Expresso/Cartaz de 11 Set. 1993
Livros
ROTEIRO DA PRECÁRIA LUZ
fotografias de Paula Oudman
Se existisse um panorama editorial da fotografia em Portugal, este
livro seria um caso insólito. Como não existe (e não há condições de
mercado para existir), é uma raridade e certamente um curioso absurdo:
um album cartonado, com 184 fotos a preto e branco em página inteira,
da autoria de uma jovem fotógrafa, discretamente publicado e logo
abandonado à sua sorte, ao abrigo de um qualquer programa da Fundação
da Juventude (?!).
Não é um roteiro do Porto nem as fotografias prometem uma rotina
documental ou turística, e também os brevíssimos textos de Mário
Cláudio não são prosa poética que baste para assegurar o alibi da
ilustração literária. Mas é de uma visita ao Porto e ao Douro que se
trata, com deambulações pela Ribeira e ida até às vindimas: uma visita
guiada por uma memória e que se constrói como uma ficção.
Lá estão a ponte D. Luis, o rio, a margem olhada desde Gaia, a Foz, a Bolsa, o Bolhão, S. Bento e o combóio até ao Tua, os trabalhos do vinho, alguns interiores antigos e anónimos. Sucede que entre o real e a fotografia se inscreve uma vontade narrativa: o itinerário elabora-se sobre a figura de um personagem em trânsito, como sequências de fotogramas de um filme. Alguém que se refugia num quarto de pensão barata, escreve à máquina e faz sucessivas surtidas à procura de algo que não viremos a saber o que é (nem mesmo quando, escrita a palavra «fim», ele se dirige à Lello, a editora do album). O fotógrafo persegue o seu passeante solitário (um possível personagem de Wenders) e surpreende-o nas suas buscas incertas, a ele e aos cenários que vê, campo-contracampo, dia e noite, com uma câmara ágil, obrigada a seguir a sua passagem inquieta.
Talvez seja possível ficcionar também sobre este exercício de ficção fotográfica, com a ajuda de uma curta nota biográfica sobre a autora: Paula Oudman nasceu no Porto em 1957 e viveu na Holanda entre 1976 e 1989 (aí estudou fotografia, trabalhando actualmente em Lisboa como «free-lancer», em especial como fotógrafa de moda). Por interposto personagem será então de um regresso, de um ajuste de contas e de uma despedida que se trata; se a fotografia transporta aqui a vontade de dar a imagem de um mundo, traduzindo a experiência do contacto entre um sujeito individual e o que o rodeia, este é um livro de memórias, e por isso um exercício sobre o tempo, rodado com figurinos de hoje nos cenários portuenses que resistem à identificação de uma cronologia.
É claramente a prática da fotografia de moda que aqui se aplica, com a inscrição de um modelo em trânsito por sucessivos cenários reais e fazendo das suas sucessivas poses a oportunidade de um périplo comum do actor e do fotógrafo. A paginação é sequêncial, acentuando o efeito de montagem pelo uso de dimensões variáveis das provas reproduzidas até às margens — a impressão, que opta em geral por fortes contrastes tonais, é às vezes irregular, desiquilibrada nas variações do grão ou forçando a legibilidade com o uso de máscaras excessivas.
Esta visita à cidade é um trânsito entre géneros e tempos: entre o cinema (documentário e ficção) e as regras fotográficas das produções de moda, entre a actualidade de um olhar exercitado para o trabalho nas revistas e os cenários de outras memórias. Feita com urgência, a fotografia abandona a vertigem e a concentração do instante, desprende-se do valor expositivo para procurar outros modos de existência — neste caso, a de um livro raro. (Co-edição Fundação da Juventude e Lello & Irmão, Porto; sem nº de pág., 9000$00)
Paula foi um enamorada do porto,cidade aonde nasceu e estudou
Curiosa do belo aonde encontrava o seu refugio
Sempre calma,delicada,boa amiga do seu amigo
AMAVA as crianças CRIANCAS DA
Da ribeira do porto
ASSIM FOSTE MINHA Paulinha
Posted by: Fátima Sousa | 12/18/2022 at 15:13