Foi a primeira grande mostra do CCB organizada a partir da Colecção Berardo, contando com o seu núcleo de obras Pop e aparentadas. A Pop continua a ser um dos núcleos principais da Colecção
EXPRESSO/Cartaz de 06-09-1997
The Pop’60’s – Travessia Transatlântica – CCB
Pop, Fluxus e Fotorrealismo – Museu Berardo, Sintra
e Alain Jacquet – Gal. Hugo Lapa
A temporada das exposições abre cedo e sob signo Pop (abreviatura de popular), com a inauguração da próxima quarta-feira no Centro Cultural de Belém. A Pop Arte foi «o primeiro estilo acessível do modernismo internacional», como sublinha Robert Hughes na sua recentíssima história da arte norte-americana, American Visions. The Epic History of Art in America (com versão televisiva BBC/Times em oito episódios, que se recomenda vivamente à atenção da televisão pública), e, enquanto se prolonga ainda o êxito da exposição de Paula Rego, esta será uma favorável oportunidade para manter o nível de interesse público — e popular — sobre as programações institucionais. As oportunidades são, em geral, escassas.
«The Pop' 60s. Travessia transatlântica» é um vasto panorama que se apresenta como «o maior e mais englobante levantamento alguma vez feito de trabalhos relacionados com a Arte Pop», contando com a presença de mais de 200 trabalhos de 80 artistas. Poderia temer-se uma mega-exposição apontada ao êxito de bilheteira (um «blockbuster»), se a figura do seu comissário não inspirasse a confiança devida a um especialista inglês que é também o autor de importantes livros dedicados a dois dos maiores pintores contemporâneos, David Hockney e R. B. Kitaj, que tiveram momentâneas mas influentes relações com a Pop britânica.
Marco Livingstone organizou em 1991, para a Royal Academy de Londres (com posterior digressão internacional, incluindo Madrid) a exposição «Pop Art: an International Perspective» e reincide agora com um programa idêntico, «exaustivo e inclusivo», que se afasta da identicação canónica do «estilo Pop» com o regionalismo nova-iorquino brevemente configurado pelo quinteto Warhol, Lichtenstein, Oldenburg, Rosenquist e Wesselmann (ou mesmo só pelos dois primeiros). «O termo Pop não pode ser limitado a uma lista fechada de americanos, tal como não pode ser aplicado a um estilo definido», defende Livingstone, como regra de uma exposição que se abre a movimentações contemporâneas localizadas em Londres, Paris e outras capitais europeias, tal como o panorama norte-americano se estende a Chicago e Los Angeles. No âmbito dessas movimentações cabem, entretanto, três portugueses então emigrados, Lourdes Castro, René Bertholo e Eduardo Batarda.
Tendencialmente, tratar-se-á de fazer diminuir, no caso da Pop, que nunca foi um movimento organizado em torno de manifestos, o significado da ideia de estilo colectivo, para valorizar o entendimento das linguagens ou estilos individuais. É uma questão que so se avaliará nas condições efectivas da montagem.
É possível que os debates críticos que ocorreram em torno da Art Pop, expressão que, em Londres, com o Independent Group, logo nos anos 50, começou por ser aplicada aos próprios produtos da comunicação de massa (publicidade, embalagens, «comics», «slot machines», ficção científica, filmes de Hollywood, etc), considerando a arte de massas como anti-académica, tenha hoje uma nova actualidade. A propósito de barreiras entre práticas elitistas e populistas, de fronteiras entre a arte e a vida, hoje igualmente muito actuais no panorama artístico.
Entretanto, no Sintra Museu de Arte Moderna, apresenta-se (a partir de amanhã) uma nova montagem das salas que foram desfalcadas pelos empréstimos feitos ao CCB. Particularmente significativa será a inclusão de mais três artistas portugueses na colecção Berardo — António Palolo, Carlos Calvet e Nikias Skapinakis — alargando a representação possível da Pop nacional. Para além de outras obras mais estritamente Pop, a montagem incluirá um núcleo relativo ao fotorrealismo, onde certamente se poderá destacar a presença de Malcolm Morley, que viria a transcender os limites do género, e também uma aproximação ao movimento Fluxus, representado por uma das últimas obras de Joseph Beuys e por uma escultura de Wolf Vostell.
Outra iniciativa conjugada é ainda a apresentação do francês Alain Jacquet, com obras de 1964 a 1971, na Galeria Hugo Lapa (no CCB, inaugura também dia 10 às 22h). Trata-se, com Martial Raysse, de um dos artistas franceses mais próximos do cânone norte-americano da Pop Arte, autor de variações sobre imagens de culto da tradição da arte ocidental, por vezes com o recurso a dispositivos mecânicos que deram origem a mais uma efémera designação estilística, a «Mec Art».
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