É a seguinte a lista das galerias portuguesas que vão estar presentes no Programa Geral da próxima edição do Arco:
Cristina Guerra, Fernando Santos, Filomena Soares, Graça Brandão, Lisboa 20, Mário Sequeira (Braga), Pedro Cera, Pedro Oliveira, Presença, Quadrado Azul e Vera Cortês. Na secção Arco 40, onde os espaços disponibilizados são apenas de 40 m2, estarão António Henriques (Viseu) e Carlos Carvalho. A Gal. Filomena Soares participa com um 2º espaço na secção Projectos.
Além de outras ausências notórias, como a da Módulo, que deixou há anos de participar no Arco, nota-se a falta da 111 e tb da Jorge Shirley, que teriam ficado em "lista de espera". Outras galerias foram sendo preteridas em anos anteriores, apesar do seu lugar destacado no mercado nacional.
Em 2007 estiveram 14 galerias portuguesas e o número desceu agora para 13 (ou 11 + 2, separando o caso Arco 40), com duas saídas e a entrada algo estranha da galeria de Viseu. No comité organizador, para onde são cooptadas as galerias que seleccionam as participações das restantes (não há nenhuma transparência na estrutura organizativa das feiras), tomou lugar este ano Cristina Guerra.
O país convidado é o Brasil e o Arco 2008, de 13 a 18 de fevereiro, acolhe um total de 257 galerías, 70 espanholas y 187 estrangeiras, mais 21 que na edição anterior, dispondo de mais espaço nos novos pavilhões 12 e 14.
Sem a 111, que é, pelo menos, uma das mais importantes galerias portuguesas, há menos Arco e menos razões para ir a Madrid.
Segundo a organização,
"los criterios de selección aplicados por la Feria Internacional de Arte Contemporáneo giran en torno a cinco grandes ejes: la calidad tanto de las propias galerías como de su proyecto y sus artistas; la programación artística a lo largo del año y el nivel de los artistas representados; el posicionamiento de las galerías en el mercado artístico internacional; la solvencia administrativo-financiera y la valoración de la presencia en ferias internacionales de arte, incluida ARCO."
Para Rui Brito, um dos directores da 111, a selecção das galerias é um equívoco ou um acto de má fé. Para além de questionar a posição tomada pela galerista portuguesa do comité, refere a renovação que a galeria tem vindo a conhecer nos dois últimos anos, com a apresentação de novos artistas jovens; a presença entre os artistas que representa de Eduardo Batarda, o mais recente Prémio EDP, e de João Leonardo, Prémio EDP Revelação, ou de Paula Rego (agora com a retrospectiva no Museu Reina Sofia). Bem como o lugar histórico da galeria, que há poucos meses colocou a colecção do seu fundador em exposição permanente num espaço próprio.
Francisco Vidal, "Dj Alfaiate", 2007,verniz e acrílico sobre azulejo pintado à mão e azulejo industrial montados MDF, 150x300 cm
Sem ter percorrido todas as galerias de Lisboa, não é arriscado vaticinar que Fátima Mendonça e Francisco Vidal estão muito acima da generalidade da oferta. É isso mesmo que se quer combater, porque a independência das programações não é vista com bons olhos. O circuito internacional da arte contemporânea precisa de galerias que aceitem relações de subordinação face a outras galerias-pivot dos países dominantes e às instituições que fazem as modas, e que assim assegurem a distribuição de excedentes ou mesmo só a sobre-visibilidade de certos artistas que ocupam a frente do palco, em geral medíocres - é o que significa "el posicionamiento de las galerías en el mercado artístico internacional": uma rede informal de cumplicidades e dependências. Não é difícil perceber como e com que artistas, ou face a que galerias de Londres e Nova Iorque, as que vão ao Arco compram a sua presença.
Realmente, a António Henriques é para mim uma incógnita: uma galeria onde muita gente expõe, mas quem é que vê essas exposições? Quem escreve sobre elas? A quantidade de críticas publicadas não era um dos elementos que costumavam abonar (ou não) pela selecção de uma galeria? Quanto ao resto, concordo contigo plenamente. Há desastres que cheguem nas exposições agora inauguradas nas galerias escolhidas que confirmam plenamente o que tu dizes.
Posted by: Luisa | 10/03/2007 at 14:20
Este artigo, que na altura já tinha achado muito bem escrito e elucidativo, ou que pelo menos levantava a questão da legitimidade das escolhas para a feira, voltou a fazer sentido. Penso que deveria ser relembrado.
Foi com uma grande surpresa que li a notícia que a Agência Lusa distribuiu sobre a "Carta Aberta" da Galeria 111. Mas penso que o facto de o ter feito mostra uma tomada de consciência sobre o valor da sua oferta, como um dos principais protagonistas no Mercado da Arte, em Portugal.
