EXPRESSO/Cartaz de 19/06/1993, "Mês da Fotografia", p. 14
COM A abertura tardia das quatro exposições adiante indicadas em primeiro lugar, o Mês da Fotografia ganhou a dimensão de um acontecimento único em Lisboa. Para lá das insuficiências apontadas há uma semana (e em especial da não importação dos catálogos originais das exposições), importa agora sublinhar a decisiva qualidade de muitas das mostras apresentadas e a importância do efeito global causado pela simultaneidade da sua exibição, cujo impacto é avaliável pelo fluxo permanente dos visitantes.
O programa dirigido por Serge Tréfaut, com o seu coroamento na exposição de Sebastião Salgado visível no CCB — e enquanto se aguarda ainda o confronto global com uma das apostas centrais do Mês, a exploração dos Arquivos Nacionais —, é já, de facto, um «quase milagre», como ele próprio escreveu no prefácio do catálogo geral. É esta a altura para sublinhar a epígrafe escolhida para o programa — «A fotografia é o espelho da vida» (espelho e janela, e por vezes instrumento para a acção, índicio e arma) — e para apoiar os seus princípios centrais: «Em primeiro lugar, era preciso que o lote das exposições fosse de peso. Que alterasse a atmosfera da cidade e, no limite, deixasse as pessoas atónitas.» E ainda: «Uma recusa frontal e violenta de fazer um festival para especialistas e 'connoisseurs'.» A batalha está ganha, é preciso assegurar que o Mês da Fotografia dê, efectivamente, lugar a uma bienal.
Destaque-se, para além das fotografias, a criação de um itinerário por museus e edifícios patrimoniais em muitos casos raramente frequentados ou desconhecidos, com um efeito real de animação e descoberta da cidade. Mas, em especial, há que destacar o investimento feito nos projectos de montagem, na cenografia das exposições, a cargo de uma equipa de arquitectos (Bugio, Lda — Pedro Borges, Paulo Fonseca, Miguel Figueira, Paulo Palma, Filipe Macedo) que soube criar uma linguagem própria, globalmente unificada pelo uso do ferro, do cimento e da madeira, e sempre diversa consoante os diferentes locais e exposições. Igualmente a iluminação, dirigida por Vladimir Bryliakov, merece um palavra de elogio.
Importa, desde já, assegurar a continuidade da iniciativa, comprometendo as muitas entidades que este ano se lhe associaram, e outras também, certamente, num projecto que, a partir de agora, deve ser estrurado com tempo e com meios bastantes.
ROBERT DOISNEAU e TONY RAY-JONES, Convento do Beato, Duas retrospectivas. Ver artigo de Jorge Calado na «Revista».
SEBASTIÃO SALGADO, Centro Cultural de Belém, «Trabalho". Ver artigo na «Revista». (B)
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