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Arte Lisboa com nova dinâmica
Previstas 58 galerias num espaço alargado
EXPRESSO/Actual de 16-07-2005
A próxima feira Arte Lisboa, entre 24 e 28 de Novembro, na FIL, poderá corresponder ao início de um novo ciclo, depois de uma edição de 2004 marcada por deficiências de organização e de promoção, embora, também apesar da crise económica, os níveis de venda de muitos galeristas se tenham mantido satisfatórios. Sem alterar a fórmula empresarial e organizativa (que a distingue das feiras políticas altamente subsidiadas que são habituais em Espanha), a Arte Lisboa não contará com a designação de um país convidado, mas vai alargar o número das galerias (em princípio, de 51 para 58) e também o seu espaço, em cerca de mil metros quadrados.
Foram 75 as galerias que apresentaram a sua candidatura, incluindo 44 portuguesas, 16 espanholas, cinco alemãs e outras de diferentes países. Após a selecção feita pela respectiva comissão, a 5ª edição da feira deverá contar com a estreia de 15 galerias, seis portuguesas e nove estrangeiras. Em destaque estará a participação de duas importantes galerias brasileiras, já presentes na edição anterior, Celma Albuquerque, de Belo Horizonte, e Thomas Cohn, de São Paulo, bem como a vinda de uma russa, Stella Art Gallery, de Moscovo.
Sem estarem ainda concluídos os processos de inscrição, a alemã
Christa Schuebbe, de Dusseldorf, e as espanholas Horrach Moya (Palma de
Maiorca), Arte y Naturaleza, Metta e Muelle 27 (Madrid) encontram-se
entre as novas participantes, tal como as portuguesas João Esteves de
Oliveira, Sopro (ex-Parthenon) e Baginsky, de Lisboa (a última dedicada
à fotografia), bem como a 24b, de Oeiras. Entretanto, fica sem
sequência a presença de galerias africanas, que em 2004 procurou
apontar uma vocação específica à feira de Lisboa, apesar da respectiva
debilidade empresarial.
Com uma estrutura organizativa mais
empenhada (sob a direcção de Fátima Vila Maior, directora de feiras da
FIL, e a acção de Ivânia Gallo em dedicação quase exclusiva), a Arte
Lisboa iniciou mais cedo a preparação e dotou-se de uma orgânica mais
formal, em associação com entidades públicas e privadas do sector.
Além
de contar com o patrocínio do Presidente da República, que preside a
uma Comissão do Honra, foi criada uma Comissão Consultiva que participa
na definição das linhas gerais de actuação da feira, coordenada por
Joaquim Silva Pinto, do Conselho Estratégico para as Indústrias da
Cultura e Artesanato da AIP. Dela fazem parte o Ministério da Cultura,
através do Instituto das Artes, a Câmara Municipal e a Associação de
Turismo de Lisboa, a Associação Portuguesa de Galerias de Arte (APGA) e
a ADIAC Portugal, Associação para a Difusão da Arte Contemporânea.
A Comissão de Selecção foi constituída pelo presidente da APGA,
Pedro Reigadas (Arte Periférica), Manuel de Brito (111), Mário Teixeira
da Silva (Módulo), Luísa Sanpayo (Monumental) e os directores das
galerias espanholas Maria Llanos, Estampa e Siboney.
Prevêem-se
dois dias de debates, em parte dirigidos para os problemas do sector, e
também programas específicos de visitas e contactos para
coleccionadores e imprensa, incluindo jornalistas estrangeiros
convidados pela organização. A iniciativa «Lisboa Arte Kids» vai
ocupar-se do acolhimento e de actividades para crianças, enquanto o
programa «Clube Sponsors» procura associar empresas que manifestem a
intenção de fazer aquisições na feira (nos montantes mínimos de 10, 20
e 30 mil euros), atribuindo-lhes o estatuto especial de «sponsors» e
diversas regalias.
