1995* (96* Porto) 1997* 1999
novo local . o Parque das Nações
FIIC + FAC'99
32 galerias port.
1 - FAC-FIIC, FIL
Expresso Cartaz de 20-11-1999
De 30 a 40 MIL visitantes são esperados pelos responsáveis da Feira de Arte Contemporânea (FAC' 99), que decorrerá a partir de terça-feira, na FIL, integrada na Feira das Indústrias Culturais. A nova localização no Parque das Nações e a evolução positiva do mercado de arte poderão, assim, fazer duplicar a frequência registada na anterior edição, em 1997, que ultrapassou 20 mil entradas. A afluência às feiras de arte representa um alargamento significativo do público que contacta com as galerias, multiplicando por cerca dez o número dos que regularmente as frequentam ao longo do ano, em Lisboa ou Porto.
Serão 32 as galerias presentes, um total em que se incluem 14 de Lisboa, 11 do Porto, mais uma com espaços nas duas cidades (a 111), e outras instaladas na Costa da Caparica (Almadarte), Setúbal (Cogito), Funchal (Edicarte), Almoçageme (Gilde, vinda de Guimarães), Tibães/Braga (Gal. Mário Sequeira) e Aveiro (Santa Joana). Se a quase totalidade das galerias de primeiro plano estará na FAC (faltará a Módulo, devido à proximidade com a feira de Colónia), voltarão a não estar presentes galerias estrangeiras, tal como aconteceu nas duas edições anteriores em Lisboa, em 1995 e 97, enquanto a feira de 96, realizada no Porto, incluiu algumas galerias da Galiza.
Tal não significa, no entanto, que não vão estar representados numerosos artistas de outros países, especialmente de Espanha e Brasil. Por exemplo, a Galeria André Viana, do Porto, anuncia obras dos britânicos Anish Kapoor e Tony Cragg, bem como do brasileiro Artur Barrio; António Prates, de Lisboa, inclui Erro, Lindstrom, Luis Feito, Martin Barré, Klasen e Canogar; a Canvas, do Porto, apresentará os brasileiros Lygia Pappe, Efrain Almeida e Victor Arruda; a Dário Ramos conta com obras de Mompó, Millares, Saura e Chirino; Fernando Santos propõe Penk, Jorge Galindo, Carmen Calvo e Jaume Plensa; Mário Sequeira terá Baselitz, Clemente, Gehrard Richter, Richard Long e Andy Warhol – sem esgotar a lista que foi previamente comunicada.
Contando com um subsídio de oito mil contos do Instituto de Arte Contemporânea, metade dele investido no catálogo e na promoção, a FAC é, paradoxalmente, mais cara do que a Arco. A feira de Madrid é largamente sustentada por dinheiros públicos e, por outro lado, as galerias portuguesas têm sempre contado aí com fortes subsídios.
Entretanto, António Bacalhau, director da Galeria Palmira Suso e presidente da Associação Portuguesa de Galerias de Arte, salienta que a feira terá um carácter selectivo sem deixar de apresentar uma oferta artística plural e de grande diversidade. Por outro lado, refere o aparecimento crescente do que chama um «mercado de necessidade», aberto a mais largos estractos sociais, para além dos que são motivados pelo prestígio ou pelo investimento, a revelar que o gosto pela arte e o hábito de a comprar se têm vindo a democratizar. (Dias 23 a 28)
2 - O salão democrático
Expresso Cartaz, 27 Nov. 99, Actual
NÃO se perceberá porque é que a feira de galerias serve ainda de fachada à chamada FIIC, confundindo-se comércio da arte com indústria (cultural), enquanto as propriamente ditas, ausentes ou irreconhecíveis, dão lugar ao amadorismo, no espaço envergonhado do fundo do pavilhão. Não importa. A Feira de Arte Contemporânea (FAC) alojada nos novos espaços da FIL ao Parque das Nações é um êxito, uma iniciativa meritória, um panorama esforçado e digno do que se faz e procura vender em Portugal.
O lugar é amplo e o design agradável; a admissão das galerias, coordenada pela respectiva associação (APGA), fez-se com acertado cuidado, sem impedir a diversidade necessária a vários gostos e posses; a montagem da maioria dos stands foi feita sem atropelos e as obras foram escolhidas, representando a actividade regular das galerias e, por vezes, enriquecendo-se com peças datadas, quando é a rectaguarda mais ou discreta do segundo mercado que sustenta a montra «contemporânea». Logo nas primeiras horas circularam alguns notórios coleccionadores e muitas obras ficaram imediatamente reservadas.
Cumprindo a vocação de ampliar o pouco público que frequenta regularmente as galerias e estimular as vendas, a feira assegura hoje, sem júris nem prémios, a missão que cabia aos antigos salões e às grandes colectivas da Sociedade de Belas Artes e do Palácio Foz, dando a ver transversalmente o estado de coisas no terreno da criação ao colocar no mesmo espaço o que circula em diferentes segmentos do mercado. É um fenómeno essencialmente democrático que, num contexto onde museus e instituições se fecham sobre as suas estratégias crípticas, mais ou menos autistas, recentra a circulação da arte no diálogo com o espectador-consumidor que, para além de visitar exposições, convive quotidianamente com os objectos que adquire e colecciona, com os quais constrói ou «decora» o seu espaço vital. Sem esquecer o capítulo do investimento, com os seus méritos e perversões.
