1 . Os diplomas que regem os organismos e institutos do Ministério da Cultura foram publicados a 30 de Março e entraram logo em vigor - as alterações são profundas, mas passam em silêncio. É a concentração e a contracção, depois da proliferação de entidades criadas nos anos Carrilhos. É a economia da intervenção estatal, a possibilidade de um futuro menos dirigista (porque a iniciativa particular ou colectiva, local ou associativa, vai ter de ser, vai poder ser, mais determinante). O Governo PS corrige o que outros PS fizeram mas reduz a adopção de novos modelos a uma mera questão interna ou administrativa, sem protagonizar um novo entendimento da intervenção do Estado na Cultura. Teremos discurso para a tomada de posse dos novos (e dos velhos) directores, mas o sentido mais efectivo do reordenamento ficará ocultado.
2. O director do sempre futuro Museu do Douro, Gaspar Martins Pereira, acabou por demitir-se e a Fundação muito tardiamente criada para lhe servir de suporte entrou em crise, com ameaças de dissolução. Foi um obscuro caso de resistência do aparelho centralista da Cultura, e em particular dos Museus, e continuou a ser um incerto projecto, associado à adiada afirmação de uma região. O tema não é mediático visto de Lisboa.
3. O Expresso reabriu no caderno "Actual" o caso do encerramento do Museu de Arte Popular para ser instalado no seu lugar, o de um dos raros testemunhos da Exposição do Mundo Português, um vago museu da língua ou "centro de interpretação" da expansão portuguesa - é tudo incerto e nebuloso do lado da Ajuda, mas começa-se sempre por anunciar uma qualquer novidade. O abaixo-assinado mobilizara poucos subscritores (seria uma luta de direita?) e o tema continua a não despertar interesse público. Associar a língua do mundo lusófono a um dos mais intactos cenário do fascismo é de uma evidente insensibilidade cultural. Mas a nova lei orgânica do Instituto dos Museus e da Conservação continua a referir o Museu de Arte Popular como um dos seus "serviços dependentes". E, entretanto, as obras no Palácio (o mesmo, o da Ajuda) para instalar a exposição imperial de Putin, na mira de um franshising do Ermitage, são a outra prioridade ministerial. Há casos em que as viagens e o deslumbramento com o que se vê lá fora (São Paulo, São Petersburgo) não são de bom conselho.
4. Várias vezes, ao longo de vários anos, os jornais foram-se alarmando com o estado de degradação do Estúdio fotográfico de Carlos Relvas, uma jóia arquitectónica (um templo?) única no mundo, com o seu recheio patrimonial em grande parte conservado. Voltou a ser inaugurado a 20 de Abril após uma qualificada operação de conservação e recuperação do edifício (já estivera em funcionamento como museu entre 1981 e 1996), mas só a imprensa da região se interessou pelo assunto. Mesmo havendo algumas hipóteses de polémica (a Câmara assumiu directamente a responsabilidade pela museologia, desligando-se dos serviços e das ambições de Lisboa; o espólio fotográfico continua à guarda do Instituto dos Museus, e talvez tenha de ser assim por muito mais tempo; o projecto arquitectónico de requalificação não terá sido inteiramente respeitado, nomeadamente quanto ao uso do edifício anexo e ao tunel de acesso, etc). Uma 6ª feira ao fim da tarde por conveniência ministerial não foi o melhor horário para as redacções de Lisboa. Apesar do Estúdio Carlos Relvas não se prestar para records de turismo cultural (será mais para se saber que existe do que para se visitar) é uma das peças mais originais dentro do património cultural do país.
As páginas culturais tratam da promoção de produtos e de criadores. O resto não importa às agendas.
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