Mês da Fotografia, Lisboa
EXPRESSO/Cartaz
Notas de 29/05, "Um Mês de Fotografia", capa, e "Festas fotográficas"
e de 05/06, "Foto-festas"
12/06, "Luzes e sombras"
19/06, "Mês da Fotografia"
26/06, "Fim do"Mês"
e tb de 03/07, pág. "Fotografia"
JOÃO CUTILEIRO, Gal. Valentim de Carvalho
29/05/1993
«Memórias», retratos (inéditos) de amigos e familiares, 1958-70. As fotos foram-se perdendo pelas gavetas e pelas paredes (serviram até de alvo para setas), amareleceram e comeu-as o bicho. Juntas agora, traçam uma galáxia de relações, amizades e amores que veremos ao sabor das identificações disponíveis a cada um: Fernando Mascarenhas (em 65), Jorge Sampaio e Karin Dias, João Cid dos Santos, Francisco Keil do Amaral, Ana Viegas, Maria Cabral e Vasco Pulido Valente, Mário Cesariny (uma parede com seis fotos de 64), Menez (Londres, 63), Reg Butler, José Cardoso Pires (60), Ruy Cinatti, Gerard Castello Lopes, etc, e um auto-retrato legendado «Paul Newman». Por vezes, as cabeças deixam adivinhar um olhar escultórico, a caminho de outros retratos (Helder Macedo, Azevedo Gomes, Keil do Amaral). Com os retratos de Lemos, tão diferentes, estas fotos privadas levantam um véu sobre um passado oculto, aqui apercebido como um tempo feliz. São pequenos grandes nadas.
(05/06)
«Memórias», retratos (inéditos) de amigos e familiares, 1958-70. 100
fotografias que traçam um percurso de cumplicidades pessoais,
transportando a memória do seu uso (as paredes, os álbuns, ou até o
alvo para setas) e um seguro valor de documento sobre os meios
intelectuais do seu tempo. Mas é também a procura do sentido do retrato
que nelas se encontra, na diversidade dos enquadramentos e das poses
«colhidas do natural», ao mesmo tempo que o olhar do escultor se
adivinha. Cutileiro mostrara fotografias numa exp. em 1961 e fez parte
da geração dos «olhares inquietos» (A. Sena) — este é mais um passo na
recuperação de uma indispensável memória fotográfica.
AGNÈS VARDA, SNBA (12/06)
Varda-fotógrafa começou por trabalhou com o
Théâtre National Populaire de Jean Vilar e Gérard Philip, entre 1948 e
1960, passou à reportagem (China, Cuba e Portugal, 1956), e depois ao
cinema, mantendo neste, na relação entre documentário e ficção, uma
mesma atenção ao real e em especial às pessoas, à sua verdade
essencial. São as mulheres e as crianças que Varda mais fotografa,
atenta à violência do esforço de quem transporta cargas enormes ou à
beleza dos olhares; sempre a possibilidade da ficção e a interpelação
do espectador, nos retratos frontais ou no geometrismo das composições.
(19/06)
As fotografias de Varda interessam-se pelas
pessoas. Com o TNP de J. Vilar e G. Philipe (entre 48 e 60) as
convenções do palco abrem-se, para trás das máscaras, a um exercício de
humanidade. Nas reportagens, nomeadamente em Portugal, é o esforço do
trabalho primitivo, as mulheres carregadas, que impressionam Varda,
sempre em confronto com as crianças, a esperança possível. Terceiro
capítulo, os retratos: a pose como desafio ao tempo congelado. Com
catálogo.
ALLAN McCOLLUM, Módulo (12/06)
15 trabalhos da série «Perpetual Photos»
de um artista de Nova Iorque (n. 1944, Califórnia). Note-se como o
cuidado posto nas condições fotográficas (impressão fotográfica,
molduras e vidros, galeria repintada de cinzento) é paralelo a um
exercício de invisibidade ou não-informação, que desvia a fotografia
para um suposto terreno da arte enquanto exercício auto-interrogativo
sobre as suas condições próprias de produção. Não se duvida da
inteligência do propósito e da sua eficácia no contexto do actual
«mundo da arte» — apenas se prefere a junção dessas condições com a
vontade de ver.
