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A política de cultura sai do ghetto dos escassos implicados e o caso (ver aqui) avoluma-se. Espera-se que nada fique como dantes.
A vingança do director-geral (ex-IPM / actual IMC) contra a subordinada que ousou ter ideias sobre o seu museu - e que teve a coragem de o defender em público quando as respectivas portas se deviam fechar com discrição (por ocasião da crise dos vigilantes) - conta com o apoio de uma “classe”(?) medíocre. A maioria que se mantém em silêncio quando as instituições que dirigem batem no fundo, com as restrições de orçamento e a falta de perspectivas, mobiliza-se para perseguir um de entre eles que se destacou pela capacidade de iniciativa.
O abaixo-assinado dos 16 directores (por militância, por basismo carreirista, por medo?) é um execrável documento que testemunha a inveja da maioria dos directores dos museus estatais e que faz o consenso sobre um desejo de imobilismo. (Ressalve-se que não o terão subscrito Joaquim Caetano, de Évora; Joaquim Pais de Brito, do Museu de Etnologia; Pedro Lapa, do Chiado, e o indigitado Paulo Henriques, do Museu do Azulejo - a quem não se reconhece, aliás, competência específica para orientar um museu dedicado à arte antiga).
Na sequências das reformas que racionalizaram o número de institutos (corrigindo a megalomania do PS carrilhista) e que transferiram a gestão dos palácios, outras alterações deveriam assegurar a autonomia do principal museu histórico (mas só dele) e delinear a alienação próxima dos museus de âmbito local. Dalila Rodrigues manteve acesa a perspectiva reformadora ao mesmo tempo que dinamizou o MNAA, e foi punida pelo reconhecimento público que alcançou.
Outras destituições anteriores assentaram em ponderosas razões ou em legítimas divergências estratégicas (como as de Paulo Cunha e Silva, João Belo Rodeia, António Lagarto). Com Paolo Pinamonti e Dalila Rodrigues é a dedicação e a notoriedade que se perseguem. (Confundir tudo, por ignorância ou má fé, e envolver questões específicas em ocas generalidades tem sido a marca de muitas análises sobre a política cultural)
Saindo da sua reserva esfíngica, o PR manifestou desagrado. No momento em que o fez é provável que essa posição envolvesse já a deselegância com que o primeiro-ministro, ou algum assessor por ele, veio afastar-se do afastamento de Dalila Rodrigues, usando para isso a 1ª pág. do Diário de Notícias (não basta querer sacudir a água do capote). O certo é que a mesma descoordenação de orientações já se verificara em anteriores situações e só demonstra o desinteresse com que as questões da cultura são tratadas em S. Bento.
Entretanto, à infâmia do abaixo-assinado dos directores de museus do IPM/IMC – onde a argumentação ínvia não esconde a perseguição a alguém vindo de fora, no caso, a universidade -, contrapõe-se o alargado entendimento de que este caso não deve passar impune, expresso num outro abaixo-assinado que acima se recomenda.
Aprecio tanto a oportunidade de timing e a "argumentação" destes 16 museais quanto as inesquecíveis iniciativas do "sapato do mês", as missionárias palestras de nutricionismo que acompanharam as exposições do "Meninos Gordos" ou a peregrina proposta de incluir as veneras de Bernardino Machado, existentes no Museu Nacional de Arqueologia, na lista de “tesouros nacionais”… Esta gente que agora se pronuncia manteve –se publicamente calada quando Dalila Rodrigues lançou o tema da autonomia. Ou melhor: alguém promoveu, há tempos, um colóquio sobre gestão de museus no Museu Soares dos Reis, mobilizando obscuros oradores mas “esquecendo-se” de convidar para o efeito a directora do MNAA. Razão invocada da ausência: Dalila Rodrigues não era membro do ICOM… É este espírito corporativo e de intendência que leva agora os 16 museais a recear a autonomia do MNAA por, dizem, poder afectar a “coerência da política museológica nacional”. Deixem-me rir, ou então demonstrem-me que ela existe! Por outro lado, sra. Directora do Museu dos Coches, a viabilidade da autonomia de gestão de um museu não depende unicamente da sua capacidade de receita de bilheteira. Depende do público, é verdade, mas não como diz; para dar um exemplo: se o museu dos coches estiver fechado por falta de vigilantes, o público dos pacotes turísticos que alimentam a sua bilheteira não se ralará muito com isso, pois tem logo ali os Jerónimos, a Torre de Belém ou até os históricos pastéis da vizinhança; pelo contrário, se isso suceder no MNAA o público incomoda-se, protesta, pois o maior número de obras do património móvel nacional esta lá dentro. Por isso, como dizia o Director do Público, há diferenças entre o museu Joaquim Manso e o Museu Nacional de Arte Antiga. Eu, que já ando nisto bem há mais de “três anos” (labéu infame e idiota a Dalila Rodrigues), devo aqui sublinhar que não me revejo intelectualmente nesta gente e sublinho também (é bom que se note) que houve directores que não embarcaram neste documento inane. Os 16 correm o risco de ficarem com a fama do Dantas, o celebrado autor da Ceia dos Cardeais que toda a gente conhece, porém, pelo Manifesto do Almada… Suspeito, aliás, que, como o Dantas, cheiram mal da boca.