Um maior esforço de promoção deverá fazer
aumentar o público visitante, procurando-se assegurar à feira a
dimensão de um acontecimento no calendário cultural de Lisboa. Os
projectos para a feira de 2006, que podem passar pela extensão a um
segundo pavilhão, deverão ser anunciados já no decurso desta próxima
edição.
2 - Debates e lançamentos na Arte Lisboa
Na FIL, de 23 a 28 de Novembro
Expresso/Actual de 05-11-2005
As
questões do coleccionismo e do mercado vão ser debatidas em três
mesas-redondas a realizar no âmbito da Arte Lisboa, que decorrerá na
FIL de 23 a 28 deste mês. Sob o título «O olhar do coleccionador», a
primeira sessão, dia 24 às 17h, conta com a participação de cinco
coleccionadores que desempenham diferentes papéis no meio da arte: um é
também galerista, Mário Teixeira da Silva, director da Módulo, e outro
artista, Julião Sarmento, enquanto Miguel Wandschneider orienta as
aquisições da Culturgest para a CGD, Luís Augusto Teixeira de Freitas é
coleccionador privado e o moderador da sessão, António Veiga Pinto, é fundador e responsável pela ADIAC - Portugal, Associação para a Difusão Internacional da Arte Contemporânea.
No dia seguinte, a iniciativa pertence à APGA,
Associação Portuguesa de Galerias de Arte, que se propõe debater o tema
«Investimento empresarial / Fiscalidade e mecenato», com a intervenção
de representantes dos Ministérios da Cultura e das Finanças,
coleccionadores e um fiscalista com informação internacional. No dia
26, a mesa-redonda é patrocinada pelo Instituto das Artes e ocupa-se de
«Direitos privados e interesses públicos: a obra de arte contemporânea
entre o artista e o coleccionador», analisando os direitos do autor
sobre a sua obra e os que são adquiridos pelo comprador. Participam,
entre outros, João Pinharanda, presidente da secção portuguesa da AICA,
Associação Internacional de Críticos de Arte, como moderador, a jurista
Rosa Videira e Pedro Lapa, director do Museu do Chiado e consultor da
Fundação Elipse, entidade do Banco Privado para investimentos em arte,
com sede em Amesterdão.
Do programa fazem também parte apresentações de dois livros, um sobre
Jorge Martins, com texto de José Gil, publicado pelo BPI, e outro sobre
Miguel Palma, primeira edição da ADIAC, que terá um stand próprio na
feira. A associação, criada já em 2005, faz parte da comissão
consultiva do certame e está a organizar um programa especial para
coleccionadores convidados, nomeadamente estrangeiros, que inclui
visitas aos ateliês de Jorge Martins, João Louro, Julião Sarmento e
Miguel Palma e também a galerias, centros de arte e colecções, bem como
à Embaixada de França, que exibirá obras de jovens artistas reunidas
pela Agência de Arte Vera Cortez, uma das mais novas galerias admitidas
na feira de arte de Lisboa.
Será também lançada a nova série da revista «W-Art», que passa a ter
direcção de Miguel Amado e Alexandra Beleza Moreira, com uma diferente
linha editorial dedicada à apresentação de artistas, em versão bilingue
(trocando o espanhol pelo inglês) e com três números por ano, por
ocasião da Arco de Madrid, da feira de Basel e da Frieze de Londres e
Arte Lisboa.
3 - Apesar da crise
Aproxima-se a Arte Lisboa, com várias novas galerias
19-11-2005
Apesar da crise, ou graças a ela - será arriscado pensar que já há resultados positivos da imobilidade do Instituto das Artes? -, o mercado de arte aparenta um dinamismo que envolve a próxima Arte Lisboa, com inauguração no dia 23 (por convites), numa atmosfera de maior expectativa. A estrutura organizativa foi renovada e a FIL esforçou-se por tornar a feira um acontecimento do calendário cultural.