Tenho vindo a acompanhar o trabalho que a galeria desenvolve e sobretudo a forma como parece estar a gerir a herança dos artistas que trabalham consigo desde há alguns anos, com novas apostas. Não consigo compreender como é que uma galerista inteligente, como considero a Cristina Guerra, não tenha visto esse esforço de renovação e a contribuição para a oferta artística da Galeria 111 em Portugal. Talvez não tenham um Baldessari... tudo bem, mas têm Paula Rego, por exemplo.
Pôr de fora a Galeria 111 é como não dar importância à memória da Arte Portuguesa e ao esforço de renovação, que é até tema de muitos trabalhos de artistas hoje em dia.
Entretanto as apostas da galeria Cristina Guerra na "representação portuguesa" são claramente um querer apagar o passado e não dar valor ao esforço de continuidade dentro da Arte em Portugal. E isso e' bem patente na lista de artistas que representa. Os artistas consagrados são estrangeiros e os mais novos são portugueses. Como se de alguma forma estivesse a querer dar a ideia de que os novos artistas se inspiram nos "Mestres Importados".
Claro que um Lawrence Weiner tem grande valor. As escolhas são bem feitas e fazem sentido, mas o facto de desprezar igualmente outros grandes nomes nacionais é desprezar a cultura do próprio País que a viu nascer.
Não querendo estar a entrar em discursos pro-nacionalistas, não é essa a minha intenção, penso que mais uma vez está-se a querer fazer perdurar a visão do Português enquanto Sísifo. Um dia aparecerá outra "Cristina Guerra" a querer limpar os Joãos Onofres ou Joãos Paulos Felicianos, por os achar demasiadamente antiquados.
A Arte não é uma moda que se usa e deita fora.
Penso que Cristina Guerra tem uma grande responsabilidade nas mãos e não basta ter lá um Julião Sarmento para contrabalançar a oferta. Portugal entra em défice e perde a oportunidade de se mostrar e de partilhar (que penso ser aqui uma palavra-chave) o mesmo espaco que os seus "irmãos" espanhois e brasileiros.
Perde-se uma grande oportunidade para todos e o Arco passa a ser isso mesmo - um espaco onde o dinheiro e as tendências da Moda se impõem, mas que não contribui para o enriquecimento artístico ou de criação de discurso sobre a Arte Portuguesa.
Os agora já não tão jovens artistas não nasceram do nada e penso que tão pouco nasceram do fruto de movimentos de arte americana dos anos 60-70.
Ao Rui Brito resta pôr também a público a sua proposta e ouvir então da boca de Cristina Guerra onde está a falta de qualidade dessa mesma proposta. Parece-me que se o diálogo não entrar por ai, apenas se assistirá a um diálogo de surdos.
Haja mais objectividade e claridade no processo, por favor!
Posted by: Pedro dos Reis | 02/08/2008 at 01:47
É tudo mais complicado quando não se considera (é o meu caso) que Lawrence Weiner e John Baldessari sejam artistas interessantes. São apenas cromos para as trocas na carteira de uma galeria, um passe para aceder à plataforma acima. Mas claro que um "histórico" norte-americano (alguém de quem algum dia se falou nos livros americanos) é sempre um artista internacional, um nome de referência, um valor exportável para a província. Ainda por cima baratos! Um pequeno artista conhecido em NY é por definição um artista internacional.
Posted by: ap | 02/08/2008 at 04:03
Aqui terei de discordar um pouco.
Em especial, quando há pouco tempo vi uma exposição irrepreensível do Lawrence Weiner no Whitney Museum. Claro que a sua arte e' discutivel, mas ai entrariamos na questão da Arte Conceptual. E' practicamente uma questao estetica e que depende do conceito estetico do espectador - colhe extases e odios, simultaneamente.
Eu nao quero por em causa a qualidade, nem tao pouco o valor artistico desses artistas. O que quero salientar e' que nao se pode querer iludir o publico/mercado portugues com esses artistas.
Parece-me que apesar de perceber que existe um trabalho inteligente e profissional da galeria Cristina Guerra, tambem me parece que existe um certo provincianismo em se querer trazer grandes nomes internacionais para calar as bocas discordantes em territorio nacional. Isto parece-me um golpe baixo.
Por exemplo, estive em Lisboa durante a exposição que foi comissariada pelo curador do Palais de Tokyo e achei-a muito fraca. Mas la' esta'... ninguem disse que era fraca, porque era o curador do Palais de Tokyo que a estava a organizar...
Aborrece-me que algumas pessoas que têm poder de serem vozes criticas sirvam apenas como vozes de coro de apoio, de quem sentem que detém o poder, em vez de questionarem as opções. Também não e' dizer mal ou tomar partidos, mas ser-se objectivo na análise. O que entende que tenha de existir poder de analise, claro.