Posted by: José Alberto Seabra | 08/05/2007 at 17:20
Independentemente de tudo o resto, de se concordar ou não com o afastamento da Dalila e até, agora, do tal abaixo-assinado vindo dos funcionários de carreira do costume (ainda não se reformaram?), tenho a corrigir o seguinte: O Paulo Henriques é um óptimo director de museu. Tem um mestrado em História da Arte (fez parte da primeira leva de mestrados da Nova) sobre o Canto da Maya, fez um trabalho exemplar no Museu José Malhoa (entretanto enterrado ou coisa que o valha), e consegue manter uma programação activa e dinâmica no MNA apesar da crónica falta de dinheiro. Dizer que 'ninguém lhe reconhece competência' para dirigir o MNAA parece-me abusivo, e já agora gostava de saber quem é esse 'ninguém'... sabes?
Posted by: Luísa Soares de Oliveira | 08/05/2007 at 23:00
Convém ler bem: "a quem não se reconhece, aliás, competência específica para orientar um museu dedicado à arte antiga". Pois, pois, Canto da Maya, Malhoa, os modernistas portugueses, azulejos, etc. Tenho a maior consideração, a melhor opinião sobre o PH. E sabemos todos um pouco de tudo, ou podemos estudar, etc. Mas disse competência específica, o que tem um sentido preciso em "arte antiga", e o MNAA já tem grandes problemas nessa área - é ver o caso do pretenso Patinir, foi a recente exp. de desenhos, já do mandato de DR, e há inúmeros casos de outras atribuições erradas, duvidosas, incertas, etc. O MNAA não precisa só de um director-programador activo e dinâmico, e o mais importante não são os records de visitantes, com mais ou menos festas no museu (discordo desse caminho em que a Dalila entrou com geral aplauso). O MNAA precisa de credibilidade científica, a começar pelo director.
Posted by: ap | 08/05/2007 at 23:53
A credibilidade científica não é a mesma coisa que a credibilidade de um director de museu. Ou para se ser director é necessário passar primeiro pela investigação universitária (= científica)?
Posted by: Luísa Soares de Oliveira | 08/06/2007 at 13:45
Julgo que importa fazer distinções entre museus. Talvez para um de etnologia convenha alguém da área (etnólogo, antropólogo com actividade no sector). Para arqueologia será útil um arqueólogo, um historiador com experiência de campo e de culturas arcaicas. Para arte antiga ou arte contemporânea haverá que assegurar competências e especializações - e não trocar de papéis.
A ideia de um director empresário, gestor, promotor, curador ou animador pode aceitar-se nalguns casos, mas será errada no principal museu nacional de arte antiga. Aí exigir-se-á, de facto, credibilidade científica, formação universitária (ou equivalente), especialização histórica e técnica, obra feita. O MNAA não será só o topo da carreira de conservadores para todo o serviço. Sigamos também aí (e esse é o fundo da questão) o exemplo do Prado, do Louvre. ap
Posted by: ap | 08/06/2007 at 14:15
Minha cara Luisa Soares de Oliveira (permita-me que a trate assim)
Não sei se Paulo Henriques é, técnicamente, um “óptimo director de museu”.
O que sei é que, enquanto as exposições temporárias ocupam uma parte nobre e substancial do MNA, a azulejaria portuguesa do século XX está remetida para um “vão de claustro”, sem dignidade e, pior, sem um minimo de informação sobre a sua extensão para as várias estações do metro de Lisboa, com belíssimas representações do azulejo português deste século.
O que sei é que nas várias exposições temporárias que vi no MNA não existia qualquer tipo de informação em qualquer língua que não o português, isto num Museu que é frequentado, em mais de 90%, por visitantes estrangeiros.