(19,26) um suposto terreno da
arte enquanto exercício auto-interrogativo sobre as suas condições
próprias de produção. (03/07: ...) A imagem através dos media, o sentido da ausência
de sentido, a variação sobre as ideias de original e de múltiplo.
ARNO FISCHER, Central Tejo (12/06)
Um notável fotógrafo da ex-RDA (n.
Berlim, 1928) revelado pelos Encontros de Braga e apresentado agora num
espaço industrial magnificamente explorado. Berlim dos anos 50, Marlene
Dietrish em Moscovo (64), Nova Iorque, 1984: os cenários do poder e a
inscrição de uma radical perturbação na presença insondável dos
personagens que o habitam. A grande tradição da fotografia de
observação social, usando a solidez das composições para instabilizar o
espaço e o tempo.
(... 03/07) Um interessante fotógrafo
«desalinhado»
da ex-RDA.
Berlim dos anos 50 e os novos cenários do poder; Marlene
Dietrish em Moscovo (64) e a atenção aos poderes inquietantes e
insondáveis dos personagens; Nova Iorque, 1984, a descoberta de outras
ordens.
«BONNARD FOTÓGRAFO», Palácio da Ajuda (12/06)
Uma única prova original,
c. 1916, 8,8x5,9cm, e 25 reimpressões modernas das fotos de Pierre
Bonnard (1863-1947): instantâneos da intimidade familiar do pintor,
explorando com a magia da fotografia os temas e o modo de ver que
conhecemos da pintura. O banho, o corpo em movimento, os cães e os
gatos, o retrato e a relação com o observador, a liberdade de
experimentar a suspensão do tempo e de fragmentar o espaço. A montagem
é óptima mas a representação das 276 fotos conhecidas é demasiado
exígua. Colecção do Museu d'Orsay.
CRAIGIE HORSFIELD, Galeria Cómicos/Luís Serpa (12/06)
Fotos em provas
únicas de grande formato — retratos, objectos, fragmentos de cidade —
por um inglês nascido em 1949, contemporâneo das vanguardas de 60-70,
emigrado para a Polónia e que só começou a expor em 1988. É uma das
aventuras actuais da fotografia, procurando uma visibilidade próxima
das artes plásticas em impressões que exploram a presença matérica das
superfícies e o efeito das grandes escalas; a neutralidade da
informação corresponde aqui a um grande investimento na
especificidade fotográfica dos valores da luz, na fronteira de uma nova
(?) direcção picturialista.
(03/07) Provas únicas de
grande formato que investem na afirmação da grande qualidade material
da fotografia, enquanto medium artístico, recuperando a representação
do real «depois da pintura». Retratos, objectos, fragmentos de cidade,
por um artista inglês.
GEORGES DUSSAUD, Museu da Marinha (19/06)
«Paisagens»: Trás-os-Montes, a
costa do Norte e os Açores por um fotógrafo francês que tem trabalhado
sistematicamente em Portugal, com o apoio do Ministério da Agricultura
de Paris, e que foi também exposto nos últimos Encontros de Coimbra e
de Braga. Aqui, a estratégia documental complica-se com uma hesitante
vontade de arte, e a poesia dos espaços evanescentes exigiria outra
relação com as suprfícies impressas.
HENRI CARTIER-BRESSON, Museu de Etnologia (12/06)
150 fotografias,
1929-1978 (com vidros por vezes riscados) num espaço de grande
qualidade. «Para mim a grande paixão é o tiro fotográfico, que é um
desenho acelerado, feito de intuição e de reconhecimento de uma ordem
plástica, fruto, em mim, da frequentação dos museus e das galerias de
pintura, da leitura e de um apetite do mundo» (H.C.B., 1986, «Les
Cahiers de la Photographie», nº 18, pág. 118).
(19/06)
«Sem minimizar o valor
da sua obra como reportagem, deve ser dito que as fotografias de C.-B.
são veneradas pelos outros fotógrafos porque são belas. Possuem graça,
equilíbrio, economia, tensão, e impacto visual: as qualidade de um bom
ginasta ou bailarino. Ou as qualidades de uma boa imagem (picture)»,
Szarkowski, Looking at Photographs, pág. 112. Retrospectiva do Centre
National de la Photographie, Paris, recebida em mau estado de
conservação, com acrílicos riscados.