Para que serve ter-se um Mestrado ou uma Pos-Graduacao em Artes, quando nao se fala analiticamente? Para se fazer um trabalho sem qualquer risco e estar de acordo com a tendencia, qualquer pessoa o faz. So' o conceito de especialização capitalista justifica que essas pessoas tenham "voto na materia".
O ponto que o Alexandre identifica e' importante.
O facto do nosso mercado ser uma periferia e, pior que isso, estar virado para dentro de si próprio e sem valorizar o que existe de bom é um problema que tem de ser erradicado. As galerias têm de fazer um bom trabalho e isso so' me parece que possa ser conseguido se perceberem primeiramente o que e' o bom trabalho de uma galeria. Nao acho que uma galeria faça um bom trabalho porque conseguiu convencer artistas mediaticos a trabalhar consigo. Isso so' mostra que tem dinheiro e apoios dentro do mercado nacional e pouco mais. Tem de existir uma aposta nos seus artistas. No fundo, os artistas que representa sao a imagem da galeria, e a galeria nao existe sem estes artistas. E' uma situação win-win. Todos têm a ganhar em serem profissionais.
Infelizmente, em Portugal parece que existe sempre uma relação desproporcionada de poder entre um artista e uma galeria. O artista ao pertencer a uma galeria tem sorte em la' poder estar e por isso nao tem direito de exigir o que quer que seja. Mas dependendo da capacidade de trabalho e objectivos das galerias elas podem fazer um bom ou mau trabalho.
O que eu questiono neste protesto da galeria 111 e' o facto dessa galeria nao ter sido sequer visitada pela galerista Cristina Guerra, ou por alguem ligado ao Arco.
No fundo o criterio de escolha parece ter sido atraves de uma estatistica do que se fala por ai e nao por uma análise criteriosa da proposta e do trabalho que foi feito pela galeria 111. Se assim for, entao o Arco que me convide para escolher galerias, pois também consigo fazer esse trabalho, mesmo estando do outro lado do Atlantico!
Ainda assim, sei que esta' agora patente uma exposicao do artista Rigo e pelas fotografias que pude ver esta' uma proposta interessante. So' faltaria mesmo poder ve-la em pessoa.
Nao gosto de sentir esta nova corrente em que se esta' a apagar o passado artistico nacional em virtude de haver novas apostas. Penso que pode haver um misto de justica e injustica na forma como a 111 foi tratada neste processo. Talvez merecessem uma repreensão, mas nao sei se sera' justo uma exclusao por completo.
Tambem nao me parece que o facto de uma galeria ter nomes mais mediaticos ou de usar "forcas externas" seja fazer um bom trabalho. Isto parece-me sim uma forma de ostentação de poder. Pelo que pude constatar, nem sempre essas apostas que vêm de fora e que devem custar caro valem assim tanto, quanto isso.
Penso que se por um lado, essas "trocas de conveniencia" podem ajudar a levar os nomes da galeria mais longe, por outro lado acaba-se por importar uma serie de outras apostas que sao irrelevantes para os coleccionadores nacionais. E'um pouco o efeito novidade, mas isto destroi qualquer trabalho serio que se possa querer fazer.
Estando aqui constato que ha' artistas muito interessantes e nem sempre americanos. Por exemplo, tenho gostado bastante do trabalho de muitos artistas Mexicanos, Peruanos. Existe ainda genuidade no seu trabalho e honestidade nas suas questoes, que nao sao apenas um ilustrar de ideias de alguem.
Lembro-me de repente de dois jovens artistas, como por exemplo, Anibal Catalan e Emilio Chapela. Talvez dai que o Mexico se esta' a revelar como um centro de Arte. Apesar de estarem mais proximos dos Estados Unidos que nos, existe uma aposta nos seus artistas e tem boas galerias a fazer esse trabalho. Ja' para nao falar do "clima" onde o trabalho se desenvolve.
A proximidade com os Estados Unidos e' um elemento facilitador, pois muitos dos artistas acabam por fazer residencias ou mesmo desenvolver o seu trabalho por aqui e desta forma puxar as galerias e instituicoes Mexicanas (agora de repente lembrei-me do Museu Tamayo, que tem inclusive uma parceria com o New Museum).
Nos, Portugueses, parecemos (como ja' tenho vindo a referir) ter vergonha do nosso passado e querermos ser sempre o que os outros sao. Reconheco que no fundo a cultura popular Portuguesa acaba por ser a unica identidade que temos, bem ou mal. Para que se atinja um novo patamar de Portugalidade e' preciso começar por saber-se comunicar uns com os outros e ter uma atitude mais positiva em relação ao nosso trabalho e dos que nos rodeiam. E' necessario que haja maior isenção e que se premeie o bom trabalho.
