"Fundação Elipse abre em Alcoitão"
João Rendeiro instala colecção de arte contemporânea
EXPRESSO/Actual de 27-05-2006
(Fotos: Interior do Centro de Arte da Fundação Elipse, vendo-se a galeria principal, à dir., e as escadas de acesso ao piso superior; no total, são 1600 metros quadrados de área expositiva)
A Fundação Elipse vai apresentar uma primeira selecção de obras de arte da sua colecção a partir de 23 de Junho, e fará a 15 de Outubro uma segunda montagem de «high-lights», acompanhada por uma festa de inauguração para convidados internacionais. As instalações do seu centro de exposições (o «Art Centre»), situado em Alcoitão, concelho de Cascais - na Rua das Fisgas, Pedra Furada -, foram informalmente inauguradas na segunda feira por João Rendeiro, no dia do seu aniversário. Antes, decorreram em Madrid e Nova Iorque «cocktails» de apresentação do projecto, seguindo-se outra sessão em Basileia. João Rendeiro é o presidente do Banco Privado Português (BPP) e também da Ellipse Foundation, que está sediada em Amesterdão.
A colecção reúne obras de autores com notoriedade nos meios da arte contemporânea internacional, representando o «mainstream» da circulação institucional, com alguns artistas mais velhos activos desde os anos 70 e também numerosos criadores muito jovens. Ignasi Aballí, Franz Ackermann, Jack Pierson, Rosângela Rennó, Anri Sala, Raymond Pettibon, John Baldessari, Olafur Eliason, Ilia Kabakov, Fischli & Weiss, Mike Kelley, William Kentridge, Cristina Iglesias, Lawrence Weiner ou Robert Wilson são alguns dos nomes representados, a par dos nacionais João Onofre, José Pedro Croft, Pedro Cabrita Reis, João Pedro Vale e Julião Sarmento. Numerosas obras podem já ser vistas no «site» www.ellipsefoundation.com.
O acervo, de cerca de 300 obras, foi reunido em dois anos e meio, com um fundo de dez milhões de euros. Está prevista uma verba igual para prosseguir as compras nos próximos dois anos. A escolha das peças é decidida por um trio de comissários formado por Pedro Lapa (director do Museu do Chiado), Alexandre Melo (assessor do primeiro-ministro para a Cultura) e o norte-americano Manuel E. González, antes ligado à colecção do banco JP Morgan Chase. Os critérios da colecção são avaliados por um conselho consultivo alargado, de que fazem parte Bartolomeu Mari (Barcelona), James Lingwood e Andrew Renton (Londres), Lars Grambye (Malmoe, Suécia), Adriano Pedrosa (São Paulo), etc.
A acumulação de funções por parte dos dois responsáveis portugueses foi entretanto objecto de várias interrogações de ordem deontológica na imprensa, tendo o Instituto Português de Museus, no caso de Pedro Lapa, procedido ao estudo do respectivo enquadramento jurídico. Um editorial intitulado «Elíticamente tuyo» do número de Maio da revista espanhola «Exit Express» volta, aliás, a fazer referência ao tema.
Lançado em 2004 pelo Banco Privado como um fundo internacional de investimentos em arte, com dez por cento do capital assegurado pelo próprio banco, o projecto visava de início constituir uma colecção que poderia vir a ser vendida em bloco, ao fim de dez anos. Apesar de a Fundação contar com a participação de vários investidores, portugueses, espanhóis e brasileiros, João Rendeiro assumiu depois uma posição largamente maioritária e o projecto evoluiu no sentido de assegurar a permanência da colecção e a sua disponibilização ao público interessado.
O BPP mantém, entretanto, uma outra colecção, situada em depósito na Fundação de Serralves, esta orientada por Alexandre Melo (e antes também por Vicente Todolí), em colaboração com João Fernandes. Esse acervo foi no ano 2000 apresentado numa exposição do museu do Porto. Posteriormente, certas obras foram destinadas à Fundação Elipse, e Serralves encontra-se a negociar a compra de algumas outras que tinham sido adquiridas aos artistas em condições de preço especialmente favoráveis.
As instalações agora apresentadas situam-se num grande armazém adaptado às novas funções pelo arquitecto Pedro Gadanho e contam com oito salas de exposição de diversas dimensões, com 1.600 metros quadrados de área expositiva, mais dois espaços de reservas, um deles para fotografia, num total de 3.500 m2. O investimento na sede (aquisição e obras) eleva-se a quatro milhões de euros.
Cada montagem da colecção, num ritmo de três por ano, apresentará 10 a 15 por cento do total das peças até agora reunidas, prevendo-se igualmente um programa de residências para artistas e a realização de conferências. A integração numa rede internacional de fundações com colecções de arte e a apresentação do acervo no estrangeiro (provavelmente na Whitechapell de Londres, no Palácio Grassi de Veneza, etc) estão também em preparação.
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