(26/06)
«Cartier-Bresson esforçou-se por pôr a sua sensibilidade de fotógrafo ao serviço do jornalismo... Apesar do seu manifesto vigoroso e subtil a favor do papel do repórter fotográfico, as fotografias expostas fazem pensar que o jornalismo foi a ocasião, não a força motriz do melhor da sua obra», Szarkowski, 1968, citado por Peter Galassi, in H.C.B.: Premières Photos, Arthaud, 1991.
JACQUES-HENRI LARTIGUE, Pavilhão de Vidro do Instituto Sup. Agronomia
«Le
passé composé»: fotos «panorâmicas», realizadas entre 1922 e 1931 pelo
mais famoso dos amadores. É este o melhor momento da obra de Lartigue,
quando à possibilidade de um acesso precoce à fotografia e à «oisivité»
propiciada pela fortuna se soma, graças à utilização de um formato
específico, uma excepcional oportunidade de acordo entre a exploração
do espaço panorâmico e o testemunho autobiográfico dos «roaring
twenties»: a velocidade, o mapa dos paraísos mundanos.
JAMES HERBERT, Jardim Museu Tropical
«Stills»: J.H., cineasta
americano, refotografa imagens dos seus filmes, tratando com efeitos de
luz e de grão as epidermes de corpos jovens./ (03/07)... explorando a
sensualidade de corpos jovens com os valores físicos da impressão
fotográfica.
MAPPLETHORPE, Bar Bouzouki (19 e 26/06)
«A caminho de Deus»: os corpos e as
flores (uma mesma imagem da sexualidade) numa pequena mostra que é uma
aproximação exemplar à obra de um grande fotógrafo clássico.
(03/07) os corpos e as
flores numa pequena mostra que é uma aproximação exemplar à obra de
Mapplethorpe, embora acentuando as suas qualidades de grande fotógrafo
clássico, a vertente esteticista, frente à dimensão provocadora e
«documental» de que a sua obra também se reveste.
MAREY & MUYBRIDGE, Museu de História Natural
Da fotografia ao
cinema: o estudo do movimento e a animação das imagens numa exposição
que conta com impressões originais do século XIX (Muybridge — enquanto
o contacto com o trabalho de Marey é exíguo e deficiente) pertencentes
à Cinemateca Francesa e com uma montagem de grande eficácia visual, mas
a que falta um complemento de informação que permita situar
cronologicamente os materiais e justificar a sua importância pioneira.
03/07: A fotografia à
conquista do movimento, abrindo as portas ao cinema: uma exposição que
conta com edições originais de Muybridge (enquanto o contacto com o
trabalho de Marey é exíguo e deficiente) pertencentes à Cinemateca
Francesa e com uma montagem de grande eficácia visual. No entanto, a
falta de um complemento de informação que permita situar
cronologicamente os materiais e justificar a sua importância pioneira
transformam-na num «gadget» sem sentido.
«NADAR: O OLHO LÍRICO», Torre Ôca dos Jerónimos, Museu da Marinha (05/06)
A exp. de
inauguração oficial do Mês da Fotografia é também uma grande aposta
ganha: é num fabuloso cenário que lembra os bastidores dum palco que se
expõem os retratos dos cantores de ópera que passaram pelo estúdio de
Paul Nadar (filho e continuador de Félix), acompanhados por fatos de
cena, adereços, cenários e objectos de estúdio e registos sonoros. Às
impressões modernas, de grande qualidade, juntam-se algumas provas de
época, cartões de vista e outros documentos preciosos. Quando a
fotografia não é de primeira importância, impõe-se a força de uma
montagem ao mesmo tempo espectacular e didáctica. Exp. dos Archives
Photographiques de la Direction du Patrimoine, Paris, comissariada por
Lise Grenier, que foi um dos grandes êxitos do último Mois de la Photo.
(12/06)A
fotografia e a ópera: retratos de cantores e o estúdio de Paul Nadar,
num magnífico cenário também operático. Um luxo de encenação, didáctica
e preciosa.
