Niassa, "Terra Incógnita", de Sérgio Santimano, nos 7ºs Encontros de Bamako, que se iniciam no sábado. A Finlândia é este ano o país convidado (em 2006 foi a Espanha) e Santimano, que reside na Suécia, é a única presença da África lusófana.
Da série ”terra incógnita” Niassa-Moçambique 2001-2005. Em cima, a primeira imagem do livro (uma janela aberta e uma cabeça em contra-luz, o perfil jovem e determinado de um observador interveniente, com quem o autor se identifica) - "Marrupa – Escola secundária – 2003"; em baixo, "Matondovelas - danca tradicional feminina-2001".
As fotografias expostas em Bamako ("Dans la ville et au-delà" - Musée National du Mali) publicaram-se no livro "Terra Incógnita", que Sérgio Santimano editou em Upsala/Suécia em 2006, na sequência de um projecto de trabalho dedicado à província do Niassa, a mais distante de Maputo, palco decisivo da luta da independência e imenso território ainda praticamente virgem, aonde estão a chegar novas marcas de desenvolvimento económico e social.
As viagens do fotógrafo iniciaram-se em 2001-2003 e concluiram-se em 2005 de forma a acompanhar alguns marcos da reconstrução do Niassa após o termo da guerra civil, na área das estradas e da energia eléctrica. É um trabalho directamente comprometido com a população da província e com o seu desenvolvimento - "terra épica de Moçambique e lavra do futuro", escreve S.S.
Marrupa – Escola secundária- 2003; em baixo,“ Na minha tenda”, Mbatamila – Reserva do Niassa- 2002 - a última imagem do livro: (também uma janela, vista do interior, com a paisagem exterior semi-oculta pela rede, e agora percorrida pela pequena osga).
De um preto e branco que recorta esculturalmente as formas, sublinhando a beleza das emoções, a uma cor mais documental, S.S. amplia os seus meios de trabalho. Entre o álbum fotográfico e o registo informativo da transformação da paisagem, são várias as dimensões convergentes deste projecto e deste livro - tornado possível por dinâmicas internacionais de apoio ao povo moçambicano e profundamente comprometido com ele.
o livro:
TERRA INCÓGNITA by Sérgio Santimano. M'siro (ed. do autor), Uppsala, Suécia, 2006), n. pag., 600 MT. Textos do autor, Albino Magaia, Henning Mankell, Bo Hammarstrom e Luís Carlos Patraquim (bilingue, port-ing., P/B e cor, fotos de 2001-03 e 2005)
Discípulo de Ricardo Rangel no início dos anos 80 (na revista "Domingo"), S.S. publicou trabalhos fotográficos na "Grande Reportagem", expôs nos Encontros de Coimbra ( 16ºs - de 1996 ), no Arquivo de Lisboa em ( 1997 ) , nos Encontros de Bamako (1998, abaixo), na colectiva "Iluminando Vidas" ( Porto, 2004 ). Com base na Suécia e com sucessivas viagens a Moçambique tem vindo a construir uma crónica das dificuldades e da reconstrução do país, marcado por uma explícita vontade de optimismo. Na linha de uma tradição humanista que é também a de Sebastião Salgado, o retrato das várias regiões de Moçambique que tem explorado é simultaneamente uma homenagem e uma declaração de confiança na serenidade da gente que sorri olhando para a câmara.
Mais informações sobre Bamako
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"Fotógrafos de África"
Os 3ºs encontros de Bamako, 1998
Expresso Cartaz de 19-12-98, Actual p. 4
Fotografia de Sérgio Santimano, Cabo Delgado
DE DOIS em dois anos, a fotografia africana reúne-se em Bamaco, capital do Mali, com o apoio decisivo das estruturas da cooperação francesa (em especial, da associação Afrique en Créations, de Paris) e, de novo, sem a participação ou a presença da cooperação portuguesa. António Ole e Sérgio Santimano, de Angola e Moçambique, respectivamente, estiveram presentes como representantes da área lusófona.
O Gana é o país em destaque nos III Encontros de Fotografia Africana de Bamaco. Os festejos da independência, em 1957, presididos por N'Krumah, constituem o tema de uma das mostras, a par de uma recolha de antigos e actuais fotógrafos de estúdio e de mostras colectivas sobre os casamentos tradicionais e sobre o boxe, o desporto mais popular no país.
Outras participações incluem a Argélia, com o fotógrafo Omar D., activo desde 1971, Marrocos, representado por Nabil Mahdaoui, e a Tunísia, com Hichem Driss, todos eles implicados em projectos de identificação cultural das sociedades a que pertencem. Mais extensa é a presença da África do Sul, com uma recolha histórica de retratos de famílias negras das classes médias, uma colectiva de jovens fotógrafos formados no Instituto de Promoção do Jornalismo de Joanesburgo e ainda mostras individuais de Georges Hallet, Rafs Mayet, Themba Radebe e Cedric Nunn.
António Ole, que é um artista plástico com uma trajectória reconhecida, apresenta sob o título «Díptico» um conjunto de fotografias juntas em painéis duplos, com segmentos de fachadas de casas e paredes, organizados segundo contrastes ou afinidades formais, a cor e as marcas estratificadas do tempo.
Sérgio Santimano, que recentemente expôs no Arquivo Fotográfico de Lisboa, expõe um trabalho de reportagem sobre Cabo Delgado. Depois da guerra e à distância dos mais habituais testemunhos sobre a pobreza africana, o fotógrafo pretende mostrar «uma nova respiração social» no seu país, «longe das imagens correntes de violência, da fome ou das famílias abandonadas».
Nos encontros participam igualmente a Costa do Marfim, Madagáscar, Egipto e Nigéria, para além do país de acolhimento, o Mali, que prossegue, depois da descoberta de Seydou Keita e Malick Sidibé, a pesquisa de uma grande tradição africana de fotógrafos de estúdio, agora com Félix Diallo, os irmãos Traoré e Touré M'Barakou.
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