Ensaio sobre Portugal
Olhares estrangeiros e estrangeirados em Paris
Expresso Actual de 14-05-2005
capa com foto de Tod Papageorge, O Tejo, Belém, 1989
Em 1991, a Caixa Geral de Depósitos contribuiu com 26 fotografias para a exposição «Regards Étrangers», que constituía uma das secções da representação fotográfica «Portugal 1890-1990», levada ao Festival Europália, na Bélgica (por sinal, Joshua Benoliel teve então a sua primeira antologia condigna, embora breve, a cargo de António Sena, comissário geral da representação). Ao contrário de outras grandes exposições da Europália’91, que foram depois exibidas no país e contribuíram para renovar o panorama expositivo (e até estiveram associadas à dinamização do Instituto Português de Museus), a fotografia perdeu-se pelo caminho e até hoje ainda não se reencontrou.
Adquiridas expressamente para o efeito, as tais 26 fotografias vinham completar um núcleo mais alargado de imagens realizadas por estrangeiros em Portugal que faziam parte da Colecção Nacional de Fotografia e, ao mesmo tempo, davam início a uma secção da colecção da CGD dedicada à fotografia. Jorge Calado foi o responsável por estas várias iniciativas.
Cerca de 15 anos depois, o Centro Cultural Calouste Gulbenkian, em Paris, retoma o tema na exposição «Dedans-Dehors. Le Portugal en Photographies», a inaugurar na próxima terça-feira (dia 17), apresentando obras da colecção da CGD - é, aliás, o início de uma nova orientação do Centro, que deixa de apresentar só produções próprias e vai dar prioridade à parceria com outras instituições (a intenção reformadora é mais ampla e passa pela futura transferência das actividades culturais para outro edifício).
Como as referidas 26 fotografias não bastavam para constituir um panorama representativo e consistente do enorme interesse que Portugal despertou em grandes fotógrafos internacionais ao longo das décadas de 1940 a 1980 - é esse o ponto de partida do projecto de Jorge Calado, que é outra vez o seu comissário -, o núcleo foi alargado com a aquisição de mais 36 imagens de diversos autores e diferentes épocas (de Cecil Beaton, Thurston Hopkins, E. O. Hoppé a Sarah Moon, Leo Rubinfien e Laurent Millet, autores de trabalhos recentes), mas obviamente com a preocupação de não repetir imagens já existentes noutras colecções. Entretanto, alargando o leque dos autores que interrogaram o país a partir do exterior, a exposição passou também a contar com os olhares «estrangeirados» de Gérard Castello-Lopes, Paulo Nozolino e José Manuel Rodrigues, de Alberto Carneiro e ainda do moçambicano Ricardo Rangel.
No total, uma sequência de 52 imagens, também reunidas num catálogo, estabelecem um itinerário não cronológico através de múltiplos olhares, com imagens clássicas, descobertas e revelações, que se percorre como um ensaio sobre Portugal, feito de diferentes tempos e lugares, de mitos e emblemas, permanências e transformações, fatalidades e esperanças (entre outras, a esperança que a colecção não volte a deter-se e a que a exposição circule).
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«Olhares Estrangeiros»
Fidelidade-Mundial Chiado 8
Expresso/Actual de 03-12-2005 (nota)
As fotografias de Portugal realizadas por estrangeiros foram uma das
direcções seguidas na colecção reunida em 1989- 90 para a antiga SEC, e
o tema ampliou-se por ocasião da Europália’91 graças a novas aquisições
tornadas possíveis pela CGD. Este último núcleo cresceu para a
exposição «Dedans-Dehors» na Gulbenkian de Paris já em 2005 e Jorge
Calado voltou a dar-lhe nova configuração, algo ampliada. Entre os 28
autores das mais de 60 imagens (com um notável catálogo) incluem-se
também os «estrangeirados» como Castello-Lopes, Nozolino e José M.
Rodrigues e ainda Alberto Carneiro, além do caso singular do
moçambicano Ricardo Rangel, o que coloca em análise a diferença entre
olhares e interesses de nacionais e estrangeiros. Num percurso balizado
por tópicos temáticos e ligações formais, sem cronologia nem
hierarquias, onde alguns comentários escritos do comissário abrem
pistas e interrogações, os retratos do país, entre passado e presente,
entre mitos e realidades, põem-nos ao espelho e em questão. Com as
assinaturas consagradas de Cecil Beaton e Cartier-Bresson ou os olhares
mais recentes de Tod Papageorge e David Stephenson. (Até 31 Jan.)
VER 2006
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