AJD regressa ao uso do preto e branco e emprega um formato rectangular que é excepcional no seu trabalho (ou talvez aconteça mesmo pela primeira vez desde a publicação de estreia, Almofala, 1989, em co-autoria com Valter Vinagre). A diferença corresponderá a uma abordagem do tema, e da encomenda, mais próxima do fotojornalismo, ou da fotografia furtiva de rua, com uma dimensão de retrato colectivo que está em geral ausente da sua produção (parece ser o que se separa ou se isola da massa, o que interrompe ou suspende o curso das coisas, que interessa quase sempre o fotógrafo).
Tratando-se de um fim da "festa" e de abordar "a profunda dimensão emocional associada ao final do campeonato", é menos o retrato individual, o acidente ou o fragmento que importa do que o contexto e a situação colectiva. Entretanto, tratar-se-á também de uma linha de trabalho que parece ser mais ficcional do que documental, ou onde é a possibilidade da ficção que dá densidade ao documento.
Não se tratando de monumentalizar a "Ressaca", existe aqui quer uma recusa da estetização fotográfica (do sublinhado dos efeitos de acaso ou de geometria dos enquadramentos) quer uma mera adaptação da encomenda à possível reiteração das marcas autorais. Só aparentemente anódinas, destituídas da "anedota" que marcaria a cumplicidade voyeurística do fotógrafo e do observador, as fotografias apelam a que o espectador interpele as personagens que vê e as acompanhe no delinear dos conteúdos ficcionais que eles mesmos sinalizam ou esboçam.
Em momentos de celebração e festa, ou no seu esforçado prolongamento até à exastão ou à tristeza, as figuras que o fotógrafo acompanha - e trata-se de acompanhar, mais do que surpreender - são de facto personagens e não apenas figurantes do espectáculo colectivo. Mas as histórias possíveis ficam a cargo do espectador, adivinhando ou imaginando o que quiser e for capaz. Como sucederá diante da fotografia da rapariga que vemos de costas à janela, diante das luzes da ponte. Trata-se sempre de olhar pela ou, melhor, para a janela, discretamente.
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Cumpre-se aqui um projecto de 2004, e o atraso deverá traduzir as dificuldades que enfrenta a programação de exposições pelo Arquivo. As edições do LisboaPhoto de 2003 e 2005 projectaram junto de um público alargado o património da casa e a sua eficácia organizativa, mas vieram, por outro lado, interromper o que tinha sido uma continuada agenda de exposições. Na "ressaca" de 2006-2007 o Arquivo quase deixou de ter actividade pública (para além do seu domínio arquivístico próprio) e o Mês da Fotografia não se fez.
Espera-se que os novos e próximos tempos sejam mais promissores.
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