A utopia Vasarely
Expresso/Cartaz de 22 -03-97
«Quanto tempo foi preciso para fazer desaparecer o mito da mão do artista...» — dizia Vasarely, em 1967, no auge da popularidade da Arte Op. Trinta anos depois, ao morrer quase com 90 anos, a sua obra continua muito presente no mercado dos múltiplos, em capas de livros e obras públicas, mas a notoriedade de Victor Vasarely no âmbito da história da arte contemporânea quase se desvaneceu por completo.
O pintor que recusava a ideia do artista como «ser Único» e preconizava o desaparecimento do criador como executante — «se a arte queria ser, antes, 'sentir e fazer', ela pode ser hoje 'conceber e fazer fazer'» — parece ter sido vencido pelo seu próprio êxito.
Foi a «Time» que «descobriu» em 1964 a Arte Op, na sequência da
vulgarização da Pop, transformou-a numa moda internacional, embora já
existisse há vários anos. Em 65 Vasarely venceu a Bienal de São Paulo e
foi uma presença dominante na exposição «Responsive Eye», em Nova
Iorque. Mas a própria popularidade da Op, a sua exploração pela moda e
os média, a assimilação pelo comércio e pelo gosto público,
transformava o seu carácter utópico e vanguardista num sucesso
embaraçante. Numa década de muito rápida sucessão de tendências — e, em
especial, de transferência do centro do «mundo da arte» de Paris para
Nova Iorque — a afirmação do minimalismo, em 66, faria regressar a
tradição do abstraccionismo geométrico ao seu anterior ascetismo.
A obra de Vasarely e a «nova concepção da arte» que defendeu constituem
um dos afloramentos de convicções que ao longo do século procuram
associar a criação artística à ciência e às novas tecnologias. A
máquina, ao tempo dos primeiros computadores, e o trabalho em equipa
foram elementos que tomou por decisivos num contexto em que podia
aceitar-se como progressiva a ideia de que «o indivíduo tende a
desaparecer e o génio está condenado».
Uma longa tradição tomava então por certa «a depuração pelos artistas
abstractos dos lados supérfluos da pintura». Passar-se-ía do «sentir»
(uma concepção da criação como estado de graça) ao «conceber», criação
de formas codificadas pela geometria com que se produziam múltiplos ou
se passava um mesmo protótipo à condição de pintura, decoração mural,
tapeçaria ou estampa, variando a escala e o suporte.
Em 1959 Vasarely chegou a registar a patente de um processo de colagens
a partir de elementos pre-existentes impressos em serigrafia, como um
alfabeto cromático-formal que permitiria compor por computador
conjuntos plásticos de efeitos infinitos.
A grande decoração pública era então o destino preferencial do seu
trabalho: «o artista de hoje é aquele que realiza uma síntese plástica
susceptível de tornar o mundo artificial, engendrado pela técnica, mais
vivível».
Vasarely, pintor francês de origem húngara (Pecs, 1906), faleceu no
passado sábado. Estudara na chamada Bauhaus de Budapeste e emigrou para
Paris em 1930, dedicando-se à publicidade até 56. Participou em 1944 na
fundação da Galeria Denise René, que seria a sede do abstraccionismo
geométrico, frequentou o Salon des Réalités Nouvelles, criado em 46
para prosseguir a actividade da Abstracção-Criação, anterior à Guerra,
e em 1955 a exposição «O Movimento», impunha a Arte Op e o cinetismo.
Nos anos 70 criou um Centro de Investigação Arquitectónica em
Aix-en-Provence e dois museus «didacticos» na França e na Hungria, mas
a falência da sua Fundação de Aix foi decretada já este ano.
Em Portugal observaram-se consequências do cinetismo na obra de Nadir
Afonso, nos anos 50, e posteriores influências Op em Artur Rosa e
Eduardo Nery.
não só para comentar o seu post sobre vasarely mas para dar os parabéns pelo excelente espaço que aqui me oferece.informativo e elucidativo também em quase tudo no que se relaciona com arte.
ainda tenho na memória a exposição do vasarely na gulbenkian faz bastantes anos.não será própriamente a "produção" que aprecie mais mas que fica na memória isso fica.lamento o seu desaparecimento. todos nós ficamos mais pobres.
da vieira da silva como professora de arte e leccionando numa escola com o seu nome faço questão de dar a conhecer a todos os alunos que me "passam pelas mãos" a sua biografia e obra. todos os anos os levo a visitar o museu. tenho conseguido conciliar com outras exposições temporárias nomeadamente de marc chagall o meu favorito.
vou adicionar aos favoritos e visitar esta sua casa mais vezes.
Posted by: ivone | 10/30/2007 at 23:41
A grande exposição Vasarely na Gulbenkian foi em 1980, segundo umas listas manuscritas em papel quadriculado que o arq. Sommer Ribeiro me passou quando deixou o CAM. Entre Pollock, 1979, e Bourdelle, 1980. ap
Posted by: ap | 04/08/2008 at 19:52