Já havia a peregrina ideia do pólo do Hermitage em Lisboa e o anúncio do “Museu do Mar e da Língua Portuguesa”, para o qual se previu desfazer o Museu de Arte Popular, em Belém. Agora fala-se de um novo museu na Estação do Rossio, consagrado ao multiculturalismo, segundo o “Público” de hoje - aliás, se já temos um espaço multicultural bem vivo no Centro Comercial da Mouraria, porquê meter o multiculturalismo no museu?
Os museus têm estado em foco pelas piores razões – ainda não está encerrado o episódio MNAA. E as promessas sobre a ampliação do Chiado e a transferência dos Coches têm sido temas recorrentes, enquanto a falta de vigilantes, a ruína dos telhados ou a falta de meios para aquisições e programação são questões de todos os dias. A excepção é o Museu Berardo, claro, mas a solução CCB, melhor ou pior negociada, já estava à vista em 1997 e esteve perto de concretizar-se em 2000.
Valia a pena que a Imprensa aprofundasse um pouco o tema do novo museu (?) do Rossio, e temas anexos, mesmo que só com a ajuda do Google.
1º - Noticia hoje o Público (20-08-2007): “Estação do Rossio reabre no final do ano com museu dedicado ao multiculturalismo”
A parte que importa é a seguinte:
“A Estação do Rossio, em Lisboa, deverá receber, a partir do final do ano, altura em que a Refer prevê que se reinicie a exploração ferroviária interrompida desde Outubro de 2004 por razões de segurança, um espaço museológico consagrado ao multiculturalismo.
O projecto para a ocupação do espaço museológico, que se vai desenvolver numa área de cerca de 900 metros quadrados no edifício neomanuelino construído entre 1886 e 1887, está ainda a ser elaborado pelo Ministério da Cultura. A intenção do Governo, adiantou ao PÚBLICO o assessor de imprensa do ministério, é inaugurar o museu, "muito vocacionado para a vertente do multiculturalismo", no final deste ano, a tempo da comemoração, em 2008, do Ano Europeu do Diálogo Intercultural.
A criação deste espaço museológico é resultado de uma imposição de Carmona Rodrigues, que, enquanto presidente da Câmara de Lisboa, se opôs à intenção da Refer de instalar escritórios naquele local, por considerar que tal não era consentâneo com o valor arquitectónico do edifício projectado por José Luís Monteiro. Os escritórios continuarão a existir no interior da estação, e estão já a ser comercializados.
A inauguração do museu, que ainda terá de ser objecto de um protocolo entre a Refer e o Ministério da Cultura, deverá ocorrer em simultâneo com o reinício da exploração ferroviária no túnel, que foi encerrado há praticamente três anos para prejuízo de cerca de 65 mil utentes da Linha de Sintra.”
2º - Há perto de um ano, o EXPRESSO tinha falado do assunto, já com “multiculturalidade” mas sem museu, e o Teatro Nacional de D. Maria II estaria metido no caso. Era a “Arte na estação” – 1º caderno de 14-10-2006:
“O primeiro andar da Estação do Rossio vai ser ocupado por um pólo cultural. São cerca de 1500m2 que o Ministério da Cultura vai alugar à Refer, proprietária do espaço, por um valor que deverá rondar os 70 mil euros/mês.
“O nosso objectivo é criar um espaço aberto à multiculturalidade. A Estação do Rossio faz a ligação à Linha de Sintra, onde está sediada grande parte da comunidade de imigrantes, e é claramente um ponto de encontro da comunidade africana. É o local ideal para acolher um projecto cultural de inclusão”, explica Isabel Pires de Lima.As artes performativas (música, dança e teatro), aliadas às artes plásticas, serão a tónica dominante dos pequenos acontecimentos a decorrer neste novo espaço que será gerido pela actual direcção do Teatro D. Maria II. Ainda não há prazos nem orçamento para as obras, mas a equipa de Carlos Fragateiro já está a trabalhar no projecto.
A autarquia lisboeta está a proceder, também na Estação do Rossio, à qualificação do seu jardim traseiro como um espaço de comércio ligado à cultura. A CML pretende instalar galerias de arte, além de pequenos bares e esplanadas.“
A notícia era uma caixa anexa a “Museu da Língua nasce em Belém -- Concebido a pensar nas escolas, será um espaço que associa o português às Descobertas".
3º - Meses antes pensara-se colocar o tal Museu da Língua na Estação do Rossio, seguindo de perto o exemplo brasileiro que entusiasmara Cavaco Silva e a ministra da Cultura por ocasião de uma visita ao Museu da Língua Portuguesa de São Paulo, instalado há ano e meio, com grande êxito, na Estação da Luz. O Diário de Notícias anunciava em 23 de Maio de 2006:
“Reabertura do túnel do Rossio adiada para 2007”
“Até ao final do ano todas as obras de requalificação deverão estar concluídas, assim como as da Estação do Rossio. A nova gare vai abrir de cara totalmente lavada, dispondo de uma área de mil metros quadrados para fins culturais e exposições, além de espaços para serviços e comércio.
