1 - Expresso/Cartaz de 19/10/2002
Arte Lisboa volta em Novembro
A feira internacional de arte reforça os critérios de selecção
A feira Arte Lisboa regressa em Novembro, com o mesmo modelo de admissão selectiva posto em prática com êxito na edição anterior. Decorrerá entre os dias 21 a 25, por iniciativa da FIL e da Associação Industrial Portuguesa (AIP), apoiada pela Câmara Municipal de Lisboa, com a presença anunciada de 48 galerias, 27 portuguesas e 21 estrangeiras. Haverá uma significativa redução de galerias espanholas, de 25 para 17, que resulta do maior rigor da selecção, travando-se, com a aplicação dos mesmos critérios de exigência usados para a participação nacional, uma «invasão espanhola» que não significava uma real internacionalização.
Não é o alargamento indiscriminado do número dos expositores que se pretende, mas a solidificação de uma feira qualificada que contribua para promover o mercado de arte nacional e possa contar com a participação das galerias portuguesas que já circulam nas feiras internacionais.
Entretanto, comparecem pela primeira vez uma galeria parisiense, a Patrice Trigano, e três da Bélgica: Alain Noirhonne, que anuncia obras de Peter Halley, Ross Bleckner, Jonathan Lasker, Donald Baeschler, Bryan Hunt e J. M. Sicilia; Cottem Gallery, também de Bruxelas, com Zhang Huan, Ray Charles, Shirin Neshat, Keith Haring, Robert Longo; e a Galerie Denise Van de Velde, de Aalst, com Panamarenko, Jupp Linsen e outros. Trigano trará Arman, Clavé, Hartung, Masson, Manolo Valdez, Júlio Pomar, etc.
Quanto às presenças portuguesas, a feira conta com todas as galerias de primeira linha (excepto a Cristina Guerra, ocupada com a deslocação à nova feira Art Basel Miami). Comparecem pela primeira vez a Gal. Fonseca Macedo, de Ponta Delgada, e a Artfit, de Lisboa, regressando as Luís Serpa e S. Francisco, enquanto a Canvas se funde com a João Graça. De Espanha, continuarão ausentes os nomes mais destacados, mas comparecem, entre outros, Alejandro Sales, de Barcelona, Visor, de Valência (fotografia), Maria Martin, de Madrid, Pepe Cobo e Rafael Ortiz, de Sevilha, e Senda, de Bilbau.
A AIP voltará este ano a comprar obras para a colecção de arte que iniciou em 2001, com uma verba algo superior a 50 mil euros, enquanto procura assegurar que outras instituições realizem também aquisições na feira. Por outro lado, foi posto em execução pela primeira vez um programa de convites a coleccionadores estrangeiros, assegurando contactos e visitas a outros espaços.
Anunciada com mais antecedência que a edição anterior, a qual decorreu com êxito de vendas mas de modo excessivamente discreto, somando apenas cerca de 15 mil visitantes, a Arte Lisboa, deverá também melhorar, este ano, o seu esforço de promoção e divulgação, de modo a tornar-se um acontecimento cultural com maior impacto público.
2 - 16/11/2002
Encontro na feira
Inaugura-se na quinta-feira a próxima edição da Arte Lisboa
(Legenda : A Arte Lisboa 2001 provou a eficácia de um modelo selectivo para a feira e deu um grande passo na sua dinâmica internacional)
A feira volta à FIL, por cinco dias, a partir de quinta-feira, abrindo o contacto directo com a arte a um público mais alargado do que aquele que frequenta regularmente as galerias e proporcionando a este um panorama dinâmico e sintético da produção mais actual. Bienais e feiras são hoje o equivalente dos antigos salões, num mundo em que não existem barreiras definidas entre posições oficiais e de vanguarda ou entre valores do mercado e da crítica, e o certame, com a diversidade própria das escolhas de cada galeria, percorrer-se-á como uma grande mostra colectiva onde a actualidade comparece democraticamente reunida, com os seus diferentes segmentos e direcções, as suas possíveis consagrações e novidades. Entretanto, a feira Arte Lisboa, nova designação adoptada há um ano, volta a atrair um número considerável de galerias estrangeiras, sem recorrer ao artifício de ter um país convidado, como sucede numa feira política como a Arco de Madrid.
A Espanha volta a ter uma presença forte na feira de Lisboa, embora inferior à da edição anterior (os critérios de admissão foram entretanto ajustados), e surgem pela primeira vez, ao lado das 16 galerias do país vizinho, três galerias belgas (Alain Noirhomme e Cothem, de Bruxelas, Denise Van de Velde, de Aalst) e uma de Paris (Patrice Trigano), juntando diversos nomes conhecidos da actualidade internacional, jovens artistas ignorados e também figuras históricas, estas trazidas pela galeria francesa. De Espanha, poderão destacar-se as presenças de Alejandro Sales (Barcelona), María Martin (Madrid), Pepe Cobo e Rafael Ortiz (Sevilha), Senda (Bilbau) e também a Visor (Valência), consagrada à fotografia.
