O que valem 400 mil euros , ou 1,5 milhões + 900 mil euros, ou 650 mil euros ?
No próximo ano celebra-se o centenário do nascimento de Maria Helena Vieira da Silva. A 13 de Junho, em Lisboa.
É a (o) artista português de maior notoriedade internacional no séc. XX. (De nacionalidade francesa desde 1956, depois de ter sido apátrida a partir de 1939, devido ao casamento com Arpad Szenes, pouco antes de se refugiarem no Brasil durante a II Guerra...)
Tome-se por exemplo dessa notoriedade a participação nas Documentas de Kassel de 1955, 1959 e 1964 (que então tentavam convocar os maiores artistas do pré- e do posguerra). Bem como o grande prémio internacional de pintura na 6ª Bienal de São Paulo em 1961 (em representações da França).
Espera-se que a Fundação Arpad Szenes - Vieira da Silva sobreviva às actuais dificuldade e chegue em melhores condições à data do centenário.
Não será certamente difícil. Dinheiro não falta.
Exp. de obras do CAM - FG e da FASVS - dia 24, 4ª feira, às 18h30
Segundo os estatutos da Fundação (aprovados em 1990, era Cavaco Silva 1º ministro e Mário Soares presidente da República - são responsabilidades que não se devem ignorar), "o Estado assegurará, anualmente, um subsídio destinado a despesas ordinárias de manutenção e conservação do museu e do centro".
Essa verba é agora, em 2007, de apenas 400 mil euros, depois de ter já correspondido a 600 mil em anos anteriores. É uma verba (anual) insuficiente e mesmo ridiculamente pequena para pagar salários, equipamentos e serviços mínimos.
Entretanto, a Câmara de Lisboa cedeu o edifício da antiga Fábrica de Tecidos de Seda, e não tem outras responsabilidades, apesar da importância que o Museu tem (certamente) para a cidade. Às vezes faz contribuições em serviços. Não se sabe o que pensa sobre o assunto a nova equipa da CML...
A FASVS contou noutros tempos com vários significativos apoios mecenáticos regulares, em especial do grupo Champallimaud e do BCP-Millennium, que se extinguiram ou desviaram por razões várias (entre elas a procura de maior visibilidade pública). Agora precisa de outros mecenas.
Também precisa de resolver a questão aberta com a demissão de Proença de Carvalho, presidente do conselho de administração. Precisa que o conselho reúna, o que não faz há muito tempo, que os membros desaparecidos sejam substituídos, que a ministra atenda os pedidos de audiência dos responsáveis pela FASVS ainda activos, que responda aos herdeiros de Jorge de Brito (depois de ter classificado as pinturas da sua colecção sem ter estabelecido o conveniente diálogo). Que o chamado poder político e a suposta sociedade civil se mobilizem para enfrentar a questão.
Se virmos o que custam as exposições temporárias que marcam o actual período de festividades, ficamos com a certeza de que a tal verba dos 400 mil euros ( 80 mil contos... para o ano inteiro) deve ser uma distracção.
Por exemplo, a exposição dedicada aos dourados do Império Russo nas Colecções do Hermitage, a abrir na próxima semana no Palácio da Ajuda, custa, segundo as informações já divulgadas, 1,5 milhões de euros, a que se acrescentam mais 900 mil para a adaptação do espaço. A iniciativa é da ministra da Cultura, que mobilizou para o efeito diversos patrocinadores, o Turismo de Portugal e empresas;
a exposição de Vic Muniz, com retratos de personalidades portuguesas e algumas vistas históricas (sem ajuizar agora do interesse da coisa), que se inaugurou na Central Tejo, teve um orçamento de 650 mil euros - incluindo a aquisição das obras, o livro editado e os prefaciadores, os cartazes e etc. A iniciativa foi do Ministro da Economia e da Inovação, e contou com verbas do Turismo de Portugal e, em partes iguais, da EDP e do BES.
Não sei se esta desproporção é fácil de explicar ou se anda para aí um grande deslumbramento muito provinciano com a passagem a alta velocidade dos carros dos presidentes da Europa.
E pode-se começar por perguntar quanto vale, para dar qualidade ao turismo em Portugal, aquele museusinho fronteiro ao Jardim das Amoreiras, junto ao Aqueduto e à Mãe d'Água, a curta distância dos prédios das Amoreiras, uma das mais emblemáticas colinas de Lisboa.
Podiam responder antes da próxima inauguração, dia 24 às 18h30
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