Depois da apresentação anónima de um pequeno nº de obras, em Julho de 1993 -- por coincidência, um mês depois da abertura ao público do CCB (ver CCB 1993) --, a Colecção Berardo aparece a público em 1995, desde o início associada ao projecto de uma galeria pública. Francisco Capelo é então o orientador e o porta-voz da Colecção.
"Colecção Berardo vai ter museu em 1995"
EXPRESSO/Cartaz de 6-5-95 ("Actual", pág. 5)
A importância da colecção de arte contemporânea que está a ser reunida por Joe Berardo e também o seu propósito de a instalar numa galeria pública em Portugal foram referidos com destaque no número de Fevereiro da revista americana «ARTnews», que salienta os elevados valores atingidos por algumas aquisições realizadas em leilões da Sotheby's e da Christie's.
Ao intitular o artigo «Portugal's Mystery Man», a revista não menciona o nome de Francisco Capelo, do Banif, que tem conduzido as aquisições para a colecção do financeiro madeirense Joe Berardo, mas cita-o sob anonimato declarando esperar que a colecção possa ficar disponível ao público português ainda durante o ano de 1995. «Estamos num país onde não existe numa colecção pública de arte internacional do pós-guerra», sublinha a mesma fonte.
A revista «ARTnews» informa também que o «misterioso coleccionador lisboeta está a negociar o empréstimo da sua colecção à cidade de Lisboa, se esta aceitar fundar e manter uma galeria pública».
Entretanto, o EXPRESSO apurou que está presentemente em estudo a hipótese da colecção ficar sediada em Sintra, por iniciativa da respectiva Câmara, depois de se terem ensaiado contactos que não chegaram a bom termo com instituições governamentais. O antigo Casino de Sintra, onde estão a realizar-se obras de beneficiação, seria o lugar escolhido para o museu, se tiverem êxito as negociações que estão a decorrer com Edite Estrela, a qual não quis ainda pronunciar-se sobre o assunto.
Algumas obras adquiridas nos últimos dois anos para a colecção Berardo, sempre anonimamente, segundo a revista de arte americana, estabeleceram novos recordes relativos à produção de certos artistas, nomeadamente de Claes Oldenburg, cuja peça Soft Light Switches «Ghost Version» foi comprada por 387 mil dólares num leilão da Sotheby's a 1 de Novembro, sendo uma das peças mais caras da sessão. Outros quadros citadas pelos valores que alcançaram são Lucky Seven da pintora Joan Mitchell (277.500 dólares) e The Vocali (A E I O U) do italiano Francesco Clemente (266.500).
Já em Novembro de 1993, uma obra de Robert Indiana, The Black Diamond American Drean Nº 2, fora adquirida por um preço record (277.500 dólares) e o Great American Nude #52 de Tom Wesselmann atingira igualmente um valor elevado.
A notícia faz referência a outras pinturas e esculturas mais discretamente adquiridas desde a década passada, de importantes artistas americanos como James Rosenquist, Richard Artschwager, George Segal, Mel Ramos, Larry Rivers, Andy Warhol, Dan Flavin, Joseph Kosuth, Bruce Nauman e Frank Stella, e também dos europeus Christian Boltanski, Tony Cragg, Alan Jones e Peter Blake. As compras realizaram-se, em geral, durante o período de recessão, o que terá permitido a Joe Berardo e Francisco Capelo actuarem no mercado em condições muito favoráveis para reunir algumas centenas de peças que permitem acompanhar a evolução da arte europeia e americana desde meados da década de 40.
Recorde-se que algumas obras de Berardo foram expostas como uma colecção particular não identificada na Galeria Valentim de Carvalho, em Julho de 1993, incluindo então trabalhos de Albers, Dubuffet, Enrico Baj, Rotella, Villeglé, Fontana, Yves Klein, Arman, Spoerri, Christo, Niki de Saint Phalle, Joe Tilson, Peter Caufield, Rauschenberg, Adami, Keneth Noland, e também de outros artistas surgidos nos anos 80 como Barceló, Combas, Clemente, Blais e Matt Mullican. Mais tarde, a identidade do proprietário daquela colecção seria revelada por João Pinharanda no «Público», e uma outra exposição apresentou na Galeria Luís Serpa duas obras dos artistas americanos Haim Steinbach e Allan MacCollum, com a mesma origem.
A instalação da colecção de Joe Berardo num local público em Portugal, mediante o estabelecimento de um protocolo que assegure a cedência de um espaço museológico e a partilha dos custos de funcionamento, bem como a continuidade das compras por parte do titular do acervo, foi objecto de contactos com responsáveis do Instituto Português de Museus e também do Centro Cultural de Belém, que manifestaram grande interesse pela vinda da colecção para o país, sem, contudo, avançarem com a possibilidade de assegurar os investimentos necessários.
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