É uma exposição muito importante para situar a renovação da fotografia portuguesa dos anos 50 - de Victor Palla/Costa Martins, Sena da Silva, Gérard Castello-Lopes e mais alguns. Aliás, uma tentativa de renovação, em grande parte frustrada... - e trata-se também de perceber um país, o nosso, de que conhecemos poucas imagens, ou de que se fizeram poucas imagens.
Para além de ser uma exposição admirável, que explora o elo menos conhecido da fotografia do pós-guerra (em que entram a Magnum, o fotojornalismo empenhado, a fotografia humanista de tradição francesa, a "Family of Man" de Steichen, 1955, depois itinerante por todo o mundo,etc., etc, vários percursos individuais inovadores, e a vaga da fotografia subjectiva): a fotografia italiana. Como se a importância do cinema neo-realista, e também da literatura de Elio Vittorini, Pavese, Pratolini, Calvino, não tivesse extensões no campo da fotografia.
Há muita coisa que foi sendo recalcada a partir de finais dos anos 50 (com a Guerra Fria e a Hungria de 56, a cultura pop e o cisma sino-soviético, etc) e está agora a vir à superfície. Não será por acaso que a bibliografia referida no catálogo tem um imenso hiato entre 1959 e 1976...
Do catálogo já se falou um pouco antes - ver - e agora acrescenta-se que já está praticamente esgotado (haverá ainda duas dezenas de exemplares no balcão da própria mostra, no Centro Cultural da Plaza Colón). Restará entretanto a versão original italiana que a edição espanhola segue fielmente, ao que parece.
Mas a exposição apresentada por Enrica Viganó é muito mais do que o catálogo - com ainda mais fotos, com cartazes e extratos dos fimes neo-realistas, os poucos livros que então se editaram: o Occhio Quadrato de Alberto Lattuada (1941, editorial Corrente, de orientação fascista), e antes o L'Italia Fascista in Cammino, 1932; Un Paese, de Paul Strand e Cesare Zavattini, Einaudi, 1955), páginas ilustradas de jornais, a revista Cinema Nuovo, com os seus documentários fotográficos, etc.
Esta perspectiva sobre a fotografia do pós-guerra em Itália é inovadora, em especial ao dar conta da importância que o fascismo atribuiu à fotografia, à comunicação visual e aos novos media em geral, bem como ao valorizar algumas abordagens da realidade do país anteriores ao fim do regime. Esse é o tema da primeira secção, como se vê no texto apresentado.
Mario Giacomelli é praticamente o único fotógrafo conhecido (com Ugo Mulas, que fotografou a Bienal de Venezza, e Ando Gilardi, que se tornou um polémico historiador), mas muitos nomes assinam as imagens notáveis que aqui se reúnem, em provas muitas vezes vintage ou em reimpressões de grande qualidade.
Houve contactos para a exposição ir a Lisboa, mas que se interromperam (o Arquivo Municipal, onde só caberia 1/4 mostra, foi deixado na miséria...). O catálogo está a esgotar-se.
A solução é aproveitar os últimos três dias - até domingo (dia 22) - entre as 10 e as 21h (domingo só até ás 19h).
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E atenção ao livro (de Daniel) Blaufuks, com texto de David Barro, editado em inglês por La Caja Negra Editiones em associação com Power Books, Lisboa.
DB, que ganhou o prémio PhotoEspaña para o melhor livro estrangeiro (Sob Céus Estranhos), expõe "No Próximo Domingo..." na gal La Caja Negra, até dia 28.
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O PhotoEspaña termina dia 22 (a próxima edição será dirigida por Sérgio Mah - aqui ), mas continua até 2 de Setembro a exp. Local, El fin de la globalización, apresentada por Paul Wombell no Canal Isabel II.
Com os retratos de Hellen van Meene e Shelby Lee Adams,
Amsterdão por Hans Aarsmann,
os lugares de Jem Southam |(Lyne Bay) e Xavier Ribas (Domingos), as praias de Massimo Vitali
e os fotógrafos reencontados na China, Li Tianbing, e na Síria (?), Hashem El Madani,
mais os novos pobres russos de Boris Mikhailov.
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