Com a grande visibilidade que confere às galerias, e espera-se duplicar a afluência para cerca de 20 mil visitantes, é uma oportunidade única para avaliar o estado geral do mercado e contactar com uma escolha significativa da arte que se vai fazendo. Sem esquecer que o mercado da arte conta com outros actores que são as instituições públicas, muito entrosadas com o jogo das promoções galerísticas e dos investimentos (a aliança entre a Fundação Elipse e o Museu do Chiado é só o caso mais gritante), e o chamado segundo mercado, onde actuam leiloeiras, galerias especializadas e «dealers» com ou sem porta aberta.
No mapa das participações na feira, podem apontar-se novas dinâmicas por parte de galerias históricas: na 111, a actividade crescente de Rui Brito, filho do fundador, integrado na equipa dos directores da casa; na São Mamede, a abertura de uma extensão ao Porto. Também já nesta temporada se assistiu à ampliação da Quadrado Azul para mais dois espaços na Rua Miguel Bombarda (Porto), e à transformação da Ara em Galeria Carlos Carvalho, com novas instalações e alargamento do leque de artistas. E, para além da mudança de nome da Parthenon, agora Sopro, e da aparição na feira, pela primeira vez, das galerias Valbom e Arthobler, há um conjunto de novos nomes que animam esta edição.
É o caso da 24B Arte Contemporânea, de Oeiras, com um programa de apresentação de jovens artistas; da Baginski Contemporary Photography, que tem mostrado novos fotógrafos desde 2002, alternando exposições e actividade «by appointment»; da Galeria João Esteves Oliveira, dedicada exclusivamente ao desenho e a trabalhos sobre papel; da Agência de Arte Vera Cortez, que começou em 2004 pela organização de eventos em diversos locais e abriu há pouco um espaço público; da VPF Cream Art, inaugurada há um ano por Vítor Pinto da Fonseca, um conhecido coleccionador, e ainda da Cubic, de mais eclética actividade.
Uma interpretação mais aberta dos critérios de selecção, por parte de um comité que incluiu Manuel Brito (111), Mário Teixeira da Silva (Módulo) e Luísa San Payo (Monumental), Pedro Reigadas (Arte Periférica), enquanto presidente da Associação Portuguesa de Galeria de Arte, e representantes das espanholas Estampa, Maria Llanos e Siboney, alargou a admissão sem preocupações quanto ao tempo de actividade ou ao número anual de mostras individuais, não prescindido de garantias mínimas de qualidade.
Se a participação portuguesa na feira deu um passo em frente, passando de 32 galerias em 2004 para 42 (e tinham sido 25 em 2001, quando a AIP/FIL assumiu por inteiro a organização e direcção da feira de arte; 28 em 2002 e 03), já a presença internacional continua a ser débil. A Espanha destaca-se com 13 galerias - mais uma que em 2004 (já foram 17 em 2002 e 2003, mas eram 25 em 2001, em paridade peninsular) -, contando-se ainda com duas alemães, uma brasileira (com a desistência inesperada da Celma Albuquerque, de Belo Horizonte), e a presença prevista duma galeria de Moscovo. O «resto do mundo» resume-se assim a Christa Schuebbe, de Dusseldorf (em parte dedicada a artistas chineses); à Walter Bischoff, de Estugarda e Berlim, já presente em 2003 (que anuncia Gerhard Richter e a portuguesa Marta Resende, entre outros nomes); à Bolsa de Arte, de Porto Alegre, em estreia, e à russa Stella Art Gallery. De Espanha vêm pela primeira vez, de Madrid, as galerias Metta, Muelle 27 e Arte y Naturaleza (editora de múltiplos originais, com vários artistas portugueses), mais Horrach Moya, de Palma de Maiorca, e La Caja China, de Sevilha.
