ARQUIVO
EXPRESSO/Revista 23 Nov. 1996, pp. 151-158
(foi o 2º artigo publicado na Revista sobre os Encontros de 96 - e era uma tentativa de ponto da situação que ultrapassava em muito o festival de Coimbra)
exposições:
LINGUA FRANCA, colectiva: Sérgio Santimano (e tb Mariano Piçarra, José Manuel Rodrigues, Maçãs de Carvalho, Inês Gonçalves — do Brasil Evandro Teixeira e Pedro Vasquez; de Macau, Mica Costa Grande)
Lehnert & Landrock
Pierre Verger
Seydou Keita
Fazal Sheikh e Shanta Rao
(e já antes: Kamel Dridi (1951, Tunísia), em 1987 e 89; Touhami Ennadre (1953, Marrocos), em 88)
Vozes de África
Na sua 16ª edição, os Encontros de Coimbra abrem a pista da fotografia africana. Um novo continente a descobrir
A fotografia de África e africana é o segundo grande acontecimento da 16ª edição dos Encontros de Coimbra, que amanhã se encerra — o primeiro é a afirmação da fotografia portuguesa (e em particular de quatro autores), como se defendeu no passado sábado. À apresentação dos itinerários do «Sul», a concluir uma «missão fotográfica» de três anos, a lógica da programação associou a partida ainda mais para Sul, graças ao projecto «Língua Franca», repetindo demandas, repensando diásporas e Impérios. Depois, com um feliz sentido da oportunidade, cruzaram-se outros olhares de viajantes ocidentais ou ocidentalizados e também de «nativos», fotógrafos já históricos ou recentíssimos. A oferta em torno das rotas de África é diversificada mas conceptualmente coerente e tem ainda o mérito de nos fazer participar, sem excessivo atraso, na descoberta de todo um continente fotográfico.
Não tem mais de quatro anos a desocultação da fotografia africana, embora a história da fotografia em África tenha começado ao mesmo tempo que o daguerreótipo.
Os retratos de Seydou Keita, ou os de Mama Cassat e de Samuel Fosco, andam em circulação desde 1993-94 e aos Encontros de Coimbra cabe o mérito de repercutir no espaço nacional um campo de interesses de que, por razões coloniais ou cálculo estratégico, não poderíamos permanecer à margem. Há sempre um desejo de exotismo nestas descobertas, que asseguram rotações de novidades e de mercados, embora também seja certo que essa dinâmica tem sido a condição para virem à luz obras desconhecidas, ou em risco de se perderem, e para que se instalem em África, com as dificuldades inerentes à pauperização do continente, estruturas próprias de criação e canais que lhe asseguram a visibilidade.
Em Coimbra, a África começa nas fotografias de Lehnert & Landrock, que nas primeiras décadas do século abasteciam o imaginário colonialista e o gosto romântico com o exotismo poético dos oásis e dos haréns árabes. A seguir, a exposição dedicada a Pierre Verger revela um fotógrafo e etnólogo que participou, desde os anos 30, na aventura da mutação do olhar europeu sobre o outro, que então deixava de ser o selvagem ou o primitivo.
Entretanto nascia a fotografia africana, excelentemente representada por Seydou Keita, retratista com atelier em Bamako, Mali, durante três décadas, exposto pela primeira vez em Rouen, em 1993, e exibido nas projecções de Arles, «consagrado» no Mês da Fotografia de 94 em Paris, na Fundação Cartier, e também nos 1ºs Encontros da Fotografia Africana de Bamako, editado na colecção «Photo Poche» em 95, etc.
Cumpridas essas três etapas de um arco histórico sintético mas sistemático, até à afirmação de vozes próprias, africanas, o programa abre-se a diferentes propostas actuais, com a presença de um só africano, Sérgio Santimano, moçambicano que reside na Suécia, e a de outros viajantes recentes, idos da América e da Europa, em especial de Portugal (no projecto «Língua Franca» participam Mariano Piçarra, José Manuel Rodrigues, Maçãs de Carvalho, Inês Gonçalves — sem esquecer a presença do Brasil de Evandro Teixeira e Pedro Vasquez, ou de Macau, nas fotografias de Mica Costa Grande).
