O DN não se vendia (é um dado de partida), agora está a tentar vender - a mudar, portanto. Não fazia parte dos leitores devotos do 6ª, mas via o suplemento por curiosidade ou obrigação (passou por lá o A.M. Seabra, passou a ter Exposições). Depois, troquei logo o novo Público pelo DN. Agora o 6ª desapareceu, a acompanhar e a tornar ainda mais evidente uma situação geral de refluxo - certamente mais de fim de um tempo do que de algo de cíclico. Não vale a pena acusar os "outros", o que importará é reflectir sobre as culpas que temos quando os leitores desaparecem.
Também fechou a Agenda LX, publicação mensal da CML que teria deixado de pagar (pelo menos) à equipa do projecto gráfico e editorial, os Silva! Designers. Soube-se por emails e blogs, não vi nada nos jornais. Era uma insólita publicação: um roteiro que custava deitar fora. É e não é um elogio (fúnebre).
Deixando de fora o Expresso, tínhamos tido a reforma do Público, que tem sido muito referida como o respectivo suicídio. A confirmar (com muitas situações de risco associadas). Não entendo a intenção, a fórmula, a ordenação dos temas, as escolhas, nada. É uma coisa com muito ruído, que tento evitar.
Tratava-se de criar estímulos à leitura (à leitura não - ao gesto mecânico de folhear o jornal). A entrevista que a "Pública" de 11 de Fevereiro fez ao designer Mark Porter é um documento excepcional, que importa conservar para posteriores estudos. Não há referência a notícias, temas, secções, conteúdos editoriais; tudo é animação (?) visual:
"a ideia é que é que cada vez que viramos uma página devemos ter uma surpresa"
"as páginas individuais podem ser interessantes, mas tendem a ser monótonas, não há grandes mudanças de ritmo enquanto folheamos o jornal."
Tenho de me poupar ao cansaço provocado por tantas surpresas. Trocar notícias por "histórias" lembra-me o antigo Reader's Digest e por mais fotos a cor que publiquem perdem sempre a favor da televisão. O uso da nota de 5 euros sobreposta à mancha gráfica para limitar a extensão dos textos é uma data que deve ficar para a história.
O Ípsilon junta à mesma estratégia do ruído muitos projectores. Entre tanto estardalhaço vou tentando encontrar alguma coisa para ler. A separação física entre textos de apresentação-promoção e críticas é uma formula muito reveladora. Está-se a trocar a orientação editorial pela direcção de comunicação ou marketing.
Mas interessa juntar à denúncia das novas estratégias (já actuam há anos suficientes, em reformas sucessivas, para serem responsabilizados pelas repetidos desastres; mas os designers e administradores mudam de ramo facilmente) a reflexão sobre a perda de credibilidade e autoridade daas áreas culturais. Questão que começa pelo problema da legibilidade.
Depois, há também a história das vanguardas do séc. XX - e vale a pena rever a esse respeito os capítulos da história do Eric Hobsbawm, um insuspeito progressista. O fim da arte, a morte da pintura, do romance, da fotografia, do retrato, da vanguarda (etc) foram muitas vezes preconizados. De certo modo , são esses e outros discursos dos fins que estão a concretizar-se. Ou a ideia da arte contemporânea como um mundo especializado, em que o juízo crítico ou a aquisição das obras são matérias para os profissionais do ramo. Restam nichos.
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