A apresentação de algumas das novas aquisições de Berardo - a figura reclinada de Henry Moore e a Árvore de Dubuffet (em princípio da sua colecção pessoal, à margem do protocolo que funda o Museu) - asseguram à partida a importância do acontecimento. Às quais se junta uma grande escultura recente de Frank Stella, que é mais uma surpresa forte de um artista pouco ou nada visto por cá, e muitas vezes heterodoxo e inesperado. A relação da sua obra com o lugar que ocupa, como sucede aliás em muitos outros casos, é outro dos trunfos de uma exposição que pode ser um grande êxito a vários títulos e, em especial, com possibilidade de romper a compartimentação estanque dos públicos.
Figura reclinada, Henry Moore, 1969, bronze (editado em vida, 4 ex.), Col. Berardo.
(Lembram-se que a Fundação Gulbenkian tinha um Moore nos Jardins, que ficara da grande exposição de 1979 (?) e que nunca se resolveram a pagar? Durante uns tempos, os n/ especialistas achavam que M. estava ultrapassado.)
No jardim das traseiras do Palácio estão, além de Dubuffet e Moore, as formas humanas de Gormley e César, em torno da fortíssima presença central
de uma grande escultura negra de Rui Chafes, estranho veículo
biomórfico pronto a partir. Nos Passos Perdidos, o grande tapete de
mãos abertas e erguidas de Peter Burke (Register), avolumando no local a intenção
ou pretexto políticos da peça. Em baixo, a boa surpresa da Árvore sem
Sombra de João Paulo Feliciano, já uma aquisição da Fundação/CCB e de
de J.F. Chougnet, nas imediações de peças conhecidas da colecção, como
as de Jeff Koons, Richard Long, Nam June Paik, Sol LeWitt, Étiènne
Martin e outros. Também com as esculturas (?) fotográficas do casal
Becher e do passeante Hamish Fulton.
A presença portuguesa reforça-se no pátio ou claustro do piso térreo,
com obras de Ângelo de Sousa, Rui Sanches e Fernanda
Fragateiro, mais outra obra importante de Rui Chafes. No exterior, o "stabile" de Calder e uma das peças
recentemente compradas por Berardo na Cass Sculpture Foundation (apenas
se mostram duas em oito compras), de Danny Lane.
A diversidade das escolhas, a
abertura e confrontação de orientações estéticas, é uma das apostas que parece ganha. Outra a
independência das opções, de quem não se sente obrigado a repetir as
mesmas presenças oficializadas de sempre. A marcar a exposição ficará
também a estratégia de instalação (nada museológica, mas respondendo bem ao peso próprio do lugar), sustentada pela ampliação das
tabelas à dimensão de grandes painéis onde os nomes dos artistas surgem
em enorme escala e com um grafismo associado às imagens em 3D (design do atelier R2 Design, Lizá Ramalho e Artur Rebelo).
Depois de "O Poder da Arte" exibido por Serralves com grande aparato e marketing, há um ano, a nova aposta artística da AR é também um acontecimento de larga projecção, a animar um panorama demasiado fechado sobre si mesmo. E avolumam-se as expectativas quanto ao Museu Berardo no CCB, já com indicações práticas de que há vontade de marcar diferenças.
A inaugurar dia 16. Até 19 de Agosto. (E o Museu no CCB inaugurará a 21 de Junho)
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