EXPRESSO/Actual de 06-05-2006
Arquitecto e fotógrafo, com obras de referência em ambas as áreas, Victor Palla foi também pintor, ceramista, designer gráfico, tradutor, editor, galerista e animador de muitos projectos. Faleceu a 28 de Abril com 84 anos, em Lisboa, onde nascera em 1922. Aqui estudou arquitectura, antes de se transferir para o Porto, para se licenciar em 1948, sendo director da Galeria Portugália e um dos dinamizadores das Exposições Independentes, ao lado de Fernando Lanhas. De regresso a Lisboa, participou nas Exposições Gerais de Artes Plásticas, em diversas disciplinas e em quase todas as edições entre 1947 e 1955.
No início da década de 50 foi um dos modernizadores da arquitectura portuguesa, seguindo os princípios funcionalistas do Estilo Internacional com particular radicalidade plástica, sob influência brasileira. À intervenção teórica e de divulgação em revistas (algumas sob a sua direcção) juntaram-se obras como a escola do Vale Escuro, de 1953, projectada com Joaquim Bento de Almeida. Com atelier conjunto durante 25 anos, a dupla de arquitectos teve acção relevante na renovação dos espaços comerciais de Lisboa, em paralelo com Keil de Amaral e Conceição Silva. Em especial, ficaram a dever-se-lhes os novos cafés e snack-bares Terminus, Tique-Taque, Suprema, o antigo Pique-Nique, no Rossio, e o Galeto, já em 1966. O seu talento multifacetado manifestou-se no dinamismo espacial e material dos volumes arquitectónicos, conjugado com o design inovador do mobiliário e da iluminação, adequados aos novos consumos da «vida moderna».
Enquanto fotógrafo, Victor Palla é autor, em parceria com o também arquitecto Costa Martins (1922-1996), de «Lisboa, Cidade Triste e Alegre», onde um sentido humanista afim do neo-realismo italiano se pôs à prova nos domínios do grafismo e da impressão com grande energia experimental. Publicado em 1959, o livro foi redescoberto, e redistribuído, em 1982, e tem vindo a ser internacionalmente valorizado como uma das realizações editoriais mais significativas do seu tempo, referido por Philippe Arbaizar na revista do Centro Georges Pompidou, em 2002, e por Martin Parr e Gerry Badger, na história «The Photobook», em 2004. A sua publicação fac-similada encontrava-se em preparação por uma importante editora internacional.
O Centro de Arte Moderna da Fundação Gulbenkian dedicou a Victor Palla uma retrospectiva fotográfica em 1992, incluindo obras mais recentes, e o Centro Português de Fotografia atribuiu-lhe o Prémio Nacional em 1999. Actualmente, exibem-se alguns dos seus trabalhos na exposição «Em Foco», no Museu da Cidade.
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