Expresso/Cartaz de 12 de Junho de 1993, Actual, pág. 3
"Veneza sem Portugal"
A Bienal de Veneza, na sua 45ª edição, abre amanhã as portas ao público, depois de três dias de «vernissage», ainda sob o efeito do choque causado pelo atentado de Florença. É a mais prestigiada manifestação cultural italiana e a mais importante das grandes exposições internacionais — em concorrência, de quatro em quatro anos, com a Documenta de Kassel —, acolhendo até 10 de Outubro as obras de mais de 700 artistas vindos de 53 países.
Mas Portugal, tal como na edição anterior, não estará representado, uma vez que a Secretaria de Estado da Cultura optou por interromper em 1990 a participação nacional, e nenhum artista foi convidado a participar nas exposições paralelas, de âmbito não-nacional - uma situação que é grave e merece ser pensada.
Tanto mais que o novo director da Bienal, o crítico Achile Bonito Oliva, procurou imprimir a esta edição uma direcção capaz de traduzir a diversidade cultural do mundo e o nomadismo da época, expressos no título da maior das mostras paralelas: «Pontos cardeais da arte». Entretanto, o sector «Aperto», que acolhe jovens artistas, criado por Bonito Oliva em 1980, conhece este ano um maior desenvolvimento.
Entre as representações nacionais destacam-se as dos Estados Unidos, com a escultora de origem francesa Louise Bourgeois; da Hungria, com Joseph Kosuth (o conceptual americano); Alemanha, com Hans Haacke e Nam June Paik (coreano); Grã-Bretanha, com Richard Hamilton; Federação Russa, com Ilya Kabakov; França, com Jean-Pierre Raynaud; Espanha, com Tàpies e Cristina Iglesias; Bélgica, Jan Vercruysse; Holanda, Niek Kemps. O Brasil é representado por Carlos Fajardo, Emanuel Nassar e Ângelo Venosa.
Portugal é o único membro da Comunidade Europeia não representado (incluindo o Luxemburgo), num contexto internacional em que estão presentes países como a Costa do Marfim, a República da Macedónia, a Roménia, São Marino, a Federação Eslovaca, a Eslovénia, toda a América Latina, etc.
Uma retrospectiva de Francis Bacon, sob o título «Refiguração» e comissariada por David Sylvester, Gilles Deleuze e outros, é um dos grandes acontecimentos paralelos à Bienal, reunindo 50 telas. Entretanto, até 18 Julho, continua no Palácio Grazzi, da Fundação Fiat, uma grande retrospectiva de Marcel Duchamp.
Em Veneza decorrerá ainda uma homenagem ao compositor Luigi Nono, incluída no programa oficial da Bienal da Música, que se realiza em paralelo à Bienal das Artes. Da sua oferta musical faz parte um concerto com obras de Emmanuel Nunes (afinal há um português presente...), marcado para o próximo mês.
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