderia considerar uma ofensa à memória do fundador da Galeria e amigo de sempre do artista. Restará agora recordar essa relação, o passado da 111 e o que foi a Colecção Manuel de Brito.
 
Público / Lusa 18 Junho:
Fundação Júlio Pomar e Galeria 111 trocam acusações sobre empréstimo de obras
Para voltar a colaborar com a Fundação Júlio Pomar, a Galeria 111 exige um pedido de desculpas.
 
A Fundação Júlio Pomar, que gere um acervo e promove exposições sobre a obra do artista, acusou esta semana a Galeria 111, cujos proprietários são herdeiros da Colecção Manuel de Brito, de recusarem ceder obras para uma exposição em Lisboa. Numa mensagem colocada na rede social Facebook na terça-feira, assinada pelo presidente da Fundação Júlio Pomar, Alexandre Pomar, este queixa-se da alegada recusa da Galeria 111 em ceder “quaisquer obras” para uma exposição no Atelier-Museu Júlio Pomar, e aponta justificações “insólitas e inaceitáveis” por parte de Rui Brito e Arlete Alves da Silva, entretanto negadas pelos dois galeristas, que exigem um pedido de desculpas.
A próxima exposição do Atelier-Museu Júlio Pomar “está em preparação e já se recebem as obras solicitadas a vários coleccionadores e proprietários, mas, pela segunda vez, a Galeria 111 recusou ceder quaisquer obras — o que antes sucedera quando da exposição dedicada ao retrato, em 2020, depois da boa colaboração anterior”, indica Alexandre Pomar um texto colocado pela Fundação, a 15 de Junho. “Não parece haver nenhum contencioso com o museu da Câmara Municipal de Lisboa [Atelier-Museu Júlio Pomar] nem com a Fundação Júlio Pomar (são entidades totalmente distintas) nem com a memória do artista, a família, herdeiros, etc. As justificações — de acordo com correspondência trocada — são insólitas e inaceitáveis, mas a recusa da Galeria 111 (e/ou da chamada Colecção Manuel de Brito), expressa pelo actual director da Galeria, Rui Brito, e por Arlete Alves da Silva, não foi ultrapassada, e sobre isso se irá dizer adiante alguma coisa, contando que o equívoco se desfaça numa próxima oportunidade”, acrescenta.
O filho do conceituado artista falecido em 2018, aos 92 anos, escreve ainda: “O museu não se irá pronunciar, mas cabe-nos trazer a público um comportamento que é impróprio de uma entidade galerística credenciada”, e adianta que “duas obras que permanecem na família de Manuel de Brito serão expostas, o que, além do mais, dará bom testemunho da longa relação do galerista e coleccionador com Júlio Pomar”.
Contrapartida financeira
Contactado pela agência Lusa, o galerista Rui Brito reagiu aos comentários do presidente da Fundação Júlio Pomar dizendo que a recusa de obras “não sucedeu”, e que actualmente enfrenta constrangimentos e dificuldades em agilizar a resposta aos muitos pedidos de cedência de obras da Colecção Manuel de Brito para várias instituições, uma vez que muitas sofreram, nesse processo, “um grande desgaste, tendo sido necessários muitos restauros e algumas [...] foram mesmo danificadas”. “Devemos referir que alguns destes pedidos de empréstimos são feitos com prazos que não são aceitáveis para o tipo de instituições em causa”, indica o galerista, numa resposta por correio electrónico às perguntas da Lusa.
Neste caso específico do Atelier-Museu Júlio Pomar, “tendo em conta o número de obras que nos foi pedido, propusemos uma contrapartida financeira pelo empréstimo das obras, prática corrente nos dias de hoje, proposta que foi liminarmente recusada, sem qualquer justificação, nem houve qualquer tipo de contraproposta por parte da Fundação” Júlio Pomar.
“Depois disso, houve algumas trocas de mensagens com Alexandre Pomar, que usou um tom inaceitável de ameaça e difamação. Foi com muita surpresa e desagrado que vimos o post no facebook da Fundação Júlio Pomar, até porque tanto eu como a minha mãe [Arlete Alves da Silva] fazemos parte do Conselho de Fundadores da referida Fundação”, lamenta.
Rui Brito vê desta forma a postura da Fundação apresentada na rede social: “Inaceitável e difamatória, que condenamos, e até que a Fundação apresente e publique um pedido de desculpa formal à Galeria 111, a mim, à minha mãe e à minha irmã, não iremos colaborar mais com a Fundação Júlio Pomar”, garante.
“Esta decisão deixa-nos naturalmente muito tristes por ser um artista de referência da nossa Colecção, e pela relação de proximidade e amizade que sempre tivemos com o Júlio Pomar, e lamentamos muito que a Fundação tenha decidido tomar esta posição”, acrescenta.
 
Nas explicações, o galerista diz ainda que existe “uma clara confusão entre a Galeria 111 e a Colecção Manuel de Brito”. Desde 1946 que a Galeria 111 presta um serviço de divulgação e comercialização de artistas plásticos: “O seu fundador, Manuel de Brito, paralelamente à sua actividade de galerista, tornou-se um coleccionador de arte moderna e contemporânea, e as duas actividades sempre foram bem separadas.”
“A Galeria tem obras de Júlio Pomar para comercialização, mas nenhuma dessas obras foi requisitada pela Fundação Júlio Pomar para esta exposição, pelo que, desde já, não entendemos a referência ao nome da Galeria 111 e a uma eventual recusa de obras que não sucedeu”, destrinça.
 
Quando Manuel de Brito morreu, em 2005, a colecção foi distribuída pelos seus herdeiros <esta é uma versão dos factos inédita: o protocolo estabelecido entre os herdeiros (a viúva e três filhos: Manuel, Inês e Rui) com a Câmara de Oeiras é obviamente posterior à morte e é aí que se apresenta e institui a Colecção, discriminando-se um total de 268 obras como um património comum A.P.> e a Galeria 111 continuou a actividade com a direcção do filho, Rui Brito, e da mãe, viúva do coleccionador. Ao longo da vida, Manuel de Brito (1928-2005) — um dos primeiros e maiores galeristas e livreiros do país — reuniu cerca de duas mil obras de arte, desde escultura, pintura e desenho, criando uma das maiores e mais importantes colecções privadas de arte do país. De acordo com Rui Brito, mais de 300 obras de vários artistas foram incorporadas na colecção deste o falecimento do coleccionador Manuel de Brito, incluindo a célebre pintura Almoço do Trolha, de Júlio Pomar.
“Sempre procurámos colaborar com todas as instituições museológicas ao longo dos anos, emprestando centenas de obras da colecção. Durante o período da duração do protocolo com a Câmara Municipal de Oeiras, que terminou em 2018, foi mais fácil agilizar essas colaborações, porque tínhamos uma equipa para tratar da colecção. Durante esse período, de mais de 11 anos, a colecção sofreu um grande desgaste, tendo sido necessários muitos restauros e algumas obras foram mesmo danificadas”, relatou, sobre o período em que esteve no Palácio dos Anjos, em Algés.
 
Acrescentou que grande parte da colecção está actualmente num espaço dedicado para esse efeito, no armazém da Galeria 111 e, “neste momento, não tem estrutura para dar resposta às muitas solicitações de empréstimo que surgem quase semanalmente”. “Desde a abertura do novo espaço da Galeria 111, em Fevereiro de 2020, que o fluxo de trabalho cresceu exponencialmente, e nem eu, nem a minha mãe, conseguimos dar resposta aos pedidos de empréstimos, nem achamos que a nossa actividade galerística deva ser sacrificada pela nossa gestão da colecção privada para que esta seja um “pronto-socorro” de algumas instituições”, considera o galerista.
Adianta ainda que “está a ser criada uma estrutura neste momento para lidar com a colecção”, e os herdeiros vão dispor de um espaço no Campo Grande para esse fim, esperando que, “nessa altura, seja mais fácil darmos seguimento a alguns dos pedidos”. O protocolo assinado para 11 anos de cedência do Palácio dos Anjos, pela Câmara Municipal de Oeiras, liderada por Isaltino Morais, para a criação do Centro de Arte Manuel de Brito, e realização de exposições da colecção, terminou em Novembro de 2017. As negociações foram sendo adiadas, acabando por não ser renovado.
 
 
Nº 3 21 Junho:
Um ou 2 esclarecimentos necessários, sem gastar muita tinta:
A. O Atelier-Museu e a Fundação Júlio Pomar são entidades totalmente independentes, a 1ª pertencendo à CML via EGEAC, a 2ª ligada à família. A FJP entregou em depósito todo o seu acervo de obras ao AMJP, que o usa e por ele é responsável : 2 doações do artista em 2006 e 2014, e uma 3ª dos herdeiros em 2019, além de outras ofertas pontuais significativas - as doações não são reversíveis e quando a Fundação se extinguir as obras pertencerão ao Museu e à CML, salvo se o AMJP for ou ficar abandonado. Existe uma relação de colaboração com o AMJP para efeito de indicação e localização de obras na posse de coleccionadores para exposições, mas sem interferência na programação.
B. Foi por iniciativa da Galeria 111 que abordámos o tema dos seus empréstimos ao AMJP, num encontro que nos (me) foi solicitado por ocasião de um contacto para esclarecimento de dúvidas quanto a obras existentes ou não nos acervos da 111 (queria saber a quem foi adquirido o Café de 1945 por Manuel de Brito, considerando relevante o facto de todas as obras desse mesmo tempo estaram ou terem estado na posse de colegas e amigos - pergunta sem resposta; e se dois desenhos também do início de 1945, de um estilo "flamejante" que antecede o neo-realismo, se encontrariam ainda na Galeria - ver fotos). Nessa reunião pedida pela direcção da 111 foi justificada a recusa dos empréstimos ao AMJP. Foi a repetição de um encontro tido em 2020. Esqueci-me na altura de recordar que Arlete Alves da Silva e Rui Brito fazem parte do Conselho de Curadores (antes dito de Fundadores), o que justificaria a sua melhor colaboração.
1945 desenho col MB 1
1945 desenho col MB 1

Posted at 01:31 in 2021, Atelier-Museu Júlio Pomar, Galeria 111, Julio Pomar, Júlio Pomar | Permalink | Comments (0)

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06/21/2021

As fotografias da Diamang em Braga

Ainda não vi a exposição de Braga, mas a informação é lamentável.

Só hoje (dia 20) soube das exposições em Braga, através da noticia do Público, e uma delas encerra já no dia 30. A actual avalanche de memórias coloniais é uma situação curiosa: Visões do Império no Padrão dos Descobrimentos, e filme de Joana Pontes a estrear; Fantasmas do Império filme de Ariel de Bigaut nos cinemas ( City Alvalade, Lisboa).

Diamang: o colonialismo português cabe neste retrato

https://www.publico.pt/2021/06/20/culturaipsilon/noticia/diamang-colonialismo-portugues-cabe-neste-retrato-1967057
 
"Esta exposição que leva à Galeria do Paço da Reitoria da Universidade do Minho (UM, até 30 de Junho) e ao Museu Nogueira da Silva (MNS, até 11 de Setembro), ambos em Braga, 560 fotografias que documentam a actividade da maior empresa do Império Português e a vida no mundo que ela criou no distrito da Lunda, no Nordeste de Angola, até à independência do país, cruzando-as com o trabalho de vários artistas contemporâneos que têm vindo a reflectir sobre a experiência colonial, é uma primeira apresentação pública de dois espólios que foram doados à cidade.
O primeiro, com cerca de 30 mil impressões e 30 mil negativos, foi confiado à universidade em 1998 pelo último administrador da Diamang, o geólogo Bernardo Reis, hoje provedor da Santa Casa da Misericórdia de Braga; o segundo, contendo relatórios técnicos, mapas, tabelas de pessoal, plantas e outros documentos em papel, foi entregue em 2018 pela Sociedade Portuguesa de Empreendimentos e está à guarda do Arquivo Distrital de Braga, à espera que os investigadores lhe dêem atenção."
"A exposição, que se divide em dois pólos, com financiamento do programa ProMuseus e da Fundação para a Ciência e a Tecnologia — o tratamento das fotografias e dos negativos foi feito, e continua a ser, por bolseiros de investigação do Laboratório de Paisagens, Património e Território (Lab2PT) da UM no âmbito do projecto Mapeamento e Sentidos Críticos do Arquivo Fotográfico da Empresa de Diamantes de Angola —, resulta do cruzamento de uma selecção das fotografias feitas para relatórios e outros documentos oficiais da Diamang com a arte contemporânea para que, explicam as comissárias, o visitante possa ser exposto a uma contranarrativa ancorada no presente."
"As imagens que vemos nas paredes — os comissários optaram por não usar provas vintage por serem muito pequenas, fazendo ampliações sem truques digitais e apenas com pequenos ajustes em relação ao formato dos negativos, quando necessário — são, na sua maioria, da autoria de três técnicos do laboratório da empresa, que tinha no Dundo a sua sede administrativa: Renato Amorim (que fotografou entre 1943-1947), Agostiniano Oliveira (1948-1964) e Júlio Silva Pedro (1964-1975)."

"Para este projecto, Duarte Belo começou por pegar nas 30 mil fotografias impressas que a equipa do Lab2PT tinha já digitalizado (os 30 mil negativos ficaram de fora, à espera da próxima oportunidade) à procura das mais expressivas, das que lhe permitiam montar uma “narrativa coerente”

De selecção em selecção, uma estratégia que começou por reduzir o lote de 30 mil imagens para 10 mil e, depois, para 942, Duarte Belo passou à sua distribuição por 30 tipologias (mineração, maquinaria, desporto, agricultura…), chegando, assim, às cerca de 300 que hoje vemos na Galeria do Paço da Universidade do Minho, organizadas em sete núcleos temáticos, que vão dos imaginários ligados ao processo colonial, à mão-de-obra nas minas e nas centrais de escolha dos diamantes, passando, por exemplo, pelas estratégias de ocupação e de ordenação do território concessionado à empresa." PÚBLICO

 
A Diamang foi um estado dentro do estado (uma colónia dentro da colónia), com regras próprias, mais belgas que portuguesas. Gilberto Freyre condenou a empresa e a sua orgânica social, depois de uma visita por todo o pobre império no início dos anos 50, a convite de Sarmento Rodrigues, então ministro, depois governador de Moçambique afastado por Salazar: alí não havia "luso-tropicalismo" - a denúncia teve efeitos pelo menos numa nova política editorial e de comunicação da empresa:
 
“Deixo-me fotografar, no próprio Museu, ao lado de um velho soba, vestido como nos seus velhos dias de príncipe e que a Companhia conserva para dar pitoresco às ruas do Dundo. Um pobre soba carnavalesco. A sua sobrevivência, como figura já quase de museu, é simbólica de toda uma política de exterminação violenta e rápida, das culturas indígenas, a que se sentem obrigadas as grandes empresas capitalistas na África (…). É o que acontece dentro das grandes empresas capitalistas que hoje se instalam na África e se utilizam de africanos arrancados às suas tribos sem lhes darem oportunidade de participação em novos sistemas de convivência e de cultura. São eles mantidos num ambiente socialmente artificial – e não só artificial: humilhante – do qual só poderá resultar a sua degradação. (…) O estado de ‘trabalhador nativo’ do africano destribalizado, dentro das grandes empresas capitalistas instaladas na África, é uma situação de condenado sociologicamente à morte. Baseia-se na concepção de ele ser inferior ao branco, não transitoriamente – como cativo de guerra ou devido a outro acidente – mas como raça. Biologicamente. Fatalmente.” in “Aventura e Rotina. Sugestões de uma viagem à procura das constantes portuguesas de carácter e acção”, editado em 1954 (citado por Maria José Oliveira "Diamang. 100 anos da maior empresa do império português: racismo, abusos e trabalhos forçados", Observador 29 Out 2017. (https://observador.pt/.../diamang-100-anos-da-maior.../)
 
O álbum fotográfico "Flagrantes da Vida na Lunda", ed. Museu do Dundo, Diamang, 1958, com introdução de José Osório de Oliveira, fotos não creditadas, 194 págs. impressas em rotogravura, é uma directa consequência de G. Freyre...
 
 
Conhecendo-se isto - Flagrantes da Vida na Lunda, 1958 - a U de Braga devia ter começado por aqui. Estas provas e/ou estes negativos estão no acervo? Antes de procurar fotos inéditas, o que foi publicado pelo Museu do Dundo deve ser o principal objecto de pesquisa e exposição.
 
