A coincidência temporal e geográfica das inaugurações em Elvas e Ponte de Sor estimula as comparações e põe em evidência os desiquilíbrios do tratamento informativo, de que já aqui se falou (16 de Julho). Alargando o calendário e o âmbito geográfico temos ainda o Museu Berardo e o centro que apresenta a colecção Manuel de Brito em Algés - e antes o art center da Ellipse Fondation, que é outra história.
Duas colecções de galeristas (Brito e Prates) e ambas ligadas a galerias em actividade; mais dois coleccionadores privados, sem medida comum. Duas colecções de âmbito nacional (Brito e Cachola) e duas internacionais de muito diferente fôlego (Berardo e Prates). Uma colecção doada (Prates, associada à Fundação com o seu nome), três depositadas em diferentes condições de comodato por uma dezena de anos, implicando renovações periódicas, e num caso (Berardo) a hipótese de venda ao Estado. Duas instituições periféricas, nascidas do amor à terra natal (Elvas e Ponte de Sor), e duas em Lisboa e imediações (Algés - Oeiras, a semi-periferia). Nos quatro casos um sentido ou afirmado sentido de responsabilidade social e também, talvez, a ambição da respeitabilidade, associados a carreiras de sucesso de figuras de modesta ou muito modesta origem (Berardo, Brito, Prates). Não é por acaso que este tipo de projectos não surge em Portugal associado a figuras da grande burguesia, já bem nascidos - veja-se o destino da colecção Champalimaud.
Um museu apelidado de polémico (Berardo), posto em causa por ínvias ou falsas razões, mas que (e tudo isto não é por acaso) veio transformar decisivamente ou definitivamente a relação do público em geral com a arte moderna e contemporânea - é o fim do espaço reservado ao "meio da arte" e da recusa do escrutínio público - a abertura de um novo paradigma, sustentado pela excelência do programa e da montagem inaugurais; duas colecções mais ou menos silenciadas na imprensa e um museu (se assim se lhe pode chamar) que mobilizou as cumplicidades despudoradas do jornalismo cultural e das agendas.
Elvas é um lugar de visita e de passagem, Ponte de Sor é um destino de viagem (desde Lisboa), um local de trabalho, um centro local, um projecto de enorme ambição.
A colecção começou por ser mostrada em 2001 no MEIAC de Badajoz, numa mostra então comissariada por Bernardo Pinto de Almeida.O seu acervo conheceu flutuações ao fixar-se como património da Fundação criada por António Prates, e o que se expõe agora parece ser uma escolha do que ele tem de mais consistente e valioso, deixando de parte o extenso fundo de obras sobre papel que se associa ao espólio do Centro Português de Serigrafia. Alguns núcleos ou sectores poderão vir a ampliar-se com obras que são (ainda?) da colecção privada do fundador ou do acervo da galeria, mas a lógica da separação de águas preside ao programa.
A colecção não é aqui um desígnio enciclopédico, mas não deixa de ser muito abrangente, de acordo com as direcções que foi tomando a actividade do galerista, em função de encontros e cruzamentos.
(a nota ficou interrompida em 2007 e foi pub. assim mesmo em 2010...)
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