Celestino Mondlane, ou Mudaulane. O nome oficial e o nome tradicional (ou nativo, do clã), caído em desuso e esquecido, mas que ele recupera como afirmação de identidade. O desenho, que se estende por dez folhas e mais de dois metros de lado, refere-se a um festival cultural em Inhambane de iniciativa oficial. Reconhecem-se os músicos e dançarinos tradicionais, o batuque e as máscaras, e à direita outras máscaras, fardas e capacetes.
Celestino é claramente uma presença diferente no contexto dos "ateliers" do Estado do Mundo, ou o "Sítio das Artes - Residência das Artes", que ocupa o CAM, só até dia 28, sábado (e não 29 domingo como se escreveu antes). Se a condição de artista africano se reconhece de imediato nas obras expostas ou em execução, existe também um diferente entendimento do que é uma "obra".
site oficial
Celestini Mondlane no blog oficial
Não vale a pena voltar ao tema, mas esvaziar o museu para instalar (jovens) artistas em exercícios públicos de produção é uma ideia peregrina que marca mal o ano comemorativo. Pode ter sido um "lugar" para frequentar (não foi o meu caso), mas não para visitar. Quanto a resultados (contrapondo diferentes realidades e ambições: a "criação" e o resultado; lugar de trabalho e lugar de apresentação de trabalho) ver-se-á sábado como funciona.
2 - "Sobe e desce" (Col. particular). É um país que se desloca para a frente e para trás, que avança e não anda, sujeito a declarações contraditórias sobre o curso da vida colectiva, nas estatísticas e no quotidiano vivido, entre os números dos êxitos políticos e as dificuldades comuns. O autocarro é precário, meio bicicleta, que é o veículo popular e de muitos usos. Há alguém que conduz, que dirige, e alguém que observa à janela e desespera com o que vê. Há ricos e pobres, peixe de ricos e peixe de pobres, e estes dedicam-se a fazer filhos, actividade de pobres. Os desenhos são narrativos, podem ser lidos como observação e comentário, sustentando discursos variados, cuidadosamente medidos. No painel de cerca de dez metros que foi realizando nas semanas lisboetas, desenhou "Rito de Iniciação", na sequência de uma viagem de observação ao país dos Macondes. Dançarinos e tocadores, máscaras, animais, caçadores e azagaias, pinturas rituais femininas, a circuncisão masculina. À direita, as bicicletas carregadas com os bidões de água.
Celestino Mondlane nasceu em Maputo, em 1972, estudou cerâmica e é professor de escultura e de arte em geral. Constrói pelas cerâmicas de grande formato, em partes de encaixar, e queria poder usar o ferro e passar as peças a bronze. Usa grandes formatos porque valoriza a dimensão pública das obras - o que também acontece com os desenhos.
Ao contrário de outros jovens artistas que se afastam de processos figurativos tradicionais (ou tidos por tradicionais a partir de um aparente primitivismo das figuras), CM assume vínculos com linguagens de outros artistas e povos africanos, que se dirão populares e/ou primitivas. A esquematização das figuras segundo códigos colectivos, o preenchimento obsessivo do espaço e a metamorfose das fornas num contínuo gráfico idêntico a padrões dcecoarativos. "O passado sou eu mesmo", diz, colocando-se na continuidade de tempos e tradições
Centro de Arte Moderna (Sítio das Artes - Residência de Artistas - O Estado do Mundo), até 28 de Julho, sábado.
Já tinha estado com os artistas do Muvarte, movimento de que é um dos animadores, na feira de Lisboa em 2004. Depois a Galeria Fonseca Macedo, dos Açores, levou-o ao Arco. António Pinto Ribeiro incluiu-o na colectiva "Réplica e Rebeldia" (Brasil, Áfricas ex-portuguesas), que o Instituto Camões patrocinou mas que parece ter interrompido ou terminado abruptamente o seu curso internacional - sem ser vista em Lisboa...
A feira de arte de Lisboa deixou de considerar a relação com África um eixo estratégico diferenciador no mercado das feiras.
A colecção da CGD que abrira uma direcção africana pôs de parte o que antes se considerara uma possível vocação estratégica complementar.
A Gulbenkian livrou-se do programa Artáfrica depois duns passeios. O site artafrica passou para a Faculdade de Letras.
Não há nada a que se dê sequência até se poderem ver os resultados. É sempre pegar e largar...
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