O Leão de Ouro de Veneza atribuído a Malick Sidibé começou por me chocar. Associei-o à iniciativa de Robert Storr de incluir na Bienal uma representação de África através de uma colecção sedeada em Luanda e que cheira muito a petróleo (aberto um concurso, terá sido essa a candidatura que pagou mais, ou que custava menos). /POLÉMICA EM TORNO DA COLECÇÃO SINDIKA DOKOLO: Artecapital.net actualizado em artnet /
Mas há meios ínvios de chegar a coisas sérias (as linhas tortas de Deus...) O G8 e Sarkozy andam ocupados com África, ainda bem. E o Leão de Ouro foi quase sempre irrelevante.
Também o facto de se tratar de um retratista e repórter popular dos anos 50-60, de quem se recupera e reedita a antiga produção, não é entusiasmante. Já agora, atenção também ao galego Virxilio Vieitez (n.1930, Soutelo de Montes) ou António Gonçalves Pedro, de Mora (1927-1999) - mas, a diferença é significativa, MS é um intérprete da mudança, em particular dos anos das independências africanas.
Malick Sibidé (nascido em 1936) anda há alguns anos em grandes trânsitos. Foi distinguido com o Prémio Hasselblad em 2003, e exposto no CAV, Coimbra, em 2004.
Tinha chegado em 2002 ao mercado galerístico, através de reedições em grande formato de antigos retratos dos anos 50-60, com exposições nesse ano na Jack Shainman Gallery, New York, USA e na Galerie Claude Samuel, Paris.
Antes disso ocupava um duplo papel de fotógrafo e representante da fotografia do Mali (Seydou Keita...) nos círculos que íam divulgando e promovendo a fotografia africana (Bamako 1, 1994). Logo em 1995 foi apresentado por André Magnin (Magiciens de la Terra/Colecção Jean Pigozzi) na Fondation Cartier pour l'art contemporain, Paris.
a continuar
ver:
Esteve representado em "L'Afrique par elle-meme" CPF Porto (artigo)
"Depois, sem uma estrita diferenciação cronológica, identificam-se como «retratistas» alguns profissionais a quem se reconhece a constância de preocupações estilísticas, com passagem ao estatuto de autores ou mesmo de artistas. As presenças centrais são as de Mama Casset (1908-1992), que teve o estúdio da moda da burguesia negra de Dacar, e de Cornelius Yao Augustt Azaglo (1924-2001), da Costa do Marfim, faltando o mais promovido Seydou Keïta (1923-2001), de Bamako, mostrado em Coimbra em 1997. Outras práticas tradicionais de estúdio continuam em provas pintadas à mão vindas de Adis Abeba e nos retratos a cor de Bobby Bobson, de Durban, já nos anos 80.
(...)
Para além do caso particular de Ricardo Rangel (1924, Moçambique), o conjunto mais forte é constituído por quatro fotógrafos que sustentaram a prática da reportagem de rua com o sentido do retrato (também no sentido comercial) e que registaram as transformações sócio-culturais dos anos 60 percorrendo os bares e as festas, fotografando os jovens e a noite com uma nova liberdade e recurso ao flash: em Bamako, Abderramane Sakaly (1926-1988) e Malick Sidibé (1936; distinguido com o Prémio Hasselblad 2003, e exposto no CAV, Coimbra, em 2004); Jean Depara (1928-1997), em Kinshasa, e Philippe Koudjina (1940), em Niamey, Nigéria."
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