 
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Simulacro do antigo costume de execução de prisioneiro ("mussuico") para termo de hostilidades (Cacongos do Nordeste). O costume era a execução ou o simulacro da execução? Aqui trata-se de um simulacro ou de um simulacro do simulacro? Trata-se sempre de simulacros, mesmo que documentais.

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É toda uma linguagem de seita exótica e esotérica que aparece na informação oficial da U.: visualidades / (pós)coloniais interceptadas / problematiza... "o objectivo de documentar a missão civilizacional"...
Diz-se que a exp. “O Silêncio da Terra: visualidades (pós)coloniais intercetadas pelo Arquivo Diamang” problematiza o arquivo fotográfico da Companhia de Diamantes de Angola, constituído com o objetivo de documentar a missão civilizacional empreendida na Lunda <FALSO, FALSO>, entre 1917 e 1975 <desde 1946 que a Diamang e o Museu do Dundo editam volumes de "subsídios para a história, arqueologia e etnografia dos Povos da Lunda">. A iniciativa corporiza um dos resultados do projeto de investigação “Mapeamento e Sentidos Críticos do Arquivo Fotográfico da Empresa Companhia de Diamantes de Angola (Diamang)”.
 
Ora, a investigação etno-antropológica está estreitamente associada à aventura, descoberta e ocupação colonial, à formação de ciências e à informação, que se chamava propaganda (SPP e SPN). A observação e a recolha têm sempre uma ambição científica à medida do seu tempo, embora por vezes alimentem mercados sumptuários e sirvam o espectáculo do exotismo (há exposições de Freaks, circos do Farwest, por exemplo).
A Exp. Colonial de 1934 no Porto proporcionou realizações nesse sentido: congressos científicos e edições. A Exp.-Feira Angola 1938 em Luanda teve um papel decisivo na matéria (pavilhões de culturas nativas, debate na imprensa sobre a necessidade de um museu) e impulsionou o Museu do Dundo dinamizado a seguir por José Redinha e Ernesto de Vilhena... Em 1934 e 1940 apresentaram-se aldeias indígenas mas também aldeias portuguesas (em 1940, na secção das artes populares)
 
A Diamang Digital da U. de Coimbra tem trabalho feito e acessível: https://www.diamangdigital.net/index.php?module=content&id=3
 
Relatórios desde 1942: https://www.facebook.com/photo.php?fbid=4189568504413347&set=p.4189568504413347&type=3
 
21-06
Custa a aceitar a base de ignorância deste artigo (de uma jornalista credenciada), mas que se justifica pelas deficiências das informações prestadas por quem organiza, dirige, comissaria esta exposição e actividade. Nenhuma referência séria é feita à excepcionalidade da tutela sobre a Lunda, que a companhia exerce com regras próprias, em geral importadas da administração belga. A Diamang não ilustra o colonialismo português ("o colonialismo português <NÃO> cabe neste retrato") e isso é manifesto da crítica muito dura que Gilberto Freyre faz no registo da sua viagem pelo império, distinguindo o que viu nesse distrito das outras observações que lhe permitem falar de luso-tropicalismo - já transcrevi isso noutra nota. Em consequência dessa dura crítica publicada, a Diamang esforçou-se a seguir por melhorar a sua política de comunicação, nomeadamente através da sua colecção de "Publicações Culturais", que em 1958 vai no 37ª volume.
O acervo fotográfico da Diamang parece caído do céu porque se ignoram esses volumes e a actividade do Museu do Dundo e o já grande acervo documental da Diamang Digital da U. de Coimbra (https://www.diamangdigital.net/).
Para brilhar a equipa da U de Braga faz tábua rasa do que se sabe sobre a Diamang - e o Público segue. E tratando-se de fotografia, ignora ou omite o notável álbum trilingue FLAGRANTES DA VIDA NA LUNDA, de 1958, que se divide em Paisagem, Tipos indígenas, Cenas da vida indígena, Folclore, usando como documento as cenas da sua aldeia "indígena" de representação fictícia, extensão do Museu, e as actividades de "integração" dos indígenas escolhidos para exibição ("A Diamang não podia abster-se de promover o acesso dos nativos a um plano de vida superior", p. 17).
O prefácio foi pedido a José Osório de Oliveira, que se diz independente e faz o elogio conveniente da "experiência social realizada na Lunda pela Diamang".
 
"A eficácia da experiência social realizada na Lunda pela Diamang e que se exemplifica pelos factos, já apontados, de o indígena do mato não invejar o das oficinas ou o dos escritórios e armazéns, e de estes não desprezarem aquele; de uns e outros viverem satisfeitos e orgulhosos das suas respectivas condições, como se todos ocupassem lugares honrosos; a eficácia dessa experiência, que constitui um raro fenómeno de coexistência harmónica de populações com diversos graus de civilização, deve-se, sem dúvida, em parte, à circunstância de não ter sido necessário criar grandes aglomerados urbanos ou centros industriais, com o seu comércio, a inevitável proletarização do indígena e as tentações que as cidades oferecem aos Negros de imitar a civilização dos Brancos no que tem de pior.
Não se vêem, nos bairros indígenas de certas cidades de África, «bars» com «vamps» pretas, numa triste paródia da vida europeia ou americana!? O Negro é caçador, pescador de rios ou agricultor, e afastá-lo da vida rural tem os seus riscos e só deve fazer-se com extremo cuidado, para que ele não sofra um perigoso desiquilíbrio psicológico. Na vida rústica reside a alma das suas tradições, que não perde, na Lunda, porque continua a residir em aldeias. Não creio que o Negro ganhe alguma coisa em se tornar, como na Libéria, cidadão de um país organizado à imitação das nações europeias ou dos Estados Unidos. A minha opinião é que o Negro, na Lunda, utiliza os benefícios da Civilização na medida em que lhe são úteis, sem incorrer no ridículo de macaquear o Branco. Por isso, o velho soba quioco do Museu do Dundo, o falecido Sacamanda, me deu tão grande impressão de dignidade humana.
(...) Não é possível, com efeito, deixar de considerar, na cúpula da vida indígena local, a presença da Companhia, ou melhor: o exemplo da orientação da Companhia nas suas próprias relações com os indígenas. Fulcro de civilização, a Diamang é, ao mesmo tempo, fulcro de valorização da tradição dos povos locais." (p.20)
 
 
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O SILÊNCIO DA TERRA. Visualidades (Pós)Coloniais Intercetadas pelo Arquivo Diamang

Fotos
silencio
cartaz
Foto da exposição
Foto da exposição
sexta-feira, 30/04/2021
Galeria do Paço da UMinho & Museu Nogueira da Silva
Exposição promovida pela Reitoria da Universidade do Minho, Museu Nogueira da Silva e Laboratório de Paisagens, Património e Território - Lab2PT. Inauguração
dia 30 de abril de 2021, pelas 18h00 na Galeria do Paço da UMinho e pelas 19h00 no Museu Nogueira da Silva.

A Exposição “O Silêncio da Terra: visualidades (pós)coloniais intercetadas pelo Arquivo Diamang” problematiza o arquivo fotográfico da Companhia de Diamantes de Angola (MNS), constituído com o objetivo de documentar a missão civilizacional empreendida na Lunda, entre 1917 e 1975. A iniciativa corporiza um dos resultados do projeto de investigação “Mapeamento e Sentidos Críticos do Arquivo Fotográfico da Empresa Companhia de Diamantes de Angola (Diamang)”, coordenado por Fátima Moura Ferreira (Lab2PT/Universidade do Minho).
 
A Exposição parte de uma interrogação: o que se guarda/esconde no silêncio da terra quando a memória do espaço no tempo é intercetada-revelada através de artefactos visuais: fotografia colonial e arte pós-colonial? A ambiguidade do título – O Silêncio da Terra – compagina-se com a ambiguidade da imagem da fotografia colonial: o que é que ela mostra? O que é que ela elide? O que é que ela não deixa ver? A copresença da fotografia colonial com artefactos artísticos pós-coloniais interpela o olhar. Eventualmente, convida a problematizar o que vemos a partir de um horizonte de presente contínuo pois atravessado por diferentes temporalidades. Como por camadas – estratos –, à maneira do ofício do geólogo, do arqueólogo, do historiador, do antropólogo …, somos levados a dissecar os enunciados visuais, isto é: a desconstruir aquilo que nos é dado a observar e que se cruza inevitavelmente com memórias pessoais, pós-memórias, representações sociais que se impõem como hegemónicas no tempo.
 
Informa-se ainda que a exposição estará aberta ao público na Galeria do Paço da UMinho até 30 de junho e no Museu Nogueira da Silva até 10 de setembro. A exposição tem curadoria de Duarte Belo/Patrícia Leal e Fátima Moura Ferreira/Miguel Bandeira Duarte.
 
 
O Silêncio da Terra - teaser

+Info: www.cecs.uminho.pt/inauguracao-da-exposicao-o-silencio-da-terra-visualidades-poscoloniais-intercetadas-pelo-arquivo-diamang
 

A Exposição “O Silêncio da Terra: visualidades (pós)coloniais intercetadas pelo Arquivo Diamang” desdobra-se em dois espaços, a Galeria do Paço e o Museu Nogueira da Silva (Universidade do Minho), e encontra-se patente ao público entre os dias 30 de abril e 30 junho -10 de setembro.

A Exposição tem por objetivo problematizar o arquivo fotográfico da Companhia de Diamantes de Angola (Museu Nogueira da Silva), constituído com o objetivo explícito de documentar a missão civilizacional empreendida na Lunda, entre 1917 e 1974. A mostra corporiza um dos resultados do projeto de investigação “Mapeamento e Sentidos Críticos do Arquivo Fotográfico da Empresa Companhia de Diamantes de Angola (Diamang)”, coordenado por Fátima Moura Ferreira (Universidade do Minho).

Na Galeria do Paço a exposição encontra-se acessível para visitas até ao dia 30 de junho, de segunda a sábado, das 10h00 às 12h30 e das 14h00 às 18h00. No Museu Nogueira da Silva pode ser visitada até ao dia 11 de setembro, no mesmo horário.

Artistas representados nos dois espaços expositivos: Alida Rodrigues, Ângela Ferreira, Catarina Simão, Délio Jasse, Filipa César, Francisco Vidal, Henrique Neves Lopes, Irineu Destourelles, Kiluanji Kia-Henda, Marilu Námoda, Mónica de Miranda, Nuno Nunes-Ferreira, René Tavares.

A ambiguidade do título da Exposição – O Silêncio da Terra – compagina-se com a ambiguidade da imagem da fotografia colonial: o que é que ela mostra? O que é que ela oculta? O que é que ela não deixa ver? A copresença da fotografia colonial com artefactos artísticos pós-coloniais interpela o olhar. Eventualmente, convida a problematizar o que vemos a partir de um horizonte de presente contínuo, atravessado por diferentes temporalidades. Como por camadas – estratos –, à maneira do ofício do arqueólogo, do geólogo, do historiador, do antropólogo ..., somos levados a dissecar os enunciados visuais, isto é: a desconstruir aquilo que nos é dado a observar e que se cruza inevitavelmente com memórias pessoais, pós-memórias, representações sociais que se impõem como hegemónicas no tempo.Um primeiro desafio desta Exposição – que se desdobra por dois espaços, Galeria do Paço e Museu Nogueira da Silva – assume-se como um convite: um convite a alargar o olhar e a conviver dialeticamente com os lados diferentes do que vemos e do que nos é dado a ver.“As minhas memórias [são] os meus documentos”. O enunciado da artista plástica Louise Bourgeois (1911 - 2010) pode ser lido como um dos lados desse desafio. Porque não abrir espaço ao que experienciamos e recordamos através de outros e às experiências e memórias do outro? Ao mesmo tempo, abrindo espaço às narrativas disciplinares produzidas sobre esse passado que olhamos, sentimos e pensamos sob o espetro da coexistência dos tempos.Lado a lado, a imagem da fotografia colonial é colocada em confronto (em rigor: intercetada) por contranarrativas oferecidas pela arte pós-colonial, pondo a nu as contradições das narrativas instituídas. São assim sugeridas tensões e brechas que ressoam dos artefactos visuais e que devolvem, ao olhar do presente, um passado não concluído de relações não findas e questões em aberto.

A exposição da Galeria do Paço é concebida em termos dialógicos e críticos entre 1) uma seleção do arquivo fotográfico intercetada por 2) um conjunto de obras de artistas plásticos que trabalham questões ligadas às memórias, às narrativas coloniais e pós-coloniais e aos discursos produzidos sobre o colonialismo tardio português e europeu. A exposição do Museu Nogueira da Silva põe em diálogo a reprodução integral do Arquivo Fotográfico da Empresa (Galeria do Jardim), a residência artística de Délio Jasse (Galeria da Universidade) e intervenções artísticas que têm por foco arquivos coloniais. Em suma: ao propor uma leitura intercetada entre as fotografias na sua dimensão arquivística e colonial e a arte contemporânea, a exposição inspira-se no conceito de ‘terceiro espaço’ (Bhabha, 1994) propício à (re)negociação de sentidos e significados a partir de perspetivas e temporalidades múltiplas.Artistas representados: Alida Rodrigues, Ângela Ferreira, Catarina Simão, Délio Jasse, Filipa César, Francisco Vidal, Henrique Neves Lopes, Irineu Destourelles, Kiluanji Kia-Henda, Marilu Námoda, Mónica de Miranda, Nuno Nunes-Ferreira, René Tavares, Rita Rainho / Ângelo Lopes.

teaser 1: https://www.youtube.com/watch?v=vLlWixWZNuY

Terça a Sexta: 10:00 – 17:00
Sábado: 14:00 – 18:00
Encerra à Segunda-feira e Domingo Captura de ecrã 2021-06-21  às 23.52.58
Captura de ecrã 2021-06-21  às 23.52.58
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06/13/2021

Neo-realismo entre as Américas e Paris*

A que informação internacional podiam aceder os muito jovens artistas que apareciam em 1942 numa colectiva de atelier em Lisboa e a partir de 1943 nas Exposições Independentes, no Porto? E em particular de que fontes dispunha Júlio Pomar no contexto da afirmação neo-realista de 1945, ao tempo da página “Arte” e da IX Missão Estética em Évora, e das primeiras Exposições Gerais na SNBA, desde 1946? Eram os tempos da II Guerra e do pós-guerra, mas não eram anos de isolamento, pelo contrário, e a atenção ao exterior é uma marca constante do meio das artes nacional, forjada na falta de fortes tradições próprias e fixações identitárias. Numa Lisboa que se pretendia neutral, a propaganda dos Aliados estava bem presente, a concorrer com os ventos do Eixo. Propaganda era ainda uma palavra que não se distinguia de Informação, e a que chegava a Lisboa nos anos de guerra incluía a frente cultural, que desde a década de 30 assumira uma forte dinâmica anti-fascista, e não só nas diferentes modalidades dos realismos nacionais. As questões da Guerra Fria, que a partir de 1947 iriam romper o espaço aliado, ainda não se faziam adivinhar.

1. Em diversas ocasiões Júlio Pomar referiu-se à informação que conheceu nos primeiros anos de formação, localizando-a em especial na biblioteca da Academia Nacional de Belas-Artes, que era então acessível aos estudantes e para onde fugia às aulas na companhia de Vespeira: «Ia para a Ribeira ou à biblioteca da Academia de Belas Artes, ao lado da Escola, onde consultava as edições recentes do MoMA de Nova Iorque, recebidas no meio da avalancha de publicações de propaganda que os Estados Unidos despejavam sobre Portugal durante a Segunda Guerra» (Júlio Pomar, E Então a Pintura?, Publicações Dom Quixote, 2002, p. 42). Eram também frequentadas as bibliotecas norte-americana e britânica, e finda a Guerra chegaram revistas da esquerda francesa distribuídas com o carimbo das recentes Publicações Europa-América (desde 1945).

