"Eduardo Luiz (1932-1988)"
Expresso/Revista, 07-05-1988, p. 28R (“Na Berra”)
Eduardo Luiz vivia há 30 anos em Paris. Destacara-se nos anos 60 entre alguns pintores portugueses que no exílio então necessário participavam directamente das aventuras do que ficou conhecido como a invenção de uma “nova figuração”, e desde então desenvolvera um itinerário pessoal e solitário acolhido com extremadas reacções.
Cesariny incluiu-o entre os poucos surrealistas da sua lista de 1973, mas o pintor negava a atribuição; outros acentuavam um “preciosismo pictural algo poético” (J.-A. França) enquanto Fernando Gil, num texto de uma lucidez rara entre prefácios de exposições (Galeria 111, 1973), situava na pintura de Eduardo Luiz algumas direcções significativas de um futuro possível: “anuncia uma pós-modernidade em que seja de novo possível denotar – mas em que a denotação seja intrínseca à própria linguagem: Balzac depois de Beckett”.
Retrato Clássico, 1981, o/t 124 x 73 cm, Col. Manuel de Brito
Eduardo Luiz juntara um talento virtuosíssimo próprio à liberalidade do ensino da ESBAP dos anos 50, de que ficou a elegância de algumas longilíneas estilizações. Depois, em Paris, as suas “ardósias” ensaiavam na unidade de um mesmo suporte a conjunção de objectos comuns rigorosamente representados com sinais abstractos, escritas e garatujas, onde se abatiam fronteiras de figuração / não-figuração.
O reconhecimento da originalidade do seu percurso viera cedo, por exemplo com a ida à Bienal de S. Paulo e o prémio do Salão da Jovem Pintura na Galeria de Março, ambos já em 1953. As exposições individuais suceder-se-iam no ritmo de uma produção lenta e reflectida, entre Paris e Lisboa, as últimas respectivamente em 1987 e em 1982 – nos últimos anos o seu interesse por disputar lugares em Portugal pareceu diminuir.
Vale a pena, agora, ultrapassar facilidades de catalogação que situavam
a obra de Eduardo Luiz como um modo de pintura erótica, como código
surrealista e surrealizante, mesmo se a citação de Magritte é uma
presença certa (ver foto – Portrait Classique, 1981). A criação
pictural, como uso significante de citações e de fragmentos, a pintura
como “recapitulação de vestígios”, assim a auto-definiu, era no
princípio dos anos 70 uma atitude inventiva. O virtuosismo evidente não
era vazio, a astúcia de um jogo de complexas cadeias significantes
traduzia o esforço de “partindo da arte abstracta, fazer uma pintura
que o não seja”, recusando também a “escrita pessoal, a caligrafia”: um
rigoroso projecto mental. Eduardo Luiz morreu em Paris há exactamente
uma semana, devido a um súbito acidente de saúde.
revisão de pontuação em 13/07/2007
Em Julho de 1990, o CAM apresentou uma retrospectiva de Eduardo Luiz comissariada por José Sommer Ribeiro e Maria José Moniz Pereira. Catálogo.
Em Abril-Maio de 1989, exposição e livro, Eduardo Luiz, Ygrego (depoimentos e antologia).
Ver
"Eduardo Luiz: crítica da crítica", Expresso/Cartaz 11/08/1990, p.10-11.
"Eduardo Luiz e António Areal - Questões de método", Expresso/Cartaz 18/08/1990, pag. 8.
tb
João Pinharanda, "A mentira da pintura" e "Diálogos Norte/Sul", Público A Semana, 20/07/1990, p. 12-13.
José Luís Porfírio, "Alusão, ilusão", Expresso/Revist, 28/07, p. 65R
Emídio Rosa Oliveira, Retrospectiva de EL, Sete, 2/08
Rui Mário Gonçalves, "EL, um perfeccionista" / Gracinda Candeias, "Em memória de um grande amigo" / Cristina Azevedo Tavares, "A pintura como xeque-mate", Jornal de Letras, 14/08
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