Fazal Sheikh é um nova-iorquino nascido em 1965, de ascendência queniana, que regressa à África dos campos de refugiados de hoje, no Quénia, na Etiópia e em Moçambique, onde fotografou como quem reencontra uma dignidade antiga que permanece inscrita nos rostos e nos adereços rituais, ainda que se vejam corpos mutilados e, por vezes, os cabos que sustentam as tendas das organizações humanitárias. Shanta Rao é uma jovem francesa de origem indiana que fotografou as «Mulheres de África» (Prémio de 1994 dos Editores Europeus), na Mauritânia e na Etiópia, revendo-se certamente a si mesma ao espelho de uma beleza diferente, entre o «charme» e a construção da identidade.
Duas outras exposições poderão supor-se de transição para o «campo da arte contemporânea» e apresentam, ainda sobre temática africana, «artistas que utilizam a fotografia»: o cubano Alfred Jaar, que exibe uma instalação de intenção crítica sobre os massacres do Ruanda («Faça-se Luz», propondo a ausência de imagens como modo de referir o irrepresentável, mas esteticizando esse silêncio), e o japonês Keiishi Tahara, de residência parisiense, que imprime fotograficamente sobre pedra fragmentos de pinturas egípcias — foto-escultura ou exotismo decorativo?
ÚLTIMAS EXPEDIÇÕES
NÃO É a primeira vez que os Encontros se aproximam das rotas africanas. Recorde-se a apresentação de Kamel Dridi (1951, Tunísia), em 1987 e em 89, e do marroquino Touhami Ennadre (1953), em 88, ambos fotógrafos com base parisiense. O pioneiro Cunha Morais (1857-1932), fotógrafo de África Ocidental, de 1885-1887, foi mostrado em 1991, a par de um primeiro projecto colectivo, com Céu Guarda em Angola, João Tabarra em Cabo Verde, Maçãs de Carvalho na Guiné-Bissau (este ano reapresentado) e Pepe Diniz em Moçambique. «Finisterra» de Orlando Ribeiro, em 1994, revelou as fotografias de um geógrafo que em 1946 percorrera a Guiné; no ano passado, «Itinerários Bíblicos», da Escola Bíblica e Arquológica Francesa de Jerusalém, antecedeu cronologicamente, entre a Palestina e o Egipto, a produção comercial de Lehnert & Landrock.
Teria sido importante que esta pista, que corresponde, aliás, aos interesses pessoais do fotógrafo Albano Silva Pereira (vejam-se Ilha de Moçambique e Maison Berbère), pudesse ter sido consolidada através de um relacionamento directo com as capitais africanas, sobre o suporte institucional de uma clarividente política de cooperação que tem faltado (mas o presente apoio «simbólico» do MNE já é um sinal positivo). Outros países ex-coloniais, mais esclarecidos e também mais ricos, têm feito desta área uma guarda avançada da cooperação, que não tem incidências apenas artísticas, porque a fotografia, que não deixou de poder ser instrumental, é um poderoso meio de conhecimento e eventualmente de intervenção sobre as realidades sociais.
No Mali, Françoise Huguier e Roger Aubry iniciaram há alguns anos uma acção de formação com o apoio da Fundação Afrique en Créations, de Paris, e toda a actividade das Éditions Revue Noire, desde 1991, contou com meios do Ministério da Cooperação francês — luxuosas ou de bolso, são modelares as suas publicações sobre os artistas e fotógrafos africanos, até quanto aos critérios estéticos seguidos, sem transigências paternalistas ou miserabilismo (são distribuidas pela Dinalivro e encontram-se também no Espaço Oikos, de Lisboa).