PHILIP-LORCA diCORCIA, Galeria Palmira Suso (19 e 26/06)
«Strangers and
others». É a única exp. integralmente a cores e é a revelação de um
novo e notável fotógrafo americano. O seu olhar sobre os interiores
domésticos e sobre as personagens que os habitam (muitas vezes seus
familiares), ou os retratos do seu projecto sobre os travestis de Los
Angeles (os «Strangers»), tem a frescura de um modo próprio de ver o
mundo de hoje. Na suspensão dos gestos e na surpresa das escalas, ou
nas encenações que fixam a realidade encenada do espectáculo social, a
superfície das coisas é um ecran que guarda os seus segredos no acto de
se exibir.
ROBERT DOISNEAU, Convento do Beato
Retrospectiva de um dos mais
famosos fotógrafos de Paris, organizada exemplarmente pelo Museu de
Arte Moderna de Oxford, em 1992: raramente é possível conhecer um
fotógrafo através das suas edições originais, completadas por provas de
contacto e outros materiais, mas Doisneau não é um fotógrafo genial,
ainda que tenha produzido algumas imagens emblemáticas das décadas de
30-50.
(03/07)... a presença das edições originais,
acompanhadas por provas de contacto e outros materiais, bem como a
extensão da antologia, que inclui as encomendas publicitárias, as
reportagens e numerosas imagens emblemáticas da fotografia humanista
francesa documentam uma obra que é significativa sem ter sido genial.
SEBASTIÃO SALGADO, Centro Cultural de Belém
«Trabalho»: 250 fotografias, dois diaporamas e um album editado pela Caminho, que constituem um dos mais ambiciosos projectos fotográficos de sempre. A arqueologia (e a elegia) do trabalho industrial num inventário recolhido em todos os continentes que é também uma intervenção de forte carácter político — a distinguir das tradições históricas do realismo socialista e da «fotografia humanista».
(03/07)... É a mais
importante das exposições que entraram em circulação em 1993 e a
importncia da fotografia está directamente ligada à ambição social e
política do projecto.
TONY RAY-JONES, Convento do Beato
Menos conhecido que Doisneau, até porque morreu em 1972 com apenas 30 anos, T.R.J. é um dos pontos cimeiros do Mês da Fotografia, numa retrospectiva organizada pela Photographer's Gallery (Londres, 1990) com tiragens originais. Depois de Bill Brandt e antes da actual geração de fotógrafos ingleses, Parr, Davies, Killip e outros, são dele alguns dos mais incisivos retratos sociais da Grã-Bretanha. Cruéis e «verdadeiros».
(03(07) ... terá sido a descoberta
mais importante do «Mês». A retrospectiva... veio
também colmatar parcialmente a raridade dos contactos com a tradição da
fotografia de observação social inglesa, poderosa em Bill Brandt e
recentemente renovada com toda uma geração de «herdeiros» de T.R.J.
VLADIMIR BRYLIAKOV, Museu de Arqueologia (03/07)
Exp. extra-programa do
responsável pelo desenho de luzes de todo o «Mês», que é também a
primeira individual de um fotógrafo russo. O suporte fotográfico é
sujeito a um tratamento abertamente pictural que altera e oculta a
imagem inicial, por vezes sugerindo o tratamento dado aos ícones,
outras vezes registando uma espécie de corpo a corpo do autor com o
registo inicial. É, no quadro global da programação, um exemplo
oportuno da passagem «para lá da fotografia», em objectos que são
também desenho ou pintura — e a sua qualidade própria também reside na
despreocupação com os rigores da especificidade material da fotografia.
Mais uma interessante solução de montagem.
#
1961-1974 OS ANOS DA GUERRA, Gare da Rocha Conde de Óbidos
A ENCENAÇÃO DO ESTADO NOVO, Gare Marítima de Alcântara
Um mergulho nos arquivos desconhecidos que constitui em especial uma chamada de atenção para a necessidade de abrir e estudar os seus espólios com vista a recuperar uma iconografia desconhecida, e também um longo capítulo da difícil história da fotografia em Portugal. Mas há o perigo de se terem gasto boas ideias em exp. preparadas sem condições de tempo e de trabalho. Tirou-se um correcto partido cenográfico das grandes ampliações, em especial na Gare da Rocha, e criaram-se curiosas soluções arquitectónicas (como as reportagens sobre a Mocidade Portuguesa encerradas numa grande, excessivamente grande, caixa fechada), em locais marcados pelas memórias do tempo e pelas pinturas de Almada que a ele também de associam. Se há alguma exiguidade de imagens no caso do Estado Novo — acompanhadas por textos que apenas reiteram o seu sentido, quando se exigiriam antes informações precisas —, as imagens da guerra ganham com o diaporama de José Álvaro Morais uma perturbadora eficácia.
