"A casa nova da fotografia"
Expresso de 08-02-2003
v.o.
Os Encontros de Fotografia de Coimbra vão inaugurar na próxima
semana a sua nova sede, no espaço recuperado do Pátio da Inquisição,
cujo piso térreo, dividido pelas antigas celas dos presos do Santo
Ofício, tinha sido utilizado pela primeira vez em 1996 para uma
memorável exposição de Joel-Peter Witkin. Designado agora como Centro de Artes Visuais – Encontros de Fotografia,
o edifício foi magnificamente restaurado e redesenhado no seu interior
pelo arquitecto João Mendes Ribeiro, colaborador de várias edições dos
Encontros.
Com 600 metros quadrados de área útil no andar superior,
onde antes esteve instalado um lar de idosos, e 500 no andar térreo
reservado a exposições, o Centro acolherá as actividades permanentes da
estrutura dirigida por Albano Silva Pereira, para lá da organização das
bienais que se interromperam em 2002 e cuja continuidade não está ainda definida, por falta de orçamento próprio para a 20ª edição.
O primeiro ministro presidirá à inauguração no dia 14 às 18h30, a coroar um projecto aprovado em 1998 por Manuel Maria Carrilho, contando com fundos comunitários e com o apoio da Câmara de Coimbra, prolongado e mesmo reforçado na transição do mandato de Mesquita Machado para a actual presidência de Carlos Encarnação. <!!!, o que se iria passar a seguir...>
Na abertura das novas instalações ficará patente ao público a exposição «Coimbra» - ver adiante... - , que reúne fotografias da cidade e da região realizadas desde a primeira edição dos Encontros em 1980 (por Paulo Nozolino, em especial) e outras inéditas, resultantes de encomendas recentes a Frédéric Bellay, André Mérian, António Júlio Duarte, Inês Gonçalves, Augusto Brásio, Luís Palma e outros; uma escultura de Rui Chafes, que ficará instalada em definitivo; uma vídeo-instalação de Noé Sendas e ainda a mostra «Novas Aquisições», de fotografias e vídeos da colecção dos Encontros.
Será lançado um livro-catálogo onde a actividade dos Encontros de Fotografia é livremente evocada pelo poeta João Miguel Fernandes Jorge.
O edifício, de propriedade municipal, integrado num conjunto histórico onde funcionou também o antigo Colégio das Artes e que foi também objecto de beneficiações, é cedido aos Encontros de Fotografia mediante um protocolo com a duração de dez anos, contando estes com um orçamento para funcionamento e programação anual no montante de 500 mil euros, estabelecido em Março de 2002 num outro protocolo com a Câmara e o Ministério da Cultura, em vigor até 2004. A Câmara contribui com o equivalente a 40 mil contos por ano e o MC com os restantes 60 mil.
Albano Silva Pereira anuncia um programa de seis exposições anuais, inéditas e/ou de produção própria, acompanhadas por outras tantas projecções e instalações de vídeo, num espaço próprio situado em salas abobadadas do piso superior, integrando um ciclo programado por Joana Neves.
Entre as próximas exposições estão previstas a apresentação da colecção do Museu de Serralves («Sem Limites», com comissariado de Vicente Todolí e João Fernandes) e uma mostra de fotografias e esculturas de Gabriel Orozco, artista mexicano sediado em Nova Iorque. Segundo o director dos Encontros, a programação e a prória designação de Centro de Artes Visuais traduzirão uma relação alargada com a imagem fotográfica integrada no universo contemporâneo das artes plásticas.
Paralelamente, as actividades do Centro deverão incluir uma importante vertente formativa, que contará com ciclos de conferências e colóquios e, em especial, com programas educativos de iniciação à fotografia para o público escolar e outros níveis de formação.
A recuperação do edifício onde funcionou, a partir de 1548, o Tribunal do Santo Ofício (mais tarde abandonado, terá acolhido um Centro Republicano e serviu de cavalariças militares no Estado Novo) teve em conta o seu carácter histórico, mas sem limitar a funcionalidade necessária ao novo destino. Os vestígios arqueológicos foram preservados e recobertos por pavimentos amovíveis, criando-se uma muito vasta galeria de exposições dividida por grandes painéis móveis, onde apenas as paredes extremas foram deixadas por aparelhar. Na área de acesso, a instalação de um bar pode ter prolongamento para o pátio exterior através da arcada de belas colunas jónicas; próxima, a antiga capela acolhe a escultura de Rui Chafes (Aproxima-te, Ouve-me, 2002), um sol negro, com uma fenda feminina a rasgá-lo, sustido por aros metálicos que irradiam em todas as direcções.
Leves escadas metálicas sobem ao piso superior, ocupado em quase todo o comprimento por um contentor de madeira lisa e clara, onde cabem o conjunto dos laboratórios, o depósito da colecção e outros equipamentos técnicos (cuja aquisição está prevista com verbas vindas do orçamento dos Encontros para 2002). Lateralmente, com amplos espaços separados, sucedem-se a sala de conferências, biblioteca, área de formação, secretariado e gabinete da direcção. O tecto é todo ele aberto, deixando à vista os novos vigamentos e antigos barrotes, atravessado por um passadiço metálico elevado e por duas antigas clarabóias; num dos topos do mesmo piso, prolongando-o, situa-se o espaço para as vídeo-instalações.
As condições físicas para um novo arranque dos Encontros de Fotografia estão reunidas, no ano de Coimbra capital cultural, embora à margem do seu programa.
Comments