É no espaço cultural - situado no mezzanino da estação - que poderá vir a instalar-se o Museu da Língua Portuguesa. "Ainda nada está decidido. Depois de ter visto o projecto em São Paulo (Brasil), não sei se é possível replicar aquele conceito neste espaço", disse Carmona Rodrigues. Ainda assim, o autarca frisa que seria "interessante, por a estação ser um espaço de passagem de milhares de pessoas por dia".
4º - Entretanto, a Estação do Rossio acolhe a exposição “Máscara Ibérica”:
A exposição “Máscara Ibérica” é inaugurada no dia 19 de Julho, às 19h00, na Estação do Rossio, mostra ambientes e imagens dos rituais da Máscara que, ainda hoje, acontecem em Portugal e nas regiões da Galiza e de Castela e León. Cem imagens de média e grande dimensão, assim como dezenas de máscaras originais, fatos e adereços usados nos rituais, estarão patentes até 2 de Setembro.
É uma organização conjunta da Progestur (associação sem fins lucrativos, fundada em 2003, que tem como lema "a afirmação da identidade cultural Portuguesa"), a empresa da CML EGEAC (www.egeac.pt) e a Agência Baixa Chiado (?!).
5º - Enquanto a ideia da extensão do Hermitage não avança (avancará? Ver texto oficial do acordo) fazem-se obras no Palácio da Ajuda (mais exactamente na Galeria de Pintura do Rei D. Luís, que ía sendo gerida muito intermitentemente pelo IPPAR).
A exposição do maior museu da Rússia, localizado em São Petersburgo, intitular-se-á "A Rússia Imperial, de Pedro I a Nicolau II", e será inaugurada por ocasião da visita do Presidente russo, Vladimir Putin, a Portugal, por ocasião da cimeira UE-Rússia, a 25 ou 26 de Outubro.
Segundo a a RTP em 28-05-2007, citando a LUSA:
"Vai ser a maior exposição de sempre que o Museu Hermitage faz fora de portas, porque as suas mostras no estrangeiro não ultrapassam normalmente as 250 peças", sublinhou a titular da pasta da cultura, que integra a comitiva da visita oficial do primeiro-ministro à Rússia.
Isabel Pires de Lima adiantou que a 05 de Junho o director do Instituto de Museus e Conservação, Manuel Barrão Oleiro, vai deslocar-se à Rússia para fechar o acordo para a instalação até 2010 de um pólo do Museu Hermitage em Lisboa.
De acordo com a ministra da Cultura, a exposição "A Rússia Imperial - de Pedro I a Nicolau II" faz parte do pré-acordo já celebrado pelo Estado Português com o Museu Hermitage para a realização até 2010 de três exposições temporárias em Portugal."
6º - Quanto ao Museu da Língua, transcreve-se uma notícia brasileira de 13/04/2005, só para se ver como é leviano o modo de anuncia<r museus em Portigal:
"Estação da Luz abrigará museu da língua portuguesa até dezembro"
"São Paulo ganhará, até o fim do ano, um "parque de diversões da língua portuguesa". A Fundação Roberto Marinho anunciou que até dezembro de 2005 a Estação da Luz da Nossa Língua, museu sobre o idioma implantado em partes de três pavimentos do prédio da Estação da Luz, no centro da cidade, será inaugurado.
Com a abertura do espaço, que abrigará exposições sobre a língua falada no Brasil e sobre outras que influenciaram o português brasileiro, será concluído o projeto orçado em R$ 36 milhões, fruto da parceria entre a fundação, o Ministério da Cultura, a IBM Brasil, os Correios, a TV Globo, a Petrobras, a Secretaria de Estado da Educação de São Paulo, a Vivo, a Eletropaulo, a Votorantim e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Para Isa Ferraz, cientista social coordenadora da elaboração do conteúdo do projeto, o museu é um espaço para o reconhecimento da língua portuguesa do Brasil. "Não queríamos um tratamento acadêmico ou de espetáculo público. Queríamos algo com uma abordagem diferente", explica, e acrescenta que o projeto é o primeiro museu de idioma do mundo. Para outros envolvidos, a visão é um pouco diferente. O poeta e antropólogo Antonio Risério, por exemplo, é o responsável pela definição da instituição como um "parque de diversões".
A escolha do termo pode ser explicada pelo caráter tecnológico e de interação que o museu assumirá. Recepcionado logo no início por uma instalação da diretora artística Bia Lessa, o visitante deve utilizar uma outra instalação, dentro de um elevador criada por Risério e Arnaldo Antunes e batizado de "Árvore da Língua" para chegar aos outros andares.
Todos os outros ambientes da instituição --o auditório, a Praça da Língua, a Grande Galeria, a Galeria das Influências, a Linha do Tempo e a Mesa de Etimologia, também seguem a linha, de unir informação à tecnologia, seja com multimídia ou com suportes audiovisuais.
Iniciado há quatro anos, o projeto do museu envolve equipe formada por 23 especialistas e artistas e teve sua primeira fase concluída no aniversário de 450 anos da cidade, quando foram restauradas as fachadas da estação." ISABELLE MOREIRA LIMA da Folha de S.Paulo
Sobre o Hermitage de Lisboa ver aqui
Sobre o Museu de Arte Popular aqui
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