Diário de Notícias, 15 Janeiro 1983 (Uma exposição)
Gerard Castello Lopes - Fotografias 1956/1982
Fotografias de Gerard Castello Lopes estão expostas numa pequena galeria chamada Ether / Vale tudo menos tirar olhos. Fica na Rua Rodrigo da Fonseca, 25 - quase à passagem para a agora concorridíssima SNBA «pós-moderna» - e está aberta também ao fim-de-semana entre as 16 horas e as 21h30.
Não é apenas mais uma exposição de fotografia, num momento em que várias galerias parecem querer associar-se à voga da dita (abra-se já outra excepção para o trabalho de Nuno Calvet, desde ontem visível na Gulbenkian). Não o é por duas razões: primeiro, porque Gerard Castello Lopes apresenta um trabalho de grande qualidade, pela primeira vez e ao cabo de 26 anos de o fazer.
Fotografias suas surgiram em revistas estrangeiras, ilustraram uma tese editada em Londres e estiveram expostas em Osaka, na Feira de 1970. Alguns próximos - Gérard Castello Lopes esteve ligado ao cinema e fez crítica em O Tempo e o Modo - conheciam-nas e suspeitavam que as mesmas ocupavam um lugar destacado na breve história da fotografia portuguesa, o que a exposição confirma. É essa a segunda razão para que se destaque a exposição da Ether.
Aqui não cabe a tentativa de aprofundar a importancia das fotografias - literalmente, porque não é possível fazer um corte (...?...) à imagem de Lisboa que Gerard ia descobrindo, em 1957, contra as versões fotográficas dominantes e, como o Fernando Lopes apontou há uma semana no «Expresso», a par dos «verdes anos do cinema novo português». Acrescente-se apenas ao aviso de uma exposição a ver, que o percurso das 25 fotografias é tanto a procura de uma linguagem como uma lição de rigor: é à margem do «testemunho» e da anedota, na ausência de «informações», que estas fotografias descobrem gentes e espaços, para lhes manter os segredos e o desejo de decifrá-los.
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