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06/05/2021

Fantasmas do império de Ariel de Bigaut

"Fantasmas do Império" é, através do cinema, como cinema sobre o cinema, o processo ou inventário, o exame, de uma relação obsessiva de portugueses com o império, que certamente pouco teve de império (não havia meios para ser país imperial), e foi lugar de ocupações coloniais e colonizadoras, e de diferentes tempos políticos e vidas pessoais, hoje espaço de curiosidade, memórias e confrontações com a história e o mito, com a guerra, com as experiências directas ou familiares de muitos (e quase todos têm - temos - laços coloniais-ou-ultramarinos a prendê-los, a ligar-nos).
Mas a relação obsessiva que está aqui presente no cinema, e pelo cinema produzido ao longo do tempo (e que a Ariel de Bigaut percorreu e escolheu, com infinita disciplina metódica), é também um universo de ocultações e silêncios: não quisemos ver o muito cinema que foi pensando as Áfricas (e Macau), recalcámos o passado que nos prendia por curiosidade, fascínio ou imposição.
Uma obsessão, que existe desde sempre, e uma recusa agravada nas décadas que se seguiram à perda, ou derrota, ou libertação, como se quiser chamar. (Vimos poucos filmes dos que a Ariel nos faz ver agora, as produções vão-se acrescentando desde há pouco e o interesse é recente.)
O filme que estreou no IndieLisboa de 2020 chega desacompanhado de promoção a um ecrã de estreia periférico (City Alvalade) e a cinefilia que controla o espaço escrito dito crítico dedica-lhe a atenção mínima (no Expresso, o JLR que patrocina todo o cinema nacional - este filme é franco-português - arruma-o sem interesse; no Público de ontem (03-06) a nota é depreciativa e arrogante, em nome de um eventual outro "filme sobre as imagens coloniais por fazer" - só João Lopes no DN valoriza o que é trabalho de pesquisa das produções do antigo regime (na Cinemateca e com a palavra do director José Manuel Costa) e a "montagem de sóbrio dinamismo" que os cruza com "fragmentos de filmes que nasceram da vontade de repensar a representação colonial de Portugal".
O silêncio cego (e cobarde), ou a perversão cinéfila que se soma ao cancelamento "decolonial", é o mesmo que tem acolhido por cá os filmes de Licínio de Azevedo, em estreia ou no ciclo da Cinemateca (2015, sem catálogo), ou por exemplo a actual exp. ao Padrão dos Descobrimentos (Visões do Império, que chegará também ao cinema)
 
Antes de ser uma "reflexão sobre o imaginário colonial" (não existe um texto em off), é um diálogo e confronto entre filmes de muito diversos tipos: documentais e de propaganda, “actualidades”, ficções colonialistas e pós-coloniais, olhares contemporâneos, muitos deles raramente vistos ou desconhecidos, como as encomendas do regime a estrangeiros, nos seus últimos dias. Desde o fortíssimo e censurado Catembe de Faria de Almeida e o filme impossível de Joaquim Lopes Barbosa. Circula-se com certeira fluência, sem ordem cronológica de produção mas ordem histórica, entre as diferentes produções fílmicas, também com a presença e a palavra dos respectivos autores (em especial Fernando Matos Silva, João Botelho, Margarida Cardoso, Hugo Vieira da Silva, Ivo M. Ferreira, os mesmos Faria de Almeida e Lopes Barbosa, contando com extractos de Tabu de Miguel Gomes, Non de Oliveira e outros ), a que se somam as participações da investigadora Maria do Carmo Piçarra e dois actores negros, Ângelo Torres, são-tomense, e Orlando Sérgio, angolano, que são cúmplices inquiridores e comentadores. A sequência é imparável e aliciante. São o ritmo, a surpresa e a agilidade da colagem de fragmentos que sustentam este filme sobre filmes, documentário original na sua construção sobre ficções e fantasmas.#fantasmasdoimperio #visoesdoimperioCaptura de ecrã 2021-06-05  às 11.03.45o trailer: https://www.youtube.com/watch?v=Egd7hiYq99M&tCaptura de ecrã 2021-06-05  às 11.03.45
Captura de ecrã 2021-06-05  às 11.03.45
 

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05/31/2021

Maria Lamas 2021

É com muito agrado que vejo a Maria Lamas incluída na exp. "TUDO O QUE EU QUERO - Artistas Portuguesas de 1900 a 2020" que vai inaugurar na Gulbenkian no dia 2. Desde 2008, pelo menos, que fui escrevendo no blog sobre as fotografias que fez para "As Mulheres do meu País" e sobre outras que escolheu para a publicação em fascículos de 1949-50. Muito bem reeditada em facsímili pela Caminho em 2004, com recurso às provas originais (ed. esgotada e últimos exemplares guilhotinados pela Leya.
Em 1947, quando Maria Lamas dá início às suas viagens pelo país para a publicação do inquérito-reportagem 'As Mulheres do Meu País', tem 53 anos, e fora até há pouco directora com muito êxito da revista 'Modas e Bordados', do 'Século', jornalista e romancista - daí afastada por razões políticas. "Resolvi arranjar uma máquina e ser eu, também, fotógrafa", lê-se numa notícia publicada no boletim 'Ler - informação bibliográfica', das Publicações Europa-América (Maio-Junho 1948, pág. 10).
"A obtenção de fotografias, confessa, foi uma das maiores dificuldades que encontrou, pois queria-as ‘verdadeiras, expressivas, com valor documental e inéditas’. Acabará por assumir-se como repórter fotográfica, num trabalho pioneiro" – escreveu-se no ‘O Primeiro de Janeiro', Porto, 28 de Abril de 1948 (entrevista na pág. "Das artes e das letras"). Além das suas fotos escolheu centenas de outras de arquivos que conhecia bem. Mas o livro fotográfico passou em silêncio, mesmo na história do António Sena.
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Os seus numerosos retratos de mulheres devem ser vistos como uma grande aventura fotográfica, com um sentido de documentário social, de denúncia e de esperança ou optimismo que tem de ser associado ao neo-realismo, como uma contribuição muitíssimo original (mesmo se não se falou à época de neo-realismo fotográfico). Nunca foram expostas até adiantados os anos 2000 (e seguramente não foram no seu tempo pensados como objecto de exposição, ou colecção, ou edição autónoma), e nem mesmo foram incluídos ou referenciados, ao que julgo, nas exposições documentais tardias sobre Maria Lamas. A fotografia tem por vezes esses invisíveis.
Herdeiras de uma prática fotojornalística recorrente - o retrato individual que acompanha as notícias - , as fotos de ML têm uma verdade, cumplicidade e energia contagiantes, que desde logo decorrem e comungam da situação concreta do inquérito e do voluntarismo da autora. Qualquer explícita ambição esteticista ou artística está ausente: são documento e testemunho, das mulheres encontradas no terreno e do inquérito da autora, fotógrafa espontânea mas não ingénua. A vontade de arte não garante o sucesso, ou pelo contrário.
Apresentei-a num colóquio associado ao Centenário da CUF do Barreiro, em Outubro de 2008 ( INDUSTRIALIZAÇÃO EM PORTUGAL NO SÉCULO XX. O CASO DO BARREIRO - Actas publicadas em 2010 pela Universidade Autrónoma de Lisboa) em que me ocupei do neo-realismo na fotografia portuguesa, de 1945 a 1963 (em especial Maria Lamas e Adelino Lyon de Castro).
Jorge Calado incluiu logo a seguir fotografias de Maria Lamas na grande exposição "AU FÉMININ - Women Photographing Women 1849-2009", no antigo Centro Cultural da Gulbenkian em Paris, 2009 (exp. pioneira que não veio a Lisboa nem itinerou, e teve um catálogo de apenas 600 exemplares, por vicissitudes da casa). Tinha sete provas de época mais uma prova moderna na mostra e foi a artista mais representada, entre 100 autoras desde os primórdios da fotografia representadas por provas vintage e de autor.
Depois apresentou-a numa escolha de apenas 10 fotógrafos (Cristina Garcia Rodero, Cristobal Hara, Edgar Martins, Gérard Castello-Lopes, Helena Almeida, Joan Colom, José Luis Neto, Joshua Benoliel, Maria Lamas e Ramón Masats) na representação ibérica que comissariou para a "Dubai Photo Exhibition 2016 − A Global Perspective in Photography", entre seis comissários europeus de um total de 18 curadores e de 23 países e mais de 700 fotos.
 
José Neves escreveu sobre "O País das Mulheres de Maria Lamas", e atendeu às fotografias, em 'Comunismo e nacionalismo em Portugal - Política cultural e história no seu XX', 2008, Tinta da China (doutoramento)
Ver também MARIA LAMAS, FOTOGRAFADA E FOTÓGRAFA, POR JOSÉ GABRIEL PEREIRA BASTOS, de 2018, em https://fasciniodafotografia.wordpress.com/.../maria.../
#marialamas #marialamasfotografa

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"Representações do Povo", no Museu do Neo-Realismo

I
"Representações do Povo", no Museu do Neo-Realismo. Jorge Pinheiro, Domingos António Sequeira e Rafael Bordalo Pinheiro, Augusto Gomes, Tereza Arriaga e Graça Morais. Não se trata de um alinhamento de nomes e obras mas sim de uma sequência de núcleos autónomos (poderiam ser outros, mas fez-se uma boa aposta no diferente e menos conhecido), onde as várias peças expostas se sustentam por uma rectaguarda que lhe serve de apresentação e contexto informativo.
Começa-se com uma grande pintura de história (género que se quis ignorar no séc. XX) intitulada 'Ao Povo Alentejano', de 1980, onde Jorge Pinheiro refere - sem o ilustrar, pelo contrário: é um corpo jacente, que lembra as deposições de Cristo morto e a 'Morte de Marat', de David - um episódio da reforma agrária, uma desocupação de terras, em que dois trabalhadores foram mortos pela GNR. Mostram-se as páginas de jornal que impressionaram o pintor, então bolseiro em Paris - por "acaso" um fotógrafo estava presente e o Diário de Lisboa fez uma primeira fortíssima pagina. Identificou-se o fotógrafo (Mário Marnoto) e juntaram-se as fotos e uma publicação sueca que as divulgou ("Safira", em Goteborg). O pintor revelou agora estudos para o quadro que foram fotográficos e não desenhados, como é seu uso, e aparece também a reprodução de um quadro de Hogan que partiu das mesmas fotos e é da Câmara de Cuba. É óbvio que a visão da pintura ganha uma densidade e uma eficácia muito diferente das usuais condições de exposição de arte de ver de longe e passando.
Seguem-se o Zé Povinho (e a Maria Paciência) de Bordalo, com louças e ilustrações de imprensa da época e uma vera albarda de burro bem a propósito. Em frente, a gravura 'A Sopa de Arroios' de Domingos Sequeira, de 1810 o desenho e 1813 a estampa muito laboriosa, que está ampliada numa imensa parede impressa onde são graficamente destacadas as figuras do magistrado responsável pela distribuição dos géneros e de uma camponesa de Aveiro, de chapéu largo e roca de fiar. Numa densa imagem de observação factual (3000 figuras, anunciou-se) conta a concentração de refugiados às portas de Lisboa na 3ª Invasão francesa (Junot), quando o futuro duque de Wellington aplicou a táctica da terra queimada, e um cortejo de soldados que parte para a frente. É um impressionante testemunho histórico, apresentado com o seu contexto e estudos e algumas obras afins.
II
Continuam-se as "Representações do Povo" com Augusto Gomes e Teresa Arriaga, os mais associados ao neo-realismo, e no fim Graça Morais, como se dirá mais adiante: Pescadores de Matosinhos, 'Vidreiros da Marinha Grande' e as «Marias» da aldeia transmontana do Vieiro, com que se identifica o auto-retrato da artista. A exp. foi organizada por Raquel Henriques da Silva, directora científica do Museu de Vila Franca de Xira, na companhia de mais 5 comissários que se encarregaram dos diferentes núcleos, e foram mobilizados para um catálogo proveitoso e extenso.
De Augusto Gomes (1910-1976) mostra-se um trabalho em grisaille a óleo, encomendado pela câmara de Matosinhos e durante muito tempo sediado na respectiva lota do peixe. 'Família de Pescadores', de finais dos anos 1940, lembra um naufrágio de 4 embarcações e 152 mortos, em 1947, e acompanha-se por informação fotográfica sobre a pesca local e estudos desenhados. A figura é hierática e escultórica, dramática, sugerindo modelo religioso ("sagrada família" era designação local).
Em frente, Teresa Arriaga (1915-2013) é apresentada com um grande óleo de 1952 que foi obra de fim de curso na EBAL e para o qual se serviu de anteriores estudos minuciosos, desenhos, da laboração vidreira e de retratos de operários e aprendizes. Os exercícios são variavelmente esforçados, mas documenta-se uma pintora pouco conhecida, militante política e neo-realista à época, também servida pela investigação de João B. Serra.
A colecção de rostos, retratos de camponesas, 'Marias', de 1996 é uma abordagem crua do feminino e do rural, que a pintora entende bem como autobiográfica. Agreste e sem concessões de exotismo, seca e emotiva ao mesmo tempo, a série conclui bem o percurso, num diálogo frontal intenso com o visitante.
No conjunto, a mostra muda o ainda habitual olhar formalista sobre a arte, trazendo para cada obra as suas razões (e não só o seu pretexto). A preguiçosa relação com a arte "pura" (ou, hoje, com o achado), a gasta ideia de autonomia da criação, a especulação sobre o que há de específico no preencher da superfície plana, dão lugar a outra necessidade de ver e entender. O recurso ("impuro"...) à documentação, à fotografia e vídeo, aos estudos é muito bem trabalhado pelo conceito da mostra e a sua cenografia. Até 10 abril 2022

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05/17/2021

FG exposições desde 1962, notas de Sommer Ribeiro

Quando se reformou e deixou a direcção do CAM e do Serviço de Exposições da FG , o arquitecto Sommer Ribeiro fez-me uma lista das exposições que aconteceram desde 1973, e no CAM desde 1983. É uma lista incompleta


Captura de ecrã 2021-05-17  às 22.13.30
Captura de ecrã 2021-05-17  às 22.13.30
Captura de ecrã 2021-05-17  às 22.13.30Outras folhas enumeram Exposições com o Museu Gulbenkian, Principais exposições de Bolseiros, Arquitectura, Principais exposições de trabalhos sobre papel, Exposições com o Serviço de Música...

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05/03/2021

Publicado o Diário inédito de de Mário Dionísio (vol. 1, 1950-1957)

O primeiro tomo do diário de Mário Dionísio, intitulado «Passageiro Clandestino» e até agora inédito, escrito intermitentemente a partir de 1950, e a continuar com mais 4 tomos até 1989, foi apresentado no dia 25 de Abril na Casa da Achada (é o volume 11 e 11a da Colecção Mário Dionísio). Esta primeira publicação vai de 1950 a 1957 e é acompanhado por um maior tomo de notas, da autoria de Eduarda Dionísio.

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São 230 páginas o 1º vol., com uma breve justificação da Eduarda para a edição do Diário que MD deixou incompleto ou irregularmente escrito e reescrito por volta de 1977. E mais 516 páginas do 2º vol., a que correspondem 809 notas e índice de imagens, num exaustivo ou ciclópico trabalho de pesquisa, transcrição de textos e informação sobre os nomes, edições, espaços, assuntos e acontecimentos que MD vai referindo e que se documentam graças ao arquivo e ao acervo da Casa da Achada-Centro Mário Dionisio. Uma espécie de wikipedia pessoal, bem sistematizada, que se enfrenta como um animado puzzle ou, melhor, que se percorre como uma floresta feita de muitos trilhos e lugares. É um mapa de relações políticas e em especial literárias e artísticas, também biográfico sem derivas mundanas, sobre o fundo neo-realista dos anos 40-50, e da "polémica interna" da revista Vértice de 1952-53, vivido com a ortodoxia austera de um heterodoxo (ou a heterodoxia de um solitário ortodoxo). 2 livros por 30€, ou 25 para Amigos, à venda aqui: http://www.centromariodionisio.org

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03/03/2021

Taberna e Café, 1944

'Taberna' e ‘Café' são dois quadros de 1944, do tempo em que JP viveu no Porto, e que deveria ter sido possível voltar a reunir na antologia dos retratos mostrada no Atelier-Museu. Dois auto-retratos de grupo. Os primeiros.

1944 Taberna 20 x 40 228K

'Taberna', com apenas 22,8 x 45,3 cm, nunca voltou a ser exposto depois de em 1945 ter incluído a 1ª Exposição de Arte Moderna dos Artistas do Norte, organizada pelo SNI no Museu Soares dos Reis (última participação numa iniciativa do regime). Pertenceu durante muito tempo ao arq. e pintor Rui Pimentel, que então assinava ARCO, iniciais de Artista Comunista, expositor das Independentes e das Gerais.

1944_cafe 1 5M

O 'Café', com 63x49 cm, esteve no mesmo salão, e logo no mesmo ano na Exposição Independente trazida a Lisboa, ao IST, mas tinha sido recusado em Janeiro na 9ª Exposição de Arte Moderna do SNI. Várias vezes exposto (1994, 1996, 2004, etc) , foi transposto em 2002 para uma serigrafia editada por La Différence, Paris. Pertence à Colecção Manuel de Brito / Galeeria 111 e não houve agora disponibilidade para o ceder no Atelier-Museu.