Continua assim a notar-se tanto a ausência de grandes nomes internacionais (e por que razão viriam eles a Lisboa?) como a quase absoluta incapacidade de fixar as poucas galerias vindas de além-Pirinéus: uma de Praga em 2001; duas belgas e uma de Paris em 2002; em 2003, uma italiana que voltou no ano seguinte e outra alemã que agora reincide. Por outro lado, quanto ao Brasil, as seis galerias que foram convidadas por ocasião das comemorações de 2000 nunca regressaram, e ficou sem sequência a opção, trabalhada por António Pinto Ribeiro, no ano passado, de uma direcção estratégica voltada para o espaço lusófono (quatro do Brasil e duas de Moçambique, que não eram exactamente galerias comerciais). Perdeu-se a possibilidade de imprimir à Arte Lisboa um perfil próprio face à concorrência espanhola, mas a sua eficácia teria de passar pela articulação com instituições coleccionistas e entidades da Cooperação que sustentassem aquisições e/ou deslocações de além-mar - repete-se a incapacidade nacional para manter qualquer continuidade estratégica e o provincianismo que incita a fazer o mesmo que os outros, diluindo qualquer ensaio de originalidade.
No pavilhão da FIL, as galerias com espaços maiores (144 metros quadrados) vão ser a Mário Sequeira, de Braga, a Arte Periférica e a VPF Cream Art, seguindo-se no escalão imediato (126 m2) a Vértice (Oviedo), 111, Filomena Soares, Metta, Módulo, Carlos Carvalho, 24B, São Mamede, Fernando Santos, Sala Maior e Perve. Notar-se-á depois que um quadrado de galerias formado ao centro da área final da feira agrega os espaços mínimos (36 ou 54 m2) da Lisboa 20, Quadrado Azul, Vera Cortez, Palmira Suso, Jorge Shirley, Pedro Oliveira, Graça Brandão, Baginski, Pedro Cera e Cristina Guerra - algumas delas galerias de primeiro plano.
Manifestam-se nesta geografia certas tensões que marcaram o caminho da edição deste ano (chegou-se à beira da cisão, com a alternativa de uma selecta feira de hotel, a exemplo das periferias espanholas). E adivinham-se também diferentes posições quanto ao modelo a seguir na edição de 2006: apertar a selecção apontando ao modelo dirigista de uma pequena feira mais «cutting edge» (as tendências ditas de vanguarda ou emergentes), com apoios institucionais que tornassem confortável a vinda a Portugal de meia dúzia de galerias de ponta; ou manter uma estratégia de verdade do mercado, alargando a feira a um segundo pavilhão, talvez com o reforço do programa cultural pela apresentação de uma ou duas colecções. A alternativa vai atravessar as conversas da feira, mesmo que não tenha expressão pública nas três mesas redondas anunciadas (dias 24, 25 e 26 às 17h) sobre coleccionismo privado e empresarial.
Arte Lisboa
FIL, Parque das Nações, 24 a 28
4 - Pelos labirintos do mercado
A melhor edição da Arte Lisboa, ainda que sejam poucas as galerias estrangeiras
26-11-2005
Pode detestar-se a quantidade, a cacofonia, a promiscuidade de obras e de públicos (mesmo se é folgado o espaço da FIL), e querer para a arte outras condições de recolhimento. Mas uma feira concentra num espaço único as (melhores) galerias do país, e algumas estrangeiras, e num tempo breve um número de visitantes superior ao dos que as frequentam em todo um ano. É uma versão actualizada dos antigos salões, ou mais transparente das novas bienais, que exibe a realidade da produção da arte, e em especial a mecânica da promoção de «valores seguros» e de novidades, como um mercado de compra e venda. É um absurdo tomá-la, em Madrid, como o centro do calendário artístico, mas é, em Lisboa, uma oportunidade de ampliar a circulação da arte e de pôr em confronto as suas várias dinâmicas, proporcionando democráticas condições de visibilidade a todos os artistas, e em especial aos que, por circunstâncias às vezes injustas, não se incluem na lista afunilada dos que têm espaço institucional e/ou mediático.
