EXPRESSO/Cartaz de 29/05/1993
Capa: Um mês de fotografia / pág. 15: “Festas fotográficas”
A POUCOS dias da abertura, o Mês da Fotografia ainda parece uma «aposta no impossível». É Serge Tréfaut, o seu principal responsável, quem o reconhece, enquanto garante o cumprimento de um programa de 24 exposições que começou por ser apenas uma das componentes das Festas de Lisboa, até se transformar na mais ambiciosa operação de divulgação da fotografia já ensaiada entre nós e também na primeira edição de uma bienal que tem por exemplo o «Mois de la Photo» de Paris.
De facto, foi apenas em Janeiro que houve luz verde para arrancar verdadeiramente com a programação. Um prazo curtíssimo, quando não se pretende apresentar apenas exposições «enlatadas» (embora elas sejam a maioria absoluta) e quando se utilizam espaços espalhados pela cidade que exigem grandes investimentos na cenografia e na iluminação.
O projecto acabou por estender a sua rede a instituições muito diversas, públicas e privadas, do Centro Cultural de Belém ao Porto de Lisboa (Gares Marítimas), dos Museus oficiais aos Monumentos tutelados pelo IPPAR e à Cinemateca (uma aliança SEC-CML que é uma surpresa), das galerias de arte às empresas mecenas (a Central Tejo, da EDP, o Museu da Água, da EPAL, o Convento do Beato, da Nacional), etc. É toda uma inédita manobra de articulação de esforços e colaborações, de que apenas ficou de fora a Gulbenkian, o que não deixa de ser uma das curiosidades desta iniciativa (por que não se cumpre, por exemplo, a anunciada apresentação das fotografias de Fernando Lemos, já levadas a Paris?).
À partida, e com o optimismo conveniente nestas aventuras, há que apreciar a justeza de algumas das opções de base do programa. Ou seja, uma aposta menos imediatamente guiada pelo «prisma da arte» do que pela afirmação do poder de comunicação da fotografia, concedendo um lugar central ao foto-jornalismo e à fotografia documental (Sebastião Salgado, «Magnum no Leste»), e usando-a por ponto de partida, em diversos casos, para abordar temas e acontecimentos (mergulhando nos arquivos para falar da história da guerra colonial ou dos transportes da cidade, por exemplo).
Em segundo lugar, valorize-se a intenção de apresentar vários dos mestres e dos nomes históricos da fotografia (Lartigue, Cartier-Bresson, Doisneau, Tony Ray-Jones, Mapplethorpe), deixando a responsabilidade pela apresentação de trabalhos mais experimentais ou «artísticos» às galerias de arte que se associaram ao projecto — mas o predomínio francês da programação geral e a importação de autores já mostrados recentemente em Coimbra só se aceita pelos condicionalismos citados e pelo maior poder de oferta das instituições públicas parisienses. Por último, note-se a vontade de apresentar exposições para todos os públicos e de diversificar os modos de expor, com a aposta no espectáculo de algumas montagens preciosas (Nadar, Bonnard, Muybridge & Marey) e a exploração das grandes ampliações e dos diaporamas.
(Notas agrupadas a seguir)
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