Os fundos de ambos são estruturados como planos lisos marcados por grelhas, losangos e quadrados, e os personagens e móveis distribuem-se num espaço livre , "espaço aproximado" frontal, sem perspectiva, de aprendizagem cubista, o que é mais óbvio no 'Café' (Marcelin Pleynet associa-o a algumas obras de Matisse, no seu prefácio ao catálogo raisonné, vol. 1, 2004). Os personagens são cortados pelos bordos do quadro (uma opção construtiva muito frequente). Na 'Taberna' reconhece-se só o pintor, em baixo, com garrafa, copo e cachimbo. No 'Café' descobre-se Victor Palla, então na Escola do Porto, à esquerda, e certamente o também colega e amigo Armando Alves Martins (com três retratos na actual mostra).

São ambos obras anteriores à afirmação neo-realista, pinturas de um "estilo" que foi muito breve, em que, além de estudos desenhados, alguns para decorações murais, se incluiu apenas 'A Guerra' (col. Fernando Lanhas) e uma 'Pintura' circular que foi exposta na 3ª Independente e depois também no IST, e que pertenceu ao mesmo A. Alves Martins (as obras trocavam-se ou ofereciam-se entre amigos). Aqui aparece uma auto-representação alegórica ao centro, o rapaz de punho erguido, e à volta soldados e chaminés de fábricas, e um corpo nu de mulher que um crítico dirá muito mais tarde antecipar outras "fases" do pintor e que Marcelin Pleynet aproxima (premonitoriamente?) do Banho Turco de Ingres.

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Nota: JP foi sempre pouco frequentador de cafés (passagens na Brasileira, no Montecarlo...), e nunca confirmou, pela sua parte, a importância atribuída por Cesariny ao Café Hermínius, habitado por alunos da Escola António Arroio em 1942 e 43, segundo a sua "Intervenção Surrealista", Ulisseia 1966.

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Tags: 1944, Auto-retrato, Café, Neo-realismo, Pintura, Retrato, Taberna

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01/22/2021

TOM D. Thomaz de Mello por Jorge Silva

 
TOM de Jorge Silva
Entre o melhor Tom estão as pinturas murais para o Museu de Arte Popular, que lá estão ainda, inacessíveis, invisíveis, por incúria e atropelos ao bom senso mínimo. Conviria vê-las a cor, mas o livro/catálogo de Jorge Silva acabado de editar (Arranha-Céus/Abysmo) fica-se por um opaco preto-e-branco talvez vintage. Não sendo desleixo, percebe-se que é uma questão de direitos, capturados por uma entidade pública alegadamente patrimonial-cultural. Não fazem nem deixam fazer e pedem fortunas pelas imagens que são de todos. (estou a interpretar, não perguntei...)

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01/11/2021

Galerias do Porto, história intervencionada

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138479326_3718969888139880_2719384926180131630_nA falta de história e a falta de senso. um cartaz em que os curadores se anunciam.

 

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Porto 2001 478k

No Porto 2001 foi assim:  duas exposições sérias que ficaram como referência - a comparação é fatal para este novo "projecto".

Porto Anos 60/70: os Artistas e a Cidade - Serralves e Árvore - comissariado de João Fernandes e Fátima Lambert. Jan.-Abril. Cat. com 320 págs. ed. ASA

[+] de 20 grupos e episódios no Porto do século XX - Galeria do Palácio (à data da sua inauguração) - comissariado de Fátima Lambert e Laura Castro. Cat. em 2 vol. de 312 e 276 págs.

E a programação do ano contou ainda com Fernando Lanhas em Serralves e António Quadros na Árvore, mais Júlio Resende extra.-programa em Matosinhos.

Valerá a pena falar de regressão e de irresponsabilidade. E discutir como se dá livre curso ao esquerdismo manipulador de Paulo Mendes, responsável principal acompanhado por José Maia e Paula Parente Pinto (investigação de arquivo).

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01/02/2021

Um calendário neo-realista (para 1954)

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(Depois vou digitalizar bem o calendário. ..)

Gostava de saber que circulação teve à época, sendo obviamente uma edição partidária para angariar fundos. Gostava de entender as condições da semi-legalidade do PC nesse tempo de grande confrontação política e activa repressão (de Norton de Matos em 1949 a Rui Luís Gomes, 1951, e Humberto Delgado em 1958), com a entrada de Portugal na Nato em 49 e a reunião do Pacto do Atlântico em Lisboa em 52. Um calendário comunista para 1954, editado por Victor Palla, ao que parece, e ele é pelo menos o autor da capa - a edição não é identificada. Participam também Maria Keil, Querubim Lapa e (outros...), comunistas, simpatizantes e compagnons de route, o núcleo duro dos neo-realistas em 1953, ano em que termina a guerra da Coreia (Julho).

Especialmente relevante é a aberta intervenção anti-colonial de António Domingues, artista de longa carreira pouco conhecida. A "marcha" ou manifestação de massas aparece também nos desenhos de Rogério Ribeiro, Cipriano Dourado e Maria Barreira (esta em versão feminista). A pomba da paz é desenhada por Pomar (lavores femininos); Alice Jorge, que assina M. Alice, em versão multi-étnica; e José Dias Coelho (os namorados).

Esta “fase” militante do movimento neo-realista vai terminar com a morte de Stalin, o relatório de Krutchov, o chamado "desvio de direita" do PC, o fim das Exposições Gerais em 1956, o início das bolsas da Gulbenkian e a sua (1ª) exposição de 1957, numa sucessão muito rápida e articulada. Também com o surgimento de uma nova geração (ou “fornada”) de artistas (que já não nascem no PC e no MUD/MND, alguns católicos, já progressistas, com o Movimento de Renovação da Arte Religiosa, de 1952 : https://www.snpcultura.org/obs_13_movimento_renovacao... ), que já são abstractos antes de ensaiaram as novas figurações continentais e a Pop nos anos 1960, que vão fazer a galeria Pórtico, o jornal Ver (René Bertholo é central) e a seguir emigrar (as bolsas...) e que ainda entram, alguns deles, nas últimas Gerais e decidem participar nas iniciativas do SNI (salões e bienal de Paris), cortando assim com a prática e a tutela da geração de 1945. 

*

O que poderia ser um calendário social-democrata, ou, vá lá, socialista? Não o consigo imaginar e certamente é impossível. E isto ajuda a pensar o lugar da figuração militante ou engagé, aqui e em geral no tempo longo, a sua possibilidade e conflitualidade, a questão das vanguardas (política e artística), e a oposição entre “abstração” e figuração nos anos 50 da Guerra Fria, com a condenação de TODA a figuração e a suposta inevitabilidade da abstracção que então se defendeu ou impunha, nomeadamente em Portugal, país muito sensível a modas por falta de formações ou tradições artísticas sólidas.

Neste caso, trata-se de um relançamento do neo-realismo numa particular conjuntura política que se caracterizou pelo que depois se chamou o "desvio sectário" do PC e pelas campanhas da paz no contexto da guerra fria e do últimos anos de Stalin, rompendo com os propósitos de unidade anti-fascista. Ao tempo da polémica interna do neo-realismo (ou da Vértice).  Interessa-me agora este calendário por incluir uma iconografia ignorada e em especial por informar sobre o contexto da Marcha (JP, 1952) e por vir preencher um vazio na história do tal neo-realismo da 1ª metade da década de 50, um tempo esquecido e mesmo apagado pelos protagonistas (por JP e Mário Dionisio, que então pessoalmente se distanciam: MD deixa o PC, que não lhe permite passar de militante a simpatizante: as cartas trocadas existem e foram divulgadas - são surpreendentes; JP continua por algum tempo e sai discretamente, e o neo-realismo é para ele uma memória dos anos iniciais, que continuava a polarizar a atenção sobre a sua obra, e de tempos difíceis).

Em 1953 JP publica um importante artigo no Comércio do Porto em que faz o balanço do neo-realismo ("sem discutir a justeza do crisma", diz) e uma auto-crítica que envolve M.D. (In Júlio Pomar, Notas para uma Arte Útil, ed. Atelier-Museu/Documenta p. 285-289):

"... alguns perigosos caminhos começaram a desenhar-se. Um lirismo, complacente, tende a substituir a agressividade dramática dos primeiris tempos. A procura de soluções foirmais começa a sobrepor-se ao vigor do conteúdo; e isto não reflecte senão um alheamento dos problemas realmente vivos. Boa parte do que pintei nos anos 1949 a 51 <o que inclui a individual de 1950> oferece tais características, e desvios de tipoo análogo marcam a obra plástica de Mário Dionísio. Desse impasse se tem estado a sair. "

É o seu último artigo na imprensa do tempo, por razões desconhecidas. Por acaso ou não, publica no mesmo ano, numa representação nacional numa revista francesa, um breve texto em absoluto discordante da ortodoxia comunista ali patente, mas retomando textos anteriores de oposição ao idanovismo de Cunhal:

"O assunto não é o conteúdo, é um pretexto, e mais nada. O conteúdo é a síntese dialéctica entre o tema e a experiência pessoal e vivida do artista. Ela manifesta-se na forma, vive nela, é exaltado por ela. Os conteúdos das minhas telas são as razões que me ajudam a viver'" (aspas do autor) E antes: "Deformação profissional: não acredito na infalibilidade do Papa. Cada dia, cada minuto, reponho o mundo em questão. O trabalho (métier) de pintor é um trabalho de pesquisas, de descobertas, de invenções: pesquisas, invenções, descobertas que nascem da vida e ela retornam. Houve um tempo em que desprezei certos assuntos? Erro meu." (Premier bilan de l'art actuel 1937-1953, Le Soleil Noir: Positions, Paris nº3-4, p. 314 - em Notas sobre uma Arte Útil p. 241).

A ideia de pretexto é problemática, parece-me (uma concessão aos abstraccioinismos?). A separação de forma e conteúdo, e do tema e da experiência, não solucionam problemas. Mas importaria mais saber se o texto francês é posterior ao português, ou se é um exercício de versatilidade que se documenta também noutras obras pintadas de 52-53, as paisagens. Aí não estamos (já?) perante a doutrinação neo-realista.

Para além da avaliação da qualidade das obras (muitas delas muito fracas, incipientes, no calendário e no seu tempo, como é "natural") existiu um apagamento do que foi uma renovação da "tendência realista" ou um breve realismo social ou socialista a suceder ao primeiro neo-realismo (1945-50), o qual vigora entre 1951 e 55, no caso de caso de JP, e que não segue o naturalismo e reaccionarismo estético de matriz soviética e tradução francesa. Para lá de se reencontrarem obras, melhores e piores (é a história e a sociologia), importa rever a história da arte desse tempo que foi escrita por protagonistas implicados (J. A. França e herdeiros, Mário Dionísio e Ernesto de Sousa, este actualmente ignorado quanto ao que escreveu antes da adesão súbita à Documenta e a Wostell), e em geral importa pensar o destino da arte, em especial da Guerra Fria até hoje, e a sua possível importância (ou desinteresse) no presente mediaticamente dominado pela sua mercantilização e museologização, em absoluto confundidas na sociedade do espectáculo.

 

 

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12/30/2020

Ana Mata 2020

Como é mesmo muito bom não fez parte das escolhas dos melhores do ano. Ainda bem, para desfazer confusões. Ana Mata na Módulo, 3 anos depois (estas pinturas não se fabricam depressa).

(do facebook, um pouco revisto)


Ana mata

 

 

Gostava de tentar explicar (a mim próprio) por que isto (esta pintura) é muito interessante (ou muito boa), e rara.

É uma pintura depois da fotografia, com recurso à fotografia, não para impregnar as telas ou para copiar projecções, mas para ver o visível de outro modo, para encenar, recortar, modelar, reflectir o visto e recriar a sua luz; sem as facilidades da apropriação fotográfica e sem as rotinas do "fazer qualquer coisa que sai sempre". A fotografia ilumina (num caso há um flash sobre um corpo); a pintura ilumina a luz e a sombra da fotografia (há um pano negro que atravessa um quadro).

Não é a pintura que é mediada pela fotografia, é o olhar que se alimenta do registo fotográfico, para ver melhor, ou ver diferente, mais profundamente, demoradamente, mas com a surpresa de um primeiro relance ou com a energia de uma imagem a afirmar-se, a reconhecer-se. A pintura (a pintora) serve-se da fotografia, às vezes serve-a como modelo, de passagem, e resgata a pintura, o prazer de ver pintura, na velha confrontação com a fotografia. Trata-se de passagens, de trânsitos, entre o visto, o fotografado e o pintado, não de fronteiras, acrescentando sempre - o modo de ver, o fazer e um campo aberto de observações/interrogações, de histórias.

Alguma coisa se imobilizou (na fotografia feita/captada/organizada e na pintura a fazer-se, gesto a gesto, pincelada visível, demorada) sem se suster a velocidade do ver e do pintar, sem ser a transcrição do registo e sem se mostrar como execução de um programa, mas ele existe, programa pensado, conceptual.

A pintura é rápida, sem incertezas legíveis, mas a obra da pintora (a carreira) é lenta, escassa, e a diversidade dos formatos, do muito grande (a 1ªa foto) ao muito pequeno, do heróico ao íntimo, a diversidade dos suportes (tela, alumínio e papel) e dos meios (óleo e tinta acrílica) e dos assuntos (a figura, o retrato (também auto-retrato), as plantas - natureza viva, e a "natureza morta", uns óculos), a circulação entre a cor e sombra/grisaille, conferem a cada pintura a densidade de um encontro único e a certeza da possibilidade dispensável de muitas variantes (mas cada peça é definitiva).

Não conheço agora nada de mais surpreendente em pintura, até por se tratar da lenta maturação de um trabalho ao mesmo tempo muito reflectido e intensamente vivido (vívido) e inesperado. Conhecido de anteriores mostras sempre novo e diferente. Ganhei o ano nos seus últimos dias. Agora vou ler o pequeno livrinho em que a Ana Mata, que não conheço, reuniu "notas do atelier". Chama-se "A pintura é o visível das histórias desconhecidas", e espero não contradizer aquilo que eu procurei pensar sobre as suas pinturas a justificar a admiração.

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12/28/2020

OS RETRATOS DE JÚLIO POMAR (I)

Atelier-Museu Júlio Pomar (até 28 de Fevereiro)

destacam-se os quatro conjuntos de retratos que marcam a obra da maturidade de Pomar, nos anos 70 e 80, situados entre os períodos mais altos da sua carreira

1. O retrato está presente do início ao fim da carreira e da vida de Júlio Pomar. Pintor de figuras - e de imagens -, essa é uma prática que se pode dizer natural, espontânea, começada na infância, como acontece a todos (mas os seus cadernos foram guardados), e depois sempre continuada: as pessoas são o real mais próximo, e por isso mais acessível à observação, incluindo o auto-retrato.
A representação do visível, do visto, em especial no caso do retrato, sustenta-se da semelhança e no reconhecimento (e exige-os), para além de toda a (re)interpretação, formalização, abstractização e deformação, intencional ou não. Feito do natural (sempre com poses breves, no seu caso, ou de memória) ou documentado sobre referências fotográficas, o seu retrato nunca é naturalista (com uma excepção?) e pode ser ou não ser realista - por algum tempo de formação e afirmação foi neo-realista. As fronteiras diluem-se. O seu retrato nunca é o exercício de um género disciplinado e esteve sempre associado a reorientações da prática da pintura ou do desenho, a mudanças de "fases" - a obra de Pomar não se classifica por um estilo colectivo (depois do neo-realismo inicial) e nunca se fixou numa maneira.

Também sucede que o retrato é para Pomar, quase sempre (para lá de muito escassas encomendas), uma prática relacional que decorre da convivência, do companheirismo, da amizade, da intimidade ou da relação amorosa - e que por sua vez alimenta a relação pessoal com o “modelo”. Através de retratos e auto-retratos existe uma narrativa auto-biográfica que se constrói no tempo longo. E não será diferente, embora sem a presença física dos retratados, o gosto pela representação de escritores já ausentes por quem se interessava, e em diversos casos foram resultado de sugestões alheias, de convites para ilustração de livros. Essas são representações imaginadas, ficcionadas e integradas em situações ficcionais, sustentadas pela iconografia disponível, fotográfica ou já antes artística - o que deu depois passagem directa para as figuras de personagens literários e mitológicos, já representações inventadas ou ficcionadas (Ulisses, Adão e Eva, por exemplo). Quanto ao auto-retrato, praticado ao em sucessivas condições, e que mereceria estudo próprio, ele não surge como exercício narcísico ou este é contrariado pela irrisão, várias vezes em auto-retratos duplos e triplos, em companhia do macaco e do diabo (alter-egos) e na figura do palhaço.