Com uma organização mais competente, a edição deste ano ganhou estatuto de acontecimento e projecção pública, para lá das rotinas e dos pequenos círculos do «mundo» da arte. Um programa dinamizado por coleccionadores da ADIAC (Associação para a Difusão Internacional da Arte Contemporânea) assegura alguns visitantes estrangeiros e um programa social; o Turismo de Lisboa traz jornalistas de fora; o projecto de um Clube Sponsors garante compras empresariais no valor de cem mil euros (não daria para uma obra importante, se fosse um bolo unificado, e não é). São achegas para dinamizar o evento, mesmo se a crise parece não se reflectir demasiado no comércio da arte. E talvez até incentive uma competitividade com efeitos positivos na selecção das obras e na criatividade dos artistas.
Não faltam, então, obras com interesse e também jovens desconhecidos com aparições promissoras, enquanto as galerias que aparecem pela primeira vez constituem outro pólo de atenção desta edição da Arte Lisboa (por exemplo, a 24b, de Oeiras). O destaque maior poder ir para o quadro de Menez exposto na VPF Cream Art, uma magnífica obra de 1984 que nos devolve o contacto com uma pintora grande e pouco visível. Outras presenças marcantes são as de Jorge Martins, acompanhando o lançamento de um álbum do BPI; as de Graça Morais e Fátima Mendonça, paralelas a grandes exposições em agenda; ou as pinturas de João Jacinto na Módulo, as novas composições «scanadas» de Pedro Proença, as fotografias a cor (série «Anjo da Guarda») de José Manuel Rodrigues na Sala Maior. Estas sublinham a presença muito forte de fotógrafos na feira, das imagens já «clássicas» de Gérard Castello-Lopes e Nozolino aos inéditos (ou quase) de Augusto Alves da Silva, António Júlio Duarte, Maçãs de Carvalho, Joana Pimentel, André Príncipe, Daniel Malhão e alguns outros.
No campo das aparições de novos artistas - há sempre bons alunos nas escolas, a questão é como consolidar a continuidade do trabalho e sobreviver entre vagas anuais de finalistas -, uma primeira visita permitiu anotar os desenhos digitais de Nuno Moreira na Pedro Cera; os objectos de Teresa Henriques (Pedro Oliveira); os desenhos de Rudolfo Bispo (Monumental); as esculturas em pedra de Ricardo Mourinho (Arte Periférica); as pinturas de André Silva (24b) e de João Belga (Palmira Suso); os vários trabalhos de Cecília Costa - sem que a enumeração se restrinja a estreantes.
Entretanto, a Arte Lisboa tem uma notória falta de galerias internacionais de primeira linha, o que não se resolve por magia nem deve solucionar-se por contratações ocultas. Fica como questão em aberto, que não deve ser dramatizada, saber se a feira poderá ultrapassar a relevância que já ganhou no espaço nacional. Destaca-se este ano a presença da galeria de Moscovo, a Stella Art, logo à entrada, que trouxe objectos de parede de Anatoly Osmolovsky, um nome com referências, e fotografias picturais de carros acidentados da jovem Xenia Gmilitskaya (mas problemas de transporte impediram a chegada de peças de grande formato). Significativa é também a participação alemã de Christa Schübbe, com alguns artistas chineses, e de Walter Bishoff, que trazem algum toque cosmopolita, além dos brasileiros (Cristina Canale, Walmor Corrêa) da Bolsa de Arte.
Já as galerias espanholas dão uma pálida imagem do que existe para lá da fronteira, com ressalva para o campo das obras gráficas representado por Arte & Naturaleza e La Caja Negra. É, aliás, entre a oferta das galerias portuguesas que é mais relevante a presença de artistas espanhóis, no caso das fotografias de Isabel Muñoz (mulheres Surma, da Etiópia) na Mário Sequeira; dos também fotógrafos Manolo Bautista e Jacobo Castellano na Pedro Oliveira; ou do pintor catalão Eduardo Arbós na VPF.
Até segunda-feira, a Arte Lisboa fica os dispor dos interessados, com a sua labiríntica diversidade.
