O livro foi sobrevivendo a todas as mudanças de casa e depurações. A morte de Bergman é a ocasião para o voltar a abrir. Bergman no Cerco tem data de edição de 1962 e a assinatura é de 65. Sobreviveu não por uma particular fidelidade a Ingmar Bergman, talvez porque alguns livros mais antigos que já resistiram a muita coisa, e a muitos acasos, se vão tornando indestrutíveis, inalianáveis (por enquanto).
É o nº 2 dos "Cadernos de Cinema" - edições de autor, que usavam em formato livro, até por causa da censura, o nome da revista de Paris, que depois se tornaria mais famosa. O primeiro, de que não tenho memória, foi O Jazz no Cinema, e não sei se houve mais. Faziam parte de uma identidade mais geral, os "Cadernos de Hoje", cuja extensão de interesses heterodoxos se exemplifica pela edição de Poesia Experimental e do Significado Presente do Realismo Crítico de Georg Lukács, já com prefácio de 57, em tradução de Carlos Saboga, outro livro resistente - estava então em questão uma terceira via para o realismo socialista...
Ilídio Ribeiro (autor de um extenso texto criticamente hostil, Bergman no comércio) devia ser o animador da editora, que tinha sede na Travessa do Fala-Só - em 1980 apareceu como co-argumentista e produtor do filme Verde por Dentro, Vermelho por Fora, realizado por outro Ricardo Costa ( produção independente da Diafilme - 1976/1990 -, empresa não cooperativa mas similar, que o produziu sem subsídios. A firma é gerida por Ricardo Costa, associado com Ilídio Ribeiro, um dos argumentistas. Ambos tinham criado antes a Mondar Editores -1965/1975-, que lançara os Cadernos de Hoje - adap. Wikipedia)
Bergman era então e continuou a ser um cineasta "metafísico",
...por um lado, era cinema "sério", à distância das diversões americanas (cowbois, comédias, Hitchcock), por outro, à vez, era demasiado intelectual ou demasiado ligeiro ("burguês, conservador e reaccionário", segundo ele próprio dissera), em busca da "beleza plástica" e não da "exacta visão do mundo" alertava Baptista-Bastos.
O título do livro era o de uma mesa-redonda que reunia alguns dos mais representativos críticos: António Escudeiro, António-Pedro Vasconcelos, Ernesto de Sousa, José Fonseca Costa, José Vaz Pereira e Manuel Villaverde Cabral. José Cardoso Pires, Seixas Santos, Benard da Costa colaboravam. Com Bergman identificava-se um então alargado interesse pela "controvérsia".
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