Retomando a cronologia da/do Colecção/Museu Berardo e do CCB - ver episódio anterior, inauguração do Museu de Sintra
Em meados de Outubro de 1999 veio a público a ruptura entre Francisco Capelo, que dirigira o projecto da Colecção Berardo desde o início, e José Berardo.Puseram-se a circular notícias sobre a dispersão da Colecção. A resposta surge no início de Dezembro, com novas compras (Bacon e Delaunay) e a confirmação da exposição prevista para o CCB que revelou o alargamento do âmbito cronológico do acervo, «Colecção Berardo 1917-1999».
"Berardo continua colecção"
Adquiridas duas importantes pinturas de Francis Bacon e Robert Delaunay
EXPRESSO/Cartaz de 4-12-1999, pp.4-5 - c/ notícia de 1ª pág. ver adiante
(Foto: Francis Bacon, «Édipo e a Esfinge 'd'après' Ingres», 1983)
DOIS quadros de Francis Bacon e de Robert Delaunay acabam de ser adquiridos para a Colecção Berardo, devendo ser apresentadas ao público por ocasião de uma exposição anunciada para o Centro Cultural de Belém, a inaugurar em 27 de Janeiro. A tela de Bacon intitula-se Édipo e a Esfinge «d'après» Ingres e data de 1983, com as dimensões de 198 x 147,5 cm. Sendo de data tardia, é considerada uma das mais significativas obras da sua produção final e uma das mais intrigantes abordagens modernas de uma composição histórica (no caso, referindo uma tela de Ingres conservada no Louvre). Foi exposta na retrospectiva da Tate Gallery de 1985, em «Francis Bacon: The Human Body», organizada na Hayward Gallery por David Sylvester em 1998, e circulou já este ano noutra retrospectiva que itinerou nos Estados Unidos.
Não foi revelado o preço da aquisição, mas o pintor inglês, falecido em 1992, é um dos artistas mais caros do mundo e os seus quadros situam-se em valores da ordem dos 500, 600 mil contos.
A obra de Robert Delaunay, Relevo; Ritmos, é uma pintura de 1932, com 100,3 x 112,2 cm, a óleo e gesso sobre tela sobre madeira, representativa das suas séries «abstractas» dos anos 30 («Ritmos», «Ritmos sem Fim»), em que a energia da cor concentrada na forma do disco dinamiza a busca de uma arte de grande ambição decorativa e monumental, plenamente concretizada nos frescos murais dos últimos anos do pintor. A tela foi comprada num leilão em Nova Iorque, licitada pelo telefone.
As duas aquisições e a respectiva divulgação significam a intenção do comendador José Berardo continuar a alargar a colecção depois de se ter encerrado a colaboração com Francisco Capelo, até há poucos meses responsável directo pela respectiva orientação.
O EXPRESSO apurou que, entretanto, José Berardo fez saber junto de diversas entidades nacionais que não tem a intenção de vender a colecção e que esta permanecerá em Portugal, continuando a ser alargada com a aquisição de novas obras. A inclusão de um número mais significativo de trabalhos de autores portugueses (além de Paula Rego, Sarmento, Palolo, Carlos Calvet, Skapinakis, Lapa, Ângelo de Sousa e outros) está também nos planos do proprietário, que contará com a colaboração de consultores nacionais e estrangeiros, embora sem delegar os poderes de decisão ou direcção da colecção.
A apresentação da colecção no CCB, que esteve prevista para 26 de Novembro, será comissariada por Margarida Veiga, directora do Centro de Exposições, que já colaborara na montagem do Museu de Sintra, contando com a colaboração da respectiva directora, Maria Nobre Franco. Anteriormente, previa-se que essa mostra seria organizada por Francisco Capelo e Margarida Veiga, mas a ruptura verificada entre os dois empresários, após a venda do seu grupo de imprensa à Lusomundo, veio adiar e alterar a condução do projecto. A exposição «Colecção Berardo 1917-1999» apresentará uma visão extensiva do respectivo acervo, que desde a sua primeira apresentação pública foi passando a ter num horizonte cronológico cada vez mais alargado. A mostra far-se-á sem o encerramento do Museu de Sintra, em duas montagens complementares.
Serão vista no CCB, pela primeira vez, grandes instalações dos anos 80 e 90, de autores como Bil Viola e Bruce Nauman, mas em Sintra serão também mostradas obras inéditas, incluindo, por exemplo, obras recentes sobre suportes fotográficos.
Esteve previsto que após a mostra do CCB ficasse aí instalado, em exposição permanente, um núcleo da Colecção Berardo correspondente ao período posterior aos anos 60, enquanto o Museu mostraria o primeiro segmento histórico moderno. O projecto está, entretanto, suspenso, mas mantem-se como possível, até porque continua em vigor o protocolo que assegura o depósito de obras da Colecção nas reservas do CCB.
E tb na 1ª pág.
Berardo compra quadro de Bacon
A COLECÇÃO Berardo acaba de ser enriquecida com um quadro do pintor inglês Francis Bacon, «Édipo e a Esfinge 'd'après' Ingres», de 1983. O preço não foi revelado, mas poderá ter sido a aquisição mais cara até agora efectuada pelo comendador José Berardo. Falecido em 1992, Bacon era a principal figura da Escola de Londres e as suas obras contam-se entre as mais caras do século XX. Outra tela importante, «Relevo; Ritmos», de Robert Delaunay, datada de 1932, foi igualmente adquirida, esta num leilão em Nova Iorque, licitada pelo telefone.
Ambas as obras deverão ser expostas a partir de 27 de Janeiro, quando se inaugurar no CCB uma exposição alargada da colecção, com quadros que vão de 1917 até ao fim do século, em muitos casos inéditos.
Estas aquisições manifestam, por parte de José Berardo, a intenção de manter e alargar a colecção, depois de ter terminado a colaboração com Francisco Capelo.
Recorde-se que fora Capelo quem orientara desde o início a organização e instalação da Colecção Berardo no Museu de Arte Moderna de Sintra.
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