As primeiras feiras:
1987 - Marca-Madeira, Funchal
1988 - Forum de Arte Contemporânea, Forum Picoas
1988 - 1ª Feira Internacional das Indústrias da Cultura - FIL (AIP/SEC)
1989 - Forum de Arte Contemporânea, Forum Picoas
1995 - FIIC (AIP) e Feira de Arte Contemporânea (APGA) - FIL
26 galerias:111, Luis Serpa (+ Museu Temporário), Alda Cortez, Graça Fonseca, Valentim de Carvalho, Monumental, Palmira Suzo e Arte Periférica,
1991, Míron-Trema, Ygrego, São Bento, Altamira, Barata, Artela, Ara e Arte em Voga
Gal. de Colares e Almadarte
Pedro Oliveira, Quadrado Azul, Símbolo, Fernando Santos, Dário Ramos, or Amor à Arte, Afinsa-Trindade.
Gilde (Guimarãres) e Mário Sequeira (Braga)
Centro Cultural S. Lourenço
1 - Expresso Cartaz de 27-05.95
Os universos da cultura, no mais amplo dos sentidos da palavra cultura, vão estar presentes em Novembro, na FIL, numa Feira Internacional das Indústrias da Cultura, actualmente em preparação acelerada. Em simultâneo deverá decorrer uma feira de galerias de arte, retomando um processo iniciado nos dois «Forum de Arte Contemporânea» que se realizaram em 1988 e 1989, com êxito de público e de mercado, no Forum Picoas.
A FIIC está a ser preparada com o apoio de uma comissão promotora que acolhe personalidades oriundas de múltiplos sectores da cultura, da comunicação, da ciência, da moda e sectores afins, traduzindo um propósito de cooperação entre sectores institucionais e económicos, de acordo com o modelo alargado que a Associação Industrial Portuguesa quer imprimir à sua iniciativa.
Dessa comissão fazem parte Carlos Avilez (Teatro Nacional), Águeda
Sena, Madalena Bráz Teixeira (Museu do Traje), Artur Anselmo, António
L. Pinto de Sousa (APEL), Carlos Barbosa, Carvalho Rodrigues (INETI),
Eduardo Gageiro, Elsa Saque, João Bénard da Costa, João Cutileiro, José
Atalaia, o artesão José Medeiros, Manuel Cargaleiro, Maria Helena
Carvalho dos Santos (associação de estudo do século XVIII), Rosalina
Machado (publicidade), Vitor Nobre (moda) e António Borga (SIC),
prevendo-se ainda mais participações. Pelas galerias de arte, cuja
associação está actualmente em processo de redinamização, deverá fazer
parte da comissão o galerista Luis Serpa.
Uma primeira edição da Feira das Indústrias da Cultura realizou-se em 1988,
no momento em que se promoviam em Portugal as primeiras iniciativas em
torno do mecenato cultural, por iniciativa oficial, e também em que se
procurava implantar a dignidade do conceito de indústria cultural,
contra a falsa ingenuidade daqueles que pretendiam ignorar que, por
exemplo nos sectores da edição de livros e discos, as realidades
económicas das respectivas actividades culturais já não poderiam
definir-se, em geral, como artesanais.
Nesse ano, a referida feira foi organizada pela AIP em resposta
a um repto lançado pela Secretaria de Estado da Cultura, e
concretamente por Teresa Patrício Gouveia. A sua organização seria
marcada por um muito evidente voluntarismo das instituições oficiais,
presentes com um muito forte impacto visual dos seus pavilhões.
Passados sete anos, a nova edição da Feira das Indústrias Culturais,
agora com ambição internacional, corresponde essencialmente à vontade
de afirmação da AIP na área económica da cultura, que, segundo Gabriel
Cunha, da comissão organizadora, foi até agora deixada «a descoberto»
na sua programação ou restringida a alguns sectores específicos.
Prevê-se que a FIIC se venha a realizar pelo menos de quatro em quatro
anos. Por outro lado, a feira de galerias de arte deverá ter
periodicidade anual, realizando-se alternadamente em Lisboa e no Porto.
O projecto deverá contar com uma componente comercial mais forte do que
em 1988, em relação à participação institucional, estando prevista a
programação de eventos paralelos que reforçarão a sua dimensão
internacional. Do actual organigrama de trabalho fazem parte seis áreas
não estanques: artes do espectáculo, Belas-artes, artes da comunicação,
artes da modernidade (ciência e tecnologia, fotografia, moda), artes de
sempre (antiguidade, património) e artes do som.
2
"A arte saiu à rua"
Expresso Cartaz 11-11-95
Se a FIIC é uma exibição de amadorismo que se recobre com o manto ambicioso das indústrias culturais, e também um espectáculo de desorientação por parte das instituições oficiais, a FAC representa um esforço digno para relançar o projecto de uma Feira de Arte Contemporânea em Portugal. As vicissitudes da primeira não deverão ocultar o profissionalismo da segunda, que constitui um panorama exemplar da actividade das galerias de arte nacionais e, nas condições de exposição próprias de uma feira, uma exibição alargada da actual criação artística.
A iniciativa da feira pertenceu à Associação Portuguesa de Galerias de Arte (APGA), que foi relançada em Maio deste ano, e ela tem no interior da FIL um espaço claramente demarcado, acompanhado por um catálogo próprio. O projecto da feira pretende, aliás, ter vida própria, independente da periodicidade eventual da FIIC, com rotação anual entre Lisboa e Porto, e com possível abertura a galerias internacionais, segundo um ordenamento geográfico realista que tenha em atenção a inevitável situação periférica do país. O Arco de Madrid tem sido o destino principal das galerias portuguesas, mas essa internacionalização regional não substitui os efeitos dinamizadores que se esperam da promoção de uma feira local e adequada à escala do mercado interno.