Em Maputo, o Centro de Formação Fotográfica (CFF) está já em actividade desde 1983, com o apoio, nos primeiros tempos, de um organismo de cooperação italiana, o projecto COSV, a que se juntaram meios franceses. Dirige-o fotógrafo Ricardo Rangel (1924, Lourenço Marques), foto-repórter de longa carreira e o autor de «Nosso pão de cada dia», um notável trabalho sobre a Rua Araújo e os bares de soldados dos anos 60 (Ricardo Rangel, Ed. Findakly/Centre Culturel Franco-Mozambicain).
A história da descoberta da fotografia africana ainda é, no entanto, muito breve. No seu início esteve uma exposição parisiense de oito fotógrafos, «La Revue Noire et la photographie africaine», e, no mesmo ano de 1992, o Mês da Fotografia de Dakar, onde se impôs Mama Casset («Revue Noire" nº 3, Dez. 1991, e Mama Casset. Les Précurseurs de la Photographie au Sénégal, 1950, ed. Revue Noire, 1994). Em 1993, revelava-se Seydou Keita, publicava-se na Dinamarca a antologia Africa Africa e a obra de Pierre Verger, quase esquecido como fotógrafo, era finalmente revalorizada em França e exposta no Museu do Eliseu, em Lausanne.
Data do ano seguinte, 1994, a explosão decisiva, com os primeiros Encontros Fotográficos de Bamako, no Mali, e as suas duas dezenas de exposições. A 2ª edição decorre dentro de dias (9-15 Dezembro), com as presenças de um «Colectivo Moçambique» e «Regards Croisées», outra vez Moçambique, ao lado de Madagascar, Ilha Maurícia, Namíbia e Djibouti, de Rui Tavares (Angola), de Cornélius Yao Azaglo Augustt (1924, Costa do Marfim), etc.
Em Nova Iorque, In/sight. African Photographers, 1940 to the Present, do Guggenheim Museum, em Maio deste ano, foi a primeira abordagem panorâmica da fotografia africana ensaiada nos Estados Unidos, com larga participação dos foto-repórteres da África do Sul (magazine «Drum», Joanesburgo, anos 50-60). Ricardo Rangel foi um dos fotógrafos apresentados, ao lado dos mais antigos retratistas, Meïssa Gaye (1892-1982, Guiné/Senegal), Salla Casset (1910-1974, Senegal), S. Keita, Cornélius Augustt e Mohammed Did (1920, Argélia) e também de Samuel Fosso, uma das revelações de Bamako, que em 1995 ganhou o Prémio Afrique en Créations e teve uma retrospectiva no Centro Nacional de Fotografia, em Paris), de K. Dridi e T. Ennadre, de Rotimi Fani-Kayode (1955-1989, Nigéria), fotógrafo-artista de carreira londrina, e outros ainda.
Entretanto, já tinham discretamente chegado este ano a Lisboa Bouna Medoune Seye (1956, Dakar), com Les Trottoirs de Dakar, de 1994, e Dorris Haron Kasco (1966, Daloa, Costa do Marfim), Les Fous d'Abidjan, 1994, ambos editados pela Revue Noire e mostrados no Espaço Oikos. Eram dois terríveis documentários sobre os excluídos das cidades de hoje, africanas ou não.
No conjunto, é a descoberta de um novo continente, depois da atenção anteriomente prestada à América do Sul, a qual já foi sintetizada na edição e exposição Canto a la Realidad. Fotografía Latinoamericana 1860-1993, de Erika Billeter (ed. Casa de America, Madrid, e Lunwerg, Barcelona, 1993). A África, afinal, também possui os seus Martín Chambi (Perú, 1891-1973) nos retratistas que têm vindo a ser encontrados em várias capitais, mesmo se não pôde contar com um Agustin Casasola ou Álvarez-Bravo.
