A revista Atlântico pôs na rede a entrevista que publicou no seu nº de Junho com Dalila Rodrigues, sob o título "O modelo de gestão dos museus incentiva a indigência” (devemos saber que títulos e destaques são da iniciativa e da responsabilidade da publicação, e correspondem a uma técnica jornalística de acentuar o sentido ou o vigor das declações).
É uma peça muito importante sobre o fundo da questão da não recondução de Dalila Rodrigues à frente do Museu Nacional de Arte Antiga - e em particular sobre a defesa da autonomia administrativa e financeira do MNAA, sobre a situação actual dos museus nacionais e recentes vicissitudes. Outras entrevistas suas foram publicadas em Fevereiro no Público e no Diário de Notícias, no decurso de um corajoso entendimento do que devem ser as responsabilidades técnicas e cívicas de um alto funcionário.
Pode ter sido esta entrevista (as declarações em concreto e a recusa de DR de se remeter a um silêncio necessáriamente cúmplice com o estado de indigência financeira e estratégica a que os museus têm sido sujeitos) que motivou a não renovação da comissão de serviço. Mas isso não foi dito (não lhe terá sido dito), nem as razões de DR foram contraditadas.
Parece-me que um dos méritos de Dalila Rodrigues foi colocar em
debate na praça pública (não como chicana ou activismo partidário, mas
enquanto contributos esclarecidos e coerentes) as questões relativas
aos museus e a sua proposta de autonomia para o MNAA. Não vislumbro
aqui "quebra de lealdade com a tutela" (tese a que Vital Moreira , VPV
e outros vêm dar cobertura), mas se existisse, aqui ou nas declarações
antes feitas, impunha-se a sua punição frontal, atempada, pública e
justificada - nunca esta inábil condução política do caso.
Do
outro lado - o lado da tutela, do governo e do PS - tem reinado o
silêncio sobre as orientações estratégicas (para lá das generalidades
dos programas) e o secretismo sobre a situação concreta do sector,
havendo apenas espaço para a propaganda. Enquanto não houver debate, ou
seja, política, isto vai continuar assim - isto é, tudo muito medíocre
(excepto as sondagens, claro).
PS. 1 . Sei que a Atlântico é uma revista de direita, mas às vezes é esta que conduz a bola. E que marca, por estupidez dos outros.
2. A justificação oficial (já em resposta ao avolumar dos protestos...) encontra-se em IPM/IMC.
Só convence os já convencidos ou os incautos porque as declarações de
DR que condicionavam o seu interesse em continuar no MNAA datam de um
tempo anterior à reestruturação do MC e do IPM>IMC, visando então
aprofundar o debate técnico e público sobre a matéria.
Faltou então ao
Ministério iniciativa política para argumentar no terreno para que
tinha sido convidado - justificava-se "descer" à praça pública para
defender e legitimar as suas opções, mas toda a reforma recente (quase
toda ela decorrente do PRACE) foi envolvida em silêncio e segredo, sem
mesmo se saber tirar partido político dos seus méritos (que existem).
DR tornou-se mais prudente nas suas declarações posteriores, veja-se a entrevista à Atlântico. E havendo um mínimo de diálogo entre a chamada "tutela" e os responsáveis pelos serviços do MC todo o possível diferendo era negociável. Porque valia a pena negociar a colaboração de Dalila Rodrigues.
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