Esta é uma "exposição de culturas", como se escreveu no Diário Digital, certamente por gralha. E interessa-me a escultura, ou já só a sua sobrevivência (para além da decoração e do design que são hoje as formas de escultura oficial dominantes).
Noutra direcção, poderia dizer que estava à espera de encontrar por lá um homem-estátua - isso sim, poria problemas à tal concepção expandida da escultura que atravessa a mostra (quando as atitudes se tornam forma..., ainda, 50 anos depois pode dizer-se que é já uma velha tradição). E por que não o Moisés, o prolífico escultor que cobre o país de mármores, sem os comissários saberem? Por vezes, com certa qualidade, como em Ílhavo (município modelo do novo PSD).
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Mas - se queriam uma grande exposição (16 artistas, alguns com várias obras) - acho muito positivo o comissariado da Filipa Oliveira pela abertura que imprimiu à sua selecção, reunindo artistas e obras suficientemente diversos para construir um panorama credível e um sumário de problemas a respeito da escultura, ou, melhor, das práticas de intervenção no espaço e/ou de animação de espaços herdadas da tradição da escultura. Sem esquecer o tema dos jardins e seus atributos (em Ponte de Lima, descobri depois, há até um museu de jardins - ao ar livre, evidentemente).
Claro que isso levanta outra ordem de questões: porquê esta exposição ali?
1 - Dalila Gonçalves (1982, FBAUPorto, a mais nova da exp.), Quem pássaros receia milho não receia (milho, pipocas, sementes, arroz); 2 - Pedro Cabrita Reis, The Cabinet (alumínio lacado e lâmpadas fluorescentes estanques, sobre a água de um lago). O efémero por definição (mais o registo fotográfico) e a intenção da permanência - ficava lá muito bem.
Porque o PR quer dar um sinal de que se interessa por arte (note-se que escolheu uma jovem comissária e patrocina uma abordagem nada conservadora ou académica, antes pelo contrário, já que a relação com a tradição da escultura é em geral intencionalmente anti-convencional e mesmo irreverente). Sua Excelência poderia ter optado por, por exemplo, visitar o Museu Vieira e Arpad, e escandalizar-se publicamente com as vicissitudes da instituição, desleixada por todos os seus patrocinadores - e agora até já se demitiu o advog. Proença de Carvalho, que presidia a um orgão qualquer desde que o grupo Champallimaud foi mecenas da casa. (Mas a Vieira não é uma artista contemporânea e foi já em 1961 que ganhou - como artista francesa - o Grande Prémio da Bienal de São Paulo, ao tempo em que andava também pelas três primeiras Documentas).
Porque (nessa mesma linha de considerações) quer (ele ou os seus conselheiros) manifestar um gosto artístico "avançado", interessado pelas manifestações mais inovadoras ou radicais, ou pelo menos assente na ideia (textos do catálogo) de que o presente se afirma sobre uma ruptura decisiva com a tradição da escultura (qual tradição?, clássica?, moderna?, eterna?). Outra vez a história mais do que gasta do abandono do plinto, à volta dos ditos de Carl André, que é hoje cada vez mais conhecido só por ter sido marido (e assassino?) da Ana Mendieta... (os textos do catálogo são muito escolares - no pior sentido)
Registe-se a implícita mensagem presidencial sobre o patrocínio da contemporaneidade artística e avalie-se a coerência com outras mensagens (por exemplo, sobre a importância da qualidade do ensino).
Ou trata-se só de "animação" dos jardins? Ou de prosseguir uma prática assumida entre nós pelas instituições políticas - em especial a Assembleia da República, com as colecções de Serralves (O Poder da Arte, 2006) e de Joe Berardo, há poucos meses? Tratar-se-á de, por intermédio da promoção publicitária de uma exposição de arte, produzindo "eventos", estas entidades contrariarem a opacidade da sua existência e se reaproximarem do cidadão comum? Mas porquê passarem para a acção nos domínios da cultura ou da arte (e da mundanidade associada agora aos meios da arte, que deixaram de ser ociosos e marginais), e não propriamente a política? É este o circo oferecido agora pelo poder?
Porquê este tipo de exposição alargada que pode ser tomada como um
panorama (uma larga selecção) da escultura tida por mais actual? Por que não a instalação
em permanência (ou longa duração) de uma, duas ou três esculturas nos jardins e espaços
exteriores do Palácio (acrescentando intervenções contemporâneas a
marcas vindas do passado) -- em vez de uma mostra desmontável e efémera. Por que não escolher, em vez de propor um inventário móvel?
Sem ser a primeira exp. de escultura em Belém (20 anos depois?), estes eventos não deixam de ser insólitos. Mas trata-se só de pensar em voz alta, e de manter uma prudente distância face ao poder (o Poder), quando este parece ser, mas não é, o melhor dos mundos.
Boa Tarde Alexandre Pomar, fica aqui o desafio
INAUGURA NA PRÓXIMA QUARTA FEIRA DIA 17 DE OUTUBRO ENTRE AS 19H E AS 23H,NA GALERIA ARQUÉ( AV.MIGUEL BOMBARDA,120A, JUNTO À GULBIENKIAN) A MINHA EXPOSIÇÃO INDIVIDUAL "ZOOLLYWOOD" COM LANÇAMENTO DE CATÁLOGO. APAREÇAM E DIVULGUEM! ABRAÇOS PEDRO ZAMITH ( a exposição estará patente até ao dia 10 de novembro de segunda a sabádo das 12h até 20h)
Posted by: pedro zamith | 10/11/2007 at 16:49