Não é mais do que uma oportunidade para que alguma atenção lhes seja dedicada. E não há razões para festas.
Há, é certo, um novo museu que se anuncia para daqui a pouco mais de um mês - é o único dado favorável (e esteve já em risco de não abrir a tempo com o atraso do início das obras - tentativa de sabotagem ou só falta de dinheiro e burocracia a mais?). Com a vantagem de escapar à cinzenta tutela e aos interesses que têm cavado o desinteresse público pela arte contemporânea.
Alguém deveria ter marcado uma romagem ao Museu de Arte Popular, em Belém. Seria o ponto alto das comemorações, com os inerentes riscos políticos que iriam propiciar algum debate.
Um que abre, outro que fecha - mas o saldo é muito negativo.
Entretanto, observem-se as opções jornalísticas: no DN, um sintético e ágil ponto da situação, atento aos problemas e às recentes alterações estatutárias (Paula Lobo), com um programa da jornada; no novo Público - P de people - algumas "caras". Passam por aqui indicações interessantes, a uma leitura atenta - mas a fórmula é preguiçosa (mais tv que imprensa) e só serve de véu face à situação de crise de meios e de ambição política que o sector atravessa. Notei a descoberta da escultura de Cutileiro pela vigilante do CAM (ela, a escultura, foi uma vez capa do "Cartaz").
E aí está uma das frases do dia: "Já estou farto de quadrozinhos", diz o "técnico de museografia" - errou a vocação, devia estar ao balcão de um clube de vídeo... A fala está certa com o lugar, o Museu do Chiado, grande escola. (Não se deprima, os quadrozinhos do Columbano estão quase a sair e as salas voltarão a ser dos fantasmas e dos abutres - sem ofensa para o João Onofre. Ou da Elipse)
Outra boa frase pertence ao dono do lugar, que ainda queria mais autonomia, como se não lhe bastasse a distracção da tutela. "Se há 500 mil euros para dar à Fundação Berardo, por que não há dinheiro para comprar obras para as colecções?", diz Pedro Lapa (DN). Claro que ninguém "deu" à Fundação Berardo; trata-se de pagar o funcionamento do Museu Berardo a abrir no CCB e faz-se aqui uma (malévola?) confusão com a Fundação de Arte Moderna e Contemporânea - Colecção Berardo, criada e administrada em parceria.
Mas, de facto, por que não entregar os escassos dinheiros que há para aquisições públicas, quando há, nas mãos do comendador? Ele já provou que sabe comprar (nem tudo é de primeira escolha, mas quem se lhe pode comparar?)
Fica uma terceira frase, que dá conta de que quem comenta não sabe do que fala (não viu, não conhece, não pergunta), ou usa a mistificação como instrumento de estranhos interesses: é falso o que se diz que se depara ao visitante da "quase totalidade dos museus portugueses":
"Em vez de vida encontra morte, cheiro a mofo, portas fechadas e quase nenhuma intelegibilidade" (...) "Em suma, os museus portugueses estão obsoletos..."
Apesar de todas as carências, sectoriais e bem identificáveis, e ao cabo de mais de uma década de obras de requalificação e modernização de espaços (algum dinheiro comunitário se foi aproveitando), o panorama dos museus não é esse - o dislate fica por localizar, como estímulo à leitura. Pelo contrário, vai havendo até alguns excessos de "animação", de visitas organizadas, de práticas ditas pedagógicas (coitadas de tantas crianças) - modas que por vezes sacrificam esforços a dirigir para tarefas menos mediatizáveis.
A quem serve esse tipo de "crítica"? É assim, e por isso, com este culto da cegueira, que o espaço impresso se lhes vai reduzindo.
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