Por ocasião de mais outra visita à exposição Pinturas Cantadas
Costuma ir-se ao MNE ver exposições excelentes. Raras mas excelentes, e quase sempre com magníficas montagens, que são uma marca da casa desde os tempos de Benjamim Pereira. Nos últimos anos, de penúria e/ou de indigência generalizada na área do respectivo instituto, são cada vez mais raras, e por lá ficam semestres, anos a fio. Aliás, são muito poucos os que costumam ir, embora ao sábado ou ao domingo haja quase sempre mais alguém na sala, duas, quatro pessoas (é muito público, é suficiente? - mas a promoção é nula). Vai-se talvez passando palavra sobre o interesse, os múltiplos interesses, das pinturas cantadas das mulheres indianas.
É difícil, porém,silenciar a estranheza face às condições de existência deste museu. Sobe-se à galeria superior para ver a exposição, passando pela galeria do piso térreo fechada há tempos infindos. Noutro lado há uma apresentação/instalação de panos africanos que por lá estaciona há anos, como pretexto para actividades juvenis. É certo que as reservas com as colecções da Amazónia e do mundo rural português são agora visitáveis (com hora marcada e acompanhamento) e que a inovação é um marco na história muito lenta da casa.
Não existe, porém , uma montagem de longa duração, ou mesmo permanente, se a palavra não for tabu, que sumarie o riquíssimo património do museu e que justifique um fluxo constante de visitas escolares e não só. A questão é inoportuna, política e científicamente incorrecta, de certeza, porque este museu aponta para outras órbitas eruditas, outros modelos. Privilegiam-se provavelmente a convergência com a investigação universitária e as recolhas de campo; recusa-se possivelmente, a ideia de uma representação eurocêntrica de vestígios dos povos do mundo, fazendo da rejeição da ideia de museu a vanguarda da museologia. E é também o passado colonial, os vestígios do Império que se recalcam, por razões de boa consciência política.
Uma viagem recente a Copenhaga permitiu percorrer a Colecção Etnológica do Museu Nacional da Dinamarca, o National Museet, apresentada numa exposição intitulada "Povos do Mundo"
"Peoples of the World
The exhibition 'Peoples of the World' is an introductory exhibition, which provides a journey around the globe. It features rare religious artefacts from America before Colombus, the world´s oldest painting by South American Indians, prairie Indian costumes, African sculpture and jewellery, luxury objects from the court of the Turkish Sultan, Indian temple sculptures, Javanese shadow-play figures, handicrafts from China and Japan, paintings and figures depicting the life and teachings of Buddha, and much, much more.
The oldest objects in the collection stem from 'The Indian Chamber', which formed part of the the Royal Cabinet of Curiosities from around 1650 and included objects from China, East India and other remote places. The collection expanded rapidly in the 19th century as objects were brought home from expeditions and from Danish colonial possessions around the world. The ethnographic collection contains objects both from cultures and societies that still exist and from those that are now gone."
Não é nada que se pareça com os grandiosos saques históricos do Metropolitan, e a apresentação dos objectos tem mais em vista sustentar uma escolaridade média dos cidadãos dinamarqueses do que brilhar na área da museologia experimental. Mas percebe-se que o Museu tem obrigações sociais a cumprir perante a comunidade e que a primeira obrigação é mostrar o seu património.
Não é preciso ir tão longe, a Copenhaga (mas todo o piso dedicado à história moderna da Dinamarca - Stories of Denmark 1660-2000 -, cruzando a história política com a vida social e quotidiana, até ao capítulo final sobre o Welfare State, 1915-2000, é também uma experiência salutar). E o novo Museu do Quai Branly em Paris não parece ser um exemplo perfeito a seguir. Mas a letargia consensualizada do Museu de Etnologia é chocante.
Gritante é a palavra! GRITANTE!!! e triste... muito TRISTE!!! É o exemplo mais evidente da total ausência de um quadro técnico, em parte devido ao 'autismo' do seu director, mas em maior parte pela política de gestão da tutela... Faz-se pouco porque não há dinheiro; não se faz nada porque não há PESSOAS!!! Mas não convém saber/conhecer esta dimensão da realidade nos nossos museus...
Posted by: rc | 08/30/2007 at 16:37