O ritual de Veneza
Expresso Cartaz de 05-06-99
Jorge Molder, fotografia da série exibida em «Alfândega Nova»
A 48ª EDIÇÃO da Bienal de Veneza é oficialmente inaugurada no próximo sábado, prevendo-se a passagem por Serralves de muitos dos visitantes vindos das Américas. O evento tem este ano (e também em 2001) a direcção de Harald Szeemanm, o histórico comissário de «Quando as Atitudes se Tornam Forma», de 1967, e da Documenta de 72, que em 1990 instituíra um sector da bienal para jovens artistas intitulado «Aperto». Szeemann, no entanto, em vez de restabelecer a mesma fórmula, promoveu uma vasta exposição em que juntou jovens e veteranos, distribuída por vários espaços de Veneza sob o título «dAPERTutto, APERTO over ALL, APERTO par TOUT, APERTO uberrall».
Portugal é um dos 59 países oficialmente presentes, embora ainda não disponha de um pavilhão próprio nos «Giardini» – Álvaro Siza já foi convidado para o projectar, mas a reforma da Bienal, transferindo-a para a tutela da cidade, tem demorado a atribuição de lugares aos países candidatos a uma presença fixa. Jorge Molder, designado como representante nacional, sendo Delfim Sardo o comissário, ocupará o Palácio Vendramin ai Carminini (em Dorsoduro), alugado para a ocasião, como sucedeu em 97 com Julião Sarmento. Apresentará uma série de auto-retratos fotográficos, a preto e branco e grande formato, intitulada «Nox» (noite), na sequência do trabalho que vem desenvolvendo desde 1990.
A sua presença envolve a edição de um catálogo específico e também de uma monografia retrospectiva, reunindo 160 imagens das séries de auto-retratos, com textos de Delfim Sardo e Ian Hunt e uma entrevista conduzida por John Coplans, fotógrafo há anos apresentado numa grande exposição no CAM. A promoção da representação contou também com a co-produção de um documentário realizado por José Neves, com o título Por Aqui Quase Ninguém Passa. No total, incluindo um jantar servido pelo restaurante Papa'Açorda, o investimento conjunto dos Ministérios da Cultura e Negócios Estrangeiros, bem como do ICEP, é orçado em 70 mil contos (como termo de comparação, os orçamentos de funcionamento do Centro Português de Fotografia e do Instituto de Arte Contemporânea são, respectivamente, de 123,9 e 195.6 mil contos).
Entre as outras presenças oficiais podem destacar-se Ann Hamilton pelos
Estados Unidos, Rosemarie Trockel (Alemanha), Gary Hume (Grã-Bretanha),
Jean-Pierre Bertrand e Huang Yong Ping (França), Nelson Leirner e Iran
do Espírito Santo (Brasil), Manolo Valdés e Esther Ferrer (Espanha),
Komar & Melamid e Sergey Bugaev (Rússia), Ann Veronica Janssens e
Michel François (Bélgica), todos eles nos seus pavilhões dos
«Giardini», enquanto 19 países sem casa própria são alojados nos
Arsenais e mais nove, incluindo Portugal, optaram por procurar outros
locais. Entretanto, os artistas italianos foram este ano incluídos na
mostra internacional, entre os 95 artistas da selecção de Szeemann.
Dois espanhóis, Antoni Abab e Ana Laura Alaez, quatro franceses de
circulação recente, Dominique Gonzalez-Foerster, Thomas Hirschhorn,
Pierre Huyghe e Philippe Parreno, estão entre os eleitos. A par de
nomes consagrados ou frequentes – Dieter Appelt, Sigmar Polke, Bruce
Nauman, Chris Burden, Paul McCarthy, Wilfgang Laib, Jenny Holzer,
Katharina Fritsch, Jimmie Durham, Frank Thiel, Maurizio Cattelan,
Douglas Gordon, Pipilotti Rist, Rirkrit Tiravanija, etc –, é prestada
homenagem a James Lee Byars, Gino de Dominicis, Martin Kippenberger,
Dieter Roth e Mario Schifano, recentemente falecidos. Mas, ao lado de
dois artistas africanos (Georges Adéagbo, do Benin, e William
Kentridge, da África do Sul), de um só da América Latina (Kcho, Cuba),
a surpresa é o grande número de jovens artistas chineses convidados (16
mais quatro a residir no estrangeiro). Segundo Szeemann, eles «traduzem
plasticamente o choque do impacto com os mass media ocidentais».
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