Nem sempre apreciei o estilo, as afirmações e orientações de Dalila Rodrigues, mas sei que se bateu pela conquista de alguma dignidade para o Museu Nacional de Arte Antiga, quando eram indignas as condições de funcionamento consentidas pela tutela a este e a todos os museus centrais. A projecção pessoal por que se bateu e que alcançou era a sua arma principal na afirmação do Museu quando os outros meios falhavam e num contexto em que a imprensa só se mobiliza em torno de causas ou de figuras "mediáticas". A coragem que demonstrou publicamente durante a crise da falta de vigilantes, trazendo o escândalo para os telejornais, não tem paralelo fácil no panorama cinzento e timorato da administração.
Depois do infame abaixo-assinado corporativo em que a maioria dos seus colegas directores de museus do IPM-IMC veio demasiado rapidamente dar cobertura ao erro político do Ministério, e excluir um director vindo da Universidade, o seu mentor apareceu a terreiro no Público (25-08) a tentar justificar o inadmissível. Não veio pôr os pontos nos ii, só o acento no i de Luís (Raposo).
Em alguns momentos anteriores (há mais de dez anos) foi uma voz influente e respeitada. Agora adapta-se à "sinuosa estrada política em que vivemos", segundo as suas próprias palavras. Por isso acaba de ser eleito (por votação secreta dos directores) para representante dos museus portugueses pertencentes à Rede Portuguesa de Museus (RPM) na Secção de Museus e Conservação do Conselho Nacional de Cultura - certamente para ser a voz do dono, como neste caso.
LR veio dizer que o afastamento de Dalila Rodrigues e a tal posição comum dos directores era "há muito conhecida no mundo dos museus e maduramente reflectida". A conspiração que assim se prova deixa mal colocado o director-geral Bairrão Oleiro.
Veio também apoiar o imobilismo da recente revisão orgânica do IMP-IMC, que não só negou a autonomia administrativa do MNAA como travou os projectos de descentralização de museus locais que devem deixar a tutela do Ministério. A posição corporativa e servil é ao mesmo tempo serviço político, a coberto de declarações sobre a "escandalosa falta de cumprimento das promessas eleitorais" e "a profunda desilusão", etc. Todas as manobras de diversão de uma política museológica inexistente (do franchising do Hermitage aos Museus da Língua e do Rossio) escapam à argúcia crítica do porta voz da classe. Mas não é conveniente, agora, querer agradar a Deus e ao Diabo...
Tudo o resto é uma hábil mas muito feia amálgama de argumentos e insinuações que usa a roupagem de um mero ataque pessoal.
Há anos (demasiados) que deambulo em 'peregrinação laboral' pelos museus tutelados pelo ex IPM. E faz-me muita confusão que não venha a discussão pública, no meio de todo este bate boca, questões essenciais relacionadas com o funcionamento dos museus e que também têm a ver com a política de gestão que tem vindo a ser aplicada (não apenas por Bairrão Oleiro, mas também pelos que o antecederam) que obriga a habilidades (aquelas que o referido senhor disfarçou de debilidades no discurso que fez ao Expresso há umas semanas) ilegais e muito pouco escrupulosas como a contatação precária de técnicos superiores ao abrigo de programas e programinhas a custo mínimo. Quando digo custo mínimo é mesmo mínimo (que é menos do que uma empregada de limpeza ganha) - ver o Relatório do Tribunal de Contas. E há museus que não têm nos seus quadros um único técnico superior! O que traz consequências gravissimas ao nível do mais elementar da actividade museológica. Também o pressuposto de que o museu é uma instituição sem fins lucrativos, levou ao extremo de se deixar de poder vender nas suas lojas produtos à consignação, o que limita as lojas aos produtos desinteressantes e de duvidoso gosto que a tutela autoriza.
Posted by: rc | 08/30/2007 at 11:36