A propósito do "novo" Centro Português de Fotografia, serviço de arquivos. Saíu Teresa Siza, mas ficou a Cadeia da Relação...
Ver abaixo, CPF - Fim de ciclo
e a minha parte na polémica de 1996 , quando ainda havia polémicas sobre temas de cultura.
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Só muito mais tarde, em 2004, o tema do CPF, ameaçado de extinção, tinha voltado à baila...
"A fotografia na Cadeia"
EXPRESSO/Actual 18-12-2004
1. Se o Governo não tivesse tropeçado, a nova lei orgânica do Ministério da Cultura determinaria a inclusão do Centro Português de Fotografia (CPF) no Instituto das Artes (IA). Os directores envolvidos mantiveram um silêncio contrariado e a tutela nada chegou a adiantar quanto ao modelo da fusão, para além da insólita promessa da ministra Maria João Bustorff de que dela não resultaria a extinção nem a descaracterização do CPF. Também se avançou com a ideia de transferir o IA para a Cadeia da Relação, um degredo que só poderia passar pela cabeça de quem nunca visitou as celas onde moraram Camilo e Ana Plácido.
O tema só merece ser lembrado porque o CPF é uma questionável
instituição desde que nasceu em 1997 com a ambição desmesurada de
«assegurar uma política nacional para a fotografia» e com o pesado
«handicap» de mobilar um imenso edifício nada adequado para o efeito.
Reunindo funções na área do património e dos arquivos com a competência
de administrar os apoios públicos à criação e divulgação, e ainda com a
programação de exposições próprias, rapidamente este instituto
megalómano e concentracionário teria de esbarrar com as contradições de
interesses inscritas no seu projecto.
As reduções orçamentais foram-se
tornando a face mais visível das dificuldades: o Prémio Nacional de
Fotografia (de que valeria a pena discutir os critérios mais
memorialistas que intervenientes) foi atribuído em 1999 e 2001, e ficou
esquecido; os apoios à produção, edição e divulgação (suspensos em 2000
para que se adoptasse um primeiro regulamento de concurso público) já
não tiveram continuidade em 2004; o programa de exposições só não
paralisou porque mão espanhola providenciou todo um ciclo que agora se
conclui. São só alguns exemplos.
O que está em causa não é a direcção de Teresa Siza, que fundou e
orientou o CPF com critérios muito idiossincráticos, nem a falta de
meios financeiros (sem fim à vista), mas o modelo institucional.
Os
arquivos devem ter a tutela da Torre do Tombo (onde está o Arquivo de
Lisboa do CPF) ou da Biblioteca Nacional, se não puderem ser
autonomizados; o apoio à actividade fotográfica pode ser anexado pelo
IA, mas só se não for esquecido que nem sempre ela tem de ser arte; uma
galeria pública não precisa de intermináveis espaços, para mais húmidos
e gélidos. (Conhecem a Photographers’Gallery, em Londres, com o seu
estatuto de «educational charity» e um «board of trustees»? -
www.photonet.org.uk)
Quem vier a seguir vai ter de repensar o que foi mal concebido, sabendo que a fotografia não deve ter uma «política nacional» nem uma sede central - colecciona-se e expõe-se nos arquivos de várias câmaras, nos Museus de Serralves e Soares dos Reis, nas galerias comerciais e em «Encontros» variados, o que não significa que fosse absurda a ideia de um Museu da Fotografia (ou melhor, de vários), se a conjuntura lhe fosse favorável.
2. A última rodada de inaugurações e lançamentos do CPF, no passado
sábado, parece desmentir qualquer motivo para preocupações, mas não
passa de uma ilusória fuga às realidades.
(continua)....
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