Pedro Proença... Estás esquecido ou enganado (* - 11 Set. edição revista e ampliada). A articulação entre instituições e artistas de que falas parecia natural e a contestação fazia-se em surdina, face a uma coesa rede de poderes. Quando quiserem pudemos falar da instrumentalização das representações nacionais através das relações na e com a SEC (Sarmento funcionário, Calhau atencioso, Cerveira Pinto, a LIS e seus júris em 1979 e 1981, etc); do papel para-institucional que teve a Galeria Cómicos do Luís Serpa, 1984 -, onde todos ELES expunham depois do Depois do Modernismo, 1983 - e tu também; da gestão interessada do Molder, fechando o CAM à fotografia com excepção da sua rede de contactos, por via da defesa do "quadro fotográfico" do Jean-François Chevrier, etc). Essa conjugação de poderes foi eficaz no acesso à presença internacional, em especial dos próprios, concentrando recursos e candidatos. Disse que foi eficaz mas não foi séria e o balanço NÃO é hoje positivo. Vê lá se te lembras...
(* Dizia o Pedro: "Num tempo não muito distante (não foi noutra galáxia) havia artistas que eram determinantes na definição da política cultural (artística) de um país ou na programação de grandes instituições. Não era um escândalo, e a articulação entre instituições e artistas era bem mais natural. Hoje, isso soaria a escândalo. Penso no Fernando Calhau na "divisão de artes plásticas" do MC (era assim que se chamava), ou Jorge Molder e Rui Sanches no Centro de Arte Moderna da Fundação Gulbenkian. Que excelente trabalho!")
Passou-se de um sistema voluntarista e centralizado da gestão das artes ditas plásticas (alguns artistas e algum estado), por isso eficaz, a uma situação plural, dispersa e pantanosa, efeito da descrebilização da fase anterior e do surgimento de novos dados com a mudança de década e de geração, e também mudança de contexto político. Intervieram mais agentes (privados e fundações) e mais actores (chegaram os curadores), num país sem escala. Serralves e Chiado, tal como o CAM, serviam interesses próprios e não se afirmaram como museus, que não há. Alias, a ideia de museu era ou é combatida (apesar de discursos oportunistas), porque se trata sempre de gerir o curto prazo (as actualidades), de satisfazer clientelas e de socorrer/apoiar directamente artistas - agora pela via estúpida da Colecção do Estado. (É só uma pista de reflexão; de facto falta memória, em especial no MC, impedindo a continuidade de políticas)
Mas a nota essencial sobre a articulação de instituições e artistas é a continuidade efectiva dos poderes.
À "Alternativa Zero" do Ernesto de Sousa (Galeria Nacional de Arte Moderna, Belém, Fevereiro-Março de 1977) que nasce a partir da SEC com convite e o empenho do Eduardo Prado Coelho enquanto director-geral de Acção Cultural (em 1975-76), sucede a iniciativa pluridisciplinar "Depois do Modernismo", em 1983, dinamizada por vários dos participantes da mostra anterior (Leonel Moura, Cerveira Pinto, Julião Sarmento, antes "discípulos de E.S.) numa actualização de referências e influências (da arte conceptual e Fluxus à Bad Painting pós-moderna, cortando assim com a "tutela" do Ernesto), em grande parte a partir da mesma SEC, e sustentando uma nova organização de poderes (** fui "adido de imprensa" do DdM).
Ao "Depois do Modernismo", que teve Luís Serpa como coordenador, sucede em 1984 a Galeria Cómicos (antes Cómicos – Espaço Intermédia), em espaço cedido pela SEC ao lado do Teatro da Cornucópia e gerida pelo mesmo Luís Serpa (depois Galeria Luís Serpa Projectos). CONTINUA
Bibliografia:
"Arte e Mercado em Portugal: Inquérito às Galerias e Uma Carreira de Artista" (***), Alexandre Melo, Colecção OBS - Pesquisasa 4, Observatório das Actividades Culturais, 1999 (*** trata-se de Julião Sarmento)
"Galerias de Arte em Lisboa", coord. Maria de Lurdes Lima dos Santos e Alexandre Melo, Colecção OBS - Pesquisasa 9, Observatório das Actividades Culturais, 2001