Herdeira de anteriores iniciativas similares, que tiveram reconhecido êxito — a Marca-Madeira, em 1987, e as edições do Forum de Arte Contemporânea, realizadas no Forum Picoas, em 1988 e 1989 —, a FAC surge com a expectativa de estimular uma recuperação do mercado de arte e, entretanto, de proporcionar a divulgação da oferta artística junto de novos públicos. Em anos recentes, que foram também os da agudização da crise do mercado de arte, o projecto de uma feira de arte em Lisboa foi protagonizado pela própria SEC, que chegou a anunciar no estrangeiro o ridículo título de PIAF (Portuguese International Art Fair). Pensado à revelia das galerias de arte, o projecto acabaria por esboroar-se, tal como o um famoso Congresso da Imaginação...
Entretanto, a FAC reune 29 galerias de todo o país e proporciona algumas surpresas ao visitante, desde logo pela participação de numerosos nomes que não fazem parte dos roteiros habituais. A feira abriu-se às participações regionais, por vezes inesperadas, e também a segmentos do mercado que não correspondem à anterior tradição das galerias de vocação cultural, mas que reflectem curiosas situações de agressividade comercial, e, certamente, de abertura a novos públicos.
Às galerias que mantêm relações de exclusividade total ou relativa com os seus artistas, que promovem as suas exposições individuais e sustentam as respectivas carreiras, em particular nas feiras internacionais, e que exibem em geral uma certa coerência estética, veio juntar-se a concorrência directa de um outro tipo de galerias que mantém uma oferta totalmente diversificada, com predomínio das mostras colectivas e de uma oferta dirigida a um gosto que se dirá médio ou menos exigente, actuando em grande medida segundo as regras do «segundo mercado» (como os leiloeiros ou as casas de decoração ou antiguidades) e, em muitos casos, instaladas em centros comerciais. Notar-se-á, aliás, que é só neste segundo sector que surgem certos autores com notoriedade entre o grande público e que por vezes tiveram carreiras com importância histórica.
Alguns galeristas que participam na FAC contestam a possível «promiscuidade» entre os dois conjuntos de galerias — sem que as respectivas fronteiras, no entanto, possam ser claramente estabelecidas —, mas essa situação certamente corresponde quer às consequências da crise do mercado, quer a uma provável indefinição acentuada de referências e critérios de ordem cultural.
Sete galerias do Porto significam um peso reforçado do Norte e, se entre elas se destaca a oferta da Gal. Pedro Oliveira, com Alberto Carneiro, Antony Gormley, Michael Biberstein, Pires Vieira, Pedro Proença, Manuel Rosa, Júlia Ventura e obras inéditas de Julião Sarmento, João Penalva e Gerardo Burmester, a situação geral é clararmente exemplar da abrangência do panorama.
No Pavilhão da Gal. Dário Ramos encontram-se duas pinturas de Amadeu Sousa Cardoso (uma paisagem escolarmente cézanneana que vale 17 mil contos, o record da feira) e três de Eduardo Viana, de variado interesse; Cargaleiro, Resende, Maria Velez, Nadir Afonso e Rui Paes completam a oferta. Entretanto, a gal. Fernando Santos junta a um espaço dedicado a René Bertholo, José de Guimarães, Nikias Skapinakis, Darocha e Isabel Pavão, um outro só com presenças internacionais, como, entre outros, Rosenquist, Penk, Chia, Seguí e um pequeno papel de Frank Stella. À conhecida galeria Quadrado Azul, que expõe Ângelo de Sousa, Guimarães, Álvaro Lapa e Avelino Sá, vem juntar-se uma outra que dá pelo nome de Símbolo e apresenta Ângelo, Pedro Chorão, Manuel Baptista e duas telas de Marta Seixas que são uma estreia em Lisboa. Surpresa é também a Por Amor à Arte, de recente origem, e falta citar a luso-espanhola Afinsa-Trindade. E o Norte prolonga-se por Guimarãres (Gilde) e Braga (Mário Sequeira), enquanto o Sul está presente com o Centro Cultural S. Lourenço e a cintura de Lisboa é representada pela Gal. de Colares e a Almadarte.
Quanto à capital, a um núcleo «duro» já com carreira internacional, de que fazem parte a 111, Luis Serpa (também presente, no exterior, com a empresa de «engenharia cultural» Museu Temporário), Alda Cortez, Graça Fonseca, Valentim de Carvalho, Monumental, Palmira Suzo e Arte Periférica, vem juntar-se um grupo diversificado de galerias como a 1991 (dedicada à figuração internacional dos anos 80), Míron-Trema (individual de Henrique Ruivo), Ygrego (António Viana), São Bento, Altamira, Barata, Artela, Ara e Arte em Voga. Notada é ausência da Módulo, que também tem preferido trocar o Arco de Madrid pelos mais forte mercados de Basileia, Colónia e Bruxelas. E mais notória ainda é a falta de comparência da Nasoni do Porto, depois de ter reservado três pavilhões.
Feira é feira e a aposta da FAC'95 é abertamente diversificada, nivelando situações de consagração ou de reconhecimento institucional e crítico com outras situações exteriores ao campo das notoriedades estabelecidas. O público em geral (entidade abstracta a quem a feira é dedicada) é convidado a julgar — e a comprar. O mercado não vive sem essa difícil realidade.
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