Expresso / Actual de 20 - 10 - 2007, pag. 20
"Em apoio do Museu" em vez de "Em apoio do Hermitage" [... em São Petersburgo]
O Hermitage foi um emblema da «glasnost» quando emprestou ao Metropolitan de Nova Iorque, em 1988, 51 pinturas do séc. XVII holandês e flamengo, muitas delas desconhecidas. Reagan e Gorbachov tinham assinado em Genebra, três anos antes, um acordo de cooperação cultural.
Com o fim da URSS teve início um grande esforço internacional de apoio ao museu estatal russo, forçado a procurar alternativas para um financiamento que se reduzia drasticamente, ao mesmo tempo que enfrentava gigantescos desafios de conservação de edifícios e colecções (mil salas e três milhões de objectos são números muito referidos). Apesar das mudanças políticas, o destino do Hermitage tem conhecido uma grande estabilidade, sob a condução determinada do director nomeado em 1992, após dois anos de vazio de poder. Mikhail Borisovich Pietrovsky, especialista em arte islâmica, é, aliás, filho de Boris Pietrovsky, que dirigiu o Hermitage durante os anteriores 26 anos.Logo em 1993 o novo regime convidou a Unesco a patrocinar o plano de reconstrução e extensão do museu, criando-se um conselho consultivo com directores dos principais museus internacionais. O apelo a donativos de governos, fundações e empresas teve efeito e a rede mundial dos "Friends of Hermitage" continua activa - o modelar "site" oferecido pela IBM valeu dois milhões de dólares.
As primeiras dádivas, logo em 19944, vieram do governo da Holanda: 1,2 milhões de dólares para equipamentos de informática e de protecção de caves contra inundações abriram caminho ao restauro, no Rijksmuseum de Amsterdão, de uma colecção de 610 gravuras de Rembrandt. Seguiu-se o apoio à reabilitação das galerias dos mestres holandeses, um dos núcleos mais valiosos - Pedro, o Grande, mantivera dois russos em permanência na região para assegurar a escolha da melhor produção local. O reatar desta antiga relação passou paulatinamente do envio de exposições à abertura de uma antena permanente, em 2004, a qual se irá tornar num grande museu em 2009. Considerado como a embaixada do Hermitage no Ocidente, o programa de Amsterdão foi acompanhado pela abertura de consulados em Londres e Las Vegas.O pólo inglês, que é um "fund-raising arm" do Hermitage Development Trust, abriu em 2000 num dos mais prestigiados centros de ensino e investigação de história de arte e conservação, o Courtauld Institut. Sete milhões de dólares foram então canalizados para São Petersburgo. Os Hermitage Rooms, cinco galerias decoradas ao antigo estilo do museu, com 411 metros quadrados, acolhem uma exposição anual. Em 2001 inaugurou-se uma galeria conjunta do Hermitage e do Guggenheim num espaço adaptado por Rem Koolhaas no Venetian Resort-Hotel-Casino, Las Vegas, mas esta associação não foi o milagre anunciado. O museu-empresa de Tomas Krens nunca mais conseguiu repetir o sucesso de Bilbau.
Portugal não teve papel notado nesta mobilização até à assinatura, em Março de 2006, de um protocolo que, além de fazer uma genérica referência à apresentação recíproca de monumentos da cultura mundial, prevê a troca de experiências entre especialistas nos domínios da gestão de museus, investigação histórica e conservação patrimonial. Denominado «Hermitage em Lisboa», o programa cita a realização de conferências científicas, seminários e mesas-redondas naquelas áreas e também projectos musicais no contexto dos programas da Academia de Música e da Orquestra Estatal do Hermitage.
No âmbito dessa alargada cooperação que o acordo refere, incui-se o estudo do projecto para a criação de um "Centro Hermitage em Lisboa", sem lhe atribuir, porém, qualquer conteúdo. Este protocolo de intenções vigora até ao fim de 2010 e pode ser renovado por períodos de quatro anos. Além da mostra que Putin vai inaugurar (orçada em 1,5 milhões de euros, incluindo transportes e seguros, mais 900 mil euros investidos na galeria da Ajuda), estão previstas mais duas em anos consecutivos.
Um outro protocolo que visa mormente a preparação de técnicos especializados foi já depois firmado, numa cimeira entre Putin e Romano Prodi, mas o projecto de um centro cultural e de investigação, o Hermitage-Itália, a criar em Ferrara, não contempla a hipótese de um mini-Hermitage.
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O "estudo do projecto para a criação de um 'Centro Hermitage em Lisboa'" é referido num protocolo bilateral assinado em Março de 2006, mas não se lhe atribui qualquer conteúdo. É apenas um devaneio..., uma fantasia muito cara.
Todas as extensões internacionais do Hermitage têm a ver com a angariação de meios (fund-raising) ou com cooperação no âmbito da museologia e da conservação. A candidatura portuguesa não tem verosimilhança nessas duas áreas e é apenas uma teimosa confusão de quem trocou os vermelhos dos burocratas soviéticos pelos dourados do Império russo.
A recolha de depoimentos ("Polémica") que acompanha a reportagem da Alexandra Carita no Expresso é um bom contributo para animar as festividades do Palácio.
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Somos os maiores:
«Nunca houve no estrangeiro uma exposição tão grande do Hermitage», afirmou o comissário científico da exposição, Fernando António Baptista Pereira, numa apresentação recente de algumas imagens de peças que estarão em Lisboa. in Sol, 20-10-2007.
«Quando os russos virem a exposição vão ficar muito satisfeitos com o carácter verdadeiramente espampanante que ela vai ter», disse ao «Expresso» Fernando António Baptista Pereira, o comissário científico da exposição. Actual, 20-10-2007
Nunca tinha caído de tão alto este espampanante Fernando António...
Uma exposição histórica sobre a corte imperial e o povo russo, a vida quotidiana e a cultura, etc, podia ser um bom programa. Não precisava de ser o maior nem tão deslumbrado pelo fausto dos Romanov.
ATENÇÃO: o próximo ministro (ou ministra, ah! as quotas) pode ser ainda pior.
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