A FAC não é uma ARCO ou uma FIAC e muito menos se aproxima das grandes feiras de Basileia e Colónia, como é natural, atendendo à escala dos negócios e à distância a que estamos. Trata-se de jogar em casa o campeonato local (com muitos nomes internacionais a abrilhantar as equipas, tantas vezes a enganar o pacóvio), mas felizmente que o MC não se lembrou de apostar em fazer da feira um festival, transformando o necessário negócio privado da arte num «affaire» de Estado, de afirmação nacional e capitalidade cultural, como sucede em Madrid. Instituições para um lado, com os seus museus-laboratórios e funcionários-comissários, os seus gostos volúveis e «cachets» para artistas instaladores, assegurando um mercado administrado selecto e provavelmente internacionalizável, quanto baste; mercado livre para outro, aberto e plural, indisciplinado e incontrolável (menos manipulável), comercial e decorativo, como acusarão alguns especialistas. A divisão dos campos, assim facilmente identificáveis, é salutar.
Com 32 galerias, do Minho (Braga) a Setúbal (aliás, até ao Funchal), embora Lisboa e Porto partilhem a esmagadora maioria (14 e 11, com mais uma a jogar em ambas as cidades, a 111), oferece-se um panorama aproximado do que se produz e põe em circulação no domínio das artes visuais. As galerias de primeira linha (classificação discutível, com a mobilidade comercial e cultural que se tem verificado, desregulando os critérios tradicionais) não faltaram à chamada e todas elas, grandes e pequenas, se esforçaram por esmerar a oferta, muitas vezes reservando para a ocasião obras em estreia e sacando os clássicos possíveis das reservas. Sem beneficiar os faltosos, aponte-se só a ausência decisiva da Módulo, que optou por apresentar-se em Colónia e deixou de fora umas duas dezenas de artistas – até por ser uma das raras galerias a assegurar e exigir regimes de exclusividade –, e por razões variadas (a FAC é cara, sem ter os subsídios da ARCO), também a falta das galerias Pedro Cera e Luís Serpa.
Entretanto, é bem visível a diferença que se foi estabelecendo entre os estabelecimentos de Lisboa e do Porto, situando a Norte, com a presença de muitos artistas da capital, a circulação mais afirmativa, sem cuidar de saber sobre que bases (financeiras, sociais e culturais) ela se sustém. Para o espectador lisboeta, a vinda das galerias do Porto é outro dos atractivos da feira.
Do seu núcleo duro, que não se reduz ao pólo de animação da Rua Miguel Bombarda, fazem parte as galerias Fernando Santos, Pedro Oliveira e André Viana, Quadrado Azul, Canvas e Presença. Mas é ainda mais a Norte, exactamente numa antiga quinta de Parada de Tibães (Braga), que o mercado nacional tem agora o seu possível topo: Mário Sequeira, galerista e médico, expõe a tela recorde da feira, um 20 $ Signs de Andy Warhol que valerá uns 115 mil contos para apreciadores, ao lado de outros «tops» internacionais: uma grande tela sofrível de Baselitz, um Clemente algo mais razoável, um Richter da fábrica abstraccionista, um grande círculo de pedras de Richard Long, uma «photo piece» da dupla Gilbert & George tendência «soft». Perto das vedetas, Cabrita Reis com um «estudo» para o Cabinet d'Amateur de Serralves, mais Baltazar Torres e Luís Coquenão, e também alguns muito jovens artistas que o galerista vem acompanhando com êxito, numa outra louvável frente de actuação, em que se incluem Manuel Caeiro, Natacha Marques e Rui Macedo. A que se junta ainda um jovem italiano que agora é exposto em Tibães, Cristiano Pintaldi, com uma estranha pintura de execução virtuosística reproduzindo com aparência de imagem vídeo uma cena de ficção científica.
Mais brevemente, aponte-se a presença individual de Ilda David em metade da gal. Fernando Santos, também com estudos desenhados de Fátima Mendonça para as pinturas mostradas no Porto. O sólido grupo «anos 80» de Pedro Oliveira, prolongado na Quadrado Azul com mestres anteriores. Dois vídeos (objectos menos propício à decoração doméstica, de consumo incerto) em exibição na André Viana, de Francisco Queiroz, e na Presença, de João Onofre. Mais uma grande escultura recente de Rui Chafes na Canvas.
Depois, alargando o circuito, ao acaso de uma primeira visita, outras notas soltas. Na 111, uma pintura inédita de Batarda, as «Sombras e Chocolates» de Lourdes Castro, de 65-66, e Ana Vidigal, recém-premiada. As apostas continuadas da gal. Palmira Suso, com duas sentidas naturezas mortas morandianas de Pedro Chorão. O largo leque da Cesar. Um «monumento» de Boltanski e um monócromo recortado de Joh, na João Graça. O animalismo fotorrealista de João Cruz Rosa na Gilde, em mostra individual, tal como sucede a Sá Nogueira na Dário Ramos, sem sustentar o interesse da obra passada. O academismo de Gil Teixeira Lopes canonizado na São Francisco e Sta Joana.
Mas outro dos aspectos mais salientes da feira é a presença numerosa de jovens artistas descobertos e acompanhados por galerias que se visitam ou de que se fala com menos frequência, novos em começos de carreira, mais desprotegidos ou de afirmação mais lenta, menos arregimentáveis pelas categorias dominantes. Podem estar na Ara (José Lourenço), Arte Periférica (Alexandre Cabrita), Alvarez (Nazaré Álvares), Serpente (Miguel Seabra), na Trindade, na citada Mário Sequeira, etc.
Comments
You can follow this conversation by subscribing to the comment feed for this post.