"Welcome to my Loft" de Manuel Caeiro na Gal. Carlos Carvalho. Até 31 de Outubro
A Dispensa.
O desafio é grande, não só pelo imenso formato das telas, que chega quase aos dez metros na obra abaixo reproduzida. Manuel Caeiro explora a complexidade espacial da disposição das formas volumétricas seriadas, que são como quadros acumulados, brancos ou quase brancos, invadidos por cores lisas, monócromos. Pode ser um quarto (um quadro-quarto) de arrumos ou uma "dispensa", mas também se passa do quadro ao livro no espaço articulado de uma biblioteca, e a sobreposição das formas-telas apresenta-se noutro caso como podium, num tríptico do mesmo título.
O podium associa-se a competição, e há também um objecto / caixa de luz com as letras GYM, igualmente referindo exercício físico e prova ou concurso. Por aí se insinuam possivelmente metáforas sobre a prática da pintura, como trabalho manual e árdua actividade,
Library (biblioteca), ao fundo, com cerca de dez metros, e A Dispensa à direita.
e sobre a disputa do reconhecimento público ou da crítica e as suas condições de verdade, avaliação e sucesso. A questão não é simplesmente formal, o que amplia em muito a ambição destas obras.
No site da galeria podem ver-se outras obras da mesma investigação, onde se observa o desenvolvimento de formas simples e depois o da ideia-espaço do palco (Stage).
Valerá a pena retomar a interrogação deste trabalho e certamente associá-lo, até em termos de especulação arquitectónica e sobre os géneros da pintura, com outras movimentações de artistas próximos, como José Lourenço e Rui Macedo. À margem dos holofotes institucionais, que despudoradamente se comprazem em ruminar os mesmos poucos nomes, num preguiçoso círculo fechado, eles têm vindo a apresentar trabalho de risco e de fólego.
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