Esta decisao da galeria 111 estar de fora e' para mim mais uma prova que o importante e' punir e ostentar-se o poder garantido por pessoas de fora do Pais, e não haver um canal de comunicação que realmente ajude a que estas situações não ocorram. E' necessario que exista dialogo e que se discutam os problemas, para que a estrategia seja olhar para fora com objectivos concretos, em ver de se usarem as migalhas de apoios de fora, para se ser ter a posicao dominante dentro do proprio Pais.
Claro que negocios sao negocios, mas nao me parece que sejamos melhores porque os outros sao piores que nos. Ha' que haver honestidade e profissionalismo no trabalho que se desenvolve e sobretudo isencao e mais objectividade.
Posted by: Pedro dos Reis | 02/08/2008 at 17:49
Caro Alexandre,
Se me permites, gostaria de deixar umas notas sobre o tema genérico das inclusões e exclusões de feiras de arte, e em particular a Arco 08.
Todas as galerias portuguesas que concorrem com regularidade a feiras internacionais já alguma vez viram as suas candidaturas serem recusadas. E sublinho-te todas, para que não restem dúvidas. São as regras do jogo, que todos conhecem. Ou se aceitam ou se abandona o jogo. Não se culpa o árbitro.
As feiras de arte internacionais costumam ter os seus comités consultivos ou de selecção, compostos por galeristas de diferentes nacionalidades. É inegável que o factor de proximidade geográfica confere a um determinado elemento de um determinado comité, o poder, e o dever, de emitir juizos de apreciação sobre o trabalho desenvolvido por um par do seu país.
Esta função revela-se particularmente importante, quando uma galeria que se encontra a concorrer pela primeira vez a uma feira é totalmente desconhecida dos restantes membros do comité. Ao invés, quando a galeria concorrente conta no seu historial com diversas presenças numa mesma feira, essa função de triagem inicial a levar a cabo pela galeria conterrânea, é mitigada ou mesmo inexistente. O comité já conhece a galeria de anteriores participações e prescinde da análise sobre-ponderada do par conterrâneo.
Assim, e exemplificando, na edição da Arco 08 temos para a primeira situação a Galeria António Henriques, e para a segunda situação as galerias Jorge Shirley, Paulo Amaro, 111, Filomena Soares, Pedro Cera, Pedro Oliveira, Presença, entre outras.
A Galeria António Henriques era totalmente desconhecida da generalidade dos membros do comité de selecção da feira, e as outras, com distintos graus de conhecimento, de acordo com os anos de participação na feira, conhecidas de todos, não sendo, neste caso, preponderante o juizo de avaliação da galeria portuguesa que integra o comité, uma vez que participações passadas permitiam ao comité decidir sem atender à opinião sobre-ponderada daquela galeria.
Depois, seguem-se as reacções, que também assumem formas distintas.
Da parte dos galeristas não admitidos encontramos duas posturas, a saber: de um lado temos os que aceitam as regras do jogo, reflectem sobre os possíveis erros para posterior correção, e seguem em frente com o seu trabalho (veja-se o exemplo do Paulo Amaro, de quem não se ouviu um comentário público e continua o seu trabalho de internacionalização através de presenças nas próximas edições das feiras Art Brussels em Bruxelas, Volta em Nova Iorque e Next em Chicago); do outro lado temos aqueles que têm mais dificuldade em aceitar as decisões dos seus pares, e que esgrimem argumentos em público com consequente capitalização de espaço publicitário gratuito nos media nacionais, mas que em nada contribuem para a internacionalização da arte portuguesa.
Também da parte dos media e de alguns coleccionadores, as reacções são variaveis em função dos excluídos. Uns são basicamente ignorados, e outros, provavelmente face aos interesses e investimentos patrimoniais a defender, são elevados à condição de mártires, tentando-se assim garantir vantagens futuras.
Finalmente, temos a opinião pública que reage de forma emotiva por não dispôr de outros dados.
Um último comentário em nota de rodapé, apenas para deixar claro que uma galeria que integre um comité de selecção e exprima uma opinião relativamente a qualquer galeria participante ou não admitida, fá-lo, não em seu nome pessoal, mas em nome de todo o comité.
Espero ter prestado um pequeno contributo para o esclarecimento do papel relativo que uma galeria assume num comité consultivo ou de selecção de uma feira de arte, e para a identificação de distintas posturas face à adversidade por parte das galerias excluídas.
Posted by: Pedro Cera | 02/28/2008 at 23:35
O Pedro Cera vive no mesmo país que eu?...internacionalização dos artistas através das galerias??????????? Estão a gozar comigo ou quê? Foram as galerias que internacionalizaram o Julião, o Cabrita,a Rego, o Guimarães ou a Vasconcelos?????????? Digam-me qual a galeria que fez o trabalho para estes nomes...estou curioso...
Posted by: Xiclete | 03/02/2008 at 02:53