Se em todas as décadas de actividade (oito décadas) os retratos estão presentes, poderão destacar-se desse continuum alguns retratos individuais, numa galeria selecta (Norton de Matos, Cardoso Pires, Soares, Claude Levi-Strauss, Camões, Marisa...), ou acompanhar séries e sequências com coerência temática ou ciclos e períodos, “fases”. Para além dos retratos iniciais, do tempo neo-realista, e dos retratos mais tardios, dos anos 2000 e do regresso a Lisboa, que são períodos de certo modo simétricos, de começo e fim, decisivamente marcados pela afinidade das relações pessoais, considero mais importantes quatro conjunto de retratos que marcam a obra da maturidade de Pomar, nos anos 70 e 80, colocados entre os períodos mais altos da sua carreira.

Vianna 1970 130 x 97 cm
Triplo Auto-Retrato 1973 116 x 89 cm

Viana, 1970 (130x97 cm) e Triplo auto-retrato, 1973 116 x 89 cm (não expostos)

 

2. O primeiro é constituído pelo ciclo de retratos dos anos 70, que já propus identificar como os seus anos Pop, pinturas de formas recortadas em cores lisas, na sequência dos ‘Banhos Turcos segundo Ingres’ e do interesse por Matisse e pelos contemporâneos Pop ingleses e norte-americanos, ou em montagem de fragmentos e insígnias dos rostos e corpos, mais ou menos dispersos num espaço plano. É um período que vai exactamente de 1970 a 1975, em que a gestualidade e o movimento anteriores se sustêm, a partir dos ‘Rugby’s’ e ‘Maios 68’, e que desde o início inclui retratos de relações pessoais de proximidade e de figuras das artes e da literatura (Eduardo Viana, três Almada’s, dois Pessoa’s, Camões) e também quatro auto-retratos.
Na actual exposição só estão presentes Almada (nº 28 do Catálogo Raisonné vol. 2) e um Ferreira de Castro (de A Selva, nº 72) mais três retratos de mulheres (Manuela, nº 65; Graça, nº 76; e Teresa, nº 113), de um conjunto que foi drasticamente reduzido, contando com mais de 70 telas. Nesta “fase” assinala-se a presença de uma modalidade rara, o retrato nu (sempre escasso quando não se trata de representar modelos profissionais). Na sucessão de ciclos de produção seguiram-se as colagens eróticas, “teatro do corpo / espaço de Eros”, mudando novamente de processos.

 

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Este ciclo de pintura foi acompanhado por uma série autónoma de retratos desenhados a lápis, paralela mas formalmente muito diversa, uma série também extensa, prolongada de 1970 a 1977 ou 78, neste caso sempre de pessoas que lhe eram próximas a vários títulos. Iniciou-se a pedido do poeta Alberto de Lacerda e prosseguiu com amigos (Manuel Torres) e amigas (Mimi Dacosta, Rucha) ou ‘companheiras’, outros pintores (João Abel Manta, Jorge Martins, Costa Pinheiro, Eduardo Luiz, o último retratado e também retratista recíproco) e escritores (Cardoso Pires), um galerista (Manuel de Brito), críticos amigos parisienses (Roger Munier, Patrick Waldberg, antigo surrealista dissidente). Foram reunidos em grande parte num álbum prefaciado por Fernando Gil (Os Retratos a Lápis dos Anos 70, ed. Imprensa Nacional, 1987) e alguns são mostrados agora no Atelier-Museu na escada entre os dois pisos.

 

Um segundo grupo de retratos pintados inclui apenas escritores, quatro poetas, e resulta de uma proposta para ilustrar um livro sobre o poema “O Corvo” de Edgar Allen Poe e as suas versões traduzidas por Baudelaire, Mallarmé e Pessoa. O projecto, sugerido em 1981 por Joaquim Vital (Editions de la Différence, Paris), à “saída” do ciclo dos ‘Tigres’, alargou-se a uma série extensa de quadros que se prolongou até 1985, com retratos individuais e retratos conjuntos de grande formato (Poe e cada um dos tradutores), e mais dois de grupo, um triplo Pessoa e os quatro poetas reunidos, ultrapassando assim em muito o propósito inicial, como foi frequente suceder, excedendo a ilustração.

O retrato literário não se separa da semelhança, embora a trate com outra liberdade, ficcional e já então de novo gestual, com a presença repetida do Corvo e uma inesperada aparição do Orangotango, acolhendo o acaso que acontece na tela, visitando representações fotográficas e anteriores retratos pintados, designadamente os Poe e Mallarmé de Manet. A série foi apresentada num álbum com texto de Jean-Michel Cluny (retratado noutra ocasião), que se chamou Le Livre des Quatro Corbeaux ou o Livro dos Quatro Corvos, na tradução para a Galeria 111, e igualmente numa caixa de serigrafias, retratos e corvos desdenhados, mas gorou-se à data uma prevista exposição em lugar destacado, dispersando-se em colecções particulares sem a visibilidade que merecia.

 

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A esta série se seguiram de imediato dois retratos autónomos de Fernando Pessoa, de 1985, e um projecto de edição ilustrada da Mensagem, onde incluiu, logo no mesmo ano, os retratos individuais de Camões (agora exposto) e D. Sebastião, e em grupo de Mário de Sá Carneiro, Santa Rita Pintor e Amadeo Souza-Cardoso (‘Lusitânia no Bairro Latino’ - na exposição do AMJP), ou Pessoa (‘Fernando Pessoa encontra D. Sebastião...’), em situações ou histórias livremente imaginadas, a par de três outras “pinturas de história”, sobre os presentes de D. Manuel ao Papa, as peregrinações de Fernão Mendes Pinto e a pregação de Santo António (“7 Histórias Portuguesas”, ed. Clássica Editora, exposição na Galeria 111, 1985). Por essa época tinha começado a ocupar-se com figuras míticas (Salomé, Leda, Actéon, o Julgamento de Paris, o Rapto de Europa) numa série de quadros ovais que foram expostos separadamente em Paris (Ellipses, Galerie Bellechasse, 1984). Vieram a ter larga sequência nas décadas seguintes, mas no final dos anos 80 as viagens do artista ao Brasil vieram outra vez substitui a ficção pela observação, nas figuras dos Mascarados e dos índios da Amazónia - regresso aos real.

*1985-Retrato de D Sebastiao com un espelho - cópiaRetrato de D Sebastião com um espelho, 1985


Entretanto, interrompendo em 1983-84 a série “O Corvo”, outro grupo de quatro poetas destinados ao revestimento em azulejo da estação Alto dos Moinhos (Lisboa) absorveu o pintor durante “um ano de desenho”. Tratou-se, por ordem cronológica, de Camões, Bocage e de novo Pessoa e Almada. Os retratos lineares em tamanho natural espontaneamente traçados e repetidos com variantes, a marcador sobre papel (quase sempre papel vegetal), acompanharam-se de motivos com que cada um se identifica (sereias e cupidos, espadachins, frades, gaivotas, arlequins e muito mais) numa extensíssima galeria de figuras que passaram a ocupar os átrios e corredores do Metro, alem de terem preenchido um dos pisos do Centre de Arte Moderna, em 1984. Couberam agora no Museu apenas dois retratos, Bocage e Pessoa, que foram acompanhados por um Becket (1987) e Dante (2006), o que é pouco - poderia ter-se feito a exposição em duas ou três partes.

 

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3. Depois de centrar a atenção nos grandes ciclos de retratos, podemos considerar outros períodos, no início e no fim do caminho, e alguns momentos ou pequenos conjuntos de obras também significativas.

 

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12/08/2020

MARCHA, 1952 (in progress)

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Nunca exposto até agora (1), e nunca referido, 'Marcha' é uma alegoria política e um retrato de grupo, onde retrospectivamente se destaca  a figura de José Dias Coelho, escultor e militante comunista que seria assassinado pela Pide em 1961. Bem reconhecível entre as figuras do jovem casal que avança em primeiro plano, ocupa um lugar central que correspondia na época à sua intervenção como artista e activista -- animava e coordenou as acções dos artistas do PCP nos primeiros anos 50 (ou já seria mesmo o respectivo “controleiro”, um controleiro não sectário, segundo J.P.). Em 1955 trocou uma carreira artística já reconhecida pela passagem à clandestinidade como responsável por uma oficina de falsificação de documentos.

A natureza política do quadro, que é de facto uma dimensão partidária, relaciona-o sem dúvida com as campanhas pela paz que o PCP promoveu nos anos de 1949-54, ao tempo da guerra da Coreia e da Guerra Fria, mobilizadas nomeadamente em acções de rua e abaixo-assinados de apoio ao "Apelo de Estocolmo" pela proibição das armas nucleares, lançado em 1950, e contra a reunião de Lisboa do Conselho do Atlântico em Fevereiro de 1952, depois da adesão portuguesa ter sido ratificada em Julho de 1949, acontecimentos que vieram dividir e alterar profundamente as dinâmicas da Oposição, antes tendencialmente unitária. Este é muito obviamente, numa pintura  clandestina (nunca divulgada, mesmo depois do 25 de Abril, por razões a interrogar), o lado comunista e pro-soviético de uma barricada semi-legal, residente num atelier e tertúlia activos num período de forte repressão policial e censória que decorreu durante e depois das candidaturas presidenciais de Norton de Matos e Rui Luís Gomes (1949 e 1951). E também na ocasião de um "desvio sectário" que conheceu grandes fracturas internas nos meios intelectuais e num PC debilitado por muitas prisões, o qual dá lugar a seguir ao chamado “desvio oportunista de direita” de 1956-59, após o relatório de Kruchov, depois “corrigido” pela fuga de Cunhal de Caxias, em 1961, na dramática pequena história ziguiezaguiante do anti-fascismo.

Se esta pintura panfletária não se considerar uma "obra prima", este não é um quadro menor, até pela coincidente ambição do assunto e do formato, e o encontro entre o manifesto e o retrato de grupo concede-lhe uma verdade, uma intensidade que é fusional com as qualidades formais que o  fazem seguramente uma das peças mais marcantes do neo-realismo, que aqui se  identifica com o realismo socialista sem concessão académica. É uma obra única na carreira do pintor (apesar de renovar o título da primeira Marcha de 1946), e é uma obra bem representativa de um tempo político e suas contingências, que, por sinal, continuou ser uma obra desconhecida - o artista nunca a procurou incluir nas suas antologias e a iconografia de Dias Coelho e do PCP nunca a recuperou.

Partindo da consideração da Marcha de 1952 é necessário tentar contrariar a desvalorização crítica das obras neo-realistas deste período (feita também pelo artista), e a partir daí rever a história habitual do movimento, dividindo-o em dois períodos diferentes, em especial quanto à obra do seu principal animador, intérprete e crítico. O segundo período, a partir de 1951 é sensível à orientação de uma ortodoxia partidária chegada de França no sentido de um realismo social de intervenção militante. Algumas obras-chave mostram-no e a Marcha é o seu emblema maior.

Depois das mostras individuais de 1950-51, em que Pomar reuniu pintores recentes e pintou outras para  ocasião - para além de apresentar cerâmicas e pequenas esculturas de barro com maior sucesso de mercado, renovadas na passagem da mostra de Lisboa para o Porto - , duas telas gémeas de 1951 mostram a continuidade da vertente que se pode dizer formalista e lírica, manifesta em Meninos no Jardim (O eixo corrido) e Vendedoras de estrelas. Mas logo se evidencia, ainda nesse ano, uma direcção que é ao mesmo tempo mais empenhada politicamente, renovando o programa realista e assumindo uma condição mais austera, trocando a fluência decorativa pela observação social e a afirmação política. É o caso das Mulheres na lota (Nazaré), ainda de 1951, depois da Marcha, a seguir de Os Carpinteiros e das duas peças maiores do Ciclo "Arroz", a que se acrescenta o retrato de Cardoso Pires, já de 1954. Só a confrontação partidária e a batalha ideológica (e crítica) de oposição aos realismos - no contexto da Guerra Fria e da oposição aos formulários naturalistas autoritários, nazis e estalinistas - veio ocultar estas obras maiores no curso da década de 50 e da carreira do pintor.

As novas condições da intervenção partidária afirmam-se com clareza na produção de uma série de gravuras dedicadas ao tema da Paz, o qual mobiliza o PC na legalidade possível.  A Mulheres Fugindo (conhecida como A Bomba Atómica) seguem-se as gravuras em que figura a pomba da paz proposta por Picasso como emblema da causa.

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A Marcha como retrato de grupo identifica sem o representar expressamente o atelier da Praça da Alegria (antigo atelier que foi de José Malhoa), alugado e chefiado pelo também escultor Vasco Pereira da Conceição, militante e recente ex-preso político, que é visto a entrar no bordo direito do quadro. Aí trabalharam também Maria Barreira, sua mulher representada pela Maternidade à direita baixa, um tema comum ao casal, e pelo menos Dias Coelho e Alice Jorge, que pouco depois iniciaria o relacionamento com Pomar. Lugar de trabalho e também de tertúlia artística e política, que alguém apontou como uma espécie de antecâmara das Exposições Gerais de Artes Plásticas (EGAPs ou Gerais, 1946-56), em cuja organização participava activamente Dias Coelho e que Pomar acompanhava assiduamente na imprensa, até um último artigo em 1953, de avaliação e redefinição do neo-realismo e também auto-crítica militante, em que trocou as publicações habituais pelo mais longínquo Comércio do Porto. Cessa então a colaboração nas revistas, sem se conhecer justificação para tal (sequelas da "polémica interna do neo-realismo", razões pessoais?) e sem ser ainda um afastamento político declarado. Em 1955 a sua pintura deixa de ser neo-realista (mas continuam na gravura as figuras do trabalho), ao cabo de dez anos de prática, e o movimento encerra-se pouco depois, numa última Geral retrospectiva quando se iniciava a era Gulbenkian.

No friso de retratos, ao lado do casal em primeiro plano, está o engenheiro Frederico Pinheiro Chagas, amigo e simpatizante, certamente encomendador e depois proprietário de sempre desta obra, e logo a sua mulher, Dina. O par alegórico dos jovens militantes de mão dada, encabeçando a Marcha, guiando o povo segundo uma tradição revolucionária que se partilha com os códigos da apologética religiosa, contou por modelos o carpinteiro Francisco Bento, saído da prisão pouco tempo antes, que frequentava o atelier e realizou mobiliário para vários camaradas, e ao lado, muito provavelmente, Zita Namora, mulher do escritor, do qual Dias Coelho realizou um busto em 1950-51, o que justificaria a sua passagem pelo atelier. Desta Zita existem fotografias do seu retrato esculpido por Pomar (uma encomenda?) e de um estudo para o quadro (imagens abaixo). De Pinheiro Chagas há também um excelente retrato desenhado. A menina à esquerda não foi identificada, ainda, mas será alguém em particular - a "presença" dos modelos retratados vem reforçar a força mobilizadora da alegoria.


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A alegoria tem como pólos simétricos a figura  da Maternidade à direita, como promessa de futuro, e o estranho personagem visto obliquamente de costas à esquerda, um (falso) profeta, um velho frade?, vendedor de ilusões, que aponta para uma cidade moderna, em construção, com guindastes, personagens hieráticos (robotizados?); ao fundo, montes áridos. De um lado, o passado e um ilusório presente, do outro a infância e o futuro. Na metade direita, por trás do friso das figuras está uma alongada parede ou casa vermelha, que toma o lugar de uma (im)possível bandeira. Talvez também se reconheça aí, mesmo em cima à direita, uma praia e um barco, amarelo e azul, que rimam ou se repetem em primeiro plano rasgando de luz o ventre e o vestido azul da mulher - e este é um elemento de composição de grande eficácia moderna.

A memória possível do atelier, o interesse pelo retrato e o contexto neo-realista devem ser evocados com detalhe para situar esta obra de excepção, bem como o seu lugar no âmbito da produção de Pomar da primeira metade da década, sinalizando a respectiva diversidade quando se aproxima o fim da sua prática neo-realista.