(03/07)
Duas
exposições que tomam o partido de revelar a existência de imagens
ocultas em diferentes arquivos nacionais e que colocam em situação
momentos decisivos da história e do imaginário nacional no quadro de
dois edifícios carregados de significado. O uso do diaporama, na
primeira das duas exposições, excede em eficácia a opção cenográfica e
grandiloquente da segunda mostra. Trata-se aqui de utilizar a
fotografia, de a devolver como testemunho e de travar, através da prova
da gravidade das imagens silenciadas, a sua abordagem meramente
esteticista. Fica a saber-se que há arquivos que têm de ser
investigados e divulgados (mas não banalizados através de um acesso
indiscriminado e oportunista).
LISBOA SOBRE RODAS, Museu dos Coches (03/07)
Uma rápida viagem pelos meios
de transporte (35 reimpressões de fotos de diversos Arquivos), em mais
uma montagem atraente que termina com a chegada a Lisboa do primeiro
autocarro de dois pisos. Ainda um exercício inteligente sobre como usar
a fotografia, por vezes boas fotografias, para conhecer a cidade e a
história do seu «progresso».
A CAPTURA DE GUNGUNHANA, Torre de Belém
Exp. de fotografias de diversos arquivos sobre a «diáspora» do último monarca do Reino de Gaza, Moçambique.
«CORPO A CORPO», Convento dos Cardaes
A fotografia ao serviço da «cultura física», na viragem dos séc. XIX-XX, através da colecção Desbonnets
revelada no último Mois de la Photo: a saúde, os ideais da beleza clássica e o nu atlético. A muito irregular qualidade das reimpressões modernas e a ausência de esclarecimentos sobre o material exposto tornam a exp. uma mera curiosidade. Com
versões preparadas para invisuais.
PENA CAPITAL, Museu da Água - EPAL
29/05
É a única exp. de fotografias de autores portugueses contemporâneos do Mês, e grande parte do seu mérito reside nisso mesmo. Sob um título tomado a Mário Cesariny, são seis os fotógrafos, numa produção da Galeria Alda Cortez. Álvaro Rosendo e Daniel Blaufuks reafirmam as respectivas autorias, à distância do tom documental dominante, que recorda o de exposições colectivas dos anos 70: Rosendo com uma sequência fabricada em computador (?), talvez ironizando sobre as suas próprias «fotos de viagem»; Blaufuks com uma série distanciada e nostálgica que nada acrescenta ao seu trabalho. Nuno Felix da Costa faz do itinerário pela cidade um jogo de encontros pessoais com o propósito do documento, num itinerário em segundo grau, mais culto que afirmativo de um olhar próprio. António Pedro Ferreira é irregular na selecção das fotografias e na impressão das provas: no seu melhor, a irrupção das figuras e os espaços complexos fazem do fotojornalismo uma interrogação sobre o que se dá a ver, um ensaio sobre o visível. Joana Pereira Leite e Michel Waldman (um fotógrafo belga) apostam no pitoresco, na poesia dos lugares e na vontade da composição, com tentações de bilhete postal e erros de escala e da qualidade das impressões.
19/06
Álvaro Rosendo, Daniel Blaufuks,
Nuno Felix da Costa, António Pedro Ferreira, Joana Pereira Leite e
Michel Waldman na única apresentação da fotografia portuguesa
contemporânea, que ficou muito abaixo das expectativas autorizadas pelo
curso das coisas na última década. Com
publicação de um livro.
#
Última semana - 03 Julho 1993
O MÊS da Fotografia terminou oficialmente, mas enquanto algumas exposições vão desaparecendo, outras se inauguram ainda. Foi o caso, esta semana, da exposição documental dedicada a Gungunhana, na Torre de Belém, e será, dentro de dias, o de uma das mostras mais aguardadas, «Magnum no Leste», anunciada para a Estufa Fria. Entretanto, não houve apenas adiamentos de inaugurações: em certos casos, como os de Mapplethorpe e Arno Fisher, entre outros, foram também adiadas as datas previstas para o fecho das exposições. O panorama é ainda excepcional.
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