O que sei é que o percurso museugráfico do século XIX foi interrompido, em duas salas, para que Paulo Henriques obtivesse esses espaço para as suas exposições temporárias.
O que sei é que durante muitos e muitos meses o guia geral do MNA (não será exactamente este o nome, mas fica a ideia), em inglês, esteve esgotado, no decorrer, pelo menos do ano passado, e, volto a repetir, num museu que é frequentado em mais de 90% por visitantes estrangeiros.
O que sei é que as infiltrações provocadas pelo mau estado da cobertura correspondente às paredes comuns ao claustro e à capela provocaram o apodrecimento dos suportes de madeira dos vários paineis que constituem “a vista geral de Lisboa antes do terramoto de 1755”, tendo, necessáriamente, efeitos igualmente devastadores do lado da capela.
Aliás, se se der ao trabalho de visitar o meu blogue, encontrará fotografias por mim efectuadas, demonstrativas do estado de podridão das ditas madeiras.
Portanto, minha cara Luisa Soares de Oliveira, Paulo Henriques será um bom técnico no campo da azulejaria, mas quanto a um óptimo director de muses, permita-me que tenha as mais sérias dúvidas.
P.S. – Já agora, a quem servia a “programação activa e dinâmica” promovida por Paulo Henriques no MNA? Aos cerca de 7.000 visitantes portugueses que em 2006 passaram pelo MNA? Aos restantes visitantes (estrangeiros) é que não servia seguramente, pois que como já referi nem aos nível das legendas existia qualquer informação noutra língua que não o português.
Cumprimentos
Fernando Gonçalves
Posted by: fernando goncalves | 08/06/2007 at 16:46
Também esbarrei na questão da competência específica que o Alexandre não reconhece a Paulo Henriques para dirigir um museu de arte antiga. E tal como Luísa Soares de Oliveira, também penso que PH é um bom director de museu, com provas dadas. Além disso ele possui formação artística/plástica (FBAUL), o que pode constituir uma mais valia. Se invertermos a questão, talvez falte a Dalila Rodrigues uma visão mais alargada, envolvendo a estética contemporânea. E isto não é o mesmo que trazer para os jardins do museu ambiências da cultura urbana actual, muita embora, ao contrário de AP, as "festas cosmopolitas" do jardim me tenham agradado bastante.
Ainda que ligeiras, as recentes alterações museográficas no MNAA, genericamente pouco conseguidas, apresentam lacunas de sequenciação e valorização de peças de excelência (o caso dos painéis de Nuno Gonçalves, por exemplo). Se as propostas museográficas implicam diversos técnicos, já a opção geral é responsabilidade de quem dirige o museu. Do mesmo modo, o trabalho científico especializado é uma competência da equipa de conservadores e investigadores, evidentemente sob orientação do director. Se pensarmos num director de museu com especialização em escultura medieval, isso não garante, por si só, competência para tratar a pintura do século XVIII, ou qualquer outro período e disciplina artística.
Pede-se hoje aos directores dos museus de arte antiga, para além das suas competências específicas (musologia, estética, história), que saibam interpretar os fenómenos artísticos do mundo actual e sejam capazes de coordenar o cruzamento de áreas de conhecimento muito diversificadas. Creio que Paulo Henriques está em condições para o fazer.
Posted by: Roteia | 08/07/2007 at 02:37
Volto a ter necessidade de precisar que tenho a melhor opinião de Paulo Henriques enquanto director dos Museus Malhoa e do Azulejo, desde 1992, e igualmente enquanto autor de numerosos estudos sobre arte moderna e contemporânea que entretanto publicou, por exemplo sobre Carlos Bonvalot e Hein Semke ou sobre a Arte moderna portuguesa no tempo de Fernando Pessoa (1997). O melhor relacionamento também, e nunca esperei discordar da sua nomeação para outro museu - este, o MNAA, é um caso especial (e nada interessa para essa discordância o contexto polémico da nomeação). Por outro lado, dadas as particulares condições do edifício do seu Museu do Azulejo, foi PH um dos directores que com mais dificuldade e tenacidade enfrentou as inaceitáveis restrições orçamentais e de funcionamento deste sector, sendo também um dos poucos que procurou dar projecção na imprensa ao escândalo que representam essas carências de meios - naturalmente com menos efeitos mediáticos que no caso do MNAA. Não gostaria que houvesse quaisquer equívocos quanto à minha admiração pelo trabalho de Paulo Henriques. ap
Posted by: ap | 08/07/2007 at 09:22