Prémios a Norte
Fernando Lanhas e Albuquerque Mendes distinguidos no Museu de Amarante
Prémio Amadeo de Souza-Cardoso
Expresso / Cartaz de 22–11-1997
O nome de Amadeo foi usado por António Ferro para um prémio atribuído pelo SNI, nos anos 30 e 40, e veio a ser recuperado em 1968 pela terra natal do pintor (então concedido a Nadir Afonso e José Rodrigues), embora sem continuidade. No 50º aniversário do Museu anunciou-se o início de nova série, com periodicidade bienal e dupla vocação: um grande prémio de consagração de carreira, nesta edição dado a Fernando Lanhas, e outro por concurso, que coube a Albuquerque Mendes. O juri de membros da AICA e a organização tiveram âmbito nacional, recaindo naturalmente a premiação em homens do Norte.
Provincianismo é fazer comparações com a Documenta de Kassel, conforme já se leu, como se o sistema das artes tivesse fosse cúpula, e não houvesse salões e prémios por todas essas capitais da Europa, com função mais discreta, mas útil, de sustentar a visibilidade e promover a eventual revelação de tantos artistas que nunca caberão nas conveniências do circuito mais selecto.
A Lanhas dedicou-se agora um album que antologia obras e textos a elas
dedicadas, e também uma sala que tem o mérito de não isolar a obra
pintada e desenhada das outras faces de uma obra múltipla, de
arquitecto, investigador de paleontologia, arqueologia e museologia,
divulgador, etc. Aí figuram também pedras pintadas (49-86), a colecção
de areias de terra, trazidas do mundo todo, fotografias de
arquitectura, «hipóteses do universo»...
No piso superior do Museu, deixando apenas expostas as obras do seu
patrono, substituiu-se a colecção permanente (um Salão) pelas obras
admitidas a concurso, com tolerância mas com rigor selectivo (de 509
obras candidatas a 96). E se a diversidade da oferta é o resultado
natural, do panorama emergem obras próprias e uma possível sintonia de
procuras que revelará o arejamento da Escola do Porto.
Albuquerque Mendes, com Cerimónia de Guerra, de uma série de «Ceús»
mostrada no Paço Imperial do Rio de Janeiro, em 96, presta homanagem a
Charles Demuth, pintor do círculo nova-iorquino de Duchamp (referência
insistente na obra do premiado), e em especial a um quadro emblemático
do modernismo norte-americano, The Figure 5 in Gold (1928), antecessor
da Pop. Desapareceu o deslumbramento precisionista com a paisagem
urbana e a ilustração do poema de William Carlos Williams; com a
inscrição das formas luminosas sobre a escura superfície do fundo
(«Entre a chuva e as luzes...», começa o poema), a pintura interroga o
seu poder de simbolizar, enquanto um retrato anónimo a devolve à cidade
e a um enigmático face a face com o outro. Outra presença estimulante,
e pouco frequente, é a de Rui Pimental, com duas telas ocupadas por uma
arquitectura que é simultaneamente espaço interior e exterior, físico e
orgânico, em cores de terras.
E há presenças agora mais afirmativas — Emerenciano, Sobral Centeno,
António Olaio, Cristina Ataíde —, outras de que se vai reconhecendo a
abertura de modos pessoais - Joana Rego, Rita Carreiro, Isabel Padrão e
Cristina Valadas, entre saberes e inocências da pintura. E talvez
emergências de nomes desconhecidos, como Cristina Tavares e Teresa Gil.
O pluralismo favorece o prazer da procura
Comments
You can follow this conversation by subscribing to the comment feed for this post.