O atelier da Praça da Alegria, no nº 47, ao que parece, situado entre o Maxime e o Hot Club, ao lado de uma leitaria, era também frequentado por escritores: José Cardoso Pires, com os  primeiros livros e grande actividade política, que aí conheceu em 1954 a sua mulher, Edite, irmã de Vasco da Conceição, por ocasião do retrato que Pomar pintava, sendo ela retratada por Alice Jorge no ano seguinte; Orlando da Costa, que aí levou Maria Antónia Palla; Alexandre Cabral, amigo do engenheiro, e outros mais. Esses primeiros anos da década de 50 conheciam uma grande tensão ideológica, a dissidência titista e "browderista" de Piteira Santos, Mário Soares e os Lyon de Castro, associada à denúncia pelo PC do jornal Ler da Europa-América; o debate sobre estética e as fracturas no campo neo-realista, centrado no controle da Vértice; a saída de Mário Dionísio do partido em 1953 e a recusa de continuar a participar nas Gerais, a partir de 54, após a alargada participação nacional na II Bienal de São Paulo enviada pelo SNI no ano anterior. Em 1952 a SNBA esteve encerrada depois de Eduardo Malta ter sido expulso de sócio “pela provocação que encenou contra José Dias Coelho, que encabeçava esta batalha” pela renovação dos júris (2). O atelier da Praça da Alegria era um lugar "ortodoxo" sujeito à pressão do realismo socialista de informação francesa, via Arts de France (a sua "Tribune du Nouveau Réalisme" surge em 1949 e a revista desaparece em 1951), que se ia abatendo sobre a originalidade e a irreverência do primeiro neo-realismo.

Tentando estabelecer um panorama da época, os livros então ilustrados por Júlio Pomar dão um retrato das relações literárias marcadas pela cumplicidade política e pessoal: Carlos de Oliveira (retrato de 1948); Sidónio Muralha e Cardoso Pires (desenhos de 1949, 1950); Alves Redol, Raul de Carvalho e Ferreira de Castro (1949); Mário Dionísio, José Fernandes Fafe, Eugénio de Andrade, Ilse Losa, Orlando da Costa (todos com retratos desenhados para as tiragens especiais de 40 exemplares da col. Cancioneiro Geral do Centro Bibliográfico, 1950/1953); e Alexandre Cabral (1955). As grandes encomendas editoriais da Fólio (de Victor Palla e Cardoso Pires), Sul (de Castro Soromenho), Realizações Artis (de Rogério de Freitas e Leão Penedo), Bertrand, Minotauro (Urbano Tavares Rodrigues), Cor e Portugália virão depois (1957-1967).

Além da escrita e do desenho para a imprensa, da ilustração e da cerâmica, têm relevância na actividade de Pomar (afastado do ensino em 1949) as encomendas para decoração e a escultura (a pintura era pouca, ao tempo, num mercado apenas de amigos), em retratos e em peças decorativas, que se expunham nas Gerais (assinalam-se adiante com *) e foram desaparecendo ou esquecendo-se em destinos privados: retratara em escultura a sua mulher, Maria Berta, em 1949*, e também os escritores Sidónio Muralha*, 1950, e António Navarro, 1951 (Salão de Outono), obras presentes na actual exposição, igualmente Armindo Rodrigues, 1951*, ficando-se por aí as peças com qualidade moderna, não convencionais. Conhecem-se apenas mais quatro “cabeças”, duas de amigos (Ana Moura*, mulher de Rui de Moura, editor, depois Prelo) e Joaquim Barata* (fundador da Gravura) e as outras (Zita e Liliana, 1951) talvez de encomenda. À escultura só voltará com os ferros soldados do ciclo Dom Quixote, em 1960. Fez também, em 1954, os retratos pintados de Cardoso Pires e Maria Lamas (esta presa pouco antes, no regresso de Moscovo, e o retrato indicado no catálogo da VIII Geral não terá certamente sido exposto, dado o contexto repressivo) - a que se acrescentam os de Vera Azancot (tradutora, 1954*), Alice Jorge (1955), Maria José Salvador (1956, mulher de Manuel Torres, amigo, parceiro de viagens de automóvel e fundador da Gravura). É já de 1958 uma outra encomenda isolada, João Duarte, para a Companhia de Seguros Comércio e Indústria, agora no BCP, que só terá continuidade dez anos depois mas bem diferente.

Por seu lado, José Dias Coelho (n. 1923), que entrara no mesmo ano de 1942 na Escola de Lisboa, apresentou nas Gerais retratos de Rolando Sá Nogueira, 1949; M.T. (Margarida Tengarrinha), 1950; Alves Redol, 1951; M.E.C. (Maria Eugénia Cunhal), 1953; Maria Isabel Aboim Inglês, 1954, entre outros não nomeados. Realizou também os bustos de Fernando Namora e do designer Tomás de Figueiredo. Aliás, o retrato teve sempre uma forte presença nas Gerais. Aí expostos ou não, o catálogo “Um tempo e um lugar” (3)  refere ou reproduz obras de Abel Manta (Bento Caraça, 1947), Sá Nogueira (Frederico George e Jorge Vieira de c. 1949), Maria Keil (Abel Manta*, 1949), Vasco da Conceição ("cabeças" de Maria Barreira*, Sidónio Muralha* e Lopes Graça, 1950*); Victor Palla (Cardoso Pires, 1951), Mário Dionísio (Joaquim Namorado* e Eduarda D.*, 1953), Lima de Freitas (Alves Redol*, 1953, Cardoso Pires*, 1954), Alice Jorge (Edite Cardoso Pires*?, 1955), e também de.João Abel Manta, Arlindo Vicente (João Gaspar Simões, sd), José Farinha (Alves Redol, escultura s.d.), Euclides Vaz, entre outros retratos indicados sem nomes dos modelos.

 

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Armindo Rodrigues 1951 de Pomar (col. part.) e Fernando Namora,  de J. D.  Coelho 1951, bronze (col.Museu Gulbenkian)



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 Picasso, Maurice Thorez 1945 / Fougeron, retrato da mãe de Thorez, e Picasso,  Thorez, croquis 1949 (Art de France 1949) / Boris Taslitzky, A morte de Danielle Casanova

Além da permanência das práticas realistas, a disciplina do retrato era então recomendada ou imposta pelos partidos comunistas num período de maior pressão da ortodoxia (e do culto da personalidade, especialmente em França) - a pintura de história também se impunha mas foi naturalmente mais rara entre nós. Esse é um contexto que seguramente penalizou a respectiva continuidade em anos seguintes, e alguns episódios polémicos tiveram retratos por pretexto (foi famoso o caso do Stalin de Picasso, nas Lettres Françaises, à data da sua morte...), num período em que o combate aos realismos, depois das normas nazis e soviéticas, fazia parte do enfrentamento entre os blocos da Guerra Fria. Depois de Picasso, Freud e Bacon, Hockney e Kitaj, Arikha, entre os maiores, iriam a seguir prosseguir e reafirmar a centralidade do retrato na arte do século XX.

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Para o grande formato de Marcha, único ao tempo - 122 x 199 cm, têmpera sobre aglomerado - Pomar usou uma placa de madeira da mesma série de três outras tábuas que pintou para o restaurante Vera Cruz, na Avenida da Liberdade, projecto de Victor Palla e Costa Martins, com quem Pomar manteve várias colaborações (elas passaram depois para o restaurante Tarantela, no  largo da Estefânea, e dispersaram-se nos anos 90). A vocação decorativa de referência brasileira realiza-se aí com códigos de pintura mural, o que também ocorre nesta Marcha, embora esta de ambição panfletária, num figurino apologético onde a condição de retrato de grupo e a alegoria asseguram maior complexidade.

A campanha pela Paz está presente em três gravuras de 1951 que tiveram muito grande difusão e marcaram presença nas casas dos intelectuais da Oposição de feição comunista. Mulheres Fugindo, conhecida como A Bomba Atómica e A Explosão, seguida por outras onde já está presente a pomba  que em 1949 Picasso promovera da iconografia cristã a símbolo da Paz no cartaz para o Congresso de Paris. Pouco depois, em agosto de 1949, a URSS detonou a sua 1ª bomba nuclear; em março de 1950 o Comité Permanente dos Partidários da Paz lança o Apelo de Estocolmo pela proibição das armas nucleares,

PicassoPomba 1951


 

 

 

 

 

 

Outra obra que alude às campanhas da paz e certamente à Coreia é A Vida ou a Morte (conhecido também como Guerra e Paz), datada de 1953 e exposto nesse ano na VII Exp. Geral. O Massacre na Coreia, de Picasso, 1951, poderá ser uma referência reconhecível, condensando-se o grupo das mulheres numa única figura maternal e esquematizando a marcha militar até à caricatura, numa composição decorativa.

*A Vida ou a morte 380k
Picasso Coreia

 

Mas a produção militante de Pomar é acompanhada no mesmo ano da Marcha por obras de feição bem distinta e também de direcção inédita na sua produção, a paisagem, numa coincidência que reflecte a manifesta diversidade das interesses - mas nenhum destes quadros terá sido exposto no seu tempo próprio:
 Captura de ecrã 2020-12-20  às 19.04.23

 

NOTAS
1 reproduzido talvez pela 1ª vez no Catálogo Raisonné vol I, 2004, nº 86, o quadro nunca antes terá sido dado a conhecer e não faz parte da iconografia do PCP.

 

 

 

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12/06/2020

Júlio Pomar. Estampas: Itinerário. Inventário


Quando o convidaram a expor uma antologia das suas estampas ("Pomar - Obra Gráfica", Fórum da Maia, 1998), o autor distribuiu-as por cinco "linhas temáticas": O Povo, A Festa, Eros, Animais Sábios e Ficções. Também poderiam servir para catalogar toda a sua obra, só acrescentando os retratos, que estão agora em exposição no Atelier-Museu com o seu nome. A fórmula continuou a ser usada em reedições itinerantes da mostra, até 2003, justificada assim pelo artista: "uma tentativa de arrumação, salientando o que, ao longo dos anos e sob várias formas, foi de uma maneira ou de outra marcando a obra" (prefácio na reedição de 1999, Leiria). Uma outra arrumação posterior, proposta por Marcelin Pleynet sumariou toda a sua produção de outro modo, próximo: Identidade/Identidades (auto-retratos e retratos); Lugar/Mundo (aqui coube a paisagem e as secções Povo e Festa, muito alargadas, incluindo as pinturas sobre Maio 68); Eros; Animais de Companhia (os Sábios e outros); Fábulas Fintadas (as Ficções) – em "Pomar - Autobiografia", ed. Sintra Museu de Arte Moderna Colecção Berardo / Assírio & Alvim, 2004.



Aquele primeiro índice oferecia direcções de leitura das obras reunidas, que abrangiam cinco décadas de actividade na área da produção de múltiplos impressos (gravados ou estampados - e foram quase oito décadas no total), mas também recusava a catalogação por especificidades técnicas, gravura e serigrafia, ou mais especificadamente, quanto à gravura, pelos seus processos: linogravura, xilogravura, água tinta ou água forte, litografia e outros. Justamente, importavam mais os assuntos que as fronteiras.

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G21_Fot.Museu_Arroz II:1954Arroz II 1954, linóleo / Mono Sábio 1962, Xilogravura a cores


 2.  Lembrou Pomar no prefácio de 1999 já citado que a obra gráfica então exposta se dividia em dois períodos distintos. O primeiro ia no catálogo de 1951 a 1963 (e poderia começar antes, em 1948, com os linóleos iniciais), acrescentando que a prática da "gravura de autor" coincidia na sua quase totalidade com a participação na fundação e dinamização da GRAVURA - Sociedade Cooperativa de Gravadores Portugueses, em 1956. De facto, antes da GRAVURA já se envolvera na criação e promoção do que se chamava "gravura contemporânea", começada esta em exposições colectivas e em artigos na imprensa sobre "essa desconhecida, que é a gravura original" (1), a "estampa original"  -  dizia então que "a gravura e o mural aparecem aos artistas empenhados na conquista de um novo realismo como os dois veículos mais fecundos"  (2)
Foram anteriores à GRAVURA algumas edições com grandes tiragens que se encontravam em todas as casas da Oposição e hoje são raras: "Mulheres Fugindo" (A bomba atómica), "Menina e Pombas", "A Refeição do Menino" – então chamada "Família" –, todas elas de 1951, distribuídas nomeadamente pela SEN, Sociedade Editora Norte, no Porto, e próprias das campanhas pela Paz de um dos lados da Guerra Fria, que então se agudizava: a pomba da Paz que Picasso popularizou quando do Congresso Mundial de Paris de 1949 está presente em quatro versões. E também antecederam a GRAVURA as três figuras do ciclo "Arroz", associadas a Vila Franca de Xira, já de 1954.

No catálogo geral da sua obra gráfica, de 2015 (3), contaram-se como gravuras 116 estampas, sendo 32 anteriores à GRAVURA e 13 as respectivas edições distribuídas aos associados, até 1965, sendo os outros números recenseados edições do autor (às vezes em 5, 15 ou 30 exemplares) e alguns provas de ensaio e de trabalho, talvez sem tiragem ou ela é desconhecida. À época não se guardavam registos. A propósito, note-se que desde início a gravura apareceu também associada à ilustração e à arte do livro, incluída em edições ou tiragens especiais, que se usava lançar em fascículos: duas primeiras "Tauromaquias" eram litografias coloridas à mão, de 1950, agora expostas pela primeira vez, com uma condição alegórica que precedeu a observação directa; três litografias para o "Romance de Camilo" de Aquilino Ribeiro (1955-57); doze litografias para o "Grande Fabulário de Portugal e Brasil" (1958-1962); doze xilogravuras para "A Divina Comédia - O Purgatório" de Dante (1961-62).

Num levantamento por temas, as tauromaquias acontecem em maior número, onze, desde 1961, precedidas por três touros de 1959-60, continuando-se na longa série de pinturas, até 1964, já em Paris. As presenças do mar, da praia, pesca, lota e mercado são 14 num total que vai com grande diversidade formal desde de 1951 (Pescadores) e 1952 (Nazaré) até 1959-60 com o Sargaço, passando pela Ribeira de Lisboa (1953 e 57) e a Mulher do Mar (1956) que valeu o Prémio Gulbenkian. Na pintura abandonava o neo-realismo mas a representação das figuras do trabalho continuou a ser predominante (sem operários, existem o vidreiro, o saltimbanco, um camponês, para além do breve ciclo "Arroz"). A série da viagem às Astúrias teve quatro  números, de visita a um arcaico mundo rural, em 1957-58. São tantos como os nus de 1958-61, que não eram uma novidade; publicou e expôs outros nus desenhados desde 1948, logo com alguma polémica interna ao meio da crítica.

Dom Quixote formou uma série de 6 edições (1959-61), paralela a pinturas e esculturas, por ocasião das ilustrações para a edição Bertrand da tradução de Aquilino Ribeiro (1960), e autonomizando-se delas. Está também presente todo um bestiário, espaçadamente desde 1952, assim discriminado só em figuras isoladas, talvez em muitos casos certamente sem haver tiragens, ou desconhecidas, só pelo gosto de gravar, em geral em placas de pequeno formato: elefante, javali, dois gnus, porco-espinho, burro, peru (em 450 exemplares para oferta da GRAVURA a todos os sócios, em 1957),  depois a hiena, três símios (com o famoso mono-sábio, de que houve um quadro de 1961), galo, papagaio, além dos touros...

 

3. O segundo período iniciou-se mais de 10 anos depois da instalação em Paris, compreendendo serigrafias e litografias que foram "interpretando e divulgando algumas obras, as quais foram trabalhadas em ateliers especializados de Paris, Lisboa e Barcelona por iniciativa de vários editores" (Pomar 1999, op.cit.) A partida para Paris data de 1963, e a pintura absorveu-o por completo. As primeiras edições apareceram só em 1974: Kompass de Lisboa, ligada à 111; Éditions Art Moderne / Galerie Belechasse, de Paris; e Joaquim Vital, que com as suas Éditions de la Différence iria continuar até 2004 a ser responsável por numerosos projectos associados à ilustração, ou não.
No total, este tempo longo teve 175 edições, sem contar as extensas séries do "Catch" (a luta livre francesa, desenhos de 1965 litografados em 1978) e "Jogos de Praia/ Jeux de Plage" (Cenas de praia, Costa da Caparica, Setembro 1963-2001), com 34 e 16 folhas respectivamente. Depois do catálogo encerrado em 2015 aconteceram mais dois ou três números.

