Pedro Cabrita Reis, intervenção na Av. da Boavista, Porto
Chegou ao fim a instalação criada por Pedro Cabrita Reis no espaço do Centro de Arte Moderna, esvaziado para a ocasião dos 50 anos - o jantar comemorativo também foi aí servido (enquanto ainda se encontravam à disposição das moscas as especiosas impressões únicas de Craigie Horsfield, o que deu projecção internacional ao evento). A obra de PCR motivou opiniões desencontradas e uma declaração inicial de estranheza: que peregrina ideia a de substituir um museu (a única colecção visitável do séc. XX português) por uma aparente imitação do programa de instalações do Hall das Turbinas da Tate Modern.
O acontecimento foi assim referido no Expresso/Actual (“Factual”) de 05-08-2006:
A «Fundação» em obras
Pedro Cabrita Reis constrói instalação em público
"Esvaziar a grande galeria central do Centro de Arte Moderna tornou mais pertinentes as dúvidas que existiam sobre os planos para o respectivo museu e a sua colecção, além de também ter vindo sublinhar a falta de uma exposição de primeira grandeza no início das comemorações do cinquentenário da Fundação Gulbenkian. Mas o talento e o brio de Pedro Cabrita Reis serão certamente suficientes para ocupar o espaço que lhe foi entregue por Rui Vilar, com vista à criação de uma instalação de grandes dimensões que aí vai ficar exposta até Abril de 2007. Cabrita Reis está diariamente no CAM a instalar à vista do público a sua obra, a que chamou Fundação, com recurso a alguns materiais e objectos vindos dos armazéns da Gulbenkian e usando também paredes de tijolo, estruturas de aço e lâmpadas de néon. A inauguração será só a 15 de Outubro."
(O textinho teve uma sensibilizada resposta que ficou também impressa a 19 de Agosto)
Não importa discutir se se provou ou não o talento de PCR, e todos os artistas têm obras maiores e menores. A intervenção no Porto, reactivando de forma monumental a questão vanguardista do anti-monumento, decorando sem "enfeitar", impondo algo de inexplicado (e inexplicável) ao transeunte, parece ser um melhor momento. Também aí está presente e actuante o desiquilíbrio entre a obra feita e a fazer-se, o acabado e o precário, o trabalho e a construção, o projecto e a ruína. A economia de meios, a escala, o desvío das formas e dos materiais conhecidos para uma presença inesperada são aí dados afirmativos. E a relação que o observador fará com a ampliação actual de uma forma experimentada por Ângelo de Sousa nos anos 60 pode motivar oportunas reflexões - está na mesma avenida, um pouco mais abaixo, à frente do "arranha-céus" de Souto Moura.
Outras interrogações, mais graves, têm a ver com o destino do CAM - que merecia melhor sorte que as experiências de uma incerta ou insegura administração. Deve desfazer-se quando não se sabe fazer melhor?
Agora caberá ao CAM acolher os ateliers ou residências artísticas de um programa que começou por esvaziar o espaço para lhe dar o insólito título de "Sítio das Artes".
Já se sabia que "O Estado do Mundo" não inspira qualquer tranquilidade. O pior é que, pelas amostras que já se conheceram, também não desperta quaisquer expectativas.
E não se sabe ainda o que virá depois.
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