Entre as participações nacionais inclui-se a quase totalidade das galerias mais dinâmicas, todas de Lisboa e Porto, a que se junta apenas a Galeria Fonseca Macedo, que abriu em 2000 em Ponta Delgada. Também estreantes na feira são a Artfit, de Lisboa, vocacionada para a apresentação de artistas emergentes, e a João Lagoa, do Porto.
Com o modelo adoptado no ano passado, a vocação internacional desejada para a feira passou a conjugar-se com uma admissão mais selectiva, contrariando-se a lógica de um indefinido crescimento numérico das galerias participantes com a opção por um certame de menor dimensão mas consolidado pela presença de todas as galerias portuguesas de primeiro plano. A responsabilidade da organização da feira passou, entretanto, da Associação de Galerias para a própria Associação Industrial Portuguesa. A fórmula provou o seu sucesso na edição anterior, embora tivesse já de enfrentar a entrada num ciclo de abrandamento do mercado de arte, que parece longe de inverter-se. A conjuntura económica não é favorável e os indicadores internacionais, relativos às últimas feiras alemãs e aos leilões de Novembro em Nova Iorque, dão sinais fortemente depressivos, o que não tem impedido, no entanto, que a movimentação galerística em Portugal se processe em bom ritmo, com exposições de grande êxito e a abertura de vários novos espaços. Essa é outra ordem de expectativas em torno da próxima Arte Lisboa.
3 - 23/11/2002
Arte na FIL
Nova edição da feira Arte Lisboa com 47 galerias
Quatro obras inéditas trazidas à Arte Lisboa podem ilustrar a feira da FIL como um dos momentos mais significativos do calendário artístico anual, mesmo se o acontecimento não conseguiu ainda alcançar uma maior projecção e se o meio continua marcado por uma pouco saudável dependência das iniciativas oficiais. Inaugurada na quinta-feira, deverá proporcionar o encontro com um panorama selectivo e aberto da criação actual e faz do alargamento a novos públicos um objectivo essencial para o mercado de arte. Num espaço cujas condições de exposição têm melhorado todos os anos, a feira de Lisboa tem constituído cada vez mais uma oportunidade privilegiada para as galerias apostarem numa selecção de obras com qualidade e fazerem a apresentação de novos trabalhos e também dos novos artistas com que trabalham.
Entre as 47 galerias esperadas (depois da desistência da Cothem, de Bruxelas), conta-se com uma importante representação estrangeira, maioritariamente espanhola (16 galerias), mas também com a parisiense Patrice Trigano - anunciando Picasso, Miró e Picabia, além de Júlio Pomar, que aí expôs em Junho - e duas outras galerias belgas (Alain Noirhomme e Denise Van de Velde). Nas 28 galerias portuguesas incluem-se presenças em estreia, como a da Fonseca Macedo, de Ponta Delgada, o regresso de Luís Serpa e a novidade da fusão entre a Canvas e a João Graça, numa mobilização que envolve quase todas as galerias de maior notoriedade (sem a presença de Cristina Guerra).
A organização mantém este ano um plano de aquisição de obras de arte para a colecção da Associação Industrial Portuguesa e, apesar da conjuntura não ser favorável, criou dois novos programas: um destinado a trazer coleccionadores estrangeiros a Lisboa e outro de visitas guiadas para os visitantes, que decorrem diariamente às 16h e às 19h, com inscrições abertas à entrada do pavilhão.
4 -Estratégias de mercado
A feira enfrentou a crise com resultados variáveis
30 – 11 - 2002
Encerrada a Arte Lisboa na FIL, já se anunciou que o Centro de Congresso do Estoril vai também fazer a sua Feira de Arte Contemporânea, em Abril, e abre hoje no Expo Salão da Batalha uma Feira de Artes Plásticas e Antiguidades que, apesar de ignorada nos grandes centros, já vai na nona edição. A Exponor, que em 2001 promoveu sem sucesso a Porto Arte, está a retomar o projecto para 2003. São vários segmentos de um mesmo universo, o da circulação e mercado da arte, que se movem em simultâneo (como sucede, no desporto, por exemplo, com as várias ligas ou divisões, profissionais e amadoras), sem fronteiras estanques, embora certamente com diferentes sentidos culturais e mobilizando distintos circuitos.
Também na Arte Lisboa, onde a admissão das galerias se rege por critérios selectivos, convergem diferentes tipos de criação artística e várias estratégias de mercado, num projecto que mobiliza artistas e galerias da primeira «divisão» e aspira a um reconhecimento internacional, ao mesmo tempo que mantém um perfil plural e abrangente. A fórmula demonstrou de novo o seu êxito, sendo simultaneamente atraente para os coleccionadores convictos e informados que acompanham regularmente a actualidade e também para um público mais alargado que compra o que gosta sem se guiar por critérios de investimento ou de maior ou menor notoriedade.
Com um pequeno aumento de visitantes (acima dos 15 mil, mas sem contagem das muitas visitas repetidas), com grandes enchentes ao fim de semana, com uma actividade comercial por vezes febril (forçando em muitos casos a uma repetida renovação das obras expostas e esgotando os «stocks» dos armazéns), a feira resistiu bem às dificuldades da conjuntura económica. Havendo naturalmente resultados diferenciados, galerias como a Módulo, Luís Serpa, Filomena Soares, Ara ou Novo Século, conheceram êxitos em geral superiores aos de edições anteriores e eram vários os galeristas que classificavam os resultados como extraordinários ou os maior de sempre. Outras ficaram abaixo das expectativas, mas às razões da crise económica juntaram-se em diversos casos opções expositivas menos ajustadas a um momento em que, embora com algumas excepções significativas, em torno de peças de grande qualidade, predomina a opção por obras de preços pouco elevados, favorecendo os artistas muito jovens, ditos «emergentes», ou desconhecidos. Essa é, no entanto, uma dinâmica que ao impor uma rotação rápida de novos talentos tem consequências potencialmente gravosas para a continuidade das carreiras, no quadro estreito do mercado nacional.
Entretanto, também a chegada de novas galerias à feira foi em alguns casos bem sucedida, com relevo para a estreia da ArtFit, de Lisboa, que apresentou um interessante conjunto de jovens artistas (Laura Pels Ferra, Bruno Borges, etc), enquanto a Fonseca Macedo trouxe de Ponta Delgada uma das raros mostras de actividade desenvolvida fora de Lisboa e Porto.
Mais problemático é o que diz respeito à implantação internacional da feira, uma vez que grande parte das galerias estrangeiras (as duas belgas, várias espanholas) teve vendas insignificantes, deixando em dúvida o seu regresso a Lisboa. Algumas põem como condição a existência de apoios e compromissos de compras por parte de instituições, a exemplo da estratégia oficial de promoção da Arco, mas esse caminho, que falseia o mercado e sustenta arbitrárias cumplicidades, não é o programa defendido pela FIL nem existirão outros recursos institucionais para o impor.
O próprio programa de compras criado pela FIL teve este ano o seu montante drasticamente reduzido, de cerca de 13 mil contos em 2001 para apenas cinco mil (25 mil euros). Foram adquiridas uma obra de Miguel Palma, uma estátua da Liberdade invadida por insectos rastejantes (na Canvas/João Graça) e fotografias de Augusto Alves da Silva (Pedro Oliveira), Júlia Ventura (Filomena Soares), da americana Lynne Cohen (Visor, Valência) e dos irmãos Rosado Garcés (Pepe Cobo, Sevilha). O director do Museu do Chiado voltou a liderar a escolha.
Várias das galerias espanholas apresentaram, com êxito variável, artistas portugueses com que trabalham, com destaque para Pedro Calapez (muito representado, com sucesso) e José Pedro Croft, acompanhados por Inez Teixeira, Julião Sarmento, Leonel Moura e outros. Entretanto, algumas outras galerias, como a Vértice, Siboney e Estampa, que trabalham com artistas jovens e pouco conhecidos (com preços que vão dos 300 aos 2500 euros, e, no limite máximo, aos 9000 euros), consideraram positivos os negócios realizados. Kely, uma jovem artista asturiana, ou Emílio González Sainz, este no âmbito de um grupo de pintores figurativos de cunho literário (onde se incluíam pequenas obras de Guillermo Pérez Villalta que não despertaram atenção), foram artistas que obtiveram grandes êxitos.
Muito diferente, ainda, foi a receptividade encontrada pela parisiense Patrice Trigano, que trouxe a Lisboa obras de figuras da modernidade como Matisse (um desenho de 1950 que ficou em Lisboa), Miró e Picabia (com perspectivas de venda), Masson, Victor Brauner e Vieira da Silva, num espaço que contou também com Júlio Pomar e com artistas mais novos como a pintora francesa Catherine Lopes Curval e a espanhola Carmen Calvo, ambas bem acolhidas. Claramente satisfeito com os resultados e também com a atenção do público, Trigano declarou-se interessado em voltar à Arte Lisboa, e é certamente com a presença de mais algumas galerias desta ordem que a feira pode escorar a sua vertente internacional e ampliar uma audiência que, apesar da crise, não é indiferente à qualidade e aos valores seguros.
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