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La chambre Noire 1976, serigrafia


Destacam-se neste conjunto as edições que formam álbuns de grande formato (apresentados em pastas ou caixas), próprios do mercado internacional: "Le Livre des Quatre Corbeaux", sobre um poema de Edgar Pöe, The Raven / O Corvo, e retratos dos seus tradutores, Baudelaire, Mallarmé e Pessoa (ed. La Différence 1985); "4 Tigres", serigrafias com colagens (F. X. Lovat 1994); "Les Quatre Singes" (Différence, 1997); "Marujos & Cia / Marins et Cie", onde cruzou a Ode Marítima de Álvaro de Campos com Ulisses (Del Fiore Edition 1999). E também a série "L'Équipée de La Chasse au Snark", a partir de Lewis Carroll (Différence 1999) cujas estampas foram distribuída avulso, ou o volume "La Mémoire du Sel / Le Sel de la Mémoire", de parceria com Claude-Michel Cluny, com sete Mães Índias de um regresso à Amazónia por via de Pero Vaz de Caminha (Différence 2003; acompanhando a exposição de pinturas «Méridiennes - Mères Indiennes», Galerie Patrice Trigano 2004). E ainda alguns projectos interrompidos de Joaquim Vital: as litografias que acompanhariam as ilustrações de "Kadama Vivila", poesias eróticas, sotádicas, de Gilbert Lely, biógrafo de Sade, em 1977 (quatro em sete previstas, que agora se expõem certamente pela primeira vez e não figuraram no catálogo de 2015); mais a referida série "Catch", distribuída numa caixa original só em 2014. Em dois casos maiores, o Corvo e o Snark, a criação dos múltiplos acompanhou as séries de pinturas, de que nunca são meras reproduções, surgidas de convites para ilustrações, mas excedendo-os em muito, como acontecera décadas antes com a série sobre Quixote, motivada pela tradução de Aquilino Ribeiro (Bertrand, 1960).

A  produção foi tematicamente muito diversificada, mas podem apontar-se 16 edições de 1974 a 1979 próprias do ciclo "L'Espace d'Éros"; onze ou doze tigres, desde 1980; onze variantes dos indios do Xingu, sem contar as já referidas Mães, bem como regressos pontuais aos temas de D. Quixote, tauromaquias, corridas de cavalos, em edições originais. Foram reproduzidas e/ou reinterpretadas obras várias com datas que recuam de 1944 a 1973, que se incluiram num capítulo intitulado Anexo na edição da Obra Gráfica completa, separando-se das serigrafias iniciadas em 1974.

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serigrafias originais criadas por ocasião da  inauguração do Atelier-Museu Júlio Pomar, 2013. Burro tocando guitarra e Burro tocando guitarra (Ó fartar vilanagem)

4. Voltando a lembrar as secções e as obras escolhidas da antiga antologia, O Povo acolhia "a "produção chamada neo-realista", como escreveu Pomar, completada a propósito com uma edição comemorativa do 25 de Abril. Era uma breve síntese das figuras do trabalho - da lota e do mercado, do sargaço, mulheres quase sempre.
A Festa inclui as tauromaquias (a festa brava), de 1961-63, mas também a série dos Índios do Xingu, de 1990, acrescentada em 1998 com os banhos das crianças no rio. Informava o artista em 1999 "que [a Festa] começa a desenhar-se dentro deste período [neo-realista], marca o seu fim, e reaparece em momentos vários até à actualidade".
A terceira série, "sob o signo de Eros", data de 1974-79, ao tempo de uma nova linguagem de formas recortadas e cores planas com que construiu o seu "teatro do corpo", mas poderia começar com os nus gravados nos anos 1958-59. Eros atravessa toda a obra.
Os Animais Sábios percorrem a representação animalista, como se dizia, desde o "Touro" de 1960 aos porcos do final da década de 1990, passando por macacos de várias espécies e épocas, os corvos (os do poema de Edgar Pöe e os que acompanharam Bocage no metro do Alto dos Moinhos – Camões teve pombas e Pessoa gaivotas). E também os tigres, nascidos de um conto de Jorge Luis Borges.
Eram já exemplos do "gosto de efabular", diz o artista, gosto se acentua na série final, Ficções, que ilustra a continuada relação de Pomar com a literatura e inclui os "Retratos Imaginários", com circulação mais tardia pelos territórios dos mitos. Primeiro os D. Quixote, de 1959-60 e outra vez em 1998, depois Camões e Fernando Pessoa, Adão e Eva, Ulisses e as sereias, Hércules e o Centauro, o Snark, etc.

Toda a Obra Gráfica de Júlio Pomar foi reunida num volume com esse título, ed. Caleidoscópio 2015. Com coordenação e  texto de Mariana Pinto dos Santos e pesquisa e catalogação de Alexandre Pomar.

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Blason / Brasão e Tigre azul, 
1980-2001

 

5. Porque se imprimem estampas? Os objectos e as suas designações (gravura, serigrafia, etc) prestam-se a diversos equívocos, por flutuações conceptuais e falta de fixação de terminologia específica. Estampa usa-se em espanhol e francês, print e printmaking em inglês, grafik em alemão, incluindo "as várias formas de criação artística que envolvam qualquer técnica de impressão". Gráfica Popular era nos anos 1950 o inspirador exemplo mexicano; em Espanha chamou-se Estampa Popular o grande movimento de gravadores que investiu a abertura política a partir de 1960, como uma GRAVURA da esquerda militante. A palavra gravura toma a parte pelo todo, e agora, ao contrário, chama-se por vezes serigrafia a tudo. Uns desvalorizam os múltiplos como cópias e reproduções, o que é muitas vezes errado, outros referem-se-lhes como quadros. A simultânea condição de original e de múltiplo – própria da estampa de autor, tal como da escultura em bronze, da prova fotográfica e de outras obras de arte que partem de um matriz ou de um molde, de um negativo ou ficheiro informático –, é mal entendida: o curso da ideia de reprodutibilidade técnica de Walter Benjamin, que quis com ela valorizar a fotografia e o cinema, contrariando a aura e a unicidade da obra de arte, ou a esta atribuída pela estética convencional, não ajuda. Estampa original, estampa de interpretação, de reprodução, estampa tipográfica, etc., qualificam criações e produtos diferentes no mesmo campo da multiplicação de imagens, em geral sobre papel. Também se chama gravuras às figuras incisas nas pedras de Foz Côa. E "obra gráfica" pode incluir o desenho, como ensinou o professor Hellmut Wohl na exposição "Júlio Pomar. A Comédia Humana" (CCB 2005).

Produzem-se gravuras e serigrafias, estampas, para multiplicar o acesso à criação de um artista através da edição de originais em tiragens limitadas e numeradas (prática regulada só no final do século XIX, por razões de mercado). Associam-se assim a divulgação e um coleccionismo acessível. Trata-se sempre da possibilidade de democratização da arte, de a tornar acessível a um maior número, a que no tempo neo-realista se dava um sentido político de militância, entretanto desvanecido.

Também para experimentar um outro campo de práticas, técnicas ou processos de criação, ao lado e diferentemente da pintura de cavalete ou mural, e do desenho (a lápis, pena, marcador, etc.) – e igualmente da escultura nas suas várias possibilidades, da cerâmica, do vidro, da tapeçaria e do vitral, que Pomar praticou. Talhar um bloco de madeira e rasgar uma chapa com ácido são práticas manuais (artísticas) que proporcionam resultados (imagens, traços, texturas, colorações) diversos dos do uso do pincel sobre tela, do lápis sobre o papel. É um exercício diferente, paralelo e autónomo, de experimentação e de criação, com que se pode estabelecer um diálogo com a pintura e o desenho mutuamente produtivo.

E para explorar um mercado mais acessível que o da pintura – por razões económicas, portanto, causa tantas vezes ocultada em matérias de arte. A criação da GRAVURA, para além de potenciar a divulgação de obras e de fornecer acesso colectivo a meios técnicos e aprendizagens, um atelier e uma escola, veio assegurar melhores condições de existência oficinal e material aos artistas, e no caso de Pomar veio exactamente suceder à produção de cerâmica (no Bombarral e nas Caldas da Rainha) que era, desde as primeiras mostras individuais, muito mais vendável que a pintura. Do artista-impressor ao serígrafo registou-se uma mudança marcada pela distância criativa e a intermediação técnica sujeita à facilidade da multiplicação, que acabou por fragilizar a produção e favorecer o mercado dos cromos. (A ordem das respostas não é aqui fixa.)

Captura de ecrã 2020-12-10  às 19.45.12O banho das crianças no rio Tutuari II, 1997-1999

  1. "Exposição de gravuras modernas na Associação Académica da Faculdade de Letras de Lisboa, in Vértice nº 113, Janeiro 1953, reed em Júlio Pomar, Notas sobre uma arte útil, p. 242.
  2. "Gravuras Gauchas", Vértice, nº 117 Maio 1953, op. cit. p. 259. Sobre gravura ver também "Encontro com Méndez", Vértice nº 67, Março  1949, p. 158, e "Uma grande artista alemã em Lisboa" (Greetchen Wohlwill), Arquitectura nº 45, Novembro 1952, p. 233.

Versão revista e ampliada do texto publicado no catálogo da exposição "Júlio Pomar- A obra gráfica numa coleção privada", que apresenta peçasa da colecção do galerista Paulo Nunes, no Museu do Neo-Realismo em Vila Franca de Xira (28 nov. - 23 maio 2021)

2 jan 21

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11/10/2020

o surrealismo minhoto em 2001 (memória)

Exposição do surrealismo provoca polémica

Óscar Faria / PÚBLICO
7 de Novembro de 2001

Com a presença do pintor e poeta Mário Cesariny, e com muita polémica à mistura, foi inaugurada no passado domingo, na Fundação Cupertino de Miranda (FCM), em V. N. Famalicão, a mostra "Do Surrealismo em Portugal", uma versão revista e aumentada da exposição "Surrealismo em Portugal 1934-1952", que esteve patente no Museu do Chiado (MC), em Lisboa, até ao passado dia 23 de Setembro, após ter passado pelo MEIAC [Museu Estremenho e Ibero Americano de Arte Contemporânea] . O que estava previsto era uma simples itinerância da exposição do Chiado, comissariada por Maria de Jesus Ávila e Perfecto E. Cuadrado. Mas uma série de peripécias - desde a recusa de Cesariny em que as suas obras coabitassem com as do alegado "fascista" António Pedro, até desentendimentos vários entre Maria Jesus Ávila e o director artístico da FCM, Bernardo Pinto de Almeida - levaram a que a fundação famalicense decidisse promover a sua própria mostra, comissariada apenas por Perfecto Cuadrado. Em causa está não só o alegado "progressivo afastamento do Museu do Chiado (MC), que se saldou pela não comparência de uma das comissárias da mostra, Maria de Jesus Ávila, funcionária daquele Museu lisboeta, apesar do acordo quanto à sua presença estar há muito formalmente garantido" - como se faz notar numa nota lida à imprensa por Bernardo Pinto de Almeida -, mas também a inclusão de obras de António Pedro, artista que Cesariny considera ter sido fascista até 1944 (ver caixa). Jesus Ávila responde à letra, afirmando que Cesariny é quem tem uma "atitude fascista" ao condicionar a sua presença na exposição à retirada dos trabalhos realizados por António Pedro antes deste advogar a causa dos Aliados. Pinto de Almeida diz que, a quatro dias da sua inauguração, a mostra foi deixada à responsabilidade da FCM. "A exposição que hoje vos apresentamos, reorganizada pelo nosso amigo e colaborador e também seu comissário desde o início, Perfecto Cuadrado, não será pois a mesma que se viu no MEIAC, em Badajoz, nem no Chiado". O director artístico da FCM acrescenta que "ela aparece reorganizada por nova montagem e pela presença possível de outras obras, também da nossa colecção ou de amigos próximos, que eliminam o que julgámos injustas exclusões de nomes e obras fundamentais do Surrealismo em Portugal". E conclui: "Esta é, pois, a 'nossa' exposição, a possível, com os meios de que dispunhamos, face a uma situação de surpresa que nada fizemos para desencadear".Maria de Jesus Ávila replica que a FCM "confunde a produção de uma exposição e o seu comissariado" e diz que o modo como a FCM lidou com o processo foi "o caos absoluto". A responsável pela área plástica da exposição - Perfecto Cuadrado organizou o núcleo literário - sublinha que no passado dia 29 de Outubro enviou, a pedido de Pinto de Almeida, uma carta à FCM onde reforçava a sua disponibilidade para acompanhar a montagem da mostra, fazendo também notar que o preço por esse serviço era de 300 contos, uma verba que, segundo a curadora, o director artístico não podia garantir sem o aval da administração. "Não obtive notícias até quarta-feira - dia em que já deveria estar em Famalicão -, quando foi enviada uma resposta não a mim, mas a Pedro Lapa [director do MC]", afirma a comissária, que garante ter estado sempre contactável. "Houve falta de respeito pelo meu trabalho e decidi não ir ". Recorde-se que a exposição "Surrealismo em Portugal1934-1952" foi co-produzida pelo MEIAC e pelo MC, a partir de um trabalho de pesquisa de Maria de Jesus Ávila. Esta afirma ter sempre contado com uma atitude colaborante de Cesariny e Cruzeiro Seixas, entre outros artistas, e garante que "se tivesse estado em Famalicão, nunca teria permitido que se mudasse o conteúdo da mostra"."Qual é o direito que acolhe à fundação e a Bernardo Pinto de Almeida de alterar o conteúdo de uma exposição?", interroga a comissária, frisando que o problema "não passa apenas pelo atropelamento da noção de autoria, algo gravíssimo em si, mas também pelo facto de esta ser uma outra exposição". Relativamente à versão apresentada no MC, a mostra patente na FCM propõe efectivamente uma outra visão do surrealismo em Portugal, saindo dos limites cronológicos da mostra original e incluindo quer trabalhos de artistas considerados antecessores do movimento, como Júlio e Mário Eloy, quer de autores que de alguma forma terão ido beber aos ensinamentos surrealistas: Paula Rego, António Areal, Ana Hatherly, António Quadros, Mário Botas, Raul Perez e Gonçalo Duarte.Pinto de Almeida assume as escolhas de Perfecto E. Cuadrado como suas, referindo-se a esta atitude como uma "posição ética" que cumpre a vontade do surrealismo de "permanecer vivo enquanto utopia". O director artístico da instituição famalicense não recusa a polémica, considerando-a mesmo "saudável e útil, até porque o surrealismo nunca fugiu ao combate". O também responsável pelo Centro de Estudos do Surrealismo considera "completamente arbitrária" a datação da mostra do Chiado, que entende como uma "tentativa obscurantista de encerrar o surrealismo português num espartilho que o diminui e restringe na sua acção".Por seu lado, Pedro Lapa, director do Museu do Chiado, designa como "calúnia" o facto de se afirmar que a presença de Jesus Ávila em Famalicão estava há muito formalmente garantida. "Não houve formalização nenhuma da presença dos comissários na FCM". Na opinião de Maria de Jesus Ávila, "se Bernardo Pinto de Almeida queria outra exposição, então a FCM devia ter documentado, investigado e produzido a sua mostra". Defendendo que "há um rigor histórico que teria de ser salvaguardado", desabafa: "Isto não acontece em parte nenhuma do mundo".