Ao mesmo tempo, ao contrário dos profetas da desgraça (tudo já foi visto, dizia-se no final do século XIX; «os testemunhos dissolvem-se no fluxo inimpterrupto das informações visuais que sulcam o mundo», escreve um André Rouillé em «La Recherche Photographique»), os fotógrafos continuam a percorrer territórios longínquos para melhor se conhecerem, ou para verem com outros olhos o mundo de hoje. É o que fez Paulo Nozolino, em Penumbra, por exemplo, enquanto no actual Mês de Fotografia de Paris um dos três temas do programa é precisamente «L' Ailleurs. Voyages lointaines, itinéraires, expéditions», expondo, entre dezenas de outros, Peter Beard, «Carnets Africains» (no CNP, até 20 Jan.), Raymond Depardon e «Afriques», ou uma vasta colectiva sobre as pirâmides, Les Trois Grandes Égyptiennes, dos pioneiros à actualidade, na Mission du Patrimoine (até 5 Jan.).
TRÊS ÁFRICAS
VOLTE-SE a Coimbra.
Lehnert & Landrock, ou sejam, Rudolf Lehnert (nascido na Boémia, 1878-1948) e Ernst Landrock (Saxe, 1878-1966), um fotógrafo e outro gestor, montaram em Tunis, em 1904, a sede de uma empresa de expedições e edições fotográficas, que foi encerrada pela guerra de 14. O espólio prosperou na Orient Kunst Verlag, em Leipzig, e em 1923 instalaram-se no Cairo, onde os sucessores do segundo mantém o estabelecimento e até a mesma caixa postal (nº 1013).
Depois da exploração fotográfica do mundo, com os pioneiros, as «fotografias de tipos e de sítios» e os postais (um suporte autorizado em 1869 pelo correio austro-húngaro e rapidamente difundido no mundo inteiro) foram um próspero negócio artístico. As vistas do Sahara e os vestígios das culturas antigas, as paisagens bíblicas e as fantasias arábicas mais os exóticos nus artísticos alimentavam, com a sua «mistura de espaço e de tempo, de pseudo-verdade e verdadeiro falso, pormenores ínfimos e vistas largas», o «Oriente do espírito» segundo Paul Valery. Entre o mito romântico e alguns olhares realistas sobre a cidade muçulmana, a produção é ainda sedutora.
Charles-Henri Favrod e o Museu do Eliseu, onde se conservam as chapas originais, dedicaram a Lehnert & Landrock uma primeira grande exposição em 1991, centrada na produção anterior à 1ª Guerra; em Coimbra, são as magníficas fotogravuras editadas no Cairo que predominam, vindas da colecção de Nicolas Monti, e mostram-se sobre suportes de livros no cenário prestigioso da Sala de S. Pedro da Biblioteca Geral da Universidade.
De Pierre Verger (1902, Paris; falecido a 11 Fevereiro de 1996, em São Salvador da Baía), apresenta-se no Museu Machado de Castro, a exposição «O Mensageiro», cedida pela Revue Noire (The Go-Between/Le Messager, Photographs 1932-1962, Paris, reedição de Setembro 1996). Mensageiro entre continentes, dos Andes até ao Laos, fotógrafo-etnólogo vagabundo e pé-descalço, Verger é um mito no Brasil e um personagem de vida e obra fascinantes.
Oriundo de uma família da grande burguesia parisiense, o dandy que em 1932 deixou Paris para «ir viver de bananas no Tahiti» tornou-se dois anos mais tarde fotógrafo colaborador do Museu de Etnografia do Trocadero (a seguir Museu do Homem) e co-fundador da Alliance Photo, agência de fotógrafos independentes de «ilustração», a que se juntaram Cartier-Bresson, Robert Capa e David Seymour — Verger é um contemporâneo da Photo League americana.
A seguir emprendeu uma demorada volta ao mundo para o «Paris-Soir», já com a sua eterna Roleiflex, recusou a exclusividade oferecida pelo «Daily Mirror» e, depois de descobrir a Baía em 1946, foi colaborador frequente de «O Cruzeiro». Entretanto, tornara-se pioneiro da investigação sobre as civilizações afro-americanas e yoruba, ao mesmo tempo que mergulhava nos ritos do candoblé — era Oju Obá, «os olhos de Xangô», aquele que tudo vê e tudo sabe, no Brasil, e «Fatumbi», grande iniciado na arte da adivinhação, no Daomé. Faz o doutoramento em 1966 na Sorbonne, sem o liceu completo, que abandonara aos 17 anos, e chegou a director de «recherches» no CNRS em 71.
Sem trair os misteriosos graus iniciáticos a que acedera, mas conseguindo fotografar as cerimónias secretas, Pierre Verger foi, de facto, o revelador dos laços de uma mesma cultura negra partilhada de Cuba até Lagos (Nigéria), nascida no golfo de Benim, exportado pela força para as Américas e outra vez regressada a África com a abolição da escravatura. Os seus estudos do mundo do sagrado são também o exercício de uma proximidade vital com os outros, muito atenta à intensidade física dos corpos, especialmente os masculinos. Apesar de ter publicado imenso e com grandes companhias (por exemplo, Indiens pas Morts, com Robert Frank e Werner Bischof, ed Delpire, 1956), o seu lugar como fotógrafo, que exerceu profunda influência no Brasil — de José Medeiros a Mário Cravo Neto — tardou a ser reconhecido. Quando morreu, deixou 65 mil negativos e dedicava-se ainda ao estudo das plantas medicinais vodu e, em especial, da função da palavra actuante.
Seydou Keyta, nascido em 1923, em Bamako, começou a fotografar em 1945 e continuou até 1977, quando a cor ocupou o mercado tradicional do retrato, deixando um testemunho essencial sobre a sociedade do Mali e a penetração dos gostos e costumes ocidentais. E também um exercício surpreendente de encenação dos olhares, dos figurinos e das poses, sobre fundos de panos tradicionais, cuja sucessão permite datar a sua produção fotográfica.
A seu lado poderiam apontar-se, entre outros, os senegaleses Meïssa Gaye e Mama Casset (1908-1992) ou o muito mais jovem Samuel Fosso, nascido em 1962 na Nigéria, instalado em Bangui, República Centro Africana, onde mantem desde 1975 o seu estúdio (agora «Studio Convenance»). Além de retratista comercial é também autor de sistemáticos auto-retratos, a que por vezes sobrepõe comentários escritos, numa linha de criação próxima de criações ocidentais, inventada sem qualquer acesso à informação exterior.
A África de hoje é a que expõem Sérgio Santimano e Faizal Sheikh, ambos com trabalhos sobre as populações deslocadas. O primeiro (n. 1956) mostra na colectiva «Língua Franca» um ensaio de 1992-93 sobre a afluência dos refugiados a Maputo e o posterior regresso às regiões de origem, centrado na figura de uma mulher, Luisa Macuácua, com uma imagem já de 94 da desmobilização dos soldados — trabalhos publicadas na «Grande Reportagem», de que é colaborador. Anuncia-se para o próximo ano uma exposição no Arquivo Fotográfico. Outros nomes como Rui Assubuji (1964), Ale Junior (1953, Huambo, Angola), Naita Ussene, José Cabral, Kok Nam e Alfredo Paco, divulgados pela «Revue Noire», num número dedicado a Moçambique (nº 15, Dez.-94/Jan.-Fev-95), parecem confirmar a vitalidade da escola de Ricardo Rangel.
Faizal Sheikh (n. 1965), já exposto no International Center of Photography, editado por Scalo (A Sense of Commun Ground) e representado pela Pace McGill Gallery, assim reunindo três condições para uma segura notoriedade, afasta-se da reportagem para retratar os refugiados nos campos de acolhimento, encenando-os com a colaboração dos conselhos de anciãos e dos próprios modelos. Para além da miséria, parcialmente oculta, é a dignidade que estas imagens sublinham, igualmente graças ao uso do polaroid refotografado, a preto e branco, com uma aparência envelhecida e sem lugar determinado. É uma outra face da aculturação que fora registada por Keita, nos períodos finais do colonialismo, que aqui é figurada. Talvez o seu reverso e uma nova etapa.
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