Tinha ficado para trás - dia 28 - uma 1ª abordagem ou 1º questionamento de uma exposição que experimentei como uma interpelação, sem anteriores referências que a facilitassem - e que foi produtivamente acrescentada pelo diálogo com o autor, o que não é frequente. E entretanto o calendário está a terminar - encerra dia 6 - 6ª.
(revisto dia 5 às 11h)
O vídeo It's OK (united) #1 #2 #3 - three steps to a (r)evolution, 2004-2006, 9'26" ( título geral de uma vídeo-instalação que inclui o registo em slide-show duma performance que está no início do projecto, mas isso agora não importa ) compreende três filmagens de situações diferenciadas onde grupos de jovens (crianças hispânicas, dois grupos de estudantes) cantam "para a câmara" letras que contrariam ou subvertem o teor heróico dos temas musicais e hinos a que se associam. ("it's ok to not succeed, it's ok to fall down")
É filmada uma acção visivelmente dirigida, proposta e "encenada"
por quem filma, de que resulta um registo diferente do documental (mas
a precaridade da direcção, o improviso, os acidentes da situação,
aproximam-na de uma espécie de "cinema verdade") e ao mesmo tempo, dado
o conteúdo da cena filmada, existe uma dimensão de fingimento e paródia
que vem perturbar o propósito explicitamente crítico e político do
projecto.
A conjunção destas pistas contraditórias podia fazer desmoronar o objecto, mas é pelo
contrário a condição do seu êxito. Aliás, de facto, êxito e fracasso,
que são postos em equação nas palavras cantadas, estão também presentes
como situação e como problema na construção da própria obra e de dois
modos complementares: a segunda filmagem é abortada pelas autoridades
escolares e, por outro lado, a eficácia do propósito crítico é suspensa
quer pela natureza "contratual" das cenas quer pela própria recondução da acção e do objecto (artístico) para a área
dita "autónoma" da arte.
De algum modo, o projecto crítico é proposto e é retirado
aos seus agentes-intérpretes, por um criador de situações que se
re-conhece como intérprete-performer na condução dirigida e cúmplice dos
seus actores, e é esse processo articulado (e o seu impacto como espectáculo) que
nos interpela enquanto espectadores. O que começa por ser divertido e
insólito vai-se avolumando em sucessivas pistas de sentidos e novas
interrogações, com uma dimensão também auto-crítica. Nada se estabiliza num significado último.
Se a dupla instalação 38 minutes of antropology (strangers to ourselves) (ver antes) tem um teor narrativo e (auto)reflexivo que encontra nos seus próprios formatos materiais as condições formais que a afastam da ilustração de um propósito, o mesmo sucede no vídeo It's ok, onde as condições de realização objectual (o seu fabrico) são indissociáveis do seu conteúdo problematizador. Entretanto, o texto do catálogo de Pedro de Llano propõe pistas de aproximação à estética relacional de Nicholas Bourriaud e ao Hal Foster da "etnografia" que levantam outros problemas ou objecções, possivelmente inúteis (mas a necessidade da teoria é uma estimável condição).
José Carlos Teixeira (Porto, 1977) viveu e estudou três anos em Los Angele (2004-06)
Geografias e outras etnografias" - até dia 6
Fundação Carmona e Costa
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