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Negociação com o IPM leva ao encerramento da exposição do surrealismo em Famalicão

Óscar Faria*
28 de Novembro de 2001,
 
Negociações entre o Conselho de Administração da Fundação Cupertino de Miranda (FCM), de Vila Nova de Famalicão, e o Instituto Português de Museus (IPM) levaram anteontem ao final do dia ao encerramento da exposição "Do Surrealismo em Portugal", que deveria ficar patente na instituição até 16 de Dezembro próximo. Este é o desfecho de uma situação polémica, provocada pela alteração dos conteúdos da mostra "Surrealismo em Portugal, 1934-1952", que foi co-produzida pelo Museu do Chiado, de Lisboa, e pelo Museu Estremenho e Ibero Americano de Arte Contemporânea (MEIAC), de Badajoz. Assumida por um dos comissários da exposição, Perfecto E. Cuadrado, com a solidariedade de Bernardo Pinto de Almeida, director artístico da FCM, a revisão consistiu na retirada de alguns trabalhos de António Pedro e a inclusão de obras que rompiam claramente com a datação proposta por Cuadrado e Maria de Jesus Ávila, os autores do projecto original.Segundo Raquel Henriques da Silva, directora do IPM, a decisão quanto ao encerramento da exposição foi tomada em conjunto com a instituição famalicense: "A proposta foi feita pelo Conselho de Administração da fundação, e eu concordei, pois a situação era dificilmente gerível". Na opinião da responsável do IPM, "o que se tinha passado era inaceitável do ponto de vista institucional", referindo-se à alteração da exposição que chegou a Famalicão para uma simples itinerância e viu o seu conteúdo alterado, através da retirada das obras de António Pedro, "com o argumento de que era fascista", e o aumento do período cronológico que abrangia até à contemporaneidade, com obras de artistas como Paula Rego. "A exposição foi corrigida e aumentada e isso foi proclamado publicamente", sublinha.Por seu lado, Pedro Lapa, director do Museu do Chiado, considera que a atitude da FCM é "a mais coerente, a mais digna, a única possível para salvaguardar o bom nome da instituição". Para aquele director, o fecho antecipado da mostra "era a única forma de repor o seu sentido", notando ainda que, se a FCM está interessada numa outra exposição acerca do surrealismo português, deve realizar um trabalho de investigação e apresentar depois a sua visão de uma forma fundamentada. "Em termos pessoais, lamento o incidente; Portugal tem muito a aprender acerca da forma mais correcta, deontológica e legal de funcionar com assuntos museológicos." E termina dizendo: "A exposição segue dentro de momentos em Madrid", onde será inaugurada a 8 de Janeiro, no Círculo de Belas-Artes, "e a FCM já adiantou que emprestava todas as peças da sua colecção para serem apresentadas na capital espanhola". O PÚBLICO tentou contactar a administração da FCM, que remeteu a sua resposta para a próxima semana. Por seu lado, Bernardo Pinto de Almeida refere o facto de a decisão ter sido "tomada a nível superior e, como tal, não tenho de a comentar". E adiciona: "A minha consciência está tranquila". Recorde-se que, em comunicado anterior a este desfecho da polémica, o Museu do Chiado e o MEIAC consideraram as alterações introduzidas na exposição "um ultraje" aos direitos de autor da comissária Maria de Jesus Ávila. Como resposta, Pinto de Almeida reconheceu na altura ter redigido "com precipitação" uma nota de imprensa onde, em nome pessoal, defendeu a exposição apresentada na FCM, "ligeiramente transformada relativamente às primeiras versões por um dos seus comissários, prof. Perfecto Cuadrado". Na origem da retirada das três obras de António Pedro - "Le crachat embelli" (1934), "Refoulement" (1936) e "Dança da Roda" (1936), obras que Maria de Jesus Ávila considera que são o primeiro confronto do público português com o surrealismo - está uma exigência do pintor e poeta Mário Cesariny, que recusou a convivência das suas obras com as do "fascista" António Pedro. *com Emília Monteiro e Isabel Salema
 


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10/13/2020

Cultura, culturas (depois de ler Hugues de Varine

A propósito do texto do Hugues de Varine e de reflexões que originou:
 
A cultura profissionalizou-se, e desdobrou espaço para profissões anexas e acessórias..., mas apagou muitas outras profissões que eram as das artes menores e/ou artesanatos (os fingidores, canteiros-escultores, estucadores-artistas, pintores-decoradores, marceneiros-entalhadores, etc - em muitos casos profissões recentemente em vias de recuperação muito qualificada). E estrangulou (quase) os praticantes amadores, inviabilizou as suas associações, sociedades, clubes.
A cultura abriu empregos com despudorado voluntarismo oficial, quando outros empregos se fechavam nos sectores produtivos, para artistas e animadores, comissários, guias e guardas e muitos parasitas acomodatícios, mas também para técnicos, enquanto se estrangulava o espaço da crítica e se disciplinavam investigadores - em geral, eram antes amadores ou sub-empregados com profissões paralelas. Com a deslocalização e abandono de sectores produtivos, empurraram-se inúmeros jovens para todas e quaisquer áreas artísticas, e para isso foi preciso abdicar de exigentes exames de acesso às escolas e carreiras e por consequência de exigentes actividades críticas (levando à letra ideias da anti-arte e pervertendo a tese comum e certa de que todos somos artistas, mais ou menos aptos, ou outsider's, amadores, de domingo, espontâneos, tardios etc). Fazer artistas era fazer desempregados com auto-estima (defendi essa tese num colóquio de economistas), “naturalmente" isolados e não reivindicativos, porque pode falar-se em rigor de mais ou menos sucesso, que é no essencial uma avaliação íntima, mas não de exploração.
 
O primeiro caminho está em vias de reversão, valorizando agora práticas e habilidades manuais, produções e consumos artesanais, amadores, locais. O segundo é insustentável, e a crise que se implantou com e sem covid tornou-o evidente.
Em paralelo, a divulgação cultural (a oferta do acesso às obras-primas da humanidade - as boas intenções autoritárias mais o elitismo das aristocracias sócio-culturais) e, a seguir, o desenvolvimento cultural (a economia da cultura, as indústrias culturais) deram lugar às culturas/consumos populares de todo o género, esses maioritários: o reality show, o pimba, o best-seller, a feira medieval, o parque temático, o hip-hop, os jogos virtuais, a visita turística e por aí fora, a diversão e o entretenimento, que eram componentes ou características das produções cultas e destas se separaram, mas são obviamente cultura, culturas de hoje. Vai-se ao museu em família (novos comportamentos) porque há jardim, vistas, cafeteria, e satisfaz-se a nova obrigação de sair com as crianças ao fim de semana. O consumo cultural cresceu e alargou-se, como se pretendia, mas não na direcção prevista, como consumismo. E havia razões para isso ao cabo de muitas décadas de vanguardas e algumas de queda de muros.
 
O divórcio entre os públicos constituídos pelos próprios actores-artistas e promotores, mais os respectivos estudantes e investigadores-bolseiros, e famílias ansiosas, e, por outro lado, pelos consumidores de lazeres e entretenimentos é hoje inegável e radical. A (alta) cultura é de classe, é uma classe, cada vez mais elevada ou especulativa e distanciada da "população em geral”, o não-público. Tornou-se um nicho parasita, sem espaço social reconhecível, sem credibilidade e sustentabilidade, que vive da subsidiação dos poderes públicos, à custa dos impostos de todos. O programa de Malraux, de Vilar, de Lang, de Jacques Rigaud, criticado por Fumaroli, Yves Michaud, Jean-Pierre Le Goff e tantos outros, escrutinado por Philippe Urfalino (“L’Invention de la politique culturel” - da invenção à dissolução..., 1996), para dar referências francesas e já com alguns anos, foi claramente à falência, esboroou-se, mas a sua espuma é ainda visível, às vezes feérica. Com algum escândalo, que alguns exploram como populismo crítico.
O Ípsilon (suplemento do Público) é o respectivo veículo (infra)mediático, de seita, e não por acaso divide espaço com a elite que segue o Fugas (passeios, comes e bebes) - é a tudo isto que se chamava alienação. E o Inimigo Público não os topa como alvos.
 
É possível continuar a citar, a partir do aparelho do Estado, a obrigação desse mesmo Estado (Providência) ter "uma verdadeira política cultural” ou, a partir de sobreviventes profissões e activismos, vir reclamar um "Serviço Nacional de Cultura". Mas a resposta ao presente e o futuro são outros. Aliás, não há resposta, vivem-se respostas.
Como escreveu há dias Hugues de Varine, uma grande figura da museologia e do desenvolvimento comunitário, “tudo isto é herético e provocador, e o tempo que vivemos não é favorável a que se ponham em causa certezas que, aliás, não têm mais de sessenta anos e repousam sobre afirmações de árbitros de gosto e especialistas autoproclamados que defendem os pontos de vista de uma minoria de privilegiados.
 
Ver Cultura e Pandemia
5 Out 
https://www.facebook.com/alexandre.pomar.7/posts/3459698910733647
Um texto essencial para o debate sobre a política cultural em tempos de crise e no próximo futuro - original de Hugues de Varine. Tradução minha:
A CULTURA E A PANDEMIA, 16 setembro 2020 Hugues de Varine
Hugues de Varine blog
 
Gaivotas IMG_7016
Pólo gaivotas-boavista (13 Out 2020)

Posted at 23:33 in #covidcultural, 2020, politica cultural | Permalink | Comments (0)

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10/08/2020

African.Cont o booklet em vídeo e "papel"

o video e o booklet

 

e

Booklet_Africa_cont_2008_Palacete_Pombal

 

Captura de ecrã 2020-10-08  às 17.50.57

 

Posted at 17:53 in #medinamanguel, 2008, 2020, africa.cont, cidade, CML | Permalink | Comments (0)

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10/07/2020

São Martinho das Amoreiras, 10/04

2020 10 04IMG_6722

Nirvana

Posted at 23:29 in 2020, foto, por garvão | Permalink | Comments (0)

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Folhetim #medinamanguel (3) - perguntas e respostas in progress

Não há que abrandar:
uma colecção que não se conhece, não inventariada (o que não permite uma doação ou venda); um coleccionador mitómano e mentiroso (bem apanhado a enganar pelo António Guerreiro no Ipsilon) e um muito contestado director da Biblioteca Nacional da Argentina ao tempo do Macri - "um refinado vígaro, ao que parece", escreve-me alguém bem colocado; um palácio respeitável e uma nova futura entidade da CML que seria caríssima e perdulária, anunciada irregularmente, quando estão na penúria o Arquivo Municipal e a Hemeroteca, e sem solução o MUDE; um Protocolo assinado antes de aprovado em reunião de câmara e sem passar pela Assembleia Municipal, com os PC e BE a negociar lugares e a deixar passar às escondidas, etc. Muita informação em #medinamanguel e no aqui blog.
 
Interpelações e alertas:
O Francisco Seixas da Costa já falou da colecção Manguel? E o PP? E o Eduardo Pitta? E o João Soares? E o Barreto? E o J.M. Tavares? E o Rui Tavares? E a
Raquel Varela? E o Daniel Oliveira? e os Henriques Monteiro e Raposo)? E o Luís Raposo ? E a Raquel Henriques da Silva? E a Roseta? E o Manuel Villaverde Cabral? E o Ricardo Araújo Pereira? E o Zé Neves? E a Bárbara Bulhosa (que está ligada pelo menos ao início da história). E a Carmo Afonso no Expresso? E a Ana Gomes? E o Vitor Belanciano? Etc, etc. É preciso reunir forças, agora que no PS e no PC e BE só se trata de lugares na lista para 2021
 
Raquel Henriques da Silva já comentou forte aqui no blog: este caso é "...INACREDITÁVEL E INACEITÁVEL. QUAIS OS FUNDAMENTOS DA ACEITAÇÃO DESTA BIBLIOTECA? QUEREMOS NO MÍNIMO UM PARECER TÉCNICO DA BIBLIOTECA NACIONAL DE PORTUGAL".
 
Luís Raposo comentou no fb : "Desconheço quase tudo deste assunto. Mas, lendo o que tem escrito, o que escreveu o António Guerreiro, e conhecendo eu bem os tiques de provincianismo novo rico e autocrata... dou-vos todo o crédito. Torna-se imperioso ver tudo isto em pratos limpos, conhecer o inventário da coleccão e os termos do protocolo. Não compreendo como tal não foi já exigido pela oposição na CML. As explicações de barganha eleitoral que você avança não me convencem e parecem-me mais próprias do um espírito atormentado e conspirativo. Mas farei eu mesmo a a pergunta, se a ocasião surgir.
 
O Rui Costa (ex-BE, deputado à Assembleia Municipal, da EMEL) já deu um ar da sua graça.
 
Vamos antologiando
 

Posted at 20:37 in #medinamanguel, 2020, Biblioteca Manguel, cidade, CML, câmara de Lisboa | Permalink | Comments (0)

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1975 03 28 : Que Gulbenkian se discutia no Expresso? (3)

 

28 de março de 1975, um jornal na revolução, a fundação no olho do furacão. Um de três dossiers "Que Gulbenkian temos? Que Gulbenkian queremos?" no caderno Artes Letras e Ciências do Expresso, dirigido por Helena Vaz da Silva (muito antes da Revista). Páginas I a IV.
Faziam-se jornais assim, alguns guardavam, e consultam.
 
José Augusto França: Resposta (apressada) a um inquérito (apressado) - com data de 6/12/1974 (o inquérito terá sido demoradamente preparado):  "É natural que tenha alguma coisa a dizer, e até acabo de o dizer no capítulo final de uma história da arte portuguesa do século XX. E alguma coisa a propor-  e até frequentemente o tenho feito, clamando no deserto meio gulbenkiânico, meio lusitano, ou uma coisa (qual?) por via da outra..."
Fernando Azevedo: "Toda a arte de vanguarda se tem feito à margem da Fundação"
Egídio Álvaro (as exposições da G no país, as exp. no estrangeiro)
Eduardo Nery (Os grandes travões do passado: o comporomisso político e a burocracia, 15/12/74)
Fernando Calhau: algumas sugestões

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Posted at 19:37 in 1975, 2020, Expresso, Gulbenkian, Imprensa | Permalink | Comments (0)

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10/06/2020

O ESCÂNDALO MANGUEL em reunião de câmara E O PC/BE: lugares para 2021 (2)

PERGUNTAR AO RÚBEN
 
Quando o Rúben era vivo, telefonava e marcávamos um almoço, ou um breve encontro, para lhe falar de um qualquer disparate ou escandaleira em que o ministro se metia, em especial se era do PS. Lembro-me mais nitidamente do que se passou com e Museu de Arte Popular, o MAP, que uma Isabel Pires de Lima queria fazer desaparecer, deslumbrada com o Museu da Língua de São Paulo (e também se enredou com o Hermitage em Lisboa!). O Rúben fazia então um contacto com o João Oliveira, que seguia coisas da cultura antes de ser líder parlamentar, e encaminhava-se a informação e o alerta (nesse caso com algum sucesso; depois houve a longa guerra do Africa.cont...). Tratava-se de escrever no jornal e também de fazer política, em simultâneo.
 
A habilidade do Rúben para estabelecer pontes e fazer passar o PC por uma casa aberta era proverbial - achei depois que nos ía enganando a todos com esse papel de dialogante esclarecido e afável (lembro-me que como presente de aniversário me ofereceu uma vez os vários números do Revolução Popular, antes do 25 de Abril, no duplex da Estados Unidos da América (coincidência feliz), quando passara do Século para a publicidade (teria deixado o PC ou fingia?). Também dava pistas sobre as diversas "sensibilidades" no partido e sobre comprometimentos que tinha e tinham de assumir.
 
Agora o Rúben não está e ainda não consegui ter a certeza certa de que a votação do PC (parte contra e parte a favor, sem se dizer o quê, deixando passar no limite do quorum a Proposta do Protocolo sobre a Biblioteca Manguel (ou Manguela) foi ditada pela preparação de uma maioria de esquerda autárquica que sustente o Medina em 2021. Saíra da sala o João Ferreira candidato (vereador e deputado europeu, três em um num partido sem cabeças), quando também o CDS e o PSD abandonaram a sessão, por fadiga justificada, mas ficou a diligente Ana Jara a fazer o serviço (serviço sujo, parece-me). Tudo indica que é essa a chave, porque ninguém que assista à longa gravação da reunião pública (6h40 e tal), pode entender o que ali já no fim aconteceu sem debate, e aliás sem intervenções nenhumas de ninguém (sem se justificar a proponente Catarina Vaz Pinto/Guterres), tudo a correr, e está feito, passou. O caso da directora do Aljube vem à memória e percebe-se o que está a acontecer, pataca a mim pataca a a ti, corrupção democrática eleitoral (CDE, por coincidência oportuna).
 
Não é norma aceitar-se uma doação sem inventário exaustivo do que é doado; não é legítimo aceitar a criação de mais uma entidade camarária sem debater propósitos, contexto, custos, consequências, para mais num sector em que as carências e as queixas são inúmeras: Hemeroteca, Arquivo Municipal, Bibliotecas com edifícios e equipamentos mas sem aquisições regulares de livros, digitalização insuficiente, etc.
Digam-me se o PC publicou alguma coisa em site ou jornal a propósito da colecção Manguel e da instalação em Lisboa do coleccionador e companheiro? O PC explica-se ou a chave do negócio é o silêncio. Os caixotes de 40 mil livros, dizem, recusados em várias cidades ao longo de vários anos valem o quê, para quê, para quem, como?
#medinamanguel

Posted at 22:59 in #medinamanguel, 2020, Biblioteca Manguel, cidade, CML, câmara de Lisboa, politica cultural | Permalink | Comments (1)

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03/08 Iª parte "Que Gulbenkian temos? Que Gulbenkian queremos?"

III

O que pode ser uma fundação em Portugal" - H.V.S.

Uma fundação acima da política? - V.J.S.

Azeredo Perdigão

IV

Madalena Perdigão: Só se ataca o que tem merecimento / A construção do Museu - Centro Cultural obriga a F.G. a tornar-se empresa

José Blanco

Mário Vieira de Carvalho: Gradual transformação da Fundação em enpresa

V

Jorge Peixinho

VI

Ferrer Correia

Vitor Sá Machado

Joel Serrão

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Posted at 22:41 in 1975, 2020, Gulbenkian, politica cultural | Permalink | Comments (0)

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10/05/2020

Pereiro Grande 10/04

2020 10 04 IMG_6745

Posted at 23:42 in 2020, foto, por garvão | Permalink | Comments (0)

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