5
Contas feitas
03-12-2005
Mais público e vendas mais difíceis
Os efeitos da crise económica sentiram-se na Arte Lisboa, mas foram abertamente positivos outros indicadores. Cresceu a afluência do público, até ao total de 14.642 visitantes (perto de 50 por cento mais), sem que a promoção da feira fosse muito visível na cidade - os responsáveis pela Câmara, presidente e vereador da Cultura, asseguraram maior apoio no próximo ano. Aumentaram também a eficácia da organização e a rede de patrocínios oficiais, além de se multiplicarem as iniciativas ao longo dos seis dias de funcionamento, em especial com lançamentos de livros e catálogos. Ivânia Gallo, a nova gestora desta edição, assumiu já a direcção da próxima feira, que deve manter o mesmo modelo e aperfeiçoar a qualidade geral, no sentido de reforçar a selecção de galerias e procurar assegurar algumas presenças internacionais de maior notoriedade.
A vitalidade aparente que tem exibido o sector galerístico, com a abertura de novas galerias e a constante aparição de jovens artistas com méritos (muito para além dos incluídos nos cinco concursos promovidos este ano por entidades públicas e empresariais), esteve bem patente no espaço alargado da FIL, onde se exibiu um panorama amplo e muito diverso da realidade artística portuguesa. Quanto aos resultados comerciais, que são a razão de ser e o objectivo da feira, as conclusões são variáveis: alguns balanços pontuais que referem as maiores vendas de sempre, uma mais geral satisfação mitigada, assente em geral na venda de obras de novos artistas a baixos preços (com resultados globais de 20 a 40 mil euros em galerias prestigiadas), e também casos de insucesso.
Só a Galeria Filomena Soares referiu o êxito obtido com obras de maiores valores (até aos 82 mil euros), de estrangeiros como Imi Knoebel, Günther Förg, Pia Fries e Katharina Grosse, ou de Jorge Martins. Outras presenças notoriamente bem sucedidas foram as da Módulo, com um renovado conjunto de jovens artistas; de Carlos Carvalho, mantendo a presença dos artistas que lançou e juntando-lhes novos nomes; e também de Graça Brandão, Pedro Oliveira e Presença, enquanto Cristina Guerra optou pela apresentação de uma única obra, um vídeo de João Onofre.
A presença de Miguel Palma, com uma actuação pública na abertura e lançamento de um livro sobre o seu trabalho, e a representação de Mário Cesariny e de Amâncio (Pancho) Guedes na Perve foram outros pontos com visibilidade, num contexto plural onde se puderam igualmente sinalizar presenças mais discretas, como a de Catarina Lina Pereira (na Alvarez). Quanto às participações internacionais, verificaram-se respostas positivas por parte de coleccionadores, comunicadas por galerias como a Bolsa de Arte, de Porto Alegre, Horrach Moya, de Palma de Maiorca, ou mesmo Stella Art, de Moscovo, todas elas estreantes em Lisboa.
As feiras são propícias a que se imponha no mercado de arte (como nas áreas da moda e dos «gadgets») a lógica implacável de promoção das novidades, o que favorece a atenção prestada à aparição de novas galerias, como a VPF Cream Art, a Agência Vera Cortez, João Esteves Oliveira, a actuar no âmbito do desenho, a Baginski, dedicada à fotografia mas com projectos de ampliar a área de actuação, e também a 24b, multiplicando a visibilidade do seu espaço em Oeiras, todas elas com presenças salientes. Verifica-se o mesmo comportamento com a revelação de jovens artistas, cujas obras de baixo preço (€1000/€4000) são muitas vezes abordadas numa lógica de investimento de curto prazo, pouco compatível com a maturação lenta das carreiras. É uma dinâmica com consequências perversas, onde a necessidade de rotação da oferta por parte do mercado mais agressivo se encontra com a lógica da afirmação de novas tendências que noutros tempos sustentou o movimento das vanguardas.
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