Bernardo Marques (1898 - 1962) é o artista mais mal tratado pelos imitadores, pelo menos
Nº 306 do catálogo da leiloeira S. Domingos
tendo em consideração o número das obras de duvidosa
ou improvável autoria que foram agora postas à venda num leilão a realizar no Porto ( sdomingos.com ) .
No caso acima reproduzido, três desenhos caricaturais - "Cinéfila acompanhada","Cinéfilas à solta" e "Cinéfila em transe" (tinta da china, 21 x 13,5 cm, sem data) - que foram reproduzidos com os números 95, 93 e 96 , respectivamente, no catálogo da exposição que o Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian dedicou a Bernardo Marques em 1989, aparecem à venda em cópias invertidas e realizadas com o traço hesitante de quem imita um original alheio.
O facto de o desenho caricatural ser aqui voluntariamente agressivo ou mesmo grotesco, (quase) destituído da elegância esperada no grande desenhador que foi Bernardo Marques, torna mais notório o que é o esforço aplicado de quem copia e a inabilidade ignorante do copista. As falsas atribuições destes e dos seguintes desenhos foram já confirmadas, mediante a observação de reproduções, por uma das responsáveis pela citada exposição.
Bernardo Marques, "Cinéfila acompanhada" (95 do Catálogo do CAM-FCG)
Bernardo Marques, "Cinéfilas à solta" (93 do Catálogo do CAM-FCG)
Bernardo Marques, "Cinéfila em transe" (96, Catálogo do CAM-FCG)
Entretanto, se Bernardo Marques alguma vez desenhou vistas do Porto, seguramente não o teria feito assim:
nem assim
E Lisboa (a Praça do Comércio) não seria desenhada pelo mesmo Bernardo Marques deste modo totalmente desajeitado
nem por António Carneiro, segundo mais uma delirante atribuição de um qualquer "amador".
Nº 157
1.250 €, "Rossio - Lisboa". Aguarela, assinada e datada de 1925. Dim. 21 x 29 cm.
Passando a obras mais recentes, ilustra-se outro trabalho de falsário com esta imagem atribuída a Júlio Pomar
Nº 191, 4.500 €, Pastel de óleo, assinado e datado de 1999. Dim. 23x21 cm.
A obra original é "O Talhante" (uma das personagens de A Caça ao Snark, de Lewis Carroll), um desenho a pastel de 1999, com 32 x 24 cm, de que existe também uma edição em litografia de grande formato.
Outras reconhecíveis imitações foram semeadas no mesmo catálogo de um leilão anunciado para hoje (3ª feira), amanhã e depois. Realizadas com uma surpreendente desfaçatez, já que o copista (ou copistas) foi variando bastante as autorias inspiradoras e mantendo um descuidado desinteresse pela verosimilhança das cópias.
É certo que a produção de qualquer artista conhece altos e baixos e todos eles têm jornadas marcadas por demasiada auto-indulgência, o que torna por vezes arriscado formular um juízo sobre a falsidade ou autenticidade de uma obra. Mas tem vindo a aumentar, para além do "aceitável", em tempos recentes, o aparecimento de obras falsas no mercado e há que tomar providências. Assim fez a Polícia Judiciária do Porto, que procedeu à apreensão de algumas peças de falsa ou muito suspeita atribuição.
O Diário de Notícias já traz, hoje, dia 30, alguma informação sobre o caso.
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Já tinha havido antes a história dos dois quadros atribuídos a Menez que iam a leilão em França...
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