Não foi renovada a comissão de serviço de Dalila Rodrigues à frente do Museu Nacional de Arte Antiga.
Ontem, 31 de Julho, inaugurou mais uma notável exposição no MNAA, "O Tapete Oriental em Portugal", e hoje 1 de Agosto a directora do Museu foi informada que o seu contrato não se prolongará para além de 1 de Setembro. Terá sido alegada, como justificação, a pública divergência da directora quando ao modelo de gestão em vigor, no que respeita à falta de autonomia administrativa da instituição.
Dalila Rodrigues, que foi fazendo algumas críticas desassombradas ao quadro administrativo em vigor, reclamando a autonomia necessária ao desenvolvimento do nosso principal museu, a exemplo do que sucede no Louvre, no Prado e noutros museus centrais, tinha deixado pairar uma ameaça de abandono do MNAA no caso de tudo permanecer sem alterações. O MC, que se tem furtado ao esclarecimento das suas políticas e mesmo ao diálogo com os responsáveis superiores pelos seus serviços (com um autismo que é contraditório com o socialismo do programa), cortou o mal pela raíz e pôs termo a uma experiência de renovação do MNAA que ía dando os seus frutos mesmo com poucos meios. E mesmo com o desvio dos meios assegurados - no caso o apoio mecenático de 500 mil euros ano (só!?) por parte do millennium bcp desencaminhado em parte para outros fins...
Com esta decisão necessariamente polémica, que vai tb ficar a pesar negativamente no pobre balanço da equipa que a desorientação cultural do PS nos trouxe (quantos meses faltam ainda?), cala-se uma voz incómoda que há poucos meses não deixou que se ocultasse o escandaloso encerramento de grande parte do MNAA ao fim de semana por falta de vigilantes. A forma como Dalila Rodrigues deu voz ao protesto, acolhendo as televisões e permitindo a corajosa leitura pública do livro de reclamações por alguns funcionários (foi um grande momento de informação televisiva), não será alheia a um afastamento que vai ser recebido como mais uma má surpresa.
Pode discordar-se de aspectos da sua direcção (não me agrada o novo lugar dos painéis, por exemplo) e também da sua estratégia pessoal de mediatização do MNAA, em grande parte bem sucedida, mas o problema é que continuam a desconhecer-se as linhas de direcção do Ministério e a impedir-se alguns processos de renovação acertadamente conduzidos (foi também o caso de Pinamonti no São Carlos).
Não tem havido condições, nos museus do Estado, para que as direcções se possam elevar do nível mais medíocre de uma intendência à qual faltam os meios mínimos necessários, a um outro plano de ambições que têm a ver com as colecções, a investigação, a rotação de exposições. E o pouco que se faz é penalizado. Manuel Bairrão Oleiro, director do ex-IPM e actual IMC, vai dando cobertura a tudo, com o seu silêncio equívoco e comprometido. O escândalo é muito mais vasto do que o afastamento de Dalila Rodrigues.
Segundo a primeira informação do site do Público, o director do IMC anunciou já a próxima nomeação de Paulo Henriques, director do Museu do Azulejo. Tem tido uma muito dura experiência da total carência de meios no seu próprio Museu, nos últimos tempos, com encerramentos de salas por problemas de entradas de água do telhado, retirada de partes significativas da colecção por questões de segurança, falta de verbas para programação, etc. Espera-se que possa continuar a reclamar - agora publicamente - contra o estado miserável a que o MC tem deixado chegar este sector.
Adenda (02/08): Um sr. referido como antiquário, de nome Álvaro Roquette, fartou-se de dizer disparates na rádio, a propósito de uma pretensa "vigília", e o Público on-line cita-o afirmando que o MNAA "era um museu morto e a dra. Dalila Rodrigues pô-lo nas bocas de Portugal e do mundo", além de “ter feito a ponte entre a arte contemporânea e a arte antiga".
Estamos no indigente terreno que passa por ser cultural mas é ignorante e balofo. Um tal "antiquário" sem memória não sabe o que foi e o que era o Museu. Ignora certamente a ida da colecção a Bona, em 1999; ignora os "contágios" com a arte contemporânea que vêm dos anos 60/70; e uma meritória luta contra as adversidades ministeriais que tem um grande passado, às vezes mais discreto mas não menos produtivo. Assim não vamos a lado nenhum. E com este género de chicana política o autismo e autoritarismo da equipa do MC e do actual Governo acabam por ser bem vistos por quem paga a factura.
concordo em grande medida com o que escreveu mas, ainda assim, acho que o museu estava mesmo morto. basta ter em atenção como se comemoraram os 120 anos do museu! é certo que se fez uma exposição sobre a pintura portuguesa do seculo XVII mas foi tudo o que se viu. Se a Dalila Rodrigues já estivesse na direcção do museu penso que muito mais se teria feito. de resto, se o museu não estava morto, a nivel nacional parecia que toda a gente se esquecera dele o que vai dar mais ou menos ao mesmo. quanto as alterações na disposição das peças nas salas do museu, apesar de eu tambem não concordar com tudo o que foi feito, acho que agora as salas de pintura portuguesa estão muito melhores do que antes. os paineis de são vicente agora estao muito mais visíveis e, apesar de essas mudanças terem conduzido algumas obras de arte novamente para as reservas, outras finalmente viram a luz do dia. basta ver a sala onde se dispoe a pintura maneirista, onde finalmente aparecem pinturas de andre reinoso ou a santissima trindade de francisco venegas que pelos vistos não via a çuz do dia desde a exposição que se fez no porto em 2000. quanto as salas de pintura extra portuguesa, a dispossição encontra-se muito melhor e maos coerente, com o apostolaod de zurbaram finalmente apresentado na totalidade, e uma melhor ordem cronologica. é certo que se retiram as esculturas gregas doadas pelo senhor Gulbenkian, e que varias outras peças importantes passaram as reservas como as duas peças da chamada porcelana de medici, mas globalmente parece-me que a exposição permanente melhorou bastante.
Posted by: joão pereira | 08/03/2007 at 02:47
Acrescentando... Boa parte dos directores de museus que se manifestaram teria feiro bem melhor se estivessem calados. Se verificarmos com cuidado, o Museu Soares dos Reis nada faz, o Museu Grão Vasco afunda-se, O Museu Machado de Castro (fechado para obras)podia muito bem ter encontrado uma solução de itinerância durante período de encerramento para dar a conhecer a sua colecção noutros pontos do país, o Museu do Azulejo (cujo director vai agora para o MNAA !!!) é o que se sabe, etc. etc. etc.
Pela primeira vez ouvimos o PR a deitar uma bomba que, espera-se, atinja a senhora Ministra - ou outro ministro qualquer com vocação para Suslov. Porque não acredito que esta história tenha saído da cabeça (e da alma) do Presidente do Instituto dos Museus. Já agora, se afastam pessoas competentes e activas, poderiam aproveitar "a mão" para despejar serviços que não funcionam.
Jorge Clara
Posted by: Jorge